O encontro de Kurt Cobain com o núcleo-duro do indie carioca em 1993 já é material de lenda e pode ter implicações ainda não rastreadas para a cena independente brasileira. Dodô foi mais do que um dos que estavam lá e foi o agente do próprio encontro, como lembra mais uma vez, esta motivada pelo documentário sobre Kurt Cobain, Montage of Heck, que eu também ainda não assisti, mas por motivos bem diferentes dos dele:
Eu posso até me matar. Mas se eu me matar, vou me tornar um produto ainda mais interessante para essa indústria escrota. – comentou Kurt Cobain na tarde em que passamos conversando no Rio de Janeiro.
O ano era 1993. Encontrei com o vocalista do Nirvana na final da manhã, na saída do palco do extinto festival Hollywood Rock. A banda havia acabado de fazer a passagem de som.
Ele olhou para o meu crachá de imprensa (na época eu produzia e apresentava um programa semanal de rock alternativo na rádio Fluminense FM) e fez cara feia. Abaixei minha câmera, tirei meu crachá e disse:
– Cara, eu não quero te entrevistar não. Só quero bater um papo contigo sobre música, fanzines (jornais feitos à mão e copiados em máquinas de xerox) pedais de guitarra.
Estava sendo sincero. Por mais que eu tivesse certeza que perderia meu emprego e minha reputação como jornalista ao não entrevistar o maior astro pop do mundo na época, o que me interessava naquele tempo era mesmo música, fanzines (que não deixa de ser jornalismo), e sons de pedais de guitarra.
Coisas como reputação, carreira, dinheiro, fama, não me interessavam.
Sim, eu já fui uma pessoa mais estúpida.
Sim, eu já fui uma pessoa melhor.
Talvez por isso, Kurt Cobain respondeu, de forma muito desencanada:
– Vamos.
Desde então, “vamos”, o leitor desta coluna já sabe, é minha palavra favorita.
Kurt Cobain era um adolescente. Já tinha tinha 26 anos (eu tinha 21) mas, afetivamente, tinha 15 anos. Não fez objeções para que eu levasse para o bate papo, no hotel Intercontinental, meia dúzia de amigos. Adorou a confusão que isso causou com o esquema de segurança da banda.
Ele continua o relato, que explica não ter assistido ao filme, em sua coluna no G1.
O plágio – consciente ou não – na música pop é uma referência quase constante, como aponto nestes cinco exemplos que cito no meu blog no UOL http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/05/15/strokes-beach-boys-nirvana-radiohead-e-outros-plagios-classicos/
O título “Montage of Heck”, que batiza o novo documentário sobre Kurt Cobain, na verdade é como o ex-líder do Nirvana batizou uma fita cassete em que ele editou músicas manjadas e desconhecidas, ruídos e gravações aleatórias, em 1988, antes de sua banda gravar seu primeiro disco. Linkei a gravação lá no meu blog do UOL http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/05/14/ouca-a-colagem-experimental-que-batizou-o-documentario-sobre-kurt-cobain/
Eis que o primeiro subproduto do documentário Montage of Heck acaba de ser anunciado: um disco composto apenas por gravações caseiras de Kurt Cobain. Falei sobre isso no meu blog do UOL http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/05/03/gravacoes-caseiras-de-kurt-cobain-serao-lancadas-em-disco-postumo/

Montage of Heck, que parece ser o documentário definitivo sobre Kurt Cobain, já tem data e locais de exibição nas salas de cinema do Brasil. Falei sobre isso lá no meu blog do UOL – além de incluir duas cenas do documentário em que o líder do Nirvana mostra que não era só um junkie depressivo avesso ao sucesso: http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/29/documentario-mostra-kurt-cobain-engracadinho-e-sera-exibido-no-brasil/
O documentário Montage of Heck, sobre Kurt Cobain, está vindo aí e deve dar início a uma onda de nostalgia e uma releitura sobre a personalidade do líder do Nirvana. Escrevi sobre isso no meu blog do UOL:
http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/04/16/assista-ao-nirvana-tocando-para-apenas-duas-pessoas/

Kurt Cobain aos 14 anos
O suicídio de Kurt Cobain completou 21 anos no início deste mês, mas a efeméride é só o começo de uma avalanche de novidades relacionadas à biografia do líder do Nirvana que já estamos sendo submetidos desde o anúncio do novo documentário, “Kurt Cobain: Montage of Heck”. Editado a partir de entrevistas com pessoas muito próximas à vida de Kurt Cobain antes da fama e toneladas de material caseiro tanto em vídeo quanto em áudio, o filme dirigido por Brett Morgen é uma versão oficial da história de Cobain, uma vez que o diretor teve acesso ao acervo de Kurt através da viúva Courtney Love e a filha do casal, Frances Bean Cobain, atua como produtora executiva do documentário.
Entre as novidades que já apareceram estão os trechos de uma apresentação de uma versão primitiva do Nirvana apresentando-se em uma sala de estar para um público de duas pessoas, seguida de um trecho de entrevista com o baixista e amigo confidente de Kurt, Krist Novoselic. Duas cenas do filme oferecidas ao jornal New York Times:
O amigo conta que quando conheceu Cobain, ele trabalhava como faxineiro. “Ele sempre fazia alguma tipo de arte – normalmente desfigurando algo. Ele nunca ficava sem ter o que fazer. Isso apenas vinha dele; ele tinha de se expressar.”

