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O que aconteceu com o lago do Parque da Aclimação

Se quando saí de Brasília para Campinas, Campinas funcionou como uma antessala mais tranqüila (que aos poucos foi deixando de ser) para entrar em São Paulo, quando vim para São Paulo quem fez o papel desta antessala foi o Parque da Aclimação. Sequer morava na cidade, mas já trabalhava todos os dias aqui, pegando cedo o ônibus cinza na Orozimbo Maia até o terminal Tietê, para enfrentar a longa linha azul até o metrô Paraíso – e de lá até o trabalho. Mas no caminho, havia o Parque da Aclimação que, até já escrevi sobre isso, me parecia ter sido a inspiração para o Castelo Rá-Tim-Bum da TV Cultura – um oásis quase mágico de natureza e tranqüilidade encravado no meio do horizonte cinza da megalópole, com seu lago plácido refletindo o verde dos arredores.

Atravessar o parque a pé dava uma sensação de calmaria e sossego que funcionava como um antídoto perfeito para o veneno do concreto paulistano, patos e cisnes caminhando na água enquanto pedestres e ciclistas circulavam o lago em forma de coração – ou do mapa do Brasil, como insistiam os mais velhos. Lembro-me perfeitamente de como chegava quase zen ao trabalho, mesmo quando vinha pensando na chuva de mísseis do Dylan (vinha ouvindo-o no discman), como aconteceu no fatídico 11 de setembro.

Nasci em Brasília, passei mais da metade da minha vida olhando um horizonte de 360 graus e por mais que consiga me adaptar ao céu cortado por prédios, à correria e ao mundo de vozes falando ao mesmo tempo, gosto do cheiro de mato, de grama, água limpa, bichos passando e gente sorrindo com pouca roupa ao sol. E foi assim que o Parque da Aclima me conquistou – a ponto de mesmo depois de mudar de emprego eu continuar freqüentando-o e, finalmente, mudar-me para ficar a apenas dois quarteirões de distância. Há pouco menos de um ano deixei o bairro rumo à Zona Oeste, mas amigos e pendências na região quase sempre me faziam rever o parque e o lago.

Foi quando:


riques

SÃO PAULO – O lago do Parque da Aclimação, na zona Sul de São Paulo, foi completamente esvaziado ontem (23), depois que a tubulação hidráulica que regula o nível de água (vertedouro) se rompeu. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente. As causas do rompimento não foram esclarecidas. Toda a água do lago foi drenada e a enxurrada levou parte dos peixes e aves aquáticas, como patos, cisnes e marrecos, mantidos no local. Segundo um inspetor da Guarda Civil Metropolitana (GCM) presente ao local, frequentadores do parque socorreram alguns animais.

Bombeiros tentavam, até as 22h30, resgatar algumas aves que ficaram atoladas na lama. Os bombeiros suspenderam no fim da noite os trabalhos de resgate. A última equipe dos bombeiros deixou o parque à 1h30 de hoje. O resgate das aves será retomado após o amanhecer. Um dos bombeiros entrou no lago, mas, quando a lama chegava à altura do pescoço dele, as equipes resolveram suspender as buscas por motivo de segurança.

Cordas também foram usadas, mas não funcionaram como se esperava. O rompimento do vertedouro teria ocorrido por causa do grande volume de chuva que caiu na região ontem. A Prefeitura faz reformas na rede de esgoto do parque para despoluir o lago, mas não se sabe ainda se as obras têm relação com o rompimento da tubulação. Habitam o parque aves aquáticas como o socó-dorminhoco, martim-pescador, marrecos, gansos, patos e aves migratórias . Entre os peixes do lago, havia carpas e tilápias. Boa parte dos peixes e das aves foi levada junto com a água; parte foi resgatada pelos bombeiros e frequentadores.

Se alguém souber de alguma campanha online para ajudar o lago a se recompor, avise que eu faço questão de ajudar.

Manhã de carnaval

Senhoras e senhores, Dita Von Teese e absinto.


(Olha bem onde você vai ver esse vídeo, hein…)

Cheguei nesse por outro vídeo igualmente incrível, mas “inembedável”, que a Lia (que também mudou de casa) mandou pelo Twitter.

As 50 melhores músicas de 2008: 24) MGMT – "Kids"

Se o MGMT pode ser encarado como o filho improvável do LCD Soundsystem com os Flaming Lips, “Kids” é o desenho colorido que ele vem mostrar feliz. Construída ao redor de uma única frase musical, um mantra repetido num teclado cafona, ela é uma espécie de busca ao tempo perdido da infância através da dança, encontrando paralelos no quase autismo de qualquer criança no pequeno universo de seu quarto e a dança de olhos fechados na pista de dança indie. Synthpop disfarçado de psicodelia dance, “Kids” existe desde 2003 (quando o grupo ainda se chamava The Management) e funcionou como a base dos três pilares que tornaram a dupla nova-iorquina em um dos principais nomes de 2008.


