Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Reveillon In Rainbows

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Tá ligado que o Radiohead vai tocar o In Rainbows inteiro hoje à noite, né? Na real, o show já tá gravado, mas a transmissão acontece quando 2008 começar em Nova York, via CurrenTV (a TV do Al Gore), o que dá umas três da madruga pra gente aqui no horário de Brasília. Primeiro grande evento do ano que vem, fato.

Andróide paranóico

Materinha minha que saiu no Link de hoje…

Blade Runner completa 25 anos e ganha edição definitiva

Perto do final de Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), o replicante Roy Batty pergunta-se sobre o que acontecerão com suas memórias quando ele se for, contemplando, assim, o sentido da vida como qualquer ser humano. A frase em que chega a esta constatação dita por seu intérprete, o ator holandês Rutger Hauer, é daqueles momentos memoráveis da história do cinema – e, ao mesmo tempo, pode ser usada como metáfora para a própria saga do filme, que, além de antecipar conceitos que hoje nos são comuns e alfabetizar a indústria para o valor artístico de um filme, ainda trouxe o conceito da obra de arte em aberto para o mercado de massas e mudou nosso conceito de futuro.

Completando 25 anos neste 2007 que termina hoje, o filme Blade Runner, do hoje respeitado e premiado diretor inglês Ridley Scott finalmente vê sua versão definitiva com o lançamento da edição especial tripla que chegou ao mercado brasileiro este mês. Além de horas inteiras de cenas inéditas e documentários feitos sobre temas do filme, a nova edição traz a versão definitiva do diretor para aquela que hoje é reconhecida como um dos maiores filmes de todos os tempos, antes foi visto como azarão sem chances num mercado cada vez mais competitivo.

Lançado a contragosto por seu autor por pressões do estúdio que o bancava, Blade Runner teve cenas trocadas, cortadas e ritmo alterado em sua primeira edição, que fracassou nas bilheterias. Mas o filme logo ganharia status cult à medida em que a década que o viu nascer chegava ao fim e forçava o mesmo estúdio que antes havia desmembrado o filme a juntar seus pedaços para uma novidade no mercado de filmes – a edição do autor, o “Director’s Cut”. Mas como a edição oficializada em 1992 foi apenas supervisionada por Scott, a originalidade da versão mais recente ainda era contestada. Até agora.

Proposta pelo próprio Ridley Scott no final de 2006, a nova edição se aprofunda no tema central do filme – nada menos que o sentido da vida. Baseado numa história do antes maldito escritor de ficção científica Philip K. Dick (adaptado pela primeira vez para o cinema), Blade Runner misturava referências clássicas do cânone da ficção científica com cinema noir, antevendo o futuro de tragédias ambientais, corporações globais e experiências genéticas que hoje habitam o nosso dia-a-dia. Era o fim do futuro otimista dos Jetsons e o começo de um apocalipse constante que tornou-se a vida no século 21. Se faltam 12 anos para chegarmos ao tenso 2019 da ficção, em muitos sentidos, já o habitamos.

E o que devia ser lançado como um manifesto pessimista sobre o futuro da humanidade, ganhou ares de filme policial futurista – e perdeu grande parte de seu apelo. A insatisfação de Ridley Scott era inevitável: o diretor despontava de um sucesso de bilheteria (Alien, 1979) e galgava rumo ao topo da pirâmide de Hollywood. Havia conseguido um estúdio, a Warner, para financiar um projeto baseado num conto do escritor de ficção científica Philip K. Dick – um clássico improvável do gênero ao mesmo tempo em que um zé ninguém para a indústria da época – e tinha ninguém menos que o mascote de George Lucas e Steven Spielberg como protagonista. O policial Rick Deckard completava a tríade de personagens que moldou o caráter público de Harrison Ford, ao lado de Han Solo (Guerra nas Estrelas) e Indiana Jones.

Mas o estúdio não permitiria um filme ser tão pessimista. A história em si já não era das mais felizes – Deckard era um policial cuja missão era exterminar andróides (replicantes, na linguagem do filme) que haviam se rebelado e se infiltram na população, passando-se por humanos. Suas conclusões e suposições – Deckard poderia ser um replicante e todo aquele papo sobre o sentido da vida – deixavam o que deveria ser um sucesso de verão com cara de filme existencialista. Pois obrigaram o diretor a trocar o final original (usando cenas não utilizadas por Stanley Kubrick em seu O Iluminado, de 1980) e a fazer de Harrison Ford um narrador à moda antiga, explicando em voz alta o que seu personagem estava pensando.

