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Portishead de volta


O concerto pró-Palestina que Brian Eno realizou nesta quarta-feira em Londres não teve a cobertura que um evento dessa magnitude deveria ter justamente por abordar o genocídio palestino como tal, não apenas como um conflito no Oriente Médio, como prefere a imensa maioria da mídia convencional. E entre as mais de uma centena de atrações de diversas áreas que estiveram no palco do estádio de Wembley (nomes tão diversos quanto Damon Albarn, Paul Weller, Hot Chip, Rina Sawayama, Neneh Cherry, PinkPantheress e os atores Richard Gere, Benedict Cumberbatch e Florence Pugh, entre outros), uma delas não pode estar presente e mandou sua colaboração à distância – e pela primeira vez em mais de dez anos (fora uma apresentação em 2022 num pequeno show em benefício das vítimas da guerra da Ucrânia) o Portishead voltou a se reunir para revisitar um de seus clássicos do primeiro álbum Dummy, a tensa “Roads”, gravada com um quarteto de cordas. Tomaara que funcione como uma deixa pra fazer mais shows. E ainda vou falar mais sobre este Together For Palestine.

Assista abaixo:  

De volta ao cinema

Muito bom ver Luíza Villa crescer entre as duas apresentações que fizemos no Belas Artes dentro da sessão Trabalho Sujo Apresenta. Quando ela estreou seu tributo a Joni Mitchell na sala do cinema da Consolação, em novembro de 2023, ela fazia sua estreia solo ao mesmo tempo em que sua homenageada completava 80 anos e eu ressuscitava essa sessão (que antes da pandemia acontecia na Unibes Cultural) em versão audiovisual. Por isso, ao retornar ao cinema com dois anos de desenvolvimento de sua carreira autoral, que pode, a partir de sua homenagem à Joni, ganhar corpo e desenvolvimento, teve um gosto especial. Ainda mais quando a apresentação reunia muitos pontos de sua curta carreira. Ao ser acompanhada por dois integrantes de sua banda Orfeu Menino (Pedro Abujamra nos teclados e Tommy Coelho na bateria), ela seguiu fiel à Marcella Vasconcellos, baixista com quem fez todos seus seus shows solo (ou “sous sholos”, como ela zoa) desde que ela deixou de apresentar-se apenas com o violão e trouxe a convidada Lalá Santos para brilhar com seu clarinete em quase a metade da noite, além de contar com os visuais da amiga Olívia Albergaría, que fez os vídeos do primeiro show da Joni. O show foi quase todo autoral à exceção de sua versão acústica para “Both Sides Now”, música que batiza o show tributo e que, por questões técnicas (a bateria do violão elétrico arriou minutos antes do show começar), preferiu tocá–la sem eletricidade, nem amplificação no instrumento nem microfone em sua voz, mostrando, na prática, o quanto ela cresceu neste anos. Vambora Villa!

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Trabalho Sujo Apresenta Luíza Villa @ Belas Artes (18.9)

Chamei a Luíza Villa para participar de mais uma sessão Trabalho Sujo Apresenta no Cine Belas Artes, dia 18 de setembro, a partir das 20h30, desta vez tocando suas próprias canções. Villa foi a artista que inaugurou a série de shows que faço no cinema desde 2023, mas com o show que fizemos juntos em homenagem a Joni Mitchell. Dessta vez, ela vem mostrar seu próprio repertório misturando MPB, jazz brasileiro, música pop e folk music, acompanhada do tecladista Pedro Abujamra, do baterista Tommy Coelho, da baixista Marcella Vasconcelos e da clarinetista Laura Santos, além de mostrar músicas de Milton Nascimento, Joni Mitchell e Jorge Drexler. Os ingressos já estão à venda.

