A mídia, os artistas, o medo e o silêncio, por João Paulo Cuenca

rio-outubro-2013

JP Cuenca postou no Facebook, mas achei importante reforçar seu nome aos bois:

Você, articulista de jornal, rádio e tv, que ajudou a criminalizar os protestos e abriu espaço para a porrada da polícia no povo: a culpa é sua.

Você, editor preguiçoso, que jamais contou o número de manifestantes feridos, mas sim o número de cacos de vidro no chão: a culpa é sua.

Você, repórter, que fechou uma matéria sem ouvir nem sequer um manifestante, comprando a versão da PM como fato depois de décadas de assassinato e abuso: a culpa é sua.

Você, profissional liberal com voz na sociedade, que prefere não emitir nenhuma opinião porque tem medo de perder o emprego, o contato, a boquinha ou a pulserinha na área VIP: a culpa é sua.

Você, indigente intelectual militante de “esquerda”, que se cala para manter seus negócios, conchavos ou empreguinhos no governo Dilma ou Cabral: a culpa é sua.

Você, escritor, cineasta, diretor de teatro, ator, artista plástico, que se cala com medo de queimar seu filme para os próximos editais, prêmios, bolsas e regadores de mão oferecidos pelas três esferas de poder estatal: a culpa e sua.

Chegou o futuro: somos todos políticos agora. o silêncio é a sua mão suja.

É um bom ponto. (A foto que abre o post foi twittada pelo Rafucko.)

A era das câmerafones

O Timm traduziu o artigo do Guardian que eu linkei aqui outro dia. Segue a tradução. E valeu Timm!

Primavera Árabe leva à onda de eventos capturados em câmeras-fone
Da Praça Tahrir aos episódios das declarações racistas de John Galliano, fotos e vídeos amadores têm, cada vez mais, sido usados em coberturas na mídia

Em 2011, as câmeras-fone entraram no mainstream do fotojornalismo graças à combinação das revoltas árabes, aos protestos do Occupy e aos avanços da tecnologia.

O Guardian, agências de notícias e as principais emissoras de TV usaram muito mais câmeras-fone e imagens em vídeo. O New York Times disse que seu uso aumentou cem vezes.

“Isso é em grande parte por causa da Primavera Árabe”, disse Michele McNally, editora-assistente de fotografia no New York Times. “A maioria dos jornalistas está carregando smartphones por causa da qualidade de imagem das suas câmeras. Eles gostam do estilo das imagens do celular e eles são menos invasivos em situações de conflito.”

Ela diz que a mídia cidadã foi mais um registro instantâneo de um evento do que um substituto do fotojornalismo qualificado. Diz ainda: “A maior parte da cobertura amadora denota a falta da verdadeira interpretação inteligente de como é estar lá.”

O Sharek, serviço de mídia cidadã da Al-Jazeera, recebeu cerca de mil vídeos de câmeras-fone durante a revolta egípcia contra Hosni Mubarak.

Riyaad Minty, diretor de mídia social, disse: “Em lugares como a Líbia, Iêmen e Síria, cidadãos postando online têm sido a principal lente através do qual as pessoas têm sido capazes de ver o que está acontecendo em terra firme.

Agora, nossas matérias mais importantes têm girado em torno de imagens captadas por cidadãos nas ruas. Não são mais apenas imagens de apoio. Na maioria dos casos, as pessoas capturam os furos de reportagem primeiro. A Primavera Árabe foi realmente o momento derradeiro, quando tudo aconteceu ao mesmo tempo.

Turi Munthe, fundador do serviço de jornalismo cidadão Demotix, disse que houve uma mudança cultural na grande mídia.

“As principais emissoras de tv estão abandonando seu modo padrão para usar as câmeras-fone porque as imagens soam muito mais autênticas. Em quase todas as imagens da Praça Tahrir há pessoas acenando câmeras-fone.

“Globalmente, nossos números de vendas este ano subiram 250%. Você precisa desse tipo de cobertura global com dezenas de pessoas na Tunísia e no Egito e na Líbia ou em Nova York e Portland e Londres. Isso reflete a amplitude e a profundidade da cobertura da Primavera Árabe e do movimento Occupy.

“Tivemos cerca de mil colaboradores nos enviando imagens do norte da África. No Egito, havia um sentimento de que a guerra estava sendo travada em duas frentes — a guerra contra Mubarak e a campanha para espalhar a revolta em toda a mídia.”

Munthe diz que o acervo fotográfico da Corbis começou a aceitar imagens tiradas a partir de câmeras-fone. “Não se trata apenas de agências de notícias procurando um registro imediato, mas também de revistas à procura de imagens que resistam ao teste do tempo.”

