Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Eis o motivo pelo qual o One Hot Minute me é tão querido: ele foi o primeiro assunto do primeiro Trabalho Sujo, ainda impresso, que saiu no dia 20 de novembro de 1995, há quase uma década e meia. Desenterrei o bicho, dá até pra ler se tu clicar em cima.
Engraçado como algumas coisas já estão presentes desde o início: a mistura de música com tecnologia, bandas novas (o Linguachula foi o último disco do Banguela, a banda de Campinas que eu mais gostava; o Burt Reynolds era a banda do Wagner que hoje é o dono da Colours) e até a impressão digital. Como vocês sabem, é tudo um grande plano. E não reparem na feiúra da página (não fala assim, diz meu superego emocional). O lance é que eu mesmo diagramava – e nunca havia diagramado na vida. Aos poucos fui melhorando, teve uma época que era a página central do caderno de cultura de domingo, tinha calhamaços de textos e era bem istaile.
É, o anúncio é da Encol, mas era do jornal, não do Sujo. Não vai tendo idéia errada.
E, sim, há um plano de não só escanear como digitar todos os Trabalho Sujo impressos, páginas do jornal Diário do Povo, de Campinas, que foi a minha porta de entrada para o mundo das drogas – no caso específico, essa cachaça chamada jornalismo. Há um plano pra alguma comemoração desses quinze anos, daqui uns meses. Mas às vezes bate a preguiça e eu deixo rolar. Melhor do que arrumar coisa pra me preocupar…
Maior galera torce o nariz pra esse disco, mas eu acho fodão. É um Red Hot dark, pessimista – e com o Dave Navarro na guitarra. É fácil-fácil melhor do que qualquer disco do Jane’s Addiction (não é muito difícil, né…).
Fora que o One Hot Minute tem outro motivo pra ser uma boa lembrança.
Também achei essas versões sem masterização, olha:
O semanário New Musical Express aproveitou mais uma reformulação gráfica para apresentar 10 capas diferentes que sublinham com 10 artistas diferentes a versão deles para o cenário pop atual no mundo. Bem diversificada e até fazendo apostas boas (Biffy Clyro e Magnetic Man), a lista consagra o indie rock como novo mainstream e parece apontar para o fim de uma década de indecisão editorial que o clássico jornalzinho patinou bonito. Não custa lembrar que apesar de lembrado recentemente por apostar em hypes furados e bandas constrangedoras, o NME é o veículo inglês que permitiu que a imprensa musical do país pudesse sair do trivial, apostou no punk logo que os Sex Pistols apareceram, fundou o que chamamos hoje de indie rock em dois momentos cruciais – ao lançar as fitas C81 e C86 -, assumiu ser de esquerda em plenos anos Thatcher, inventou o grunge ao acompanhar a primeira turnê do Nirvana à Inglaterra, e o britpop – entre vários outros méritos. Eis as capas:
Não é um mundo perfeito, mas me parece razoável – e mais próximo da realidade do que bandas com trinta anos de idade que se arrastam em shows pra dezenas de milhares de pessoas. Vi essa notícia na Bean, mas a imagem eu peguei no Move that Jukebox.
Vi na Babee (aproveita que vai lá e baixa o podcast dela que é sempre fodaço). Não manja? Manje.
Materinha que fiz pro C2 Música, a edição semanal do Caderno 2 do Estadão dedicada ao tema, sobre a visita que fiz há menos de um mês à Polysom, a tão falada única fábrica de vinis da América Latina, que finalmente lançou seus primeiros discos. Ela conversa com o Personal Nerd que fiz pro Link há duas semanas.
Sulcos do acetato, primeira etapa na fabricação do vinil, vistos no microscópio da sala de corte
Fotos: Tasso Marcelo/AE
Fazendo disco: o pó de PVC é posto na extrusora…
…que depois sai pelo cilindro à direita, como uma massa mole…
…as matrizes do disco são postas na prensa, que é calibrada a cada prensagem…
…a massa de vinil é posta entre os dois rótulos do futuro LP e depois posta na prensa…
…que, uma vez fechada, é aberta para revelar o disco idêntico ao que você vai pegar na loja, ainda quente…
O que ele está fazendo aí?
Passar um dia na Polysom, única indústria de vinil da América Latina, é como viver nos tempos em que CDs e música digital não eram mais do que ficção
Uma massa mole e preta sai quente de uma máquina chamada extrusora. Moldada numa pequena bola que cabe na palma da mão, ela é disposta sobre um dos rótulos de papel do futuro disco ? o outro é aplicado por cima, formando uma espécie de sanduíche de massa de pó de PVC e papel, que é colocado em uma enorme prensa hidráulica. A máquina faz seu trabalho em poucos segundos: espreme o bolinho engraçado entre duas chapas horizontais que, ao se afastarem uma da outra, revelam um disco de vinil recém-prensado.