Insatisfação era pouco para definir o que Scott sentia. Além de lançar seu filme destroçado no mercado, o estúdio não havia feito nada para contribuir para seu sucesso nas bilheterias – pelo contrário. As mudanças feitas na reta final fizeram Blade Runner fracassar tragicamente nas bilheterias norte-americanas. Mas ao ser tirado previamente do cinema (e aparentemente sacramentar o fim da carreira de Ridley Scott), o filme foi despejado numa espécie de purgatório para os filmes que não conseguiam bom desempenho na telona: novos mercados que haviam se desenvolvido nos anos 80, como a TV a cabo e o videocassete.

Foi aí que Blade Runner se revelou um sucesso. A possibilidade de rever continuamente trechos ou todo o filme quantas vezes quisesse fez com que outras qualidades do filme pudessem ser contempladas – como sua visão pessimista para o planeta, sua contribuição estética e visual, seus conceitos transgressores de futuro. À exceção inevitável do conceito de ciberespaço (que começamos a compreender melhor com a popularização da internet nos anos 90), tudo aquilo que o escritor de ficção científica William Gibson sintetizaria em 1984 no romance Neuromancer (fazendo nascer, assim, uma nova safra de autores do gênero, a geração cyberpunk) já havia sido contemplado de alguma forma por Blade Runner dois anos antes: um mundo globalizado de vários idiomas, controlado por poucas e gigantescas corporações, que agridem o meio ambiente à medida em que experimentam os limites da ciência, como a robótica, a inteligência artificial e a genética.

A partir daí, o filme tornou-se objeto de culto (“cult movie” era o termo usado nos anos 80) e começou a movimentar dinheiro de uma forma que a indústria de entretenimento não conhecia ainda: a longo prazo. Com vendagens baixas e exibições localizadas, o filme trouxe para a era do blockbuster (inaugurada com Tubarão, de Steven Spielberg, e consagrada com a trilogia Guerra nas Estrelas, de George Lucas) o conceito de filme de arte ou filme de autor, que já existia na Europa e na Ásia nos anos 60 e que, no começo dos anos 70, ameaçou migrar para os EUA (em filmes de diretores como Francis Ford Coppola, William Friedkin e Robert Altman). Blade Runner seria a pedra-fundamental de uma indústria de filmes e cineastas que finalmente engatava no final dos anos 80 – gente como David Lynch, Tim Burton e David Cronenberg, que pavimentaram o caminho para a geração Quentin Tarantino, na década seguinte.

A importância de Blade Runner pouco a pouco era reconhecida e logo os rumores de que a versão lançada não era a imaginada por Ridley Scott – e assim começou uma corrida em busca do filme original, que não contou com a participação do diretor. Nos corredores da Warner, o Blade Runner definitivo começava a ganhar forma a partir da descoberta de duas das cenas que mudariam a história por completo: um sonho do policial Deckard e um presente que o criador dos replicantes teria dado ao policial. Ambas cenas traziam o mitológico cavalo de um chifre, o unicórnio, como símbolo da principal questão do filme: Deckard tinha um sonho recorrente com o animal que lhe foi entregue em forma de uma dobradura de origami pela mesma pessoa que programou toda a geração de andróides Nexus-6 – a mesma que rebelara-se no início do filme, liderada pelo personagem-robô de Rudger Hauer.

Se a edição original terminava com uma nota suspensa sobre a possibilidade da namorada de Deckard (vivida pela atriz Sean Young) ser um autômato, a nova versão trazia a possibilidade do próprio apaga-robôs (o título do filme vem de uma expressão do poeta beat William S. Burroughs empregada para policiais que devem “desligar” andróides) ser ele mesmo um replicante. A chamada “Versão do Diretor” – “Director’s Cut” como Blade Runner conceituou – trouxe o cinema para um novo estágio artístico. Enquanto a obra originalmente estava encerrada no momento em que era exibida pela primeira vez ao público, agora ela nunca terminava. O cinema abraçou o conceito de “obra aberta”, que já habitava o mundo das artes plásticas desde os tempos dos modernistas e começava a invadir o mundo do som gravado (com canções em versões “extended” – mais longas -, “edit” – mais curtas – e “remix” – com nova pós-produção).

