O Desastre Solar de Laura Lavieri

, por Alexandre Matias
Foto: Gabriel Cabral

Foto: Gabriel Cabral

Laura Lavieri finalmente começa a colocar as asinhas de fora. Ex-vocalista de apoio de Marcelo Jeneci, ela vem acalentando este primeiro álbum há um bom tempo e tirou 2017 para por foco nesta etapa. Mudou-se para o Rio e começou a trabalhar com Diogo Strausz, com quem gravou o single “Quando o Amor Vai Embora”, ainda no ano passado. “Tenho encontrado no Rio o que eu vim procurar aqui: outras maneiras de se fazer música”, ela me explica por email. “Atualmente circulo, troco e toco com pessoas que experimentam bastante, e encontram outras sonoridades, métodos e caminhos. Gosto muito de me ver rodeada de toda fonte diversa: pessoas que têm nome conhecido no mainstream até o vulcão underground do centro. E ainda quero chegar na produção do subúrbio carioca.” Ela antecipa um primeiro gostinho do álbum com a versão ao vivo da música “Mais um Whisky”, que ela mostra em primeira mão para o Trabalho Sujo.

“Mais um Whisky é uma música que o Gui Amabis fez pra mim”, continua. “Ela fala dessa mulher decadente, vivida, por vezes incompreendida, e que paga pelos preços de fazer o que bem entende e deseja. Não é um preço baixo. Mas tem suas delícias”. Gui é um dos compositores que a ajudaram na composição deste novo álbum. “São seis inéditas de Gui Amabis, Jonas Sá, Lucas Oliveira, Sostenes Rodrigues, Alberto Continentino e Fernando Temporão e Marcelo Jeneci.” Além de “Mais Um Whisky” ela também mostra outros três registros ao vivo: “‘Tudo outra vez’, do Lucas, ‘Sol do Céu’, do Alberto e do Fernando, e ‘Estrada do Sol’, uma versão brasileira da canção italiana, pra manter algum traço do caminho que percorri até aqui, lembrando da estrada com Jeneci.”

O disco em si fica para 2017 mas já tem tudo mais ou menos definido, desde o título: Desastre Solar. “Tudo veio da etimologia de ‘desastre’ – disastro – désastre – disaster – a má estrela, ou ainda um ‘mau encontro’ estelar. O que seria bom ou ruim para uma estrela? Daí a magnitude dos ciclos e do tempo. Ninguém ‘gosta’ de desastre, de crise, de morte. mas a morte está presente todo dia, junto com a vida. É desse ‘mau’ encontro estrelar que irrompe a vida. O próprio centro do nosso sistema é uma bomba em constante erupção, e é nossa fonte de vida. Passei por maus bocados, há não muito tempo, encerrando uma etapa da vida, me lançando a uma nova, e me vi muito perdida, muito seca, abalada, acabada, muito decadente – nada tão diferente do que acontece com nosso país e planeta inteiro atualmente. E justo em meio aos destroços que encontrei – encontramos – chances de vida e recomeço. É aquele cenário pós-guerra apocaliptico que gera um solo fértil para uma nova era. A idéia é pintar aí as várias mulheres que já vivi, em diversos ciclos, mas sempre com esse potencial destrutivo e construtivo. Alguma pitada de ironia aqui, um pouco de decadência ali, sacanagem também, hi-fi-ficção científica, romantismos lo-fi, algum humor… O disco é alegre e leve sem deixar de ser intenso.”

Conduzido por Diogo, produtor, arranjador e músico em diversas faixas, o disco ainda conta com João Erbetta na guitarra, Alberto Continentino no baixo, Ricardo Dias Gomes nos teclados, Pedro Fonte na bateria e percussões e conta com participações de nomes como Guilherme Lírio, Joana Queiroz, Marlon Sette, Altair Martins, Marcelo Callado, Jonas Sá, Lucas Oliveira e Ledjane Motta. E vai ser bancado através de financiamento coletivo, através do site Catarse.

Ela explica o porquê: “Eu realmente me interesso e acredito na via ampla, horizontal e direta que a internet proporciona pras novas maneiras de se produzir. Não é fácil – comunicar – acessar – aglomerar as pessoas não é uma tarefa simples. Mas tenho me reunido com pessoas muito interessadas nessa construção, e a cada tijolo, cada acesso, cada troca, eu vejo a coisa fazendo sentido verdadeiro. Tenho tido vontade de movimentar mais encontros musicais, shows de diversos formatos e em cenários também inusitados. Agregar, juntar pessoas que conheci pelo Brasil. Acho que ficamos muito condicionados a formatos pré-estabelecidos e que já nem dão conta mais da demanda artística. Nem de mercado. Estamos sedentos. Crises. A música, como o recomeço, e toda possibilidade de criação, está em todo lugar. E tem que estar! E isso tem tudo a ver com crowd – funding – dar fundos às massas. Acredito muito no caminho de agregar os interesses e interessados e girar a produção de maneira direta e eficaz. Acho uma das mais gloriosas funções que a internet oferece.”

Programado para 2017, o disco só surgirá após o carnaval do ano que vem, “como tudo nesse Brasil brasileiro”, explica.

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