David Crosby & Graham Nash @ OccupyWallStreet

Teach your parents well,
Their children’s hell will slowly go by,
And feed them on your dreams
The one they picks, the one you’ll know by.

Don’t you ever ask them why, if they told you, you would cry,
So just look at them and sigh and know they love you.

Demais.

Douglas Rushkoff sobre o OcuppyWallStreet

O Ariel linkou e traduziu a análise que o pensador de mídia fez sobre o movimento nova-iorquino que está se espalhando pelo mundo:

Mas Occupy é tudo menos um movimento de protesto. É o que tem dificultado às agências de notícias expressar ou mesmo discernir a “demanda” crescente de legiões de participantes do Occupy pelo país, ou até pelo mundo. Como acontece com todo mundo no planeta, os ocupantes podem querer que muitas coisas aconteçam e que outras coisas parem de acontecer, mas a ocupação não é sobre exigências. Eles não querem nada de você, e não há nada que você possa fazer para detê-los. Isto é o que faz Occupy tão estranho e promissor. Não é um protesto, mas um protótipo de um novo estilo de vida.

Mas não me levem a mal. Os ocupantes não propõem que vivamos todos na calçada e durmindo sob abrigos precários. De qualquer forma, a maioria de nós não teria a coragem, vigor ou força moral pra dar um duro tanto quanto esses caras estão dando. (Sim, eles estão dando um duro maior do que qualquer mineiro ou agricultor pudessem entender.) Os acampamentos de sobrevivência urbanos que eles estão montando pelo mundo na realidade são mais como congressos, ou pequenas zonas de experimentação de ideias e comportamentos, que talvez mais tarde implementaremos em nossas comunidades, e do nosso jeito.

Os ocupantes estão forjando uma robusta micro-sociedade de grupos de trabalho, cada um descobrindo novos pontos de vista – ou revivendo alguns antigos – para os problemas vigentes. Por exemplo a Assembleia Geral, uma maneira flexível de discussão em grupo e construção de um consenso. Mas, ao contrário das regras parlamentares que promovem o debate, a diferença e a decisão, a Assembleia Geral dá vida a novos elementos. A coisa toda é orquestrada pelos simples gestos das mãos. Os tópicos são priorizados por importância, e todo mundo tem a oportunidade de falar. Até depois dos votos as exceções e objeções são incorporados como emendas.

A íntegra em inglês tá aqui e a tradução do Ariel tá ali.

OccupyWallStreet, por Jonathan Demme

O diretor de O Silêncio dos Inocentes e Stop Making Sense passou pelo Zuccotti Park e registrou o que viu:

E disse que seu curta é “um infomercial para o OccupyWallStreet, uma resposta dos cidadãos a algo importante. Não tenho agenda, mas sou entusiasta e apoio isso de forma tão passional, que essa é a minha forma de contribuir“. Via Flavorwire, dica do Ramon.

OccupyWallStreet: Um soldado x 30 policiais

Repare como a briga é vencida…

Impressão digital #0078: Uma nova política

Minha coluna de domingo no Caderno 2 foi sobre esses novos movimentos populares que buscam reinventar a política atual.

É só o começo
Um novo conceito de política

Ativismo digital não é mais novidade. Usar a internet para conectar pessoas, divulgar causas e reunir multidões é algo que teve início ainda nos anos 90, quando o Subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional, usava a internet para espalhar o drama dos índios no sul do México. Ou quando uma multidão se reuniu em Seattle, em novembro de 1999, para protestar contra encontros de cúpula da Organização Mundial do Trabalho. Mas a internet e as mídias digitais só começaram a se popularizar de verdade no início da década passada, por isso esse tipo de organização política ainda estava restrito a militantes mais engajados.

Mas a internet deixou de ser uma rede de geeks. Celulares se tornaram o principal meio de comunicação do planeta. Além de fotografar e filmar, ainda se conectam à web para divulgar o que foi registrado onde for.

Foi assim que vimos uma série de novos movimentos utilizarem redes sociais e comunicação móvel para furar bloqueios governamentais e sair às ruas. Essa nova organização política – popular, digital e sem lideranças – cresceu principalmente em 2011, quando vimos esse tipo de movimento ganhar as ruas dos países árabes, ir à Europa (primeiro na Espanha, depois em Londres) e finalmente chegar aos Estados Unidos, onde um grupo de ativistas resolveu seguir o exemplo de árabes e europeus e acampar, sem prazo para ir embora, no centro financeiro de Manhattan.

As críticas que fazem ao movimento Occupy Wall Street são as mesmas que fizeram sobre as manifestações no Egito, na Tunísia, na Síria, na Espanha e na Europa. De que são apenas jovens desempregados, que não têm causa definida, nem reivindicação clara ou outra solução para o problema que apontam. Mas a indignação já deixou de ser localizada em determinada cidade e ontem, dia 15 de outubro (ou 15O, como escolheram codificar), vários manifestantes em dezenas de cidades do planeta saíram às ruas para protestar contra corporações e governos.

O que está acontecendo, na verdade, é o despertar de uma consciência global. Quando os meios impressos surgiram, foi o alcance de sua distribuição que determinou as fronteiras dos países para, num segundo momento, consolidá-los como nações, um conceito que não tem nem 500 anos de existência. Foi a partir disso que a política moderna, a de representação, surgiu. Mas à medida que o século 20 foi despertando a consciência de que todos somos parte de um mesmo planeta (graças à iminência de uma guerra nuclear e pela ecologia), aos poucos vem caindo a ficha de que a política de séculos passados se esgotou. E o que estamos vendo, nessas manifestações populares, é o clamor por um novo tipo de política. É só o começo.

