Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Dica do João Brasil.
Inevitável que o revival dos anos 80 saísse das bandas da trilha sonora da Sessão da Tarde e do Globo de Ouro para avançar para outros territórios – e 2008 viu o cenário pop revisitar seu apreço pelo continente negro, com todo aquela culpa pós-colonialista disfarçado de pena (seja em filmes, discos-tributo, gêneros musicais redescobertos ou na ascensão de Nollywood para o olho mundial). Revisitando os mesmos anos 80 habitados pelo “We Are the World”, pela world music do Sting, Paul Simon e Peter Gabriel e pelo Live Aid, essa (nova) pilhagem ocorreu mais no plano das idéias do que na vida real, embora juju music, highlife, kwaito e afrobeat ainda sejam o mesmo tipo de som (“música africana”) para a maioria das pessoas (como se a África fosse um só país… Alou Sarah Palin!), que também não se importam com o que acontece por lá. Um dos expoentes desta nova tendência, o grupo nova-iorquino Vampire Weekend seria só mais uma bandinha indie nova-iorquina tentando soar inglesa se não fosse essa queda pela música do Congo, daquela vaibe praieira que deu ao Caribe a essência de sua musicalidade e ritmo (a influência espanhola veio por cima, como cobertura e, em alguns casos, recheio). O hit “The Kids Don’t Stand a Chance” (pô, Bruno, achei o remix bonzão) funcionaria em qualquer época, mas tem tanto de apelo popular quanto não tem de criatividade ou originalidade. Se lançado nos anos 90, o disco homônimo de estréia do grupo cairia na vala comum da terceira onda do ska – mas provavelmente com um prefixo “alt.” na frente, pois eles não jogam pelo pop descarado, optando pelo indiesmo. Mas no meio da pasmaceira há uma pérola. “Cape Cod Kwassa Kwassa” é toda certinha: do suíngue à economia dos instrumentos, do baixo recolhido aos vibrafones, do riff curto e preciso aos acordes que desenham uma linha de baixo, da percussão que fica atravessada no refrão aos “uuuuuuuuuu” que o vocalista Ezra Koenig puxa lá pelo final. “Parece tão inatural/Peter Gabriel também”, canta a canção, auto-referente. Mas é o Peter Gabriel que parece tão não-natural ou o sentimento da música que soa tanto inatural quanto Peter Gabriel, transformando o ex-vocalista do Genesis num adjetivo. Aposto na segunda opcão, que torna a faixa ainda mais eficaz – e preciosa. Esqueça o resto do disco, você só precisa desses três minutos e meio.
“Essa lição você tem que aprender: você só ganha o que você merece”, diz a voz em português no início do tão aguardado terceiro disco do Portishead, anunciando uma desoladora paisagem sonora: ribombo de percussão, cordas sintéticas, ruídos de guitarra – tudo cessa quando entra a voz de Beth Gibbons, dramática e chorosa. A atmosfera pós-punk, o ritmo tenso, a temperatura fria e a voz épica confirmam que estamos tanto em 2008 quanto no meio de um disco do Portishead. Mas onde estão as canções? Por mais que as texturas e camadas de som superpostas pela base instrumental da banda seja afiadíssima, a melodia se desfaz entre grunhidos elétricos, teclados “colocados”, ecos e efeitos barulhentos. Fora a belíssima “The Rip” (que lá pela metade perde toda sua beleza rumo a um arranjo minimalista e industrial sem vontade), todo o resto do disco subiria algumas posições caso fosse uma digressão instrumental, uma sinfonia de ambiências que teria parentesco tanto na música eletrônica erudita quanto no hip hop sem MC ou no pop com aspirações à seriedade. Mas sem a voz da banda para defender dramas e tragédias como se chorar fosse sinônimo de cantar e canções estruturadas tradicionalmente (estrofe, refrão, estrofe, etc.), o novo do Portishead soa como um tiro no escuro: plasticamente é lindo, mas tanto quem atira quanto quem ouviu o disparo não conseguem saber se algo foi atingido.
