A faixa de hoje traz a Céu se espreguiçando de outro jeito, roçando sua “Cangote” ainda mais perto do ouvido, a textura de sua voz ainda mais clara, passando calor. Do lado de lá, o Bruno chama os Do Amor.
Céu – “Cangote“
A faixa de hoje é o “Pensylvannia 6-5000” do cerrado, a “Jenny” das superquadras, uma música feita para decorar um número de telefone – de alguma garota do Lago Sul, olha o prefixo -, “248-6279” é rock’n’roll básico e cru tocado apenas ao violão, como se Gabriel conseguisse conectar a apatia do plano piloto dos anos 80 com a falta do que fazer que deu origem à história do rock no sul dos Estados Unidos. Do lado de lá, o Bruno puxa a Nina Becker.
Gabriel Thomaz – “248-6279“
E segue a primeira coletânea dOEsquema – na faixa de hoje, Kassin começa a burilar o já conhecido tema de “Pra Lembrar” no violão, adiciona uns blips eletrônicos, puxa a guitarra e vai pra paisagem pastoril em que Sean O’Hagan cria suas High Llamas. Do outro lado, o Bruno chama o Curumin.
Kassin – “Pra Lembrar“
Vamos lá com a faixa do dia da nossa coleta de fim de verão, cantada pelo mestre Frank Jorge, um hino jovem guarda sobre o cool e o anticool que atira para todos os lados numa espécie de “Arrombou a Festa” dos anos 00, trocando nomes e celebridades por rótulos e hypes. Frank Jorge, né… O Bruno, por sua vez, chama o Momo.
Frank Jorge – “São Tantas Tendências”
O astro de hoje é o homem, o mito, o incansável, o ilustre, o espírito santo da cena mashup brasileira que, ao ser inquirido com a possibilidade de fazer uma música só no violão (e eu torcendo por uma “Baranga” unplugged), ele optou por jogar o mashup pras seis cordas e o resultado é esse abaixo. Enquanto isso, o Bruno aciona o Burro Morto.
João Brasil – “Orgasmadance“
Conforme prometido, eis a segunda faixa da coletânea OViolão que eu disponibilizo aqui no Sujo. “Nighttime in the Backyard” era inédita quando pedimos para o Lucas, no ano passado, mas a gente demorou e a faixa acabou saindo no disco dele desse ano, Sem Nostalgia. A foto que ilustra o post, você sabe, é da Caroline Bittencourt. Do outro lado, o Bruno vai de Wado.
Lucas Santtana & Seleção Natural – “Nighttime in the Backyard“
A idéia original era uma mixtape de verão, chamando alguns DJs brasileiros para remixar hits gringos naquele final de 2008 hoje distante. Mas já era verão no Brasil e os DJs estavam soltos pelo país – impossível achar alguém que pudesse dar uma certeza sobre a data de entrega das versões, fora a possibilidade de deixar o projeto banguela caso algum artista remixado se incomodasse com o resultado ou com o fato de estarmos deixando sua faixa para download em MP3. Depois de algumas madrugadas pendurados no Gtalk, trocando emails e um ou outro telefone, eu e o Bruno desvirtuamos completamente o conceito original a partir das limitações: em vez de pedir para mexer em músicas alheias, pedimos versões para músicas próprias; em vez de remixes que inevitavelmente daria ao disco um clima meio esquizofrênico, pedimos versões acústicas, minimalistas, usando apenas o violão. E antes de começarmos a pedir músicas para músicos e artistas que são mais amigos e comadres do que propriamente astros e estrelas (prefiro assim), percebemos que o formato acústico tinha mais a ver com aquele verão que ia acabando do que uma mixtape para dançar. Mais do que isso: à medida em que os artistas demoravam para entregar o material (alguns, houve quem entregasse em fevereiro), percebíamos o quanto a compilação ganhava ares de fim de verão, quase outonal. E, ouvindo as faixas no inverno do ano passado, decidimos lançá-la quase na Páscoa, como se o clima das “Águas de Março” de Tom Jobim pudesse ser espalhado por toda uma compilação.
Decidido o nome, chamamos a querida Caroline Bittencourt para bolar uma capa para a coletânea. Ela foi além: propôs um ensaio na oficina de um luthier conhecido dela, o Murilo. Ao vermos as fotos, nem tivemos dúvida: o instrumento era tão central ao trabalho que não havia outro nome para dar à coletânea, juntando artigo e substantivo só para fazer o paralelo com OEsquema. Pelo meio do segundo semestre do ano passado, OViolão estava completo.
OViolão é o terceiro lançamento dOEsquema. Mas não somos um selo, não nos estranhe. Depois de termos lançado discos de amigos – o Bruno sugeriu o Big Forbidden Dance do João Brasil e eu desenterrei o Alguma Coisinha do Dodô, ambos discos coalhados por samples -, resolvemos ampliar o conceito só pelo prazer do lançamento. E apesar de ser um trabalho de dedicação minha e do Bruno, ele vem sendo acompanhado, de perto, por nossos dois outros sócios, Mini e Arnaldo, que sugeriram nomes, fizeram convites e propuseram soluções.
A forma de distribuição dOViolão é simples: durante os próximos dias, despejaremos, tanto no Trabalho Sujo quanto no Urbe, cada uma das faixas da compilação, numa média quase diária. Elas estarão apresentadas tanto num vídeo embedado do YouTube, sempre com uma foto diferente de Caroline, e num link para download da canção. Ao final, juntamos tudo num arquivo compactado para quem quiser ouvir o disco na ordem que imaginamos. Não ganhamos um tostão para fazer isso – nem nós, nem os artistas envolvidos. Pagamos apenas o custo das fotos de Caroline. É um trabalho coletivo feito principalmente com carinho. E nessa época de volume no talo e enxurrada de informações, estamos propondo algo para ouvir baixinho. Sob o sol, mas baixinho. Não tem release, nem rodada de entrevistas com os artistas, não tem foto de divulgação, nem assessoria de imprensa. Vamos blogar e twittar: linka quem quiser, baixa quem tiver vontade. Pra que pressa, né?
Começo a semana com a inédita de Lulina “Mentirinhas de Verão”, gravada em fevereiro do ano passado. Ela explica: “É uma versão com som de fim de verão da música ‘Mentirinhas’, composta por mim e lançada no final do ano passado (2008), no disco caseiro Aos 28 Anos Dei Reset Na Minha Vida. Quem produziu esta nova versão foi Missionário José, nos estúdios da Jardel Music, tocando todos os instrumentos e fazendo um arranjo tão melancólico quanto voltar para a realidade depois de umas boas férias”. O produtor completa dizendo que a faixa “se destaca pelo aspecto Led Zeppelin do final“. Do outro lado da linha, o Bruno apresenta uma inédita da Ava Rocha, veja lá.
E amanhã tem mais.