A partir da nova versão de Blade Runner (lançada oficialmente em 1992, mas que só contou com a participação do próprio Scott no final do processo), uma série de filmes foi revista a partir de sua edição inicial. E se antes o remake e a continuação eram os únicos territórios desbravados pelo cinema de ficção, ele agora se ampliava em versões remasterizadas digitalmente (área desbravada por George Lucas, nos anos 90), versões “Redux” (em que cenas deletadas originalmente devido à duração entravam no primeiro filme, como o Apocalypse Now de Coppola) e projetos multimídia completos, cheios de subtextos, inúmeros personagens complexos e enredos intrincados (como as trilogias Matrix e Senhor dos Anéis, além da saga de Harry Potter e seriados como Lost e 24 Horas). É claro que nem tudo foram flores neste processo – tanto que colorizaram Casablanca e refilmaram Psicose quadro-a-quadro. Nem tudo é perfeito.

Mas ao completar o jubileu de prata de seu principal filme, Ridley Scott assumiu o processo para dar ao mundo sua visão definitiva do que seria o Blade Runner original. É claro que há uma certa ingenuidade em se imaginar que veremos exatamente o que Scott pensou há 25 anos – um quarto de século depois, o diretor ultrapassou o flerte com Hollywood e é velho conhecido das cerimônias do Oscar. Isso não impede que a dita versão definitiva do filme corrija erros do passado – pelo contrário. Da mesma forma, não é de se estranhar se a Warner ou o próprio diretor voltarem mais uma vez à obra, numa edição “mais que definitiva”. Aparece uma cena nova, surge uma tecnologia pra deixar um efeito especial melhor acabado e é questão de tempo para começarmos a assistir filmes em três dimensões. O que Blade Runner fez com a indústria que o gerou foi dar vida para assuntos que pareciam encerrados e enterrados – essas certezas, hoje em dia, são tão fugazes e sutis quanto lágrimas na chuva.

Novo paradigma de futuro

“O futuro não é mais como era antigamente”, reclamava, com razão, Renato Russo na música “Índios”, em 1987. Antes, no desenho Os Jetsons, o pai George conduzia a família rumo ao trabalho em seu disco voador particular, que depois virava uma maleta. O diretor Stanley Kubrick imaginou que na virada do milênio estaríamos mirando as viagens rumo a Júpiter em “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e os robôs de Isaac Asimov obedeciam a três leis que estabeleciam o bom senso para todos.

Mas alguma coisa aconteceu entre a era da computação pessoal e o fim da Guerra Fria. Os anos 80 assistiram à ascensão do nerd ao mesmo tempo em que os EUA pouco a pouco deixavam de ter um vilão à altura com a queda da antiga União Soviética. A preocupação ambiental aumentava à medida em que jogos eletrônicos substituíam os brinquedos tradicionais. A música tornava-se repetitiva e robótica e o futuro logo se tornaria apocalíptico.

Blade Runner fotografa melhor do que qualquer contemporâneo esta mudança de paradigma de futuro. A falência do modelo americano após a derrota na Guerra do Vietnã e a renúncia do presidente Nixon desmoronou de vez a ideologia capitalista tradicional, que começara a cair com a morte de Kennedy. Mas a derrota do comunismo soviético e ascensão de novas forças globais (como a Ásia e o Oriente Médio) começaram a pintar um panorama que nem de longe lembrava a dicotomia simplista entre americanos e russos.

Assim, chove chuva ácida sem parar no 2019 de Blade Runner, que não parece amanhecer nunca. Grandes corporações ostentam logotipos em todos os lugares para onde olhamos e parecem controlar tudo. Computadores estão tão próximos a nós mesmos que mal percebemos sua presença. E há uma sensação de desolamento e pessimismo em relação às próximas horas – que dirá do futuro em si.

