O ingresso de R$ 12.500 e a lógica do “tem quem pague”
Um dos assuntos que pintaram quando o show do Sabbath no Brasil foi anunciado dizia respeito à sua localização – quais seriam os palcos que abrigariam a turnê dos pais do heavy metal? É papo pra estádio, mas em ano pré-Copa e estádios pela metade, as opções são bem restritas – não apenas para o Black Sabbath, mas também para outros artistas de médio e grande porte que podem passar por aqui.
A outra questão que surgiu, claro, diz respeito sobre o preço do ingresso. A discussão sobre o mercado de shows no Brasil, com o cancelamento do Sónar e a transferência do Cure do Morumbi para o Anhembi, voltou à pauta no último mês e, inevitavelmente, cai-se no círculo vicioso que, não importa quanto for o ingresso, “tem quem pague”. Até que chega o Skol Sensation desse ano com um ingresso que custa…
R$ 12.500. Doze mil e quinhentos reais. Isso é o equivalente a quantos salários mínimos? “Mas é pra seis pessoas”. Ah tá, fica só dois mil e oitenta e três reais por cabeça. E isso não parte de um evento “diferenciado”, em que o clima importa mais que as atrações estrangeiras. Poderia vir num musical da Broadway adaptado para São Paulo e Rio de Janeiro. Num concerto de música erudita ou num show de dance music qualquer. O “tem quem pague” não existe sem o “tem quem cobre” – e neste caso o Skol Sensation ultrapassou a barreira dos cinco dígitos no preço de um ingresso. Infelizmente, não vai parar por aí.
Há quem urubuze e diga que a bolha dos shows internacionais vai estourar e o país vai sair da escala de muitos artistas, caso os cachês diminuam, por exemplo. Sim, há uma bolha financeira, principalmente no que diz respeito ao preço que se paga pelos artistas e aos preços de ingressos repassados para o público, mas isso não significa que os shows internacionais vão parar de acontecer no Brasil, principalmente às vésperas de Copa do Mundo e Olimpíada.
E essa bolha financeira não tem a ver apenas com shows, claro. Tem a ver com ascensão da nova classe C também, mas também tem a ver com o tal “capital cultural” que eu citei outro dia. Mas o principal é essa elite de araque que se mede por dinheiro, que escaneia qualquer pessoa pelas marcas que ela tem ao seu redor, do relógio no pulso ao carro na garagem. Gente que usa o dinheiro para se diferenciar dos outros. Devíamos fazer como sugeriu o Knife naquele quadrinho que linkei ontem – tratar essas pessoas como portadoras de um problema psicológico, uma compulsão psicótica por acumular dinheiro e precificar tudo.
Isso também não é restrito ao Brasil, é um problema mundial. Que tem mudar.
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