Não pulei o 153 – só não consegui uploadá-lo a tempo. Mas como ele era uma parte da retrospectiva, passei o 154, cheio de músicas novas, adiante, para agilizar a conversa.
Bob Dylan – “Beyond Here Lies Nothing”
General Elektriks – “Mirabelle Pockets”
Memory Cassette – “50mph”
Sonic Youth – “Antenna”
Passion Pit – “I’ve Got Your Number”
Modular – “Femme Fatale”
Nancy – “Mamba Negra Fashion Week”
Radiohead – “Weird Fishes/Arpeggi”
Jarvis Cocker – “I Never Say I Was Deep”
Fleet Foxes – “White Winter Hymnal”
Danger Mouse & Sparklehorse – “Little Girl (com Julian Casablancas)”
Caetano Veloso – “Falso Leblon”
Metronomy – “Heartbreaker”
Beastie Boys – “Groove Holmes”
Les Rhytmes Digitales – “Sometimes”
Krazy Baldhead – “Sweet Night (com Outlines)”
Phantom Band – “Left-Hand Wave”
Lily Allen – “Fuck You (Doc Fritz Fossa Nova Mix)”
Weird Tapes – “The Heavens”
Vamo?
O começo e o final do segundo disco grupo inglês Metronomy (a dobradinha “Nights Intro/Nights Outro”) pode induzir o ouvinte à entrada num universo de melancolia indie que aproxima a psicodelia rústica do Neutral Milk Hotel ao leste europeu espiritual do Beirut de Zach Condon. Mas logo que “The End of You Too” engata – pouco antes de enganchar nos últimos vinte segundos de seu primeiro minuto – percebemos que estamos em uma pista de dança. Mas acompanhe o balanço quadrado, os timbres bregas de teclado, as guitarras-base meio frouxas e o caminhar torto do ritmo em si – o receituário de indie rock está nos detalhes que tornam o Metronomy uma banda pelo menos inusitada. O susto inicial é só a isca, pois o trio inventado por Joseph Mount (que oficializou a dupla Oscar Cash e Gabriel Stebbing como parte da banda – antes, os dois assinavam como The Food Group e funcionavam como banda de apoio quando Mount tocava ao vivo) pisa firme seus próprios preceitos rítmicos e estéticos, com um aparente orgulho nerd que se torna puro e inocente a cada audição. Compostas sempre sobre um ritmo matriz em que detalhes de produção e samples aleatórios vão sendo sincronizadas, as faixas de Nights Out podem ser entendidas como um enorme videogame sonoro de lógica, uma mistura de Sudoku com Guitar Hero que só pode ser jogado com os ouvidos – quanto mais você se envolver com a música, mais pontos você ganha. Para isso, o grupo propõe uma série de fases, que vão desde o pop fácil (“Heartbreaker”, que sampleia uma porta abrindo) à dance torta (“A Thing for Me”), de uma mistura de krautrock com new wave (“On the Motorway”) a um ritmo caribenho robotizado (“Radio Ladio”) de uma balada composta ao redor de gemido eletrônico (“On Dancefloors”) a uma versão japonesa para o pós-punk (“Back on the Motorway”). E distorcendo vocais em falsete e timbres mecânicos e sintéticos, vão superpondo riffs, refrões, linhas de baixo, viradas de bateria e frases de efeito como se cada faixa fosse um minijogo, o Metronomy faz indie dance para tempos minimalistas, engrossando uma cena que surge debaixo dos confetes da new rave e logo vem assumindo um papel importante na música atual, que são as bandas de rock que tocam música para dançar. Essa nova cena inclui a safra de 2006 – de nomes como Rapture, Klaxons, Digitalism, Crystal Castles, Hot Chip, New Young Pony Club, Friendly Fires, Cansei de Ser Sexy – e a proximidade das cenas australiana e parisiense, além de poder agregar nomes da cena de novo rock do início da década, que começou com os Strokes e terminou com o Franz Ferdinand. Com Nights Out, o Metronomy coloca-se entre este panteão de bandas de médio porte que podem, em pouco tempo, mudar a cara da música ouvida no mundo inteiro. E daí que “My Heart Rate Rapid” lembra Gang 90?
O Brasil sempre importou modismos estrangeiros como uma forma de buscar assunto para compor suas próprias músicas – nunca foi pré-requisito, mas o que fazia sucesso no exterior (seja na França, nos EUA, na Inglaterra, na América Latina ou na Itália) sempre encontrava eco em nosso jovem país, que sempre dava um jeito de, com o tempo, abrasileirar timbres, tempos, temas. Não é privilégio do Cansei de Ser Sexy: Carmen Miranda já cantava “Disseram Que Eu Voltei Americanizada” depois de sua temporada em Hollywood.
