Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

O caixão da indústria fonográfica


Foto: Rafael Neddermeyer

Comece a reparar: primeiro Beatles, depois os Stones… Vem aí uma nova safra de caixas de CD, todas aspirando o caráter definitivo, épico, completista. É o último e longo suspiro da indústria fonográfica como a conhecemos, que exalará todo seu catálogo em diferentes formatos tácteis antes da distribuição digital, antes uma ameaça, tornar-se regra. E não é só na música, não; filmes e séries já estão nessa há até mais tempo.

Se passamos esses primeiros dez anos do século assistindo à briga entre indústria e público, a próxima década consolidará o consumo de arquivos digitais pela internet como principal forma de vender produtos, principalmente no setor de entretenimento. A discussão vai deixar de ser pirataria para cair para o preço – e se hoje já descobrimos que o download é a forma de consumo de música que menos agride o ambiente (como se precisasse de um estudo pra descobrir isso, mas enfim), já já essa discussão deixa de ser apenas de tom ecológico para recair sobre aspectos trabalhistas. Afinal, se não é preciso uma série de etapas que incluem a fabricação, o transporte e a distribuição de um pedaço de plástico fabricado em escala massiva, quando o CD sair de cena, é inevitável que essas fases deixem de existir e, pelo menos em tese, isso deveria se refletir no preço.

Fora que as lojas – sejam de conveniência ou megastores – ainda têm uma sobrevida maior, mas vão ter que se reinventar como espaço de interação social mais do que simples supermercados. E eu isso eu já falo há um tempo – em alguns anos vão aparecer lojas de amostras grátis de produtos, que podem ser tanto aplicativos para o celular e todo tipo de conteúdo digital gratuito, bocas-livres com marca em tudo (até na banda que fará o show) e uma mistura de loja de R$ 0,99 (lembra delas?) com self-service daqueles que você só paga um valor e come à vontade, só que em vez de “all you can eat”, “all you can carry” – e sem carrinho nem cesta, eis o truque. Imagino esse último tipo de loja como uma versão moderna da pesquisa de mercado. Todos clientes são betatesters e, em vez de pagar, tem de falar de seus hábitos de consumo. E isso não quer dizer ser entrevistado por um adolescente com uma prancheta, mas simplesmente preencher o cartão-fidelidade da loja que lhe dá acesso aos produtos gratuitos.

4:20

On the Run 56: Furlan – Mix20@Kriola Volume Um

E falando em blog de MP3, o Furlan, do Kriola (blog dedicado a groovezeiras pesadaças – ou “música nega do cabelo duro”, como anunciam no slogan), lançou sua primeira mixtape, com dois pés no hip hop, muita ênfase no chamado turntablism e uma pitada de literatura beat. Pra dançar com a cabeça.

Mix20@Kriola Volume Um – Música Nega do Cabelo Duro (by a.k.a Furlan)

MixMaster Mike + Mario Caldato Jr. – “Fela Mentality”
DJ Shadow – “The Third Decade, Our Move”
Cut Chemist Meets Shortkut – “Moonbase Alpha”
Amon Tobin – “The Killer’s Vanilla”
Dj Shadow & Cut Chemist – “Funkybreakbeat”
Hexstatic – “Ninja Tune (Enter The Augmenter)”
Madlib – “Slim’s Return”
Kid Koala – “Drunk Trumpet”
Instituto & Dj Dolores – “Walkman (Versão Original)”
Allen Ginsberg / IllyB – “End The Vietnam War (Dj Spooky Remix)”
Deltron 3030 – “Madness”
Scratch Perverts – “Prime Cuts”
William S. Burroughs – “Curse Go Back”

On the Run 55: DJ Nuts – Disco é Cultura

E já que a onda é mixtape com discos velhos (e que eu falei em música brasileira), você tem que ouvir os três sets do Nuts chamados Disco é Cultura, lançados originalmente em 2005. Dá pra baixar o primeiro aqui, o segundo aqui e o terceiro aqui. Vai na fé.

On the Run 54: DJ Yoda – How To Cute And Paste The Thirties Edition

E por falar no Pedrada, a Babee pinçou do site essa mixtape do DJ Yodaaquele mashupeiro hip hop que veio no Timfa do ano passado – que ele fez usando apenas discos dos anos 30. Ele nem mexe muito nas músicas, só dá uma ou outra acelerada no beat e cola trechos de diálogos e propagandas antigas (e alguns samples modernos). Como se mandar “Cheesecake” e “Reefer Man” já não fosse o suficiente… Fico pensando o resultado de um experimento desses com discos de música brasileira do mesmo período.