Faris Couri, editor-chefe da BBC Árabe, diz ter visto um aumento de quatro vezes no uso de imagens e vídeos gerados por usuários. O material levou a investigações, por exemplo, quando um tanque apareceu atirando contra uma escola no início da revolução egípcia. Jornalistas descobriram que havia prisioneiros fugitivos escondidos no prédio.

Ele diz: “Nas raras ocasiões onde jornalistas tiveram acesso à Síria, eles foram acompanhados pelas autoridades, de modo que o conteúdo irrestrito dos usuários acabava equilibrando as coberturas. Durante o último ano isso virou regra. As pessoas perceberam que a situação exigia isso, pois era impossível confiar nos profissionais.”

Dr. Rasha Abdulla, professor associado e diretor de jornalismo e comunicação de massa da Universidade Americana no Cairo, disse que uma sinergia se desenvolveu entre jornalistas cidadãos e a mídia de massa.

“Um exemplo é a horrível imagem da manifestante egípcia que foi despida, no chão, por soldados do exército enquanto eles, brutalmente, a espancavam e a humilhavam. Mesmo sendo essa uma foto da Reuters, apoiantes do Conselho Supremo das Forças Armadas afirmavam que ela era falsa. Então, um vídeo amador surgiu levando Scaf a admitir que, de fato, aquilo havia acontecido.”

Em 18 de dezembro, quando houve um apagão na cobertura de tv da ocupação do gabinete egípcio, no Cairo, Abdulla disse que as únicas imagens haviam vindo de um manifestante transmitindo online a partir de seu celular.

“Aquela transmissão estava sendo assistida por mais de doze mil pessoas na ocasião.” Lá se vai o tempo em que os governos eram capazes de esconder seus crimes, proibindo emissoras de tv e jornalistas de estar em cena. Todo mundo em cena é um jornalista cidadão e todo mundo está documentando enquanto protesta.”

Philip Trippenbach, editor-chefe do departamento da rede de mídia social Citizenside diz: “Houve uma mudança comportamental com ativistas se dando conta de que o interesse em suas imagens vai além do Facebook ou do Twitter.”

Ele diz que a chegada dos smartphones com câmeras entre 8 e 10 megapixels levou a um crescimento de três vezes no número de imagens que eles recebem.

Talvez, o mais importante seja a capacidade de vídeo dos telefones mais recentes. O vídeo de John Galliano [o estilista das declarações racistas] foi história nossa. Quem forneceu o vídeo ganhou dinheiro suficiente para comprar um Audi novo. Mas, para a maioria, se trata de compartilhar informação, como na Wikipedia.

Mas um dos chefes do setor de fotografia no The Guardian, Roger Tooth, diz: “O material captado com câmeras-fone tem grande valor em cenários onde se é complicado chegar, em furos de reportagem, mas geralmente vai para segundo plano quando fotojornalistas chegam na cena.

“A alta qualidade das câmeras-fone não significa um melhor jornalismo — o número de megapixels é, provavelmente, a coisa menos importante em fotos jornalísticas.”

“Outra coisa que eu questiono é por quanto tempo as pessoas simplesmente continuarão “doando” seu material para organizações comerciais de mídia.”

A proliferação e a crescente qualidade da mídia cidadã tem levado algumas da principais emissoras a demitir fotojornalistas profissionais. A CNN está mandando embora aproximadamente uma dúzia de fotojornalistas por causa do uso cada vez maior das mídias sociais, incluindo a iReport, graças ao seu próprio serviço de fotojornalimo cidadão.

A iReport, que tem aproximadamente um milhão de colaboradores registrados, recebeu cerca de 6300 imagens e vídeos nas revoltas do Egito e da Líbia, dos quais 450 foram publicados.

Tony Maddox, vice-precidente executivo da CNN internacional, diz que esses colaboradores não são substitutos para repórteres profissionais.

Jornalistas da CNN usaram smartphones durante a Primavera Arábe para “entrar no coração da história.”

Ele diz: “Durante os acontecimentos na praça Tahrir, nossos operadores estavam sob ataque e os smartphones nos permitiram ser consideravelmente mais discretos.”

McNally, do New York Times, diz que a mídia cidadã foi mais um um “registro instantâneo” de um evento do que um substituto do fotojornalismo qualificado. Ela diz: “A maior parte da cobertura amadora denota a falta da verdadeira interpretação inteligente de como é estar lá.”

