Nina Becker 2017: “Pra gente poder respirar”

, por Alexandre Matias

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A sensação que o Acrílico de Nina Becker é coisa séria já havia se materializado no primeiro single, “Voo Rasante” – e essa sensação torna-se palpável no segundo single, “Despertador”, que ela lança em primeira mão no Trabalho Sujo. “‘Despertador’ é a única canção do disco que traz uma referencia mais direta à ideia de bossa-jazz e eu desejava que em algum momento isso aparecesse deliberadamente nesse disco”, ela explica sobre a nova canção e sobre o conceito do álbum. “Estávamos em Buenos Aires com a Orquestra Imperial e convidei o Kassin para fazer uma música no nosso dia de folga. Demorei para chegar no lugar onde havíamos combinado e quando cheguei a melodia já estava pronta, com a colaboração do Pedro Sá.”

“Despertador” reflete essa atmosfera cinquentista que Nina quis puxar para o disco, trazendo à tona a cultura transformadora do Brasil nos anos 50, da poesia concreta, da concepção arquitetônica de Brasília, de um novo cinema e da bossa nova. “A ideia de fazer o Acrílico surgiu quando fiz uma trilha em que me pediram para compor uma bossa-jazz contemporânea. Para essa gravação tive a oportunidade de montar uma banda com contrabaixo acústico, piano, bateria e guitarra e fiquei maravilhada com essa experiência. Estava prestes a começar a produção de outro disco, mas mudei meus planos, porque eu precisava fazer um álbum inteiro explorando a sonoridade dessa formação. Um trio com uma guitarra acoplada, trabalhando com linhas sobrepostas de piano”, explica a cantora. Essa sensação é traduzida também visualmente na estética do disco, como podemos ver nas fotos de divulgação e na capa de Acrílico, também mostrada em primeira mão para o Trabalho Sujo.

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“Segui com a ideia da bossa-jazz como uma projeção luminosa que banhasse o ambiente das novas canções que vinham surgindo. Uma luminosidade mais opaca ou mais translúcida conforme a natureza de cada uma. Quando já estava no meio do processo de formação de repertório, percebi que nenhuma das canções já compostas para o disco se apresentava naturalmente como uma bossa nova, estilo através do qual eu comecei a aprender a tocar violão, estudar música e cantar e que de alguma forma costuma aparecer nos meus trabalhos de forma difusa. Deixei de lado a preocupação que sempre tive com o anacronismo estilístico e mergulhei no conforto da minha cama macia, onde dedilhava meus primeiros ‘acordes-aranha’.”, ela continua.

Nina comenta sobre a letra de “Despertador”: “Ela fala do dia a dia como algo bonito e necessário de se viver plenamente em uma época em que tudo converge para a exposição midiática de uma vida idealizada, com um ritmo imposto por máquinas e gadgets eletrônicos, que atropela pequenas e preciosas coisas do cotidiano e faz com que passem despercebidas. A letra também coloca a ideia do amor como um filtro de proteção da alma pra barra pesada geral que estamos vivendo. Mas a crítica vem de uma forma leve, sem rancor, porque ‘Despertador’ é para ser uma música-abraço, aconchegante, ensolarada, no meio de tanto breu.”

O disco será lançado no mês que vem com shows na Casa Natural Musical (dia 19 de outubro), em São Paulo, e no Teatro Ipanema (dia 8 de novembro) no Rio.

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