Esta operação simples e quase artesanal é a etapa final de um processo que chega ao fim após quase um ano. “A gente achava que em um mês dava para colocar isso para funcionar e já estamos há oito meses, sempre fazendo testes para ficar direito”, explica João Augusto, dono da gravadora Deckdisc e agora proprietário da Polysom, a única fábrica de discos de vinil da América Latina.
A fábrica fica em Belford Roxo, região metropolitana do Rio, e a ida do Aeroporto Santos Dumont ao portão da Polysom dura quase o mesmo tempo que o do voo Rio-São Paulo. Ao volante, Rafael Ramos, filho de João Augusto e diretor artístico da gravadora ? um dos principais entusiastas da reativação da Polysom -, recorda o feito, com o sorriso largo. “Nem parece que até outro dia isso era só uma provocação que eu fazia com o meu pai”, revela enquanto atravessamos a Linha Vermelha saindo do Rio.
É importante entender o papel de Rafael nesse processo, uma vez que ele faz parte de uma geração que viu os vinis nas coleções dos pais, assistiu à ascensão e posterior queda do CD, viveu os primeiros dias da música digital, sem suporte e sem disco, e redescobriu o velho disco preto quase no fim da primeira década do século.
“As pessoas compram pelo fetiche”, diz João Augusto, um dos donos da Polysom
E Rafael está longe de ser o único. Só nos EUA, no ano passado, foram vendidos 2 milhões e meio de vinis, um número a que João Augusto acrescenta um dado interessante: “47% desses compradores sequer tem toca-discos”, enfatiza citando uma pesquisa feita pelo instituto Nielsen Soundscan. “As pessoas compram pelo fetiche.”
As megastores brasileiras não demoraram a perceber isso, tanto que algumas já exibem prateleiras com vinis recém-fabricados – todos importados. “Mas a maioria das lojas não tem nem espaço para receber os discos”, conta João. E ele traduz esse novo interesse pelo vinil ao contar como foi que a cantora Pitty reagiu ao ver seu disco na versão vinil: “Agora, sim, somos uma banda de rock.”
Pitty faz parte da primeira safra de discos saída da gravadora, todos da Deckdisc. Além do relançamento de Chiaroscuro, a primeira leva ainda inclui outros discos da gravadora carioca: o solo da vocalista do Pato Fu Fernanda Takai e os discos mais recentes dos grupos Cachorro Grande e Nação Zumbi. Mas João é enfático ao dizer que a Polysom não é a fábrica da Deckdisc. “É dos sócios da Deckdisc, cobramos da Deck o mesmo que cobramos de qualquer um.”
Ele acredita que a primeira etapa do processo está terminando agora, com a fabricação dos primeiros discos. “Só agora é que as pessoas vão ver que é verdade”, festeja. E não está falando apenas dos consumidores, mas também das gravadoras e dos artistas. “Acredito que os artistas vão motivar muito este movimento”, diz João, contando que alguns deles – Jorge Ben Jor e Lenine – já abraçaram a ideia.
Resta saber como o mercado brasileiro reagirá aos lançamentos. A gravadora EMI é uma das que estão em conversações com a Polysom para o relançamento da discografia do grupo Legião Urbana. Se ainda é cedo para saber se o velho LP volta para valer às lojas, ao menos podemos comemorar que a única fábrica de vinil da América Latina fica no Brasil ? e já está funcionando.
Na linha de produção
Pré-análise do áudio. O operador mede a qualidade do som usando instrumentos específicos e sua experiência técnica, antes do áudio começar a se transformar num vinil.
Cabeça de corte. Esta máquina funciona como um toca-discos. A diferença é que, em vez de reproduzir o som, ela grava os sulcos no acetato.
Galvanoplastia. É a fase química do processo, em que o acetato original é colocado em tanques com nitrato de níquel. As partículas de níquel “grudam” no acetato, formando uma “capa”, que é retirada e funciona como um vinil em negativo.
Prensagem. A capa de níquel é colocada nas prensas, que depois recebem uma massa mole feita a partir de pó de PVC que, prensada, vira um disco.
Como vista pelos Estados Unidos.
Imagine um Pedro Bial da vida apresentando o vídeo abaixo. Agora delete esse pensamento idiota e aperte o play.
Hendrix vive.