O que aconteceu com o lago do Parque da Aclimação

, por Alexandre Matias

Se quando saí de Brasília para Campinas, Campinas funcionou como uma antessala mais tranqüila (que aos poucos foi deixando de ser) para entrar em São Paulo, quando vim para São Paulo quem fez o papel desta antessala foi o Parque da Aclimação. Sequer morava na cidade, mas já trabalhava todos os dias aqui, pegando cedo o ônibus cinza na Orozimbo Maia até o terminal Tietê, para enfrentar a longa linha azul até o metrô Paraíso – e de lá até o trabalho. Mas no caminho, havia o Parque da Aclimação que, até já escrevi sobre isso, me parecia ter sido a inspiração para o Castelo Rá-Tim-Bum da TV Cultura – um oásis quase mágico de natureza e tranqüilidade encravado no meio do horizonte cinza da megalópole, com seu lago plácido refletindo o verde dos arredores.

Atravessar o parque a pé dava uma sensação de calmaria e sossego que funcionava como um antídoto perfeito para o veneno do concreto paulistano, patos e cisnes caminhando na água enquanto pedestres e ciclistas circulavam o lago em forma de coração – ou do mapa do Brasil, como insistiam os mais velhos. Lembro-me perfeitamente de como chegava quase zen ao trabalho, mesmo quando vinha pensando na chuva de mísseis do Dylan (vinha ouvindo-o no discman), como aconteceu no fatídico 11 de setembro.

Nasci em Brasília, passei mais da metade da minha vida olhando um horizonte de 360 graus e por mais que consiga me adaptar ao céu cortado por prédios, à correria e ao mundo de vozes falando ao mesmo tempo, gosto do cheiro de mato, de grama, água limpa, bichos passando e gente sorrindo com pouca roupa ao sol. E foi assim que o Parque da Aclima me conquistou – a ponto de mesmo depois de mudar de emprego eu continuar freqüentando-o e, finalmente, mudar-me para ficar a apenas dois quarteirões de distância. Há pouco menos de um ano deixei o bairro rumo à Zona Oeste, mas amigos e pendências na região quase sempre me faziam rever o parque e o lago.

Foi quando:


riques

SÃO PAULO – O lago do Parque da Aclimação, na zona Sul de São Paulo, foi completamente esvaziado ontem (23), depois que a tubulação hidráulica que regula o nível de água (vertedouro) se rompeu. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente. As causas do rompimento não foram esclarecidas. Toda a água do lago foi drenada e a enxurrada levou parte dos peixes e aves aquáticas, como patos, cisnes e marrecos, mantidos no local. Segundo um inspetor da Guarda Civil Metropolitana (GCM) presente ao local, frequentadores do parque socorreram alguns animais.

Bombeiros tentavam, até as 22h30, resgatar algumas aves que ficaram atoladas na lama. Os bombeiros suspenderam no fim da noite os trabalhos de resgate. A última equipe dos bombeiros deixou o parque à 1h30 de hoje. O resgate das aves será retomado após o amanhecer. Um dos bombeiros entrou no lago, mas, quando a lama chegava à altura do pescoço dele, as equipes resolveram suspender as buscas por motivo de segurança.

Cordas também foram usadas, mas não funcionaram como se esperava. O rompimento do vertedouro teria ocorrido por causa do grande volume de chuva que caiu na região ontem. A Prefeitura faz reformas na rede de esgoto do parque para despoluir o lago, mas não se sabe ainda se as obras têm relação com o rompimento da tubulação. Habitam o parque aves aquáticas como o socó-dorminhoco, martim-pescador, marrecos, gansos, patos e aves migratórias . Entre os peixes do lago, havia carpas e tilápias. Boa parte dos peixes e das aves foi levada junto com a água; parte foi resgatada pelos bombeiros e frequentadores.

Se alguém souber de alguma campanha online para ajudar o lago a se recompor, avise que eu faço questão de ajudar.

Tags: