Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Outro delírio do Sesc Jazz nesse fim de semana foi a oportunidade de ver, mais uma vez, o impressionante grupo Aguidavi do Jêje, orquestra percussiva liderada pelo mestre Luizinho do Jêje que, regendo atabaques, chocalhos, tambores e outros instrumentos de couro com seu violão mântrico, transformou o teatro do Sesc Pompeia em uma enorme celebração do candomblé de tradição jêje mahi, diretamente do terreiro do Bogum, no bairro do Engenho Velho da Federação, de Salvador. É a terceira vez que vejo esse acontecimento musical e espiritual pessoalmente e sempre vem a sensação de limpeza total que o grupo provoca no público. Haja axé!
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E, do neida, olha quem ressurge. Aposto que você também gelou por um segundo você cogitou que o Primavera Sound ia voltar pra São Paulo ainda em 2025 e pensou num palavrão desacreditado com a quantidade de shows internacionais nesse fim de ano na cidade, mas logo suspirou aliviado ao perceber que ele agendou sua volta para dezembro do ano que vem. Que boa notícia! Que junto vem com outra boa nova, embora um pouco mais sutil: estamos fazendo planejamento para dezembro do ano que vem. Olha como conseguimos sair do abismo sem futuro em que estávamos há pouco mais de três anos…

Sábado tive o prazer de assistir a mais uma apresentação da turnê Tempo Rei de Gilberto Gil e, mesmo com o clima frio e uma chuvinha chata insistindo em cair (que felizmente só transformou-se em tempestade já de madrugada), o orixá ancestral da nossa música não deixou o pique cair em momento algum. Ele está mais disposto e mais desenvolto do que nos shows que vi no primeiro semestre e, embora mantendo exatamente o mesmo setlist, o roteiro do show e os arranjos das músicas, ele conseguia evoluí-las dentro de seu gingado, do toque de seu violão e de seu canto, a pura serenidade encarnada num velho baiano festeiro contagiou o público que lotou pela segunda noite no fim de semana o estádio do Palmeiras. E se na noite anterior, ele já havia surpreendido ao trazer Seu Jorge para São Paulo, ninguém podia imaginar que ele chamaria o próprio Roberto Carlos para sua festa de despedida dos grandes shows e o público boquiaberto pode acompanhar a inusitada dupla de astros dividindo “A Paz” pela segunda vez no repertório da turnê (a primeira veio quando chamou Marisa Monte pro show do Rio no início da excursão) e o acompanhou em sua “Além do Horizonte”, que Roberto, cheio dos toques, preferiu cantar sem usar termos negativos, invertendo o polo da letra quase como uma mania pessoal (mas sem deixar que isso estragasse o sábado histórico). Tempo Rei mesmo! Um encontro majestático que deixa interrogações sobre a presença de medalhões da nossa música que ainda não estiveram neste palco, como Maria Bethania, Miton Nascimento e, esse é óbvio e tem que acontecer, Jorge Ben. Ou falta mais alguém?
#gilbertogil #robertocarlos #gilbertogiltemporeai #trabalhosujo2025shows 225

Enquanto isso, nos Estados Unidos, Lorde convocava a própria Charli XCX pro seu show em Los Angeles no sábado pra ver se conseguia manter a chama da novidade que seu novo disco traria pra desbravar todo o semestre… E apelando pra “Girl, So Confusing”, claro.

Mal lançou duas músicas novas, o Magdalena Bay puxa mais outras duas músicas para aproveitar o embalo – e não para por aí. Depois de mostrar as ótimas “Second Sleep’ e “Star Eyes”, a dupla baseada em Los Angeles, vem com duas faixas mais dançantes que as anteriores, “Human Happens” e “Paint Me a Picture”, e ao anunciá-las, avisou que elas são diferentes das anteriores – e das próximas! Ou seja, tem mais músicas deles vindo aí. O que eles estão tramando…?

Felizmente o baú de Neil Young não tem fundo e ele acaba de anunciar a edição que comemora o 50º aniversário de um de seus discos mais importantes, Tonight’s the Night. A edição, limitada (cuja pré-venda só acontecerá pelo site do bardo canadense), sairá no dia 28 de novembro e traz seis faixas inéditas registradas durante as gravações do disco de 1975, entre elas uma versão de “Raised on Robbery” com a participação de Joni Mitchell. Mas para anunciar a nova versão (que traz uma nova capa multicolorida, usando a foto preto e branco do disco original), ele pinça a primeira versão de “Lookout Joe”, de 1973, que na nova edição substituirá a versão que conhecemos. Ouça-a na íntegra abaixo:

A cantora espanhola responsável pelo torpedo musical Motomami aos poucos prepara sua volta ao disco, espalhando pistas pela internet e pela vida real. Desligou sua conta no Twitter, mas antes disso twittou “Lux = Love”. Depois trocou sua foto de perfil no Instagram para uma imagem que mostra um feixe de luz e abriu um formulário em seu site rosalia.com, que também traz um novo logo – além de ter aparecido um vídeo, sem som, que mostra a espanhola no estúdio. Ao mesmo tempo, foram avistados em duas cidades diferentes (Nova York nos EUA e Callao no Peru, por enquanto), cartazes que muitos especulam ser a capa do disco, que ainda traz uma partitura musical que ela publicou em sua mailing list via Substack (e que seus fãs já estão tocando-a em vídeos online). Aparentemente o disco chama-se Lux e será lançado em novembro.

Kevin Parker lançou o quinto disco de seu Tame Impala nessa sexta-feira e… Deadbeat ainda não desceu. Tem boas ideias de músicas, bem como é boa a ideia de revisitar o final dos anos 80 e o início dos anos 90 em busca de referências de música eletrônica e pista de dança para embalar suas canções psicodélicas, mas bastam algumas audições para o disco soar apenas monótono. E parece que o próprio Kevin sabe disso, tanto que lançou o novo álbum no mesmo dia em que o Tiny Desk o trouxe para mostrar as novas músicas no já tradicional cenário do programa da rádio norte-americana NPR. Ao abandonar a linguagem eletrônica e abraçar inúmeros instrumentos de corda – todos parentes do violão – para mostrar acusticamente um disco sintético ele parece ao mesmo tempo indeciso (e desconfortável com as novas músicas) ao mesmo tempo em que parece querer mudar o jogo nas versões ao vivo dessas músicas. Uma pena, mas parece que o disco nasceu pra ser esquecido…

Dua Lipa despediu-se da América do Norte nesta semana quando fez suas duas últimas apresentações desta turnê em Seattle, mantendo sempre a regra de homenagear a cidade visitada com músicas nascidas nela, mas ao contrário do que imaginei (cogitei Hendrix, Heart ou Nirvana), ela preferiu olhar para seus contemporâneos, convidando dois artistas da cidade para dividir vocais em suas canções. O primeiro show na Climate Pledge Arena aconteceu na quarta, quando ela chamou a ícone folk local Brandi Carlile para dividir seu primeiro grande hit, “The Story”. Depois, na quinta, foi a vez de chamar o herói indie da cidade, Ben Gibbard, da banda Death Cab For Cutie, para subir no palco, chamando-o de “lenda” por duas vezes, para tocar “I Will Follow You Into The Dark”, hino de sua banda em 2006, em versão acústica. E agora ela aponta sua turnê para nossas bandas, com shows na Argentina, Chile, Peru, Colômbia e, claro, Brasil, antes de encerrar a turnê com três show na Cidade do México. E aí, quem vai no show dela por aqui?

Se Gene Simmons e Paul Stanley eram a inevitável dupla que carregava a reputação e o nome de sua banda Kiss como na maioria dos exemplos do rock clássico, Ace Frehley, que morreu nesta quinta-feira, era o terceiro elemento que equilibrava a tensão criativa – e de negócios – dos donos da banda e fazia as canções e a reputação do grupo brilhar ainda mais graças às luzes de seus solos de guitarra. Mais do que apenas uma perda para o grupo, é um triste despedida para um dos grandes guitarristas da história do rock pesado.