Nos final dos anos 50, o cool jazz era o indie rock de seu tempo e o apartamento da Nara Leão era o equivalente ao Midsummer Madness nos anos 90. Era onde uma turma que não gostava do som que tocava nos rádios e nas ruas e buscava, nos discos importados, refúgio e conforto. A sorte da turma de Nara foi a aparição de João Gilberto, que sozinho, transformou um bando de adolescentes fanáticos por jazz na primeira geração de um gênero que não existia nos anos 60, mas que tornou-se onipresente a partir dos 70: a MPB.
O sucesso da bossa nova fez com que outro modismo americano passasse despercebido por aqui e suas referências e necessidades fossem assimiladas de outra forma, sendo ignorado no Brasil em seu tempo. Antes da Beatlemania varrer o mundo no começo dos anos 60, a folk music estava se tornando um dos principais novos gêneros no início daquela década (ao lado da californiana surf music e daquele gospel tão macio e novo que chamavam de soul). Mas como o Brasil tornou-se obcecado com a bossa nova pouco antes dos tanques mineiros chegarem a Brasília, em 64, este gênero acabou suprindo o refúgio no violão e em valores nacionais defendidos, nos EUA, pela nova tribo folk, que habitava o Greenwich Village, em Nova York. No Brasil, todo o vínculo que a folk music representava nos EUA tanto com a questão dos direitos civis quanto com os valores de um país tentando encontrar a própria identidade podem ser resumidos em duas rupturas de fundadores da bossa nova: quando Carlos Lyra se junta ao grupo de teatro Arena e quando Nara Leão chama Zé Kéti e João do Vale para o palco do espetáculo Opinião. Esses dois artistas podem ser considerados os principais responsáveis por nos isolar de uma geração inteira de artistas americanos, como Kingston Trio, Joan Baez, Weavers, Odetta, Peter Paul & Mary, Phil Ochs, John Denver, Pete Seeger e Bob Dylan. E sorte nossa: imagine se, nos anos 60, o discurso folk americano fosse adaptado para o Brasil – ia soar forçado e alienante, como se a jovem guarda tivesse alguma pretensão política. Felizmente, não foi o caso.
Isso explica principalmente o revival folk que estamos atravessando atualmente. Todos esses artistas – e o cânone que eles geraram – têm sido revisitados e descobertos nos últimos anos e aos poucos estão sendo apropriados por diferentes gerações, criando essa cena folk que até o final de 2007 era só uma vontade, mas depois de 2008 – e dos shows do Dylan, Will Oldham, Conor Oberst e Bill Calaham no Brasil, da festa Folk This Town, dos discos de Mallu Magalhães e a ascensão do Vanguart – tornou-se fato. E, aos poucos, surgem artistas comprovando isso.
Um destes é a dupla Rosie and Me, de Curitiba. Quem me deu o toque sobre eles foi o Vinícius, mas eles já estão chamando atenção no exterior antes mesmo de surgir no radar da cena independente brasileira. Não é difícil entender porquê – canções compostas por melodias singelas e refrões irresistíveis são emolduradas por arranjos discretos e leves, funcionando como veículo para o jogo entre as vozes de Roseanne Machado – doce e de textura levemente áspera – e Alex Sousa – de timbre grave e informal. “No começo éramos só eu e o Alex”, lembra Rosie. “Na época ele morava no Rio e eu em Curitiba. Eu costumava gravar as bases das músicas no meu computador e depois ele sincronizava e complementava os arranjos no computador dele, tudo a distância. Foi um impulso disponibilizar as faixas na internet, era tão lo-fi que o Rosie and Me era mais entre a gente. Em uns dois meses o número de ouvintes aumentou inesperadamente. Foi quando decidimos convidar alguns amigos e formar a banda”.
“Nosso primeiro show foi em novembro do ano passado no Wonka Bar em Curitiba”, continua Alex. “Fomos convidados para abrir o show de lançamento dos nossos amigos do Je Rêve de Toi. Foi de última hora e, apesar do nervosismo, foi divertido tocar pra uma casa cheia e receptiva. Era estranho ver gente que sequer conhecíamos cantando algumas das nossas músicas. Na formação tínhamos a Rô no vocal e violão, eu no vocal e synth, o Guilherme no baixo e o Tiago na bateria. Estes são os membros oficiais da banda. Convidamos um amigo, o Fião, para nos ajudar com mais um violão”. Foi o único show da banda, que ainda mandou covers de Metronomy e The Knife.