A produção cinematográfica a seguir bebeu direto dessa visão apocalíptica do futuro. Filmes como Mad Max, Robocop e O Exterminador do Futuro e animes como Akira e Ghost in the Shell são diretamente influenciados por Blade Runner, assim como duas das principais obras de quadrinhos dos anos 80 – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e Watchmen, de Alan Moore.

Essa é a base do movimento literário cyberpunk, que ainda inclui a internet (ausente de Blade Runner) nesta equação. O movimento foi inaugurado com o romance Neuromancer, de William Gibson, e teve como um de seus principais teólogos o escritor Bruce Sterling. O cyberpunk foi ultrapassado por seus próprios autores principais, que criaram o conceito de steampunk (gênero que partia do pressuposto do computador ter sido criado no século 19 e toda a revolução eletrônica ter acontecido há mais de 100 anos) no livro The Difference Engine, passando o bastão para o barroco Neal Stephenson, o principal autor de ficção científica dos anos 90.

O clima pessimista dos anos cyberpunk aos poucos começam a passar com a chegada de novos nomes entre os escritores de ficção científica, a começar pelo garoto-prodígio Cory Doctorow, cujo livro de estréia apresentava o conceito de cura de morte e um protagonista feliz por habitar em plena Disneyworld. Mas o próprio Doctorow não escapa de um pessimismo básico, como fez em seu conto mais recente, Scroogled, em que cogita a possibilidade do Google se tornar a polícia do futuro (!).

Um escritor chamado PKD

Outro feito histórico de Blade Runner foi apresentar o autor Philip K. Dick para as massas. Escritores de ficção científica raramente chegam à tela grande e, quando isso acontece, é por idiossincrasia do diretor. Assim foi com 2001 – Uma Odisséia no Espaço, em que Kubrick levou Arthur C. Clarke para o espaço e com H.G. Wells na radiotransmissão que Orson Welles fez para Guerra dos Mundos.

K. Dick em especial é um autor difícil de se penetrar. Não por sua literatura, sempre clara, objetiva e detalhista, mas pelos temas abordados. PKD – como é mais conhecido pelos fãs – usa dos clichês da ficção científica (como alienígenas, viagens no tempo e robôs) para fazer questionamentos morais e éticos sérios, quase sempre acionando os limites do que chamamos de humanidade.

Baseado no livro O Caçador de Andróides (cujo título em inglês – Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas? – é menos óbvio que sua tradução rasa para o português), Blade Runner foi o primeiro de uma série de filmes adaptados a partir de livros e contos de Philip K. Dick. Depois foi a vez de O Vingador do Futuro de Paul Verhoeven, Minority Report de Steven Spielberg, O Pagamento de John Woo e O Homem Duplo de Richard Linklater. Atualmente, há dois filmes em andamento dispostos a contar a vida do autor, sempre turbulenta, presa entre a esquizofrenia, prazos para a entrega de seus livros e drogas para ficar acordado. O primeiro conta com Bill Pullman no papel do escritor e o segundo, chancelado pela família de K. Dick, conta com o ator Paul Giammati como protagonista.

2007: À Sombra do Sete

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Anos terminados em sete testemunham grandes transformações comportamentais e gestam embriões que transformarão anos seguintes. Na verdade, consagram idéias que haviam sido lançadas no ano anterior colocando-as em prática na marra. Como nossa conta (el roque) começa nos anos 50, vale recapitular os cinco antecedentes de 2007, antes de começarmos a revê-lo.

1957 assistiu à aceitação em massa do rock’n’roll quando os EUA abraçam Elvis Presley. O rei aparece pela primeira vez de corpo inteiro no programa Ed Sullivan, exibindo para todo o país seu rebolado do demo. Logo o mostraria para o resto do mundo, quando conquistou o trono do novo gênero com o filme Prisioneiro do Rock (também de 57). Foi o mesmo ano em que comprou a mansão que se tornaria a primeira Meca de nosso cânone, Graceland. Do outro lado do Atlântico, numa quermesse de uma igreja em Liverpool (nossa segunda Meca), um certo John parou para ouvir um moleque dois anos mais novo, um tal Paul, tocar o solo de “20 Flight Rock”, uma das inúmeras canções libertárias americanas que os europeus ouviam através do rádio – não dava pra gravar música do rádio naquela época, imagina a tiração de onda. Naquele mesmo ano seria fundado o Cavern Club, em que a futura banda da dupla partiria rumo à sonhada dominação mundial. Cinqüenta e sete ainda foi o ano em que a geração que nasceu após a Segunda Guerra Mundial, os tais baby boomers, começa a por as manguinhas de fora – muito justamente pelo estabelecimento do rock’n’roll como nova comunicação e ponto de partida para uma fração nova no imaginário mundial, o adolescente. No mesmo ano, são publicadas as obras iniciais do movimento beat, Uivo e Pé na Estrada, e aos poucos a cultura pop (arte feita pra vender) começa a ganhar relevância para o planeta.