32) Portishead – Third
Portishead – “The Rip“
Enquanto não lança disco novo, Zach Condon seguem sua vasta produção de EPs. E agora juntou dois deles para aproveitar que o nome do Beirut ainda está em voga e não deixar quem não é fãzaço da banda (acredite, eles existem) esquecer. March Of The Zapotech junta o EP de mesmo nome com outro chamado Holland. O primeiro transfere sua verve cancioneira do leste europeu para o México, mais precisamente para a cidade de Oaxaca, onde Condon passou uma temporada – com metais chorosos e de veia fúnebre, o disco tem certo parentesco improvável com o clima de luto do clássico psicodélico indie In the Aeroplane Over the Sea, do Neutral Milk Hotel. O outro EP, Holland, dá outra virada de 180º e nos leva para o universo do Realpeople, pseudônimo que Zach usava antes de fundar o Beirut e que flertava com a música eletrônica lo-fi. Aí embaixo, um petisco de cada EP.
Opa, apareceram as primeiras fotos do Kick-Ass, o segundo filme inspirado na obra de Mark Millar (já falei do Wanted aqui, achei filmaço, pra se ver gargalhando). Kick-Ass conta a história de um moleque fã de história de super-herói que resolve ser, ele mesmo, sem superpoderes, um super-herói.
Lembram da história daquele acetato que um carinha achou num sebo de discos em Nova York por menos de um dólar e só depois de chegar em casa percebeu que era uma relíquia que continha nada menos que a segunda vez em que o Velvet Underground gravou com a Nico? O blog Love Live! Bootlegs from Bucklberry descolou os MP3 pra baixar. Coisa fina (e o comentarista desse blog que assistiu a essa seção?)
Fui lá ver o Tim Berners-Lee na Campus Party e não gostei…
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Não era impressão: Tim Berners-Lee não tem um pingo de carisma. Não que precisasse ter – é da natureza desse tipo de profissional (ele lida com computação) um certo recato e alguma timidez. Mas, desde que foi apresentado ao público na abertura da Campus Party na segunda, o principal palestrante da edição 2009 do evento não dava impressão de que surpreenderia em sua palestra, que seria realizada no dia seguinte.
Berners-Lee mudou completamente a internet como conhecemos ao criar uma interface mais amigável, intuitiva e visual do que a rede tinha até 1990. Antes de Tim, a internet era um meio escrito, sem imagens ou diagramação. Sua proposta reorganizava a rede com um novo protocolo (o http), criando o conceito de domínio e tornando o hyperlink executável com cliques do mouse. Batizou-a World Wide Web e ela foi responsável pelo primeiro grande salto de popularidade da rede, nos anos 90 – deu tão certo que até hoje as pessoas confundem internet com web.
E por mais que vendessem que Berners-Lee falaria sobre a chamada “web 3.0” – em que computadores compreendem palavras –, sua participação resumiu-se à apresentação de uma série de conceitos que já existem e estão aos poucos se estabelecendo na internet atual – e que Berners-Lee vendia como “novidade” e “futuro”.
Entre as perspectivas que o pai da web cogitava para o futuro da rede estão soluções não só cogitadas mas já em execução, como misturar o conteúdo de diferentes procedências num mesmo site e uma plataforma que permite que diferentes sites conversem entre si (semelhante à iniciativa Open ID, que inclui nomes como a Microsoft e o Google). Depois de falar muito em programação com exemplos técnicos, sem apelo até para o público especializado, terminou seu papo em tom populista, disparando chavões como “o futuro está em suas mãos” ou “vocês estão no controle”.
Se ele disse algo de importante, não está relacionado diretamente à web. No dia da posse do presidente dos EUA, Barack Obama, Tim apelou para o cumprimento da promessa de campanha: promover o uso de soft-wares de código aberto no governo e na internet como um todo.
• O governo 2.0 de Barack Obama • Campus Party 2009 – prós, contras e mulheres • Mapas online • Blog político na China •
Doczinho de vinte minutos que fizeram sobre a quinta temporada do seriado. Cuidado que tem spoilers, hein…
Na trilha rola MGMT, Killers, Arctic Monkeys e Ting Tings! Dica do Carlão.