Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

O melhor show de Juçara Marçal

Ainda impactado pelo que presenciei nessa sexta no Sesc Vila Mariana, arrisco dizer que a celebração ao vivo do aniversário de dez anos do disco de estreia de Juçara Marçal tenha sido a melhor apresentação que assisti dessa mulher – e olha que a vi no palco algumas dezenas de vezes. Repetindo a exata formação (“banda original”, brincou nossa musa) de uma década atrás no mesmo lugar que viu o show de lançamento de Encarnado, ela entregou-se ao álbum na íntegra, repetindo exatamente a mesma ordem das faixas do registro original e deixando-o fluir como o clássico instantâneo que sempre foi. “Esses dez anos os tornaram todos mais gatos ainda”, brincou ao apresentar seus compadres Kiko Dinucci, Thomas Rohrer e Rodrigo Campos sublinhando como a experiência dos quatro deixava o show ainda mais denso e coeso, como se só a beleza os tivesse melhorado – sem contar a própria Juçara, toda de vermelho em referência à capa do disco, que estava deslumbrante. O crescendo emocional do disco avançava a cada nova canção e, como na ordem do álbum original, culminou com a intensa “Ciranda do Aborto” cuja parede noise final desapareceu para revelar a delicadez de “Canção para Ninar Oxum” (em que até agora lamento quem bateu palma bem na hora em que o acalanto cairia em segundos do puro silêncio). Entre as faixas de fora do disco, vieram uma versão inacreditável de “Xote de Navegação” de Chico Buarque, em que Juçara foi acompanhada apenas por Rohrer tocando um fouet (!) com o arco de sua rabeca; a clássica “Comprimido” de Paulinho da Viola (em que ela transformou “um samba do Chico” em “um samba do Kiko”) e “Odumbiodé”, do EP que acompanha seu disco mais recente, o igualmente soberbo Delta Estácio Blues, o que me fez cogitar uma versão do DEB tocada com aquela formação (algo que já havia passado pela minha cabeça no início do show, pois a primeira canção, “Velho Amarelo”, faz parte do repertório do show do disco de 2021). Dois detalhes técnicos e artísticos agigantaram ainda mais essa noite: o som perfeito pilotado pelo Alex Pina (deixando o mínimo sussurro e o mais explosivo ruído igualmente cristalinos) e a luz (como sempre) maravilhosa de Olívia Munhoz (trabalhando com poucas cores, equilibrando luz e escuridão na mesma medida e jogando luzes na cara do público, difundindo até as silhuetas). “A gente tem muitas presenças importantes aqui hoje”, disse Juçara nos poucos momentos em que conversou, bem à vontade, com o público, “mas devo confessar que a mais importante pra mim é uma senhorinha de 90 anos que tá ali”, apontando para sua mãe. Ela ainda lembrou que o show de lançamento do disco original aconteceu no dia 15 de abril de dez anos atrás, aniversário de casamento de seus pais. Uma apresentação irrepreensível e a hipérbole não é em vão: estamos acompanhando a melhor fase da melhor cantora do Brasil atualmente. Não é pouca coisa. E sabe o que mais? Outros melhores virão.

#jucaramarcal #encarnado #sescvilamariana trabalhosujo2024shows 27

Assista abaixo:  

Neste sábado, o Alberta #3 renasce no Redoma

E lá vamos nós celebrar o Alberta #3 mais uma vez pela cidade. Desta vez o mítico clube dos anos 10 reaparece encarnado no Redoma, que era o antigo Estúdio Mundo Pensante, que fica na rua Treze de Maio, 825, no coração do Bixiga (em frente à Praça Dom Orione). Começo a noite a partir das 23h e depois de mim ainda tocam o André Marcondes, o Furmigha e a Neiva Silva, uma das responsáveis pela sobrevivência do velho nome. Vamos lá?

Inferninho torto

Não podia ser diferente: quando marcamos o Inferninho Trabalho Sujo nessa quinta-feira 29 de fevereiro sabia que teria que buscar atrações ímpares para que a noite fizesse jus ao dia bissexto. E quem começou a destruição foi o Odradek, cuja dinâmica musical explora ângulos tortos e andamentos improváveis ao mesmo tempo em que fazem isso com muito barulho – e a simbiose entre Caio Gaeta, Fabiano Benetton e Tomas Gil faz todo mundo ficar grudado no que eles fazem no palco. Impressionante e barulhento pacas, como de praxe. Quem fechou o palco foi o papa do math rock Patife Band, liderado pelo icônico Paulo Barnabé, ele por si só uma instituição da música brasileira. Como seu irmão Arrigo, Paulo também trabalha entre a música erudita e a música popular, só que essa segunda vertente, ao contrário do irmão, trafega mais pelo rock, seja pós-punk, noise ou progressivo, tornando a colisão entre as duas linguagens ainda mais complexa. Liderando uma versão quinteto do grupo, com Elvis Toledo na bateria, Gustavo Boni no baixo, Paulo Braga no piano e Arthur Sardinha na guitarra, ele começou a apresentação nos vocais, depois pegou a guitarra para cantar o hino punk “Vida de Operário”, dos Excomungados, foi para a bateria quando tocou peças tortas que ameaçou dizer que não estavam ensaiadas (imagina se estivesse!), além de, claro, as faixas imortais de seu disco-símbolo, Corredor Polonês. O atordoo foi generalizado e depois sobrou pra mim e pra Fran fazer as almas da madrugada derreterem-se na pista. Que noite!