Rosie and Me – “Heartbeats” (The Knife)
Rosie and Me – “Heartbreaker” (Metronomy)
Alex segue falando da repercussão online que a banda teve mesmo antes de começar pra valer. “No começo estávamos bastante empolgados com o Last.fm e criamos um perfil pra banda com uma ou duas músicas. De repente o número de ouvintes aumentou e alguns comentários positivos foram nos encorajando a criar mais músicas e enviar para o site. De forma alguma esperávamos ter ouvintes em países como Polônia e Alemanha antes mesmo dos nossos amigos daqui ouvirem as músicas. Uma guria chegou a enviar uma de nossas músicas para uma rádio polonesa e nos avisar quando a música foi ao ar. Lembro da Rô me ligando desesperada para avisar quando tocaram ‘Folkie Song’. Demoramos a criar um perfil no MySpace e só o fizemos depois de alguns pedidos de alguns ouvintes do last.fm que queriam nos ajudar a divulgar a banda”.
A banda sem querer faz parte de uma nova safra de bandas curitibanas que, como convém quase sempre à capital paranaense, quase nunca se movimenta como uma cena, e sim como várias ações coletivas que se movimentam em paralelo: “Várias bandas, de diversos estilos tem surgido e apresentado um trabalho muito bom. Temos gente como o próprio Je Rêve de Toi, Delta Cockers, Copacabana Club, Bo$$ in Drama, Sabonetes, Stella Viva”, Alex enumera. “Sem dúvida há outras bandas que como nós tem produzido alguma coisa às escondidas também”.
“Temos hoje cerca de 13 músicas gravadas, das quais 9 estão disponíveis para download no Last.fm“, continua Roseanne. “Duas são covers acidentais que o Alex acabou postando em um período que estive fora. ‘I Lost You, But I Found Country Music’ é do Ballboy e significa bastante pra ele. ‘You’re Laughing At Me’ de Irving Berlin foi gravada com instrumentos ‘emprestados’ de uma banda de jazz do Seneca High em Wisconsin. Até o momento não temos qualquer show marcado. Pretendemos finalizar e lançar um EP ainda no primeiro semestre deste ano. Mas a experiência de tocar ao vivo foi muito boa. Acho que não recusaremos caso suja uma nova oportunidade”.
As mesmas perguntas: Rosie and Me
O que levou vocês a fazerem música?
Rosie: Foi a influência musical que nos aproximou quando nos conhecemos, além do gosto parecido pra lo-fi/folk/country tunes nossas histórias também tinham muitos pontos em comum. Podemos passar horas nos divertindo com um violão, gaita e teclado sem percebermos.
Qual foi a primeira música que vocês tocaram juntos?
Alex: A primeira foi “Folkie Song”. Ela ficou conhecida como “Folkie Song #2” porque apesar de ser a primeira a surgir, foi a segunda a ser gravada.
Como foi a primeira apresentação como Rosie and Me?
Rosie: A estréia foi no Wonka Bar com o Je Rêve de Toi e Delta Cockers. Lembro da casa cheia e do quanto estavamos nervosos no início. Abrimos o set com “The Big Fight” e arriscamos um cover do Metronomy. A reação do público foi ótima, estávamos realmente nos divertindo com tudo aquilo.
De quem vocês queriam abrir um show? E quem vocês gostariam que abrisse um show de vocês?
Rosie: Putz. Dá pra sonhar bastante com essa coisa de abrirmos shows pra alguém. Acho que Stars, Wilco, Weepies pra nós dois seria algo incrível. Acho que para abrir um show nosso convidariamos o Pylas. Projeto de um grande amigo nosso.
Com que banda/artista brasileiro você dividiria um disco?
Rosie: O Pylas. Sem dúvidas.
Rosie and Me – “You’re Laughing At Me (Irving Berling Cover)“
Rosie and Me – “Youre Laughing At Me (Irving Berling Cover)”
Sem muito papo, vambora.
Rosie and Me – “You’re Laughing at Me”
Metronomy – “On the Motorway”
National – “So Far Around The Bend”
801 – “Tomorrow Never Knows”
Beirut – “My Night With The Prostitute From Marseille”
Slimy – “Womanizer”
Whitest Boy Alive – “Courage”
Momo – “Irmãos”
Júpiter Maçã – “Mademoiselle Marchand”
Jorge Ben – “Cinco Minutos”
M. Ward – “For Beginners”
Curumin (com Tommy Guerrero) – “Sambito”
Of Montreal – “Gallery Piece (Long Version)”
Franz Ferdinand – “Send Him Away”
Hot Chip – “Transmission”
Eu falei que a partir desse ano não tem Sujo no sábado, lembrou?
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• Metronomy remixa Midnight Juggernauts •
Metronomy – “A Thing For Me”
Lykke Li – “Little Bit”
Ed O’Brien, Phil Selway, Jeff Tweedy & Johnny Marr – “Fake Plastic Trees”
Bad Folks – “The Weight”
The Very Best – “Kamphopo”
Que tal esse remix do Metronomy pra “Into the Galaxy”? Desossou a música e mandou pro meio do deserto – que foda.