A trilha sonora da história de origem de Bob Dylan

Mais uma vez Bob Dylan mergulha em seu passado e sincroniza um volume de sua extensa Bootleg Series – em que oficializa gravações piratas em coletâneas com vários discos – com um filme lançado sobre um período de sua carreira. A primeira vez foi há dez anos, quando transformou o sétimo volume da série na trilha sonora do documentário que Scorsese dirigiu sobre sua fase elétrica, No Direction Home. Agora ele aproveita o sucesso do cinebiografia Um Completo Desconhecido para lançar a coletânea que mais volta no tempo em sua própria história, ao anunciar a caixa Bootleg Series Volume 18: Through The Open Window, 1956-1963, que reúne gravações do tempo em que ainda era um adolescente roqueiro em Minnesota até se tornar o farol da cena folk de Nova York no início dos anos 60. A nova seleção chega para público no mês que vem (já em pré-venda, claro) e reúne 139 faixas, sendo que 48 delas nunca foram lançadas, incluindo a íntegra da apresentação que Dylan fez no Carnegie Hall nova-iorquino no dia 26 de outubro de 1963. Dividida em três versões – uma com oito CDs e duas com os melhores momentos da caixa principal, que vem ou como CD duplo ou caixa com quatro LPs -, a nova compilação traz gravações caseiras, apresentações em pequenas casas de shows, jam sessions e versões prematuras de alguns de seus maiores clássicos, além de um livro com 125 páginas que traz um ensaio escrito pelo historiador e crítico Sean Wilentz e fotos raras. Para anunciar o novo lançamento, ele antecipa a música “Rocks And Gravel (Solid Road)”, que ficou de fora de seu segundo disco, Freewheelin’ Bob Dylan. Abaixo você confere como ficaram as duas caixas, todas as músicas escolhidas e a íntegra da nova canção:  

Olha o Xx no aquecimento….

A primeira notícia oficial sobre a volta do Xx marcou sua volta aos palcos para o festival de Coachella do ano que vem, mas o grupo postou há pouco trechos em vídeo mostrando seus três integrantes no estúdio, avisando que estão voltando a pegar seus instrumentos e perguntando quem irá vê-los no deserto – californiano, no caso. Mas isso não quer dizer que sua volta oficial acontecerá apenas em abril do ano que vem, muito menos o quarto disco que vêm atiçando desde 2024… Será que sai em breve?

Assista abaixo:  

Dos tempos da pandemia

Se tecnicamente ainda não saímos do período pandêmico, que dizer mentalmente? A arte mais uma vez mostra que não estamos 100% resolvidos em relação a esse período nefasto que atravessamos e cada vez mais obras vêm rever essa fase com uma certa distância no olhar. Uma delas é o EP que Thiago França lança nesta quinta-feira ao lado de Marcelo Cabral. Samples & Naipes, como seu título entrega, é composto de partes de músicas que Thiago gravou durante a quarentena interminável e decidiu compartilhar com o compadre baixista, que usou seu viés produtor para picotar as músicas e recriá-las incluindo até gravações do saxofonista em outros contextos. “Durante a pandemia, quando eu me dei conta de que a coisa ia longe eu me dediquei a ficar gravando coisas em casa, como exercício, pra não ficar parado sem criar nada”, França começa a lembrar, “e uma das empreitadas foi esse EP, que eu comecei regravando músicas minhas, já que tava sem idéia pra compor, entreguei pro Cabral e dei carta branca pra ele, já mirando nas coisas que ele fez no Naunym, disco eletrônico dele.” “Quando ele me convidou comemorei porque podia voltar a criar, que é a coisa que a gente mais sentia falta e comecei a picotar sax, respiração, o som dos dedos batucando nas chaves, com o ouvido atento à cada coisa, não só ao tema, mas quebrando a cabeça pra onde poderia ir, sem precisar respeitar nada, métrica, sampleei coisas dos outros discos dele, tem um monte de Thiago aí”, continua Cabral, falando que jogou muitas coisas da máquina de sampler, inclusive coisas do Marginals, grupo de free jazz que ele tinha com o Thiago. “Eu e o Cabral tocamos junto há muito tempo, então mesmo remotamente tem muito entrosamento e muita confiança um no outro também, e por mais que eu desejasse essa estética mais eletrônica, super produzida, não queria perder orgânico, o ‘tocado’, e eu sabia que ele ia entender isso sem precisar explicar.” Entre as faixas do EP estão a faixa título do disco RAN da Space Charanga, “Nostalgia Perus” do disco que Thiago fez em homenagem ao clássico livro Malagueta, Perus e Bacanaço de João Antonio, “Pedra do Rei” que ele gravou com sua Espetacular Charanga do França e a clássica “Angolana”, do Metá Metá, que ele antecipou em primeira mão para o Trabalho Sujo. Ouça abaixo:  

Luiza Brina no Tiny Desk!