Dez anos depois, a Inglaterra já havia invadido os EUA com pelo menos uma dezena de bandas que estabeleceram-se como cânones clássicos da nossa história e o rock (não mais rock’n’roll) já é um fenômeno global, influenciando diferentes modalidades da cultura popular. É o ano seguinte ao da descoberta da psicodelia, quando o movimento hippie junta o barroco vaudeville da Swinging London com o rock de garagem hippie da esquina das ruas Haight e Ashbury, na Califórnia numa mesma suruba. O ano de Sgt. Pepper’s, do primeiro disco dos Doors, do Jefferson Airplane, do Velvet Underground e do Pink Floyd. O ano do verão do amor, do LSD, do festival de Monterey, quando Jimi Hendrix conquistar a Inglaterra e do Cream invade os EUA. O ano de “Respect”, “Sittin’ on the Dock of the Bay”, “A Whiter Shade of Pale” e “Itchicoo Park”. O ano em que os Stones topam trocar a letra de “Let’s Spend the Night Together” no programa de Ed Sullivan (“the night” virou “some time”) e o Doors não topa trocar a letra de “Light My Fire” no mesmo programa (apesar de mentir que fariam isso nos bastidores). A revista Rolling Stone é lançada e os Rolling Stones são presos na Inglaterra. O empresário dos Beatles (Brian Epstein) morre de overdose de pílulas para dormir, eles protagonizam a primeira transmissão via satélite para o planeta (apresentando “All You Need is Love”), inauguram a Apple (que logo os levará à ruína) e tomam sua primeira bola preta da crítica e do público, com o filme Magical Mystery Tour. É quando começam os primeiros protestos contra a Guerra do Vietnä, vem o início da revolução sexual, Che Guevara é morto no sertão boliviano e a Inglaterra descriminaliza o homossexualismo ao mesmo tempo em que legaliza o aborto. Há uma sensação de plena transformação no ar e ela é posta em prática pelas pessoas, que começam a perceber-se parte de um coletivo gigantesco que habita todo o planeta. A TV via satélite, a ecologia e o mercado financeiro global são os principais veículos para esta consciência (com transmissões ao vivo do outro lado do planeta e taxas de câmbio corrigidas constantemente), mas o rock’n’roll – transatlântico, planetário, retribalista – canaliza todas as principais tensões da época.

1977 (“two sevens clash”) começa sob a égide de duas grandes manifestações – a discoteca e o punk rock – que já vinham crescendo entre Londres e Nova York como culturas distintas e filhotes da megalomania do rock nos anos 70. Enquanto o punk se firmava como anulação dos valores representados em bandas de rock progressivo, shows de arena, soft rock e pop baba, a disco vinha buscando, através do ritmo, pontos em comum entre diferentes manifestações estéticas da época. O ano vê a explosão destas duas tendências: a primeira na forma de uma banda-símbolo (o Sex Pistols) e de uma seqüência irrepreensível de discos clássicos (Never Mind the Bullocks… Here’s the Sex Pistols, os primeiros do Clash, do Talking Heads, do Jam e do Damned, o Pink Flag do WireMarquee Moon do Television, Blank Generation do Richard Hell, o My Aim is True do Elvis Costello, os primeiros do Motörhead e do Suicide e o Lust for Life do Iggy Pop), a segunda na forma de um filme (Os Embalos de Sábado à Noite) e de um hit tocado por uma banda australiana (“Stayin’ Alive” dos Bee Gees). As duas culturas musicais foram arrancadas do gueto original e levadas à escala global, proporcionando transformações de comportamento que foram sentidas em todo o planeta – logo, logo as pessoas não precisavam saber sequer tocar um instrumento para ser um popstar e a discoteca ampliaria ainda mais o faça-você-mesmo do punk ao ser abandonada repentinamente pela mesma indústria do disco que a criara – sem discos sendo lançados, restou a uma geração de novos fãs criarem suas próprias versões de discoteca na década seguinte (e assim nasceram o hip hop, a house, o jungle, o techno, o Miami bass, o funk carioca…).

