Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Vi aqui.
Fomos falar com os caras. Eles estavam impressionados com São Paulo. Com o fato de que aqui os punks eram, de fato, jovens vindos da classe trabalhadora, não os filhos de diplomatas e altos funcionários do governo que tinham visto o punk na Inglaterra e chegavam ao Brasil arrotando um no future meio postiço como era em Brasília. Nós também estávamos impressionados com eles. Eles eram menos pretensiosos, mais desencanados que a gente. Tinham feito uma banda e pronto. Iam lá e faziam. E o Renato, luzindo no meio daquilo. Renato tinha lido um monte de coisas que eu tinha lido. Renato tinha pensado um monte de coisas que eu tinha pensado. Renato tinha ouvido um monte de coisas a mais. Entendia o pop. Tinha estudado, durante anos a fio, seus ídolos. Tinha traçado uma estratégia para se tornar um.
Bem boa a homenagem de Bia Abramo ao Renato Russo no UOL. Além de ter acompanhado a ascensão de Renato muito antes de ele se tornar um ídolo, Bia ainda aproveita para fazer um mea culpa geracional, contextualizando a rebeldia e a seriedade dos anos 80 para uma geração acostumada a ter tudo a um clique do mouse.
Fui aprender a gostar de seus textos depois de velho – não dava muita atenção às suas matérias na Bizz (era só mais uma fã do Bowie, eu curtia as discotecas básicas escritas pelo Alex e a coluna do Camilo) e lembro que quando comecei a frequentar a Conrad que ainda se chamava Acme, ainda nos anos 90, ela tinha sido contratada pelo André e pelo Rogério – o que deixavam os dois todos orgulhosos de terem um ídolo em seu quadro de funcionários. Isso foi bem na época em que o Tomate abandonou o Futio para vir para São Paulo editar música na falecida General, onde publiquei meu primeiro frila fora do jornal (embora não-pago): uma matéria sobre o rock do interior de São Paulo (eu morava em Campinas na época) e uma prévia do segundo disco do Pato Fu, o hoje clássico Gol de Quem?. E outro dia a própria Bia gargalhou comigo de volta depois que o Corinthians despachou o São Paulo no outro domingo.
E ainda tem quem queira viver em outra época…
O Tiago dá espaço para o Arthur comemorar os 100 anos da Confederacion Nacional del Trabajo espanhola e falar um pouco sobre um dos assuntos que ele mais é versado, o anarquismo:
Aconteceu de virar um cdf sobre o assunto, conhecer a história das lutas anarquistas de cabo a rabo e fazer uma biblioteca sobre anarquismo/comunismo de esquerda bonita de se ver. E fiz muitos amigos e conheci lendas do meio, como o Maurício Tragtenberg e o Jaime Cuberos (dois autodidatas incríveis) que muito me impressionam até hoje; tanto eles quanto boa parte dos amigos anarquistas que estimo – com os quais não compartilho mais do “nobre ideal”, me sentindo próximo ao autonomismo –, tem uma virtude que é algo que persigo muito: manter relações éticas com o mundo.
O anarquismo pode estar velho, caduco, mas a ética destas pessoas impressiona muito. Isso é motivo de chacota inclusive por parte de muito esquerdista que acredita que os fins justificam os meios sempre. Daí, me parece importante falar sobre os 100 anos da Confederacion Nacional del Trabajo da Espanha, desde sempre, a maior organização anarquista do planeta. Na Guerra Civil espanhola – o que, curiosamente os antiautoritários chamam de Revolução Espanhola – de 1936/39, chegaram a ter dois milhões de associados.
Bem que alguém podia trazer pro Brasil esse ano, hein…
Foto: Liliane Callegari
“Outro dia dei uma dura numa menina que toda vez que me encontra fica dando conselhos batidos. A pessoa não tem noção de como é a minha vida. Primeiro reclama que você não leva metais pro Studio SP. Velho, eu já pago do bolso pra três caras, como é que eu vou levar metais? E se levar, ninguém vai ouvir por que o som é uma bosta. E eu não consigo ensaiar. A vida é outra. Não tem mais o negócio de chamar o iluminador, fazer cenário e etc. Então eu fazia aquele som, nego não ouvia, não tinha lugar pra tocar e eu fui sacando. Não é também que mudei só porque neguinho queria me ouvir, porque aí pode parecer meio ridículo. Lógico que eu já gostava de outras coisas. Só acelerou o processo. Então, se (violão de) sete cordas não dava mais, vamos logo chamar um guitarrista. Só que eu queria juntar o guitarrista com o sete cordas, que se recusou a fazer isso. Tudo vai acontecendo e vai te acelerando na vida, te joga pra um lado e pra outro. Não tem muito glamour intelectual. Claro, tem no sentido de você sacar as coisas e ir tocando. Eu podia deprimir, ter o perfil do gênio que não consegue… Porém, como estou a fim, eu vou tocar. Então a menina vira pra mim, no Rio de Janeiro, e fala: “Gostei muito do seu show, mas você devia ter tocado algumas covers conhecidas, pras pessoas saberem de onde você vem”. No Rio ninguém tem dinheiro pra me levar, então arrumei uma banda carioca pra tocar. Dream team: Kassin, Domenico e Bubu. Puta banda foda. Passei de cara 10 faixas, os caras tiraram, fiz um ensaio de três horas e toquei. Pô, estou no Rio de Janeiro, fazendo meu melhor, não gostou do show, beleza, mas não fala de coisa que não tem a ver! O mundo não é assim. Eu não estava com a minha banda, não ensaiei, não ganhei dinheiro – aliás, paguei pra ir – não dá pra ter metais. Esse show que ela queria ver eu já fiz, no Sesc. Tinha metais, piano de cauda, figurino, cantoras, já foi. Você estava nesse? Não? Esquece. Agora é rock n’ roll. É vida real. Minha geração é essa também, faz do jeito que dá. Neguinho pode achar que é meio capenga, mas a gente ainda faz muito. Tudo isso melhorou. E toda vez que encontro com músico de fora de São Paulo, então, parece que a gente mora em Nova York. Salvador é um deserto, terra arrasada. Tem gente foda fazendo musica foda e se fudendo na Bahia, em Belo Horizonte, Recife, no Rio de Janeiro. O Kassin toca mais em São Paulo do que no Rio. O Brasil não expande, vai ficando cada vez mais só em São Paulo. E não é nem no interior. Acabei de passar no primeiro edital da minha vida, no Sesi. Vou tocar em Marilia, Franca. A chance de tocar para quatro pessoas é enorme. Não tem mercado. Mas beleza, vou ser pago pra isso. Fui tocar no Sesc Ribeirão Preto e tinha mais gente no palco do que na platéia. Em São Paulo não, se você tocar uma vez por mês está bom”
E por falar em música brasileira, quem desanda a falar sobre o papel da cena atual e sua importância é o Rômulo Fróes, que deu essa imensa entrevista ao Marcelo e ao Tiago em que dá seus pitacos sobre a situação da música brasileira do século 21. Deixa a preguiça de leitor de Twitter de lado e vá fundo.
E já que estou falando de Lost fora da terça-feira, se liga nesse despertador Dharma:
Quer também, né? Mas é só um dos inúmeros produtos de primeiro de abril inventados pela loja ThinkGeek – separei uns outros aqui, olha só.
E por falar em Lebowski, o Pedro pescou essa referência logo que o episódio do Richard foi ao ar, na semana passada – e não demorou para que mais gente percebesse e fizessem a montagem. No clássico dos irmãos Coen, Mark Pellegrino, o mesmo ator que faz nosso querido deus da ilha de Lost, Jacob, é um dos capangas contratados para dar um susto no Lebowski errado – no caso, o Dude. Em uma determinada cena, ele afunda o personagem de Jeff Bridges repetidas vezes em uma privada. A cena foi devidamente homenageada quando Jacob assusta Richard no episódio da semana passada de Lost, se liga:
Até que veio o mashup inevitável. Sempre ele.