Midnight Juggernauts – “Into the Galaxy (Metronomy Remix)“
Feliz ano novo aê povo!
Franz Ferdinand – “Ulysses (Disco Bloodbath Remix)”
Burro Morto – “Cabaret”
Pacific! – “Don’t You (Forget About Me)”
Midnight Juggernauts – “Into the Galaxy (Metronomy Remix)”
Maroon 5 – “This Love (Cut Copy Galactic Beach House Mix)”
Ladyhawke – “Better than Sunday”
Bag Raiders – “Shooting Stars”
Nego Moçambique – “Highlander do Funk”
Cansei de Ser Sexy – “Left Behind (João Brasil Tropical Mix)”
Marisa Monte – “Não é Proibido (Deeplick Remix)”
Britney Spears – “Womanizer (Teenagers Remix)”
All-American Rejects – “Gives You Hell (Bloody Beetroots Remix)”
Ting Tings – “Great DJ (Chernobyl Remix)”
Animal Collective – “Taste”
Passion Pit – “Sleepyhead”
We Start Fires – “Let’s Get Our Hands Dirty”
Flaming Lips – “It Was a Very Good Year”
Morrissey – “One Day Goodbye Will Be Farewell”
Black Lips – “Starting Over”
O bom do Metronomy é que além de eles entortarem todos os pré-conceitos sobre música eletrônica que é feita hoje em dia, eles levam essa mesma pegada pros remixes. Aqui, eles chamam uns metais meio Mark Ronson e reinventam o hit do Cansei como se eles fizessem outro tipo de new wave. Se liga:
Como sábado que vem não vou estar aqui, deixo dois sets para animar a virada do ano. E os dois ficam por conta da dupla Chaves e Landosystem, que tocam a festa Disc-O-Nexo em Porto Alegre, que apresentaram ambas mixagens ao vivo na clássica rádio Ipanema. O primeiro foi ao ar no dia 23 de outubro e o segundo dia 6 de novembro. Dá pra ter uma idéia do nível da discotecagem pela seleção das músicas que estão aí embaixo – mas a passagem de uma música para a outra torna tudo mais tenso, elétrico e preciso. Bem foda.
Chaves e Landosystem Live @ Ipanema (23 de outubro de 2008) (MP3)
Mercury Rev – “Senses On Fire (Fujiya and Miyagi Remix)”
Daft Punk – “Human After All”
Junkie XL – “Cities In Dust (The Glimmers Remix)”
The Killers – “Somebody Told Me (The Glimmers Remix)”
Whitey – “Walk In The Dark (Reprise)”
Holy Ghost – “Hold On (Black Mazego Groove)”
Noise Beat Propaganda – “Sexy Neon Wine (DV’s Re-Make)”
DJ DLG – “Your Life (Rogerseventytwo Remix)”
Justice – “Waters of Nazareth (Erol Alkan’s Durr Durr Durrrrr Edit)”
Alex Metric – “Caller”
Just A Band – “Burn It Out”
Klaxons – “It’s Not Over Yet (Blende Remix)”
Daft Punk – “Technologic (Rogerseventytwo Remix)”
Modfunk – “Cut Your Soul (POL RAX Remix)”
The Glimmers – “Physical”
The Virgins – “Rich Rich (The Twelves Remix)”
Sneaky Sound System – “When We Were Young (G.L.O.V.E.S. Remix)”
Yuksek – “Tonight”
Headman – “New”
Metronomy – “Heartbreaker (Black Devil Disco Club Remix)”
Chaves e Landosystem Live @ Ipanema (6 de novembro de 2008) (MP3)
Just A Band – “Vulgar Display”
Justice – “DVNO (Mathematikal Re-edib)”
DJ DLG – “Your Life (Rogerseventytwo Remix)”
En Masse – “Lime”
Does It Offend You, Yeah? – “We Are Rockstars (Bloc Party Remix)”
Van She – “Kelly (Van She Remix)”
Boy 8-bit – “Suspense Is Killing Me”
Pierce – “Love Conga (Love Edit)”
Bag Raiders – “Turbo Love”
Moulinex – “Break Chops (GRUM Remix)”
Alphabeat – “Boyfriend (Alex Metric Remix)”
The Prodigy – “The Way It Is (Miami Quiver Edit)”
Metronomy – “Heartbreaker (Jupiter Remix)”
Housemeister – “What You Want (Siriusmo Remx)”
Siriusmo – “Discosau”
The Cars – “Let The Good Times Roll (Mike Genius Remix)”