Olha como ficou, no impresso, a matéria que o Leo fez sobre OViolão para O Globo, que eu havia comentado ontem.
Nossa querida coletânea segue se espalhando por aí. A versão que Céu gravou de seu “Cangote” para a gente foi parar no programa da Patrícia Palumbo (que além de passar na Eldorado aqui em São Paulo também é retransmitido em Belo Horizonte, Curitiba, Salvador e no litoral paulista) e saiu em uma matéria no Segundo Caderno do Globo (não achei o link pra lá, depois eu ponho). O Léo, que fez a matéria, falou com outras iniciativas de juntar novos artistas em coletâneas online e conversou comigo e com o Bruno sobre o nosso disco.
Por que fazer um projeto como OViolão? E por que só voz e violão?
BN: Não tinha muita pretensão, era mais pra juntar num mesmo projeto artistas independentes que fazem parte do dia-a-dia das notícias dos nossos blogues. A idéia do voz e violão é o batido “valorizar a composição”. Alguns desses artistas tem trabalhos experimentias, o que as vezes dificulta o entendimento por um público menos paciente.
AM: Queríamos também registrar essa geração como tal – não é um “movimento” ou uma “cena”, mas uma safra de compositores que nasceram na mesma época, aprenderam a gostar de música de um jeito parecido e teve que aprender como lidar com a música pós-MP3. A própria natureza do projeto – das gravações informais ao fato de ter sido lançado em dois blogs, sem dinheiro envolvido – acaba abordando esse ponto também.
Qual a importância (documental, cultural) de um projeto desse tipo?
BN: Apresentar esses artistas de uma maneira mais intimista, o que raramente eles fazem, é interessante.
AM: E mostrar que não importa se um é DJ, o outro é do rock ou da MPB. É tudo música.
Há o desejo de lançá-la fisicamente?
BN: A coletânea não foi feita com essa intenção, sequer foi masterizada apropriadamente. Poderia ser legal até, porém acho que o público de um projeto desses é forte online mesmo.
AM: O apelo é imediatista, é quase uma polaróide, enquanto registro…
Quantas composições são inéditas, quantas são novas versões?
BN: Todas são versões inéditas de músicas já compostas e gravadas com outros arranjos.
Vocês se inspiraram em outras iniciativas do tipo? Aliás, quais são as outras iniciativas do tipo (gringas e daqui)?
BN: Esse formato acústico não é exatamente uma novidade, mas também não tivemos essa preocupação. Foi mais pela curtição mesmo, pra ver no que dava. Uma iniciativa parecida, só que em vídeo, muito bacana são os “Les Concerts A Emporte”, do blogue francês La Blogoteque (www.blogotheque.net). Tem também o Música de Bolso, de São Paulo e o Pitchfork promove algumas coisas inéditas em vídeo.
AM: Estamos testando esses formatos não como uma gravadora ou um selo, mas como jornalistas mesmo. Jornalistas podem lançar discos? Outro dia o New York Times botou o disco do National inteiro pra ser ouvido no site do jornal – não era widget de gravadora nem embed do MySpace, tava hospedado no jornal. Tá tudo mudando, né? Não dá pra ficar parado, esperando o que vai acontecer…
Que critérios vocês usaram para escolher os artistas?
BN: Gosto pessoal e relevância artística em sua geração.
AM: E a amizade. Somos amigos de quase todos os envolvidos – um abraço a eles, aliás.
Conversamos sobre a proximidade que há entre esse tipo de projeto (canções lançadas sozinhas, sem um álbum a uni-las) e os antigos compactos. Mas a lógica não é exatamente a mesma, não? Que diferenças e semelhanças você vê entre um projeto como OViolão e, os singles atuais e os velhos compactos de vinil?
BN: No caso do OViolão, apesar de todos os artistas terem contribuído com músicas avulsas, todos obedeceram o mesmo critério, de experimentar e brincar com arranjos mais crus para suas canções.
AM: Acho que também nenhuma música se propõe “single” no sentido “música de trabalho”. São músicas que cairiam bem no meio do disco, numa roda de violão, no meio do show.
Fechamos a tal coletânea. Pra quem quer ouvi-la de uma vez só, basta baixar o disco na íntegra aqui. A relação final com todas as músicas ficou assim:
1) Lulina – “Mentirinhas de Verão”
2) Ava Rocha – “Filha da Ira”
3) Lucas Santtana – “Nighttime In The Backyard”
4) Wado – “Frágil”
5) João Brasil – “Orgasmadance”
6) Burro Morto – “Navalha Cega (Violas)”
7) Frank Jorge – “São Tantas Tendências”
8) Momo – “Mas É o Fim”
9) Curumin – “Solidão Gasolina”
10) Kassin – “Pra Lembrar”
11) Nina Becker – “Polyester Tropical”
12) Gabriel Thomaz – “248-6279”
13) Céu – “Cangote”
14) Do Amor – “Mindingo”
Pra quem não sabe o que é OViolão, eu expliquei uma parte aqui e o Bruno explicou a outra aqui. Lembre-se que escrevemos 01 na capa – o que pode dar brecha prum zero dois.
Quem entrou quase na última hora foram os Do Amor, que convidei numa mesa de bar aqui em Perdizes, quando estava acertando as fotos da capa com a Carol, meses depois da coletânea já ter sido acionada. O Benjão topou na hora e chamou os outros integrantes da banda para dar uma geral em “Mindingo”, que ainda vai sair em versão original de seu disco de estréia. E amanhã a gente junta toda coletânea num mesmo arquivo, guenta a mão.
Do Amor – “Mindingo“
Mais uma dOViolão, desta vez é Nina Becker quem desmonta uma faixa original sua para realçar a presença da acústica, só com sua voz.
Nina Becker – “Polyester Tropical“
Hoje é dia do Curumin, despindo sua “Solidão Gasolina” aos pedaços e acordes soltos, vocais e cordas trastejadas pelo jeito que a mão corre pelo braço. Além do instrumento, sua voz cuida da percussão e até sola. Ele é o máximo – vacila quem não sabe.
Curumin – “Solidão Gasolina“
E esse sol forte misturado com a cara de chuva que está fazendo aí fora combina bem com o clima desta “Mas é o Fim” que o Marcelo Frota – o Momo – gravou pra gente. Triste e espacial, árida e polar, ela combina com o clima de fim de verão desse nossOViolão.
Momo – “Mas É O Fim“
Agora é a vez dos paraibanos do Burro Morto de refazer sua “Navalha Cega” com ênfase acústica. Filhotes bastardos do mangue beat com a influência da nova cena instrumental paulistana (seja Hurtmold ou Instituto), os quatro esticam ainda mais o tema original, puxando referências tanto na música caipira quanto no rock progressivo. Coisa fina.
Burro Morto – “Navalha Cega“
Como lembrou o Bruno, chamamos o Wado logo que bolamos a idéia da coletânea, mas o catarinalagoano passava por problemas de saúde e pediu para passar a vez. Mas como nós nos atrasamos pra lançar a faixa, ele felizmente se recuperou a tempo de mandar a linda “Frágil” para nosso disquinho virtual.
Wado – “Frágil“
A música de hoje foi trazida pelo Bruno, que, com graças ao tom grave e solene da voz de Ava, muda um tanto o clima da coletânea.
Ava Rocha – “A Filha da Ira“