Kurt e a filha Frances Bean Cobain, hoje produtora executiva do documentário
Parte dessa expressão está registrada em mais de 100 fitas cassetes que Kurt Cobain guardava com registros de diferentes fases de sua vida, não apenas registrando estágios iniciais ou ideias para canções, mas falando ao telefone, comentando músicas que ouvia no rádio, falando sozinho. O diretor Morgen teve acesso a esse material, que foi armazenado num depósito por Courtney Love logo após a morte de seu marido e nunca mais haviam sido revisitadas. Desse material foi de onde saiu uma demo que a revista norte-americana Rolling Stone disponibilizou em seu site:
Em entrevista ao jornal New York Times, o diretor do documentário disse que queria mostrar o lado contraditório de Kurt Cobain – que além de ser um rock star deprimido com o próprio sucesso ele também era uma pessoa amável e bem humorada, sempre lembrada com carinho por pessoas mais próximas. Morgen dirigiu os ótimos “O Show Não Pode Parar” (sobre o produtor de cinema Robert Evans, responsável por “O Poderoso Chefão”, “Love Story” e “Chinatown”), “Chicago 10” (sobre os protestos de 1968 em Chicago, nos EUA) e “Crossfire Hurricane” (sobre os Rolling Stones) e achava que iria encontrar um clichê de história do rock que teria sua história contada em 18 meses. O trabalho se esticou por oito anos à medida em que o diretor pode mergulhar em um artista que conhecia superficialmente e que fora contratado para documentar. O filme ainda deve gerar um livro e um disco com a trilha sonora, ambos sem previsão de lançamento.
“Kurt Cobain: Montage of Heck” deverá estrear nos cinemas norte-americanos no dia 24 de abril e depois será exibido na HBO no dia 4 de maio. Não há previsão sobre exibições no Brasil, embora especule-se sobre uma única sessão no dia 12 de maio, ainda não confirmada. Assista ao trailer abaixo:

A edição desta semana da revista Rolling Stone norte-americana traz mais uma matéria em busca da essência de Kurt Cobain e antecipa um trecho de uma demo inédita gravada pelo líder do Nirvana que está no novo documentário Montage of Heck:
A mesma edição também traz uma infame entrevista com a filha de Kurt, Frances Bean Cobain, que, entre outras coisas, disse que não curte tanto a música da banda do pai:
“Eu não gosto tanto de Nirvana assim (sorri). Foi mal pessoal da divulgação, da Universal. Eu curto mais Mercury Rev, Oasis, Brian Jonestown Massacre (ri). A cena grunge não é algo que me interessa, mas “Territorial Pissings” é uma música muito foda. E “Dumb” – choro sempre que escuto essa música. É uma versão desconstruída da percepção de Kurt sobre ele mesmo – sobre ele usando drogas, sem drogas, se sentindo mal por ter virado a voz de uma geração.”
E o Lucio crava que “Montage of Heck” só vai passar em uma única sessão, em uma única sala de cinema, em uma única cidade do Brasil. Tomara que se liguem que isso é uma burrada.
Escrevi sobre o Montage of Heck, o novo documentário sobre Kurt Cobain, lá no meu blog do UOL: http://matias.blogosfera.uol.com.br/2015/03/11/veja-o-trailer-sobre-documentario-que-revela-o-lado-intimo-de-kurt-cobain/
O rock como o conhecíamos acabou quando Kurt Cobain deu um tiro em seus miolos, em 1994. A ascensão do Nirvana foi o curto circuito final entre a indústria fonográfica e o modus operandi faça-você-mesmo vindo do punk rock, algo que havia começado desde os primeiros dias do punk (a trajetória dos Sex Pistols é o melhor exemplo disso) e que resultou na criação do circuito independente (ou “college” ou alternativo ou “indie”) nos Estados Unidos. Kurt, filhote destas duas mitologias, funcionou como um capítulo final para o gênero que já foi sinônimo de transgressão, de rebeldia, de subversão. Depois de sua morte, o rock virou um motivo meramente estético e poucos artistas conseguiram ir além de caricaturas ou homenagens a arquétipos anteriores e o gênero foi se tornando cada vez mais conservador, reacionário, anacrônico e repetitivo. Todo o lado progressista e contestador do rock foi parar em outros gêneros musicais e, principalmente, outras mídias, sobretudo a cultura da internet.
Para entender melhor o que significou o suicídio de Kurt Cobain, o documentarista Brett Morgan passou quase uma década trabalhando em cima de um filme que contasse a história de Kurt antes da fama. Olhando através de sua família, o documentário Kurt Cobain: Montage of Heck, que conta com a filha de Kurt, Frances Bean Cobain, entre seus produtores, tem entrevistas com seus parentes e amigos próximos, que mostram como uma criança feliz virou um adolescente revoltado que tentou sua salvação através do rock – apenas para ser esmagado pela máquina de hype.
O documentário foi sucesso no festival de Sundance desse ano e irá ser exibido pela HBO nos Estados Unidos no dia 4 de maio.

O filme foi exibido no Festival de Berlim deste ano e o UOL conferiu.

Olha aí de novo.
Beastie Boys – “Mark on the Bus”
Walter Franco – “Feito Gente”
Nirvana – “All Apologies”
Daft Punk + Julian Casablancas – “Instant Crush”
Bárbara Eugênia – “Sozinha (Me Siento Solo)”
Garotas Suecas – “Bucolismo”
Hall & Oates – “Kiss On My List”
Robin Thicke + Pharrel + T.I. – “Blurred Lines”
Spice Girls – “Never Give Up On the Good Times”
N.W.A. – “Express Yourself”
Racionais MCs – “Pânico na Zona Sul”
Newcleus – “Computer Age (Push the Button)”
Disclosure – “When a Fire Starts to Burn”
Jimi Hendrix Experience – “Still Raining, Still Dreaming”
Chocolate da Bahia – “Ele Guenta”
Planet Hemp – “Contexto”
João Bosco – “Cobra Criada”