Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Encerramos a temporada de abril no Centro da Terra com o espetáculo Fogo Fogo, concebido pela cantora, compositora, produtora e instrumentista Anna Vis e pela poeta e performer Jeanne Callegari, que traz sua já conhecida Máquina de Pesadelo para dar início no palco a uma parceria que começou em uma residência artística no mês passado e mistura ritmo, ruído e palavra em um forno criativo. A primeira apresentação da dupla acontece nesta terça-feira a partir das 20h e os ingressos estão à venda neste link.
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O festival que trará Cat Power cantando Dylan no próximo mês acabou de anunciar que hora que cada atração se apresentará em seus três dias de evento – e quem tiver disposição vai conseguir assistir tudo.
Chegou ao fim nesta segunda-feira a jornada que Thiago França, Rômulo Froes e Rodrigo Campos se propuseram ao encarar a temporada 3 na Ribanceira que tomou conta das segundas de abril no Centro da Terra – e a quarta noite foi de pura celebração, com os três lembrando diferentes momentos de suas carreiras ao mesmo tempo em que recebiam dois cúmplices de encruza, ninguém menos que Juçara Marçal e Marcelo Cabral. A apresentação começou com Thiago segurando a respiração do público com seu mantra de fôlego circular no saxofone, abrindo caminho primeiro para Rômulo (com sua “Pra Comer”), depois para Rodrigo (que entrou com sua “Meu Samba Quer Se Dissolver”) e os três tocaram a marchinha “Adeus Saudade”, feita para um dos primeiros desfiles da Charanga do França. Depois entrou Cabral, tocando baixo elétrico, para acompanhá-los primeiro numa versão pagode para “Muro”, de Rômulo, e depois com a faixa-título do primeiro disco do baixista, Motor, esta já com a presença da segunda convidada, Juçara. Juntos os cinco, passaram por “Três Amigos” (do Metá Metá), “Ladeira” (do trio Sambas do Absurdo), “Queimando a Língua” (do primeiro disco da Juçara), “Presente de Casamento” e “Espera” (de Rômulo), “Califórnia Azul” e “Velho Amarelo” (de Rodrigo). A ausência da noite foi Kiko Dinucci, que não pode comparecer por questões pessoais e foi lembrado quando tocaram a bela “São Paulo de Noite”, do Thiago – ou “Dinucci”, como brincaram. Também foi sentida a ausência de qualquer canção do grupo Passo Torto, que tinha 3/4 de sua formação no palco. Entre as músicas o tom era de conversa de bar, com Thiago brincando que Juçara tinha o colocado no time dos saxofonistas compositores ao lado de Milton Guedes e Jorge Israel enquanto Rômulo fazia a genealogia de cada uma das canções. Ele ainda brincou que estava chegando na beira da ribanceira, “olhando o precipício e ele olhando de volta” pouco antes de um deslize de memória (quem viu viu) que veio antes do encerramento da noite e da temporada, quando emendaram “Fim de Cidade” e “Mulher do Fim do Mundo”. Uma noite especial – e Juçara ainda soltou um spoiler do que vem por aí…
Maravilhosa a apresentação de Amaro Freitas no Sesc Pompeia, quando tocou seu recém-lançado Y’Y depois de uma turnê intensa pela Europa. Primeira vez que o vejo sozinho ao piano, o jovem erudito pernambucano não economizou sons ao explicar a opção por trabalhar o piano preparado de John Cage à brasileira, misturando referências culturais que vão de texturas pré-gravadas, loops eletrônicas, uma kalimba, chocalhos e apitos, além de percutir as cordas do piano por dentro. Em alguns momentos mais virtuose, em outros mais à vontade, ele chegou ao equilíbrio entre as duas partes quando, no bis, mostrou a inédita “Gabrielle”, composta para sua companheira, a artista Luna Vitrolira, presente na plateia, cujo nome de batismo é o título da canção. Uma apresentação forte e delicada na mesma medida.
Otto lavou a alma – a própria e a de centenas de pessoas – neste sábado no Cine Joia quando revisitou o intenso Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, seu quarto álbum, que está completando quinze (!) anos. À frente de uma banda pesada e concisa (Guri Assis Brasil e Junior Boca nas guitarras, Meno Del Picchia no baixo, Ilhan Ersahin no sax, Beto Gibbs na batera, Yuri Queiroga nos teclados e o eterno comparsa Malê na percussão), ele entregou-se à emoção do disco, principalmente por ter levado dois amores ao palco, sua namorada Lavínia Alves cantou as partes que no disco que eram de Julieta Venegas e a filha Bettina, que chamou para dividir os vocais da triste “Naquela Mesa”. Bettina é filha de Otto com Alessandra Negrini, que foi a motivação para o disco, quando terminou seu relacionamento com o cantor pernambucano – e ela esteve presente no sábado, segundo relatos. Lirinha foi outro que marcou presença repetindo sua participação no disco em “Meu Mundo Dança” O disco inteiro foi cantado a plenos pulmões não só por seu autor, mas pelo público, que sabia todas as letras de cor. Álbum de duração enxuta, o disco foi seguido de uma sequência de hits de Otto que, por mais que tenham animado o público presente, não teve a intensidade do disco de quinze anos atrás ao vivo. E corre à boca pequena que ele fará mais shows voltando a esse álbum – ou seja, se você perdeu essa noite histórica, é só ficar atento que em breve deve ter mais.
E lá estava eu de novo no Centro Cultural São Paulo para ver outra grande banda deste século. O Mombojó baixou na mitológica sala Adoniran Barbosa e botou todo mundo pra dançar ao mostrar seu recém-lançado tributo a Alceu Valença, Carne de Caju, em que revisitam pérolas menos lembradas do mestre pernambucano (como “Chuva de Cajus”, “Amor que Vai”, “Sino de Ouro” e “Pétalas”) mas sem deixar de lado hits como “Como Dois Animais”, “Tomara”, “Coração Bobo” e, claro, “Morena Tropicana”. O grupo teve que fazer o show num intervalo reduzido de tempo, por isso submeteu o público a uma sessão de seus próprios sucessos, como “Antimonotonia”, “Papapa”, “Cabidela”, “Faaca” e “Deixe-se Acreditar”, esta última com a presença do MC Lucas Afonso. A banda está espalhada em três lugares diferentes do Brasil, mas consegue manter a química como se ensaiasse semanalmente – e o público saiu satisfeito, mesmo com o show curto.
Anderson Leonardo, o vocalista que também era o rosto do grupo de pagode Molejo, já vinha sofrendo com complicações devido a diferentes cânceres que teve nos últimos anos e infelizmente nos deixou nesta sexta-feira. O grupo carioca era um respiro na onda de pagode romântico dos anos 90 e fazia a conexão tanto com o pagode do Cacique de Ramos que originou aquela nova vertente musical quanto com a tradição do grupo Originais do Samba e o samba-rock dos anos 70, emplacando hits como “Caçamba”, “Brincadeira de Criança”, “Dança da Vassoura”, “Samba Rock do Molejão”, “Paparico”, “Cilada” e “Sai da Minha Aba” sem precisar ceder à melancolia e aos teclados que dominavam o pagode na última década do século passado, além de ter emplacado músicas que consolidaram expressões cariocas que estão na boca do povo até hoje, como “Ah Moleque” e “Né Brinquedo Não”. Tinha só 51 anos.
O sertanista erudito Elomar apresentou-se neste fim de semana no Sesc Consolação ao lado de sua Tropa Encantada e pude assistir à primeira apresentação, em que a produção do artista exigiu que não houvesse registro – talvez pelo fato de, debilitado por ter contraído covid, não tocar mais violão nem ter o alcance vocal que tinha, além de, talvez pelo mesmo motivo, não ficar no palco o tempo todo, sendo constantemente tirado de cena e deixando apenas sua ótima Tropa em cena. Esta era conduzida pelo filho de Elomar, o violonista João Omar ao violão, que era acompanhada perlo violoncelo de Daniel Silva e pela flauta de João Liberato, além de contar com as vozes das sopranos Luciana Monteiro e Gabriela Almeida, esta última filha do violonista, e, portanto, neta do autor. A apresentação preservou o tom de câmara romântica para as dramáticas árias tiradas das óperas de Elomar, numa noite de rigor e beleza. Só achei estranho quando ele veio com um papo que era monarquista e saudou um herdeiro de Dom Pedro II que estava na plateia. Eu hein…
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“I floated on the water/ I ate that ocean wave/Two weeks after the slaughter/I was living in a cave/They came too late to get me/But there’s no one here to set me free/From this rocky grave/To that snowed-out ocean wave”. Tudo é uma surpresa quando falamos de Neil Young – e não foi diferente nesta quarta-feira, quando voltou a fazer shows iniciando a turnê de lançamento de mais um novo álbum, Fu##kin’Up, quando apresentou a nova formação de seu Crazy Horse – com Micah Nelson no lugar de Nils Lofgren e sempre com Ralph Molina e Billy Talbot – e aproveitou esse primeiro show para revelar um verso perdido do épico “Cortez the Killer”. A música, com quinze minutos ao vivo, trouxe o longo verso de conclusão que não coube na versão original gravada no clássico Zuma, como o próprio Young havia revelado em uma entrevista para os fãs há pouco. O show realizado no Cal Coast Credit Union Open Air Theatre em San Diego, na costa oeste dos Estados Unidos, ainda trouxe versões ao vivo para clássicos como “Cinnamon Girl”, “Don’t Cry No Tears”, “Down By The River”, “Everybody Knows This Is Nowhere”, “Powderfinger”, “Love And Only Love”, “Comes A Time”, “Heart Of Gold” e “Hey Hey, My My (Into The Black)” (assista a algumas músicas filmadas pelo público abaixo), entre outras canções. O velho canadense cruza os EUA com sua Love Earth Tour, que terá 30 datas até setembro. Por favor, venha pro Brasil!