Quando estive no OccupyWallStreet

Além da matéria que escrevi pro Link, fiz esse videozinho:

As gatas do OccupyWallStreet

Esse movimento também gerou um tumblr.

Tom Morello @ OccupyWallStreet

O guitarrista do Rage Against the Machine passou ontem pela praça ocupada e puxou coro ao entoar “This Land is Your Land”, clássico de Woody Guthrie. E fez uma previsão sinistra:

A íntegra do discurso de Slavoj Žižek no OccupyWallStreet

Publiquei, com esforço coletivo de tradução dos leitores do Sujo, o discurso do Žižek no Zuccotti Park, onde tá rolando o OccupyWallStreet. E agora a editora Boitempo, que publica seus livros no país, descolou a íntegra do mesmo discurso, traduzida por Rogério Bettoni. Lá vai:

Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.

Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.

Dirão que somos “não americanos”. Mas quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os Estados Unidos são uma nação cristã, lembrem-se do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos.

Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação e assim por diante. Sim, somos violentos, mas somente no mesmo sentido em que Mahatma Gandhi foi violento. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam – mas o que significa essa violência puramente simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento constante do sistema capitalista global?

Seremos chamados de perdedores – mas os verdadeiros perdedores não estariam lá em Wall Street, os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos Estados Unidos já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações de Wall Street que levaram à queda de 2008 foram mais responsáveis pela extinção de propriedades privadas obtidas a duras penas do que se estivéssemos destruindo-as agora, dia e noite – pense nas centenas de casas hipotecadas…

Nós não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que merecidamente entrou em colapso em 1990 – e lembrem-se de que os comunistas que ainda detêm o poder atualmente governam o mais implacável dos capitalismos (na China). O sucesso do capitalismo chinês liderado pelo comunismo é um sinal abominável de que o casamento entre o capitalismo e a democracia está próximo do divórcio. Nós somos comunistas em um sentido apenas: nós nos importamos com os bens comuns – os da natureza, do conhecimento – que estão ameaçados pelo sistema.

Eles dirão que vocês estão sonhando, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar sendo o que são por um tempo indefinido, assim como ocorre com as mudanças cosméticas. Nós não estamos sonhando; nós acordamos de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estamos destruindo nada; somos apenas testemunhas de como o sistema está gradualmente destruindo a si próprio. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega à beira do precipício e continua caminhando, ignorando o fato de que não há chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e vê o abismo. O que estamos fazendo é simplesmente levar os que estão no poder a olhar para baixo…

Então, a mudança é realmente possível? Hoje, o possível e o impossível são dispostos de maneira estranha. Nos domínios da liberdade pessoal e da tecnologia científica, o impossível está se tornando cada vez mais possível (ou pelo menos é o que nos dizem): “nada é impossível”, podemos ter sexo em suas mais perversas variações; arquivos inteiros de músicas, filmes e seriados de TV estão disponíveis para download; a viagem espacial está à venda para quem tiver dinheiro; podemos melhorar nossas habilidades físicas e psíquicas por meio de intervenções no genoma, e até mesmo realizar o sonho tecnognóstico de atingir a imortalidade transformando nossa identidade em um programa de computador. Por outro lado, no domínio das relações econômicas e sociais, somos bombardeados o tempo todo por um discurso do “você não pode” se envolver em atos políticos coletivos (que necessariamente terminam no terror totalitário), ou aderir ao antigo Estado de bem-estar social (ele nos transforma em não competitivos e leva à crise econômica), ou se isolar do mercado global etc. Quando medidas de austeridade são impostas, dizem-nos repetidas vezes que se trata apenas do que tem de ser feito. Quem sabe não chegou a hora de inverter as coordenadas do que é possível e impossível? Quem sabe não podemos ter mais solidariedade e assistência médica, já que não somos imortais?

Em meados de abril de 2011, a mídia revelou que o governo chinês havia proibido a exibição, em cinemas e na TV, de filmes que falassem de viagens no tempo e histórias paralelas, argumentando que elas trazem frivolidade para questões históricas sérias – até mesmo a fuga fictícia para uma realidade alternativa é considerada perigosa demais. Nós, do mundo Ocidental liberal, não precisamos de uma proibição tão explícita: a ideologia exerce poder material suficiente para evitar que narrativas históricas alternativas sejam interpretadas com o mínimo de seriedade. Para nós é fácil imaginar o fim do mundo – vide os inúmeros filmes apocalípticos –, mas não o fim do capitalismo.

Em uma velha piada da antiga República Democrática Alemã, um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que todas as suas correspondências serão lidas pelos censores, ele diz para os amigos: “Vamos combinar um código: se vocês receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa”. Depois de um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita em azul: “Tudo é uma maravilha por aqui: os estoques estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance – a única coisa que não temos é tinta vermelha.” E essa situação, não é a mesma que vivemos até hoje? Temos toda a liberdade que desejamos – a única coisa que falta é a “tinta vermelha”: nós nos “sentimos livres” porque somos desprovidos da linguagem para articular nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual – “guerra ao terror”, “democracia e liberdade”, “direitos humanos” etc. etc. – são termos FALSOS que mistificam nossa percepção da situação em vez de permitir que pensemos nela. Você, que está aqui presente, está dando a todos nós tinta vermelha.

O video com o discurso segue abaixo:

 

Até o Kanye West apareceu no OccupyWallStreet

E, pelo visto, ficou sem palavras.