OccupyWallStreet x Fox News

A Fox News entrevistou um dos ativistas do OccupyWallStreet, Jesse LaGreca, que aproveitou a oportunidade para mandar a real sobre o jornalismo da emissora. Mas alguém filmou a entrevista e pôs no YouTube – ou seja, ela foi ao ar, só quem outro canal. A íntegra da entrevista que, óbvio, não passou na Fox News, segue abaixo, transcrita pelo Observer. E, de novo, se alguém traduzir, mandaê que eu posto:

Fox: Jesse, so Ray, your partner here, your…
Ray: comrade.
Fox: Your colleague, she’d seen the protests in Greece and Europe and elsewhere. Did you guys take your cue from that? Are you hoping to cite certainly what was a lot of the tension, if not police activity. I know over the weekend there were over 100 arrests and you guys got things fired up. Are you taking your cues from the international movement and how do you want to see this? If you could have it in a perfect way, how would it be?
Jesse: Well I don’t know, its really difficult to answer questions leading to those conclusions. I’d say that we didn’t take our cue leading off of anybody really. It became a more spontaneous movement. As far as seeing this end, I wouldn’t like to see this end. I would like to see the conversation continue. This is what we should have been talking about in 2008 when the economy collapsed. We basically patched a hole on the tire and said let the car keep rolling. Unfortunately it’s fun to talk to the propaganda machine and the media especially conservative media networks such as yourself, because we find that we cant get conversations for the department of Justice’s ongoing investigation of News Corporation, for which you are an employee. But we can certainly ask questions like you know, why are the poor engaging in class warfare? After 30 years of having our living standards decrease while the wealthiest 1% have had it better than ever, I think it’s time for some maybe, I don’t know, participation in our democracy that isn’t funded by news cameras and gentlemen such as yourself.
Fox: But, uh, yeah well, let me give you this challenge Jesse.
Jesse: Sure.
Fox: We’re here giving you an opportunity on the record […] to put any message you want out there, to give you fair coverage and I’m not going to in any way
Jesse: That’s awesome!
Fox:…give you advice about it. So, there is an exception in the case, because you wouldn’t be able to get your message out there without us.
Jesse: No, surely, I mean, take for instance when Glenn Beck was doing his protest and he called the President, uh, a person who hates white people and white culture. That was a low moment in Americans’ history and you guys kinda had a big part in it. So, I’m glad to see you coming around and kind of paying attention to what the other 99 percent of Americans are paying attention to, as opposed to the far-right fringe, who who would just love to destroy the middle class entirely.
Fox: Alright, fair enough. You have a voice, an important reason to criticize myself, my company and anyone else. But, let me ask you that, in fairness, does this administration, President Obama, have any criticism as to the the financial situation the country’s in…?
Jesse: I think, myself, uh, as well as many other people, would like to see a little but more economic justice or social justice—Jesus stuff—as far as feeding the poor, healthcare for the sick. You know, I find it really entertaining that people like to hold the Bill of Rights up while they’re screaming at gay soldiers, but they just can’t wrap their heads around the idea that a for-profit healthcare system doesn’t work. So, let’s just look at it like this, if we want the President to do more, let’s talk to him on a level that actually reaches people, instead of asking for his birth certificate and wasting time with total nonsense like Solyndra.

Xkcd e a opinião pública

Xkcd nunca erra.

Link – 6 a 12 de abril de 2009

A rede social e a sala de aulaPerguntar + responder + discutir = aprenderJuntando alunos de vários paísesProfessor sai do centro da sala‘Aula tradicional não reflete complexidade do mundo atual’, diz pesquisador‘Próxima geração terá jornalismo irreconhecível’, diz Jonathan Mann, jornalista e âncora da CNNCombalidos, veículos impressos reagemO que fazer quando o Wi-Fi falhar‘New York Times’ e o futuro dos jornais: ser ousado é a nova regraVida Digital: Laís Bodanzky

Leitura Aleatória 252


riffsyphon1024

1) “Não confunda indústria dos jornais com mídia”
2) 9 hábitos cerebrais que você não sabia que existiam
3) 5 soldados reais que fazem o Rambo parecer uma moça
4) Twitter em 1937
5) Joaquin Phoenix insiste que o lance dele com hip hop é sério (tá bom)
6) Dick Cheney diz que governo de Obama põe EUA em perigo
7) Suspenso o músico que piscou para Barack Obama
8) O dia em que o São Paulo foi rebaixado
9) Hayden Panettiere diz que não está saindo de Heroes (hmmm…)
10) Obama quer impor teto para bônus de executivos em Wall Street