DJ Yoda – How To Cute And Paste The Thirties Edition

Danny Kaye – “Beatin Bangin Scratchin”
Benny Goodman – “One O Clock Jump”
Danny Kaye – “Ballin The Jack”
Louis Armstrong – “Cheesecake”
Cab Calloway – “Minnie The Moocher”
Thelonious Monk – “Black And Tan Fantasy”
Thelonious Monk – “Caravan”
Moondog – “Lament 1, Birdss Lament”
Jeri Southern -“An Occasional Man”
Duke of Iron – “Ugly Woman”
Slim Gaillard – “Yip Roc Heresy”
Benny Goodman – “Ding Dong Daddy”
Champion Jack Dupree – “Walking The Blues”
Fats Waller – “Reefer Song”
Cab Calloway – “Reefer Man”
Duke Ellington – “Dont Mean A Thing”
Henry Thomas – “Red River Blues”
Harry McClintock – “Big Rock Candy Mountain”
Vera Ward Hall – “Trouble So Hard”
Bessie Jones – “Sometimes”
Robert Johnson – ‘”Hellhound On My Trail”
The Marx Brothers – “Hello I Must Be Going”

Aproveito a deixa para ressuscitar e liberar a seção On the Run, que começou com o nome de Mixtape de Sábado, pulou para o domingo e ganhou esse título em inglês em homenagem ao Pink Floyd, mas que, desde que eu diminuí o número de posts no fim de semana, parou de ser publicada. Como a regra da seção é linkar mixtapes, DJ sets ou podcasts que enfileirem várias músicas sem a intromissão vocal de um locutor, apresentador ou radialista, incluí os últimos posts que tinham essa pegada na seção e renomeei todas as antigas Mixtapes de Sábado para seguir com a mesma numeração. E agora o On the Run não tem dia: pintou algo legal, aparece.

A caixa dos Stones

Falei outro dia da caixa dos Beatles e já apareceu a dos Stones

Mas é aquele papo: pra começar o único atrativo da caixa (exclusiva da Amazon) é esse poster com uma imagem com da fase Sticky Fingers – todos os 13 discos serão lançados em versão em separado junto com a própria caixa, e estes não são exclusivos da Amazon. Não custa lembrar que a caixa também só cobre o período posterior a 1971, quando os Stones se livraram das garras do recém-falecido já-vai-tarde Allen Klein para fundar seu próprio selo. Todo material lançado entre sua estreia nos discos e até a morte de Brian Jones simplesmente não está no pacote – o que torna a caixa longe de definitiva (por mais que contenha umas quatro ou cinco obras-primas). E como, dos discos remasterizados, o único que ainda não foi lançado é o clássico Exile on Main St., a caixa sequer adianta o lançamento deste disco e simplesmente deixa a lacuna, obrigando seu comprador a comprar o disco quando sair, em versão provavelmente mais cara do que seus pares (“é duplo”, vão dizer; em CD, não é, retruco). E se os discos separados custam quase 11 dólares e a caixa passa os 150, não é exagero dizer que você está pagando dez dólares por um poster e pela possibilidade de não escolher deixar uns discos fuleiros dos Stones fora da sua coleção. Legal e tal, mas não compensa.

Bullit-time Globo istaile

E depois falam dos Mutantes da Record… Dica do Rafa.

4:20

Novas do Little Joy e a calcinha da Binki

Falando em Los Hermanos, Amarante também apresentou-se no fim de semana passado com seu Little Joy no Brasil pela segunda vez no ano, subindo um degrau considerável – do Clash pra Via Funchal, preço de ingresso quase triplicado em relação ao começo do ano. E aproveitou pra mostrar músicas novas. O Terron compilou três dessas (abaixo vão duas, bem boas), além do vídeo deles tocando “Procissão“, do Gil.

Terron também twittou uma fotinha que saiu no blog do Maurício Valladares em que a Binki, esvoaçante, pagou uma calcinha completa ao pular mais que deveria, se liga:

Marcelo Camelo catártico

O Hermano se apresentou em São Paulo durante o fim de semana e, além dos setlists, ele postou alguns vídeos e fotos dos shows no Teatro do Sesc Pompéia em seu blog no MySpace. Pra encerrar a minitemporada de shows, ele quebrou o protocolo da casa e liberou os fãs pra chegar mais:

Uma avalanche de good vibe, hein. Não é à toa que o cara não para de sorrir. E não custa lembrar que, na primeira noite, sexta, ele liberou prum fã subir no palco e… Quer dizer, não vou estragar a surpresa – vai lá no site da Fernanda (eu acho incrível que ela ainda use Multiply), que postou um vídeo flagrando um momento crucial na vida de qualquer um, mas com uma mãozinha camarada de um ídolo.