O alvorecer de Desirée Marantes

, por Alexandre Matias

Quando chamei a Desirée Marantes pra dividir uma temporada com a Sue no ano passado no Centro da Terra, ela me contou que estava finalmente começando o primeiro trabalho com seu próprio nome. Depois de lançar discos com bandas, produzindo outros artistas e com seu projeto solo Harmônicos do Universo, ela estava certa de que era hora de deixar seu próprio nome repercutir. “É louco né, tu acharia que alguém que tem o nome Desirée Marantes já meio que tem pronto o nome artístico e deveria ser uma conclusão lógica, mas foi um processo de muitos anos fazendo parte de bandas, trabalhando com outros artistas, sempre priorizei muito a criação e projetos coletivos, tive selo de música, banquei lançamentos de outros artistas e em 2019 começou a surgir essa vontade de assinar com meu nome, de sair um pouco dos fundos do palco para a frente”, me explica a musicista, compositora e produtora gaúcha, que já emenda a explicação sobre porque ter demorado tanto. “Acho que minha analista poderia falar melhor sobre isso, mas devo confessar que eu me sinto um pouco tipo integrante de banda famosa que sai em carreira solo, porém eu nunca fiz parte de nenhuma banda famosa então é só isso mesmo”, ri. Prestes a lançar o primeiro projeto com o próprio nome, o EP Breve Compilado de Músicas para _______, no início de agosto, ela antecipa o primeiro single, que sai nesta quinta-feira, em primeira mão para o Trabalho Sujo. “Quando Magma vira Lava” é uma faixa composta ao lado da dupla Carabobina a partir da observação da erupção de um vulcão.

Ouça abaixo:

“Eu gosto de tentar fazer músicas que me façam sentir alguma coisa e essa foi uma composição que eu fiz durante uma época que eu precisava muito me sentir melhor, ter alguma esperança, queria fazer algo bonito”. Desirée fala sobre o primeiro single. “Então ela tem uma base que se repete de maneira contínua, para mim é um espírito que não desiste nunca, o que não deixa de ser uma ironia, pois sempre recebo fotos daquele meme que mostra um muro com a frase NUNCA DESI pintada em spray”, ela explica, reforçando o apelido Desi que lhe faz ser alvo deste meme. “NUNCA DESI escreve composição com espírito de não desistir nunca. Viver pode ser algo peculiar demais, fico impressionada.”

“Sobre o feat com Carabobina, não foi algo planejado inicialmente”, ela continua. “Eu compus e gravei 98% do EP – que sai em agosto – sozinha, foi um processo bastante demorado e muito, muito solitário. Quando você tem uma banda ainda tem pessoas que estão acompanhando todo o processo, compartilhando as dificuldades. Quando você não tem nenhum apoio não é só ‘você contra você’, é você contra o mundo. E é você contra um mundo onde a imensa maioria de artistas e criadores não são valorizados. Uma amiga definiu esse processo de ‘é construir uma casa enorme da fundação ao telhado sem ajuda’ e ainda não encontrei uma maneira melhor de descrever isso para pessoas que não fazem EPs e discos.”

“Conheci a Alejandra e o Fefel (os casal Carabobina) em 2020, pois por obra de algum poder divino acabamos sendo vizinhos aqui em São Paulo”, segue Desirée. “Eles tinham lançado o primeiro disco e eu amei, adorei as composições, os arranjos, a mixagem, gostei de tudo. Eles me convidaram para participar tocando em alguns dos shows deles e a gente tem uma química muito legal tocando. Sei por experiência que isso não é algo comum, então quando acontece eu dou bastante valor. Eu estava começando a mixar essa faixa com a Alejandra, que é tipo a melhor engenheira de áudio de todos os tempos, e não me sentia 100% confortável com o arranjo. Senti que faltava algo que desse mais movimento para a composição, gravei um rascunho de ideia e ao mostrar pra Alejandra, ela, sabiamente, perguntou o que eu achava de convidar o Raphael pra gravar a linha. Raphael topou, gravou na hora e adicionou detalhes que enriqueceram ainda mais a música e ficou óbvio para mim que a Alejandra teria que gravar alguma coisa, eu não ia perder a oportunidade de ter um feat do Carabobina. E foi isso, a música ganhou o movimento que eu buscava, mais camadas de vocais da Alejandra, mais camadas de texturas. Sou muito agradecida de poder conviver com essas pessoas geniais que também são incrivelmente generosas. Amo vocês amigos, obrigada por esse presente.”

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