Olha a Luiza Brina no Tiny Desk! Mas não confunda com o Tiny Desk Brasil, que ainda não anunciou sua data de estreia, embora já esteja gravando sua primeira temporada por aqui. A aparição da cantora mineira na versão original do programa da NPR foi gravada no fim do primeiro semestre deste ano, quando ela fez uma pequena turnê pelos EUA, e a exibição de desta participação coincidiu em ser após o anúncio da versão brasileira do Tiny Desk no país. Brina foca sua apresentação em seu disco do ano passado, Prece, quando apresenta cinco de suas orações acompanhada da mesma banda que faz seu show: Lucas Ferrari (teclados), Kastrup (bateria e percussão), Patrícia Garcia (oboé) e Ester Muniz (fagote). Lembro quando ela ainda estava finalizando o disco, gravado com orquestra, na época da temporada que fez em março do ano passado no Centro da Terra, tocando estas músicas ao vivo pela primeira vez, e é tão bom vê-la alçando voos ainda mais altos com estas mesmas canções – e estendendo a bandeira de Minas Gerais pra todos verem. Voa Luíza!

Assista aqui:  

Coachella 2023 reflete a crise política atual dos EUA

O Coachella anunciou sua escalação para a edição do ano que vem e o que foi apresentado é um bom retrato do estado do pop atual equilibrado com a expectativa de que os Estados Unidos se tornem uma autocracia em pouco tempo. Ao mesmo tempo em que traz nomes instigantes e relevantes como Wet Leg, Ethel Cain, Turnstile, Oklou, Addison Rae, Pink Pantheress e o inusitado encontro inédito do Nine Inch Nails com o Boys Noize, batizado de Nine Inch Noize, o evento prefere jogar no seguro, trazendo as três principais atrações vindo direto da música pop mais comercial feita hoje – Sabrina Carpenter, Justin Bieber e Karol G -, nomes estabelecidos do rock alternativo (desde as voltas do Xx e do Rapture, passando pelos Strokes, Devo, David Byrne, Foster the People e outros), um monte de DJs, bandas de hardcore, nada de country e pouco de rap. Mas um bom termômetro para a escalação do ano que vem é a tentativa de mostrar que é possível ser multilateralista na Trumplândia, mas só pela escolha brasileira – tanto nome do Brasil pra levar e eles vão de Luísa Sonza? – fica a impressão de nomes colocados mais pra fazer número do que por sua importância artística. Fora essa estreia no bunker (seja lá o que isso queira dizer) do Kid A Mnesia do Radiohead. Será um show da banda dedicado aos dois discos ou uma espécie de instalação ou performance? Acho mais provável a segunda opção, mas vamos ver…

Dua Lipa ♥ Donna Summer, Outkast e TLC

Tão acompanhando a turnê da Dua Lipa pelos EUA? Ela segue homenageando cada cidade que passa, cantando músicas de artistas locais a cada novo show. E se no primeiro show que fez em Boston celebrou o Aerosmith, no segundo ela foi na veia da disco music puxando o clássico “Bad Girls”, da Donna Summer. Depois, passou por Atlanta e, em cada um dos dois shows que fez na cidade, saudou primeiro a dupla Outkast (cantando a inevitável “Hey Ya”) e depois o célebre trio TLC (com a imortal “No Scrubs”). E agora ela tem quatro datas em Nova York, vamos ver…

Assista abaixo:  

Satélite ao espaço

Munido apenas de sua guitarra e alguns synths, Fabio Golfetti nos conduziu às suas viagens sonoras – que expandem e retraem – nesta terça-feira no Centro da Terra, quando apresentou seu espetáculo solo Música Planante pela primeira vez – e sozinho no palco, diferente do que tem pensado para seguir em frente, quando tocará as mesmas músicas que mostrou com a banda que gravou seu único disco solo, lançado em 2022, chamado Songs and Visions. Além das canções deste disco, também passeou por composições solo que remontam aos anos 90 (quando ainda apresentava-se como Invisible Opera, mesmo tocando sozinho), sua onipresente versão para “Tomorrow Never Knows” dos Beatles e músicas dos grupos em que hoje toca, como o Gong e seu Violeta de Outono, de quem tocou “Declínio de Maio” somente com voz e guitarra, para emendar com a clássica instrumental “Telstar”, surf music britânica que o pioneiro eletrônico Joe Meek compôs para festejar o lançamento do primeiro satélite britânico ao espaço (que batizou a canção), no início dos anos 60. Uma viagem…

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