Artistas univitelinos

Douglas Germano só não é integrante oficial do grupo Encruza porque trilha sua carreira solitário, à distância, mas sempre que se encontra com quaisquer dos cúmplices que pertencem ao coletivo informal do atual samba torto paulistano, a liga é imediata. Como vimos nesta quarta-feira quando o sambista, por pouco mais de uma hora, tornou-se o quarto integrante do Metá Metá – e conectar-se com o trio, por mais abertos que sejam Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, exige um certo fôlego criativo e de palco que não é pra qualquer um. Mas com o Douglas não teve mistério e na apresentação que aconteceu na Casa de Francisca ele parecia ter fez parte do grupo desde o início. Tà certo que sua irmandade musical com Kiko e o fato de sambas clássicos de Douglas serem parte considerável do repertório do Metá já deixa claro que esta simbiose é mais que inevitável, é fato – são artistas univitelinos. Mas vê-la desdobrando-se à nossa frente, transforma aquele encontro aparentemente trivial em um momento único para todos os presentes. O quarteto passeou por momentos centrais do Metá Metá que foram compostos por Douglas (“Orunmilá”, “Oranian”, “Canção pra Ninar o Oxum”, “Sozinho”, “Obá Iná” e “Damião”) e outros (“Oyá” e “Rainha das Cabeças”) feitos em parceria com Kiko, seu irmão de voz e instrumento, com quem dividiu não apenas as fileiras de seu Bloco Afromacarrônico como o clássico Duo Moviola, visitado três vezes nesta noite (“”Cio”, “Premiére Deja Vu” e “Por Favor” – esta com Thiago no cavaquinho -, volta Duo Moviola!). Os quatro também visitaram o repertório de Douglas e músicas como “Àgbá”, “Golpe de Vista” e “Tempo Velho” ganharam uma nova dimensão visitadas naquela formato. A noite ainda teve clássicos do Metá compostos por Kiko (“Cobra Rasteira” e “São Jorge”) que carregam o DNA dos sambas de Douglas e Juçara lembrou que aquele encontro havia acontecido há pouco numa apresentação que os quatro fizeram em Porto Alegre pouco antes da tragédia climática que abateu-se sobre o Rio Grande do Sul, revelando que a renda daquela noite iria para o coletivo RS Música Urgente, que está ajudando a cena musical gaúcha a se reerguer. Uma noite histórica.

Assista a um trecho aqui.

#metameta #douglasgermano #casadefrancisca #trabalhosujo2024shows 113

Metá Metá à meia luz

Nesta terça-feira, Rômulo Froes inaugurou a curadoria que está fazendo no Sarau, o minúsculo bar do recém-inaugurado Pulso Hotel, quando chamará grandes nomes da música brasileira contemporânea para apresentar-se à meia luz para um público bem reduzido. Além de anunciar que nomes como Jadsa, Josyara, Alice Caymmi e Maurício Pereira, entre outros que estarão nas próximas terças, ele contou com a melhor abertura possível, por conta do trio Metá Metá. E com Juçara, Kiko e Thiago desfilando seu já clássico repertório não tem erro, né? Os três hipnotizaram o público em versões ainda mais discretas dos hits de seus três discos, além de puxar versões clássicas que fazem para Jards Macalé, Douglas Germano e, claro, “Trovoa”, de Maurício Pereira. E terça que vem tem Ava Rocha com o Chicão! Imperdível!

Assista abaixo:  

Uma comemoração particular – de um país inteiro

Encontrei Kiko, Thiago e Juçara logo que cheguei na Casa de Francisca nessa quinta-feira saindo do elevador que agora dá acesso ao camarim em direção ao palco. Pude cumprimentá-los rapidamente antes que eles começassem a apresentação e desejar um bom show (no caso deles redundância, mas a saudação importa) quando