“Que porra está acontecendo?” perguntava-se o KLF no disco batizado com o ano 7 dos anos 80. Boa pergunta. A década do eu encontrava-se em hipérboles improváveis e nenhuma tábua de salvação, consagrando como pop dois subgêneros nascidos com o punk – de um lado, o pós-punk inglês atingia as paradas de sucesso; do outro, a primeira geração indie americana flertava com a MTV; as duas metades se reencontrariam no emblemático 1991, impulsionados por Kurt Cobain. Mas quatro anos antes, Michael Jackson e Madonna consolidavam seus status gigantescos, ao mesmo tempo em que um popstar negro (Prince) e uma banda punk (Hüsker Dü) tentam discos duplos sérios e adultos, vinte anos depois dos Beatles apresentarem esta proposta como plano B em Sgt. Pepper’s. Dois Beatles (Paul e George) davam sinais de boas fases ao mesmo tempo em que Yoko preparava um novo filme sobre Lennon e a EMI lançava o catálogo do grupo no novo formato da indústria, o compact disc. O Guns’N’Roses surge na Califórnia ao mesmo tempo em que o Pink Floyd volta a caminhar sobre a Terra, na maior turnê de todos os tempos, e o U2 segue testando os limites de seu tamanho. É o ano de “With or Without You”, “It’s the End of the World (As We Know It)”, “Sweet Child O’Mine”, “Never Gonna Give You Up”, “Pump Up the Volume”, “Bring the Noise”, “Bad”, “Just Like Heaven”, do último disco dos Smiths. Os anos 80 sofriam de obesidade mórbida de informação e sucumbia ao próprio tamanho em um ano turbulento.

O mesmo pode ser dito sobre 1997, dez anos depois – às avessas. Enquanto o parâmetro dez anos antes confundia qualidade com tamanho, o ano sete dos anos 90 inverte a lógica e valeu tudo – é quando indústria do disco pisa no acelerador do sucesso rápido, imediato, e entope as veias do imaginário coletivo com gordura saturada em forma de hits de rádio. Assim, o ano viu a morte do britpop, do gangsta rap e do rock alternativo, ao mesmo tempo em que ascensão da eletrônica inglesa e do nü metal americano era coadjuvante de um mundo pop em que o mundo de celebridades e da música pop começam a inchar juntos. Paul McCartney torna-se Sir, Elton John chora a morte da princesa Diana. É o ano das Spice Girls e do OK Computer, de “Bittersweet Symphony” e “Mmmmbop”, de “Block Rockin’ Beats” e “Firestarter”, mas também de “Barbie Girl” e da música do Puff Daddy com sample de Police. O pop vive uma de suas fases mais prolíficas e esquizofrênicas – e o Napster dois anos depois só entortariam as coisas ainda mais, ao tirar o controle das gravadoras de disco.

E assim, chegamos a 2007. O que o ano que termina hoje tem a ver com o ano que viu a internacionalização do rock, o ano da psicodelia, o do punk e o da discoteca, o dos últimos gigantes e o do domínio da indústria de discos? Você acha que nem os anos têm a ver entre si, muito menos com fatos típicos do ano que acaba hoje, como o experimento Radiohead, o fenômeno emo, o show do LCD Soundsystem, a decadência pública de Amy Winehouse, o fim do Los Hermanos, a ascensão do celular e da música instrumental? Tou começando a retrospectiva 2007 do Trabalho Sujo com atraso, mas o sete desse ano não foi em vão.

Olhos de gata

Olhe fixamente…

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…olhe direito…

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Isso mesmo: lentes de contato da Hello Kitty. Depois do vibrador, tudo é possível.