#inferninhotrabalhosujo #noitestrabalhosujo #odradek #patifeband #picles #trabalhosujo2024shows 25 e 26

Assista abaixo:  

Keith Richards tocando Velvet Underground!?

Se estivesse vivo, Lou Reed, que perdemos há pouco mais de uma década, completaria 82 anos neste sábado e a gravadora norte-americana Light in the Attic (uma das melhores do ramo, atualmente) acaba de anunciar um tributo ao bardo de Nova York. The Power of the Heart: A Tribute to Lou Reed, que será lançado dia 19 de abril, reúne fãs de todas as idades do fundador do Velvet Underground, gente como Joan Jett, Rufus Wainwright, Lucinda Williams, Angel Olsen, Rickie Lee Jones, Afghan Whigs, Rosanne Cash, entre outros. E a faixa escolhida para começar este tributo foi um dos pilares de sua discografia, “I’m Waiting for the Man”, do primeiro disco do Velvet, cantada por ninguém menos que Keith Richards, numa versão fulminante para o clássico sobre comprar drogas, veja abaixo, junto com a capa do disco e a ordem das músicas.  

O Amaro Freitas tá vindo…

O primeiro grande disco de 2024 – e não apenas brasileiro – chega aos ouvidos de todos nesta sexta-feira, quando o pianista pernambucano Amaro Freitas compartilha conosco o mergulho que fez nas águas amazônicas e na alma dos povos originários desta região. Y’Y (pronuncia-se Ieiê e quer dizer “água” ou “rio” no dialeto indígena sateré mawé) será lançado pelo selo norte-americano Psychic Hotline e segue sua busca com seu jazz decolonial para além dos rumos do ótimo Sankofa, de 2021. Em faixas como “Mapinguari (Encantado da Mata)”, “Uiara (Encantada da Água) – Vida e Cura” e “Sonho Ancestral” (em que cita lindamente “Luar do Sertão”), ele nos conduz por uma viagem ao mesmo tempo misteriosa e mágica ao lado de músicos estadunidenses como o harpista Brandee Younger, o baterista Hamid Drake, o flautista Shabaka Hutchings e o guitarrista Jeff Parker (ele mesmo, do Tortoise), do baixista cubano Aniel Someillan e dos arranjos do professor Laércio Costa e ainda saúda o mestre Naná Vasconcellos em “Viva Naná”. Dá pra ouvir alguns dos singles que ele já lançou abaixo, pra ter uma ideia do que vem por aí…

Ouça aqui:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Odradek e Patife Band

Um Inferninho Trabalho Sujo literalmente bissexto nesta quinta-feira, pois além de cair no dia 29 de janeiro ainda juntamos uma banda contemporânea (o Odradek, de Piracicaba) com uma clássica (a paulistana Patife Band), que entortarão as almas dos presentes com suas versões torta e angulosa para esse bicho chamado rock. Depois, da meia-noite em diante, eu e Fran assumimos o comando da pista e incendiamos os corações e quadris que estiverem derretidos em nossas boas vibrações. O Inferninho, você sabe, acontece no meio de Pinheiros, neste portal interdimensional chamado Picles, que abre às oito da noite e vai até… Vamos?

Tortoise tocando o TNT na íntegra… no Chile!

Cês viram que o Tortoise vai tocar seu clássico disco TNT na íntegra… no Chile? Um dos pais do chamado pós-rock, o grupo de Chicago celebra os 25 anos de um de seus discos mais emblemático no Teatro Coliseo, em Santiago, no dia 11 de maio deste ano. No palco, todos eles: Dan Bitney, Doug McCombs, Jeff Parker, John Herndon e John McEntire acompanhados de músicos locais nas cordas e sopros. Os ingressos já estão à venda, mas… será que não tem nenhuma boa alma que se interesse a trazer o grupo pra cá? Afinal Tortoise é coisa nossa também…

Universo cinematográfico Marvel do século passado

A página Alternate Reality Movies resolveu fazer um exercício de ficção colocando o universo cinematográfico Marvel no século passado, colocando grandes nomes do cinema nos anos 70 e 80 como os principais personagens da franquia. Sente o drama:

Tem mais um tanto aí embaixo:  

Singrando na própria canção

Meno Del Picchia começou a mostrar seu próximo disco no espetáculo Mar Aberto nesta terça-feira, no Centro da Terra, quando reuniu-se à Bianca Godoi (bateria), Batataboy (guitarras, piano e beats) e e Gabriel Milliet (teclados, flauta e percussão) para mostrar a quantas anda o disco que lançará no meio do ano, Maré Cheia. Entre canções de seu projeto Amarelo e do disco Pompeia Lo-Fi, ele ainda contou com a presença de dois cantores suavíssimos, João Menezes e Tori, que ajudaram a adoçar ainda mais um projeto em que ele de vez em quando deixa seu baixo de lado para dedicar-se apenas ao vocal.

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Assista aqui:  

Meno Del Picchia: Mar Aberto

Encerramos a programação de música de fevereiro no Centro da Terra com a apresentação Mar Aberto, em que o cantor, compositor e contrabaixista Meno Del Picchia começa a mostrar o material de seu próximo álbum, Maré Cheia, previsto para este ano. Para esta apresentação, ele montou uma senhora banda, composta por Bianca Godoi, Batata Boy e e Gabriel Milliet, além de contar com as participações do alagoano João Menezes e da sergipana Tori. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.