Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Uma viagem pesada com os Boogarins

Show dos Boogarins é sempre um acontecimento transcendental – a liga desenvolvida entre os quatro filhos do Centro Oeste transforma qualquer momento de entrosamento musical dos quatro em um delírio particular que pode ser esticado por horas se eles quiserem. Às vésperas da primeira turnê pelos EUA desde o período pandêmico, o grupo passou pelo Sesc Vila Mariana neste fim de semana celebrando os dez anos do aniversário de seu disco de estreia, Plantas Que Curam, que finalmente ressurgiu em vinil após anos fora de catálogo, e assistir a Dinho, Benke, Rapha e Ynaiã passeando por um repertório que já tem uma década não só reforça a importância do grupo na história da psicodelia brasileira como mostra que sua evolução é coesa, intensa e ampla, fluindo quase organicamente. A apresentação deste domingo contou com a íntegra do disco de 2013 – em ordem diferente -, trazendo ainda faixas que não entraram na edição original e que ressurgem nesta nova versão (como “Resolvi Ir”, que, como faziam há dez anos, fazia o show começar já engatado, “Olhos”, “A Sua Frente” e “Refazendo”), “Foi Mal” e uma faixa inédita, do próximo disco (“Cais dos Olhos” – é isso, Benke?). Por uma hora e meia de transe, o quarteto do cerrado nos submeteu a uma hipnose sonora auxiliada pelo time-família titular para além do palco (Renatão e Alejandra no som, Chrisley como roadie, Rolinos nas imagens e Igor na luz) que expandia minutos por horas psíquicas. O final da primeira parte do show, em que “Infinu”, “Fim”, “Doce” e “Eu Vou” se fundiram em uma só, foi só um dos vários exemplos que eles colocaram em prática a natureza psicodélica de seu som. Uma viagem pesada.

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Assista abaixo:  

E o Jorge Drexler cantando Tim Bernardes?

Entre um show em Montevidéu e Santiago, o uruguaio Jorge Drexler arrumou um tempinho para regravar “BB”, do Tim Bernardes, em português e postar em seu Instagram para convidar o público espanhol ver os shows solo que Tim está fazendo na Península Ibérica. Ficou bonito:  

O disco country de Lana Del Rey

Durante a festa organizada pela revista Billboard antes do Grammy neste domingo, Lana Del Rey confirmou algo que já vinha atiçando: seu disco country está vindo aí. “Se não dá pra perceber pelos vencedores dos prêmios e pelos nossos artistas, o negócio da música está indo para o country”, ela disse durante a festa, como relata a própria Billboard. “Isso está acontecendo! E é por isso que Jack (Antonoff, seu produtor) me seguia para (o estúdio) Muscle Shoals, em Nashville, nos últimos quatro anos – para escrever nosso disco, que está vindo em setembro e chama-se Lasso”. Ela já flertou com o gênero musical algumas vezes, gravando os clássicos “Take Me Home, Country Roads” (de John Denver) e “Stand By Your Man” (de Tammy Wynette), além de ter feito apresentações ao vivo ao lado das estrelas country Nikki Lane e Sierra Ferrell cantando uma música que nunca lançou, chamada “Prettiest Girl In Country Music” – ou seja, ela sabe o que está fazendo… Vamos ver.

Coração certeiro

Fui mais uma vez reencontrar o mestre Jards Macalé, desta vez no Sesc Bom Retiro, onde ele está mostra, durante o fim de semana, seu ótimo Coração Bifurcado, que produziu no ano passado ao lado de Rômulo Froes, Rodrigo Campos, Guilherme Held, Pedro Dantas e Thomas Harres, que no palco surge com uma superbanda formada apenas por mulheres: a gigantesca Maíra Freitas, a guitar heroine Navalha Carrera (que toca na banda da Letrux), Lelena Anhaia (eterna parceira de Anelis Assumpção), a espoleta Victoria dos Santos, Aline Gonçalves e Flavia Belchior. Mas Jards também quis seu momento solo e com seu instrumento passou por três do disco mais recente (“Mistérios do Nosso Amor”, cantada no disco por Bethania, “Grãos de Açúcar” e “Simples Assim”, acompanhada pela voz e pelo piano de Maíra) e pela maravilhosa instrumental “Um Abraço do João”, em que saúda o mestre João Gilberto com um causo incluído em todos seus shows depois da pandemia. Com a banda completa, que além de repassar quase todo o repertório do disco do ano passado, ainda desbravou seus clássicos “Mal Secreto” (emendada, como vem fazendo, com “Corcovado”), “Hotel das Estrelas”, “Soluços” e “Meu Amor, Meu Cansaço”, esta última mais recente mas que já chegou a esse status – foi quando ele apresentou as musicistas que o acompanhavam uma a uma. Foi demais.

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Wayne Kramer (1948-2024)

Outro que nos deixa neste início de fevereiro é o mestre Wayne Kramer, fundador do MC5 e um dos progenitores do punk rock. Com sua banda seminal, abriu um talho na cabeça do rock dos anos 80 ao colocar Detroit no mapa do rock norte-americano ao lado dos conterrâneos Stooges e Alice Cooper. Com o MC5, colocou o rock de garagem dos anos 60 numa britadeira elétrica e junto com o compadre Fred “Sonic” Smith (que anos mais tarde tornaria-se marido de Patti Smith) transformou a guitarra elétrica em um instrumento ao mesmo tempo barulhento e agressivo, como nenhum outro músico daquele período havia feito. E o rugido de suas guitarras ecoavam os gritos politizados incitados pelo empresário do grupo, o ativista John Sinclair. E por mais que o impacto musical de sua influência não tenha sido registrado com eficácia (à exceção do primeiro disco da banda, o imortal Kick Out the Jams, gravado ao vivo), sua influência atravessou os anos 70, mesmo que neste período tenha se afastado da música por conta das drogas e se envolvidos com pequenos delitos que o levaram à cadeia. Ao sair do xilindró, em 1979, mudou-se para Nova York e tocou com um sem número de bandas punk iniciantes, já na segunda leva do punk nova-iorquino. Sua carreira foi ressuscitada de fato nos anos 90, quando o líder do Bad Religion, Brett Gurewitz, o assinou em sua gravadora Epitaph. Aos poucos foi sendo reconhecidos por gerações ainda mais novas até que, no começo deste século, reativou o MC5 com uma série de colaborações ilustres, tocando inclusive no Brasil (com Mark Arm, do Mudhoney, nos vocais). Além da carreira musical também tinha um trabalho social sério voltado à reabilitação tanto de usuários de drogas quanto de ex-presidiários. Sua passagem foi anunciada nessa sexta-feira em suas mídias sociais, mas não há notícias sobre a causa da morte.

Carl Weathers (1948-2024)

Carl Weathers é mais um que nos deixa neste início do ano. Ex-jogador de futebol norte-americano, tornou-se mais conhecido justamente pelo papel que lhe transformou em ator, Apollo Creed, antagonista do personagem que lançou Sylvester Stallone como ator no filme Rocky – Um Lutador. Mas Weathers não ficou preso a um só personagem (que interpretou por quatro filmes) e a fama como Apollo lhe deu papéis como o coronel Al Dillon no filme Predador, o brinquedo Combat Carl da franquia Toy Story, o caçador de recompensas Greef Karga na recente série de Guerra nas Estrelas, Mandalorian, além de interpretar uma versão fictícia de si mesmo na série Arrested Development.

Lá vem o Charlie Brown de novo derreter nossos corações…

A Apple TV acaba de anunciar mais um filme da turma do Charlie Brown para derreter nossos corações. Welcome Home, Franklin, que estreia no próximo dia 16, conta a história de como o personagem coadjuvante entrou numa dessas turmas de moleques que crescemos juntos. O trailer é de chorar, prepare-se.

Assista abaixo:  

Beth Gibbons anuncia seu primeiro disco solo

Viramos o primeiro mês de 2024 e a vocalista do Portishead, Beth Gibbobs, acaba de anunciar seu primeiro disco solo em um post no Instagram, em que publicou uma carta escrita à mão que traduzo abaixo:  

E por falar em Talking Heads…

A mesma distribuidora que ressuscitou o clássico Stop Making Sense para os cinemas reuniu um monte de bambas para celebrar a importância dos Talking Heads. E o primeiro single do tributo Everyone’s Getting Involved: A Tribute to Talking Heads’ Stop Making Sense, organizado pela A24, vem também como uma boa notícia para os fãs do Paramore, que estavam temendo pela existência da banda depois que ela cancelou alguns shows (inclusive no Brasil) e apagou seus posts em suas redes sociais. O trio liderado pela vocalista Hayley Williams abre o tributo ao fazer uma versão para “Burning Down the House”, que contou com um clipe inspirado no filme de 1984 (veja abaixo), considerado o melhor show já filmado para o cinema. O disco, que ainda não tem data de lançamento definida e contará com versões feitas por Lorde, The National, Miley Cyrus, The Linda Lindas, Toro y Moi, Kevin Abstract, Badbadnotgood, Chicano Batman, El Mató a un Policía Motorizado, Girl in Red, entre outros.

Assista abaixo:

 

Joni Mitchell está voltando aos palcos!

Não bastasse ter sido convidada para sua primeira aparição ao vivo na premiação do Grammy deste ano (a primeira em sua carreira de mais de 60 anos), nossa senhora Joni Mitchell acaba de anunciar o primeiro do que esperamos ser uma série de apresentações ao vivo que fará em 2024. A mestra canadense da canção não apresenta-se num show do porte que fará no Hollywood Bowl dia 19 de outubro há mais de vinte anos e os ingressos para esta apresentação entram em pré-venda neste último dia de janeiro a partir das três da tarde (neste link). A aparição de Joni no Grammy, bom motivo para ver o prêmio em anos, acontece neste domingo e a edição deste ano ainda terá apresentações da Dua Lipa, Billie Eillish, Olivia Rodrigo, Billy Joel e U2.