Link – 31 de dezembro de 2007 a 6 de janeiro de 2008

‘- Blade Runner Definitivo
Publicando as fotos das férias – em plenas férias
2007 digital
Pedro Dória: Bill Gates se aposenta da Microsoft
Vida Digital: Marcelo Gleiser

Mixtape de sábado 8: Flow Dynamics Barcelona

Nem vem regular mandar mixtape de sábado numa segunda, porque primeiro que último dia do ano tem mor cara de sábado e segundo que só assim pra eu retomar a seção, que havia hibernado. A dica é do Danilo: o produtor australiano Dave McKinney, que assina como Flow Dynamics, montou esse setzinho bala trazendo a lógica Girl Talk pra groovezeira funk setentona. Se liga que a parada é de cair o queixo:

Flow Dynamics live remix and mashup DJ Set.
Recorded at the Gold Diggers Festival, Barcelona, October 2007.

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< Download Here (147mb) >

This is a live Flow Dynamics mashup DJ set of funk, soul, hip hop, latin, disco, beats, and breaks, recorded in Barcelona as part of the Gold Diggers Festival at the Sala Apolo on 25th October 2007. I wanted to do something a little different with my dj sets on tour, so I basically had a pile of loops, grooves, songs, acapellas, and song snippets, and then used midi controllers and computer gear to trigger bits and pieces in and out. It means I could do a pile of live remixes and re-edits and make improvised mashups on the fly. Lotsa fun 😉 You can expect to hear lots of exclusive edits, live remixes and general mashup madness including Flow Dynamics favourites, old school dusty funk classics, and the latest tunes from around the globe. Funk, soul, hip hop, latin, disco, beats, and breaks. Feel good party styles all the way…”

Tracklisting (Length:64:16 secs)
Intro Edit (Flow Dynamics)
Dynamite Groove (Flow Dynamics live mashup)
Baby Get That Sound (Flow Dynamics live mashup)
Watch the Dog (Flow Dynamics live rework)
Hollywood Love Stuff (Flow Dynamics live mashup)
Funky White Brother (Featurecast – Flow Dynamics live tweak)
Think (Flow Dynamics live edit)
Avenue Rock (Featurecast)
Love Addict (Flow Dynamics live rework)
Get it off the Floor (Flow Dynamics live mashup)
Black Gold (Flow Dynamics live edit)
So Much Trouble (Flow Dynamics live edit)
Aint No Other Sunshine (Flow Dynamics live mashup)
Magic Galaxy (Flow Dynamics live mashup)
Chuck Berry (Featurecast)
Calle Candela (Flow Dynamics live rework)
Cut Sugar Sideways (Flow Dynamics live mashup)
Fijo’s Sweet Sister (Flow Dynamics live mashup)
Bad Steppin (Flow Dynamics live remix)
Superjam (Flow Dynamics remix)
Monkee Majik (Flow Dynamics live remix)
Live in the Mix (Flow Dynamics)
Live in the Lack of Afro (Flow Dynamics live mashup)
Sing It Loud (Flying Fish)
Chocolate (Flow Dynamics live rework)
Get Up and Dance Freak (Flow Dynamics live rework)
Funky Chicken (Flow Dynamics live remix)
Blow your Ill Sound (Flow Dynamics live mashup)
At the Speakeasy (Flow Dynamics remix)
Impulse (Flow Dynamics remix)
I’m a Man (Smoove)
Hippy Skippy Strut versus Mighty Show Shoppers (Live edit)
Rescue Me Marvin (Flow Dynamics live mashup)
Bossa for Bebo (Flow Dynamics)
Cosmic Soul (QDUP Foundation)

Estas são as quinze maiores empresas do mundo…

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…da ficção, segundo a Forbes.

Visu 001

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Surfar no Fffound é um senhor passatempo.

Acoustic Mainline

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Saudades do Spiritualized? Então se liga nessa jóia que é o show acústico que o Jason Pierce andou fazendo esse ano. Dica do Bruno C.

O futuro do livro?

Enquanto todos debatem sobre como e onde leremos no futuro, o americano Brian Dettmer usa livros como suporte para sua arte em suas Book Autopsies.

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Dica do Bressane.