MGMT – “Kids

O xote do Camelo

E o Quanta Ladeira não deixou barato o casal do ano passado:

A letra (NSFW, mas é carnaval, né…) você confere aqui.

Beatles: "Revolution (Take 20)"

Quinta-feira, 4 de junho de 1968, estúdios da Apple:

“Um dia de overdubs curiosos e experimentos em “Revolution 1”. John regravou seu o vocal principal, optando pela resposta “in/out” sobre se ele deveria ou não participar da destruição como uma forma de revolução. Para mudar sua voz, John gravou deitado no chão do estúdio 3. Brian Gibson, engenheiro técnico daquela sessão, lembra-se claramente. “John decidiu-se que ele se sentiria mais confortável no chão e assim pendurei um microfone que ficaria suspenso acima de sua boca. Me pareceu um tanto estranho, um pouco excêntrico, mas eles sempre buscavam por um som diferente, algo novo”.

(Apesar de não ser revelante em “Revolution”, Geoff Emerick também se lembra de uma dos pedidos mais bizarros de John no estúdio, em 1968: “Ele sugeria que nós microfonássemos sua voz por trás em vez de colocar o microfone na frente de sua boca. Ele estava desesperado para soar diferente. ‘Por que tem de ficar aí? Por que não pode ficar ali?’. Tentamos, mas não havia presença, soava praticamente da mesma forma, só que abafado, então desistimos e voltamos a gravar seus vocais através de um limitador Fairchild, como fizemos com todos vocais de Lennon desde 1966”.)

Geoff Emerick não era o único engenheiro que os Beatles usavam na época. Ele ainda trabalhava com outros artistas e naquele dia era a vez de Peter Bown, conhecido no meio por ser trabalho nos primeiros discos de rock na Inglaterra, de estar com os Beatles. “Eu não gravei nenhuma base com os Beatles, só overdubs”, lembra-se. Antes de termos cabos novos postos em St. John’s Wood, a eletricidade estava bem ruim numa noite fria e certa vez, no estúdio três, ela caiu tanto que os estabilizadores do gravador de quatro canais caíram e fizeram um som terrível no fone de ouvido de Lennon enquanto ele estava gravando. Consertamos outro gravador, mas em dez minutos aconteceu de novo. Lembro-me do John sair da sala de controle reclamando: “A porra da máquina quebrou de novo? Não vai ser assim quando tivermos nosso próprio estúdio na Apple…’. E eu respondi: ‘Não mesmo?’ e deixei por isso mesmo. Ele saiu do estúdio bufando mas no final da sessão ele botou a cabeça para dentro e disse: ‘desculpe, Pete. Não havia percebido que não era culpa sua’. O vocal gravado no chão não foi o único vocal incomum gravado aquele dia. Nas fitas com as sessões há uma caixa com o rótulo “vocal backing mama papa”. Isso não foi uma aparição secreta dos Mamas and the Papas e sim uma descrição de um vocal de apoio persistente (na verdade “Mama… Dada… Mama… Dada…”) cantado por Paul McCartney e George Harrison dúzias e dúzias de vezes até o fim dessa gravação com dez minutos – e assim cortado da versão que aparece no LP.

Outra faixa de bateria e elementos de percussão com Ringo foram gravados nesse dia, além de uma parte com guitarra tocada por John e um órgão tocado por Paul. Mas dois loops de fita feitos para serem encaixados na gravação de “Revolution 1” nunca apareceram e permaencem na fita original, inéditos. Um deles têm os quatro Beatles cantando, extensivamente, “Aaaaaaah”, com vozes muito finas. O segundo foi feito a partir de uma frase de guitarra um tanto maníaca, tocada nas posições mais agudas do braço. Uma versão mono do take 20 foi feita e levada embora por John Lennon no final da sessão.”

Consegue acreditar nisso? Dá pra imaginar como seria essa música? Mas eu não traduzi esse trecho de um dos livros obrigatórios sobre os Beatles pra ficar cogitando – e sim para comemorar o fato que “Revolution (Take 20)” ter dado as caras. Isso mesmo: mais de dez minutos desse take alternativo já clássico para “Revolution”, que começa igualzinho à versão conhecida e lá pela metade começa a dar sinais de esquizofrenia “You Know My Name (Look Up the Number)” até descambar na mesma espécie de colagem sonora que depois se tornaria “Revolution 9” (incluindo um dos clássicos momentos da Yoko nos Beatles – “You become naked”). Chorem comigo.


>Beatles – “Revolution (Take 20)” (e aqui tem uma versão com a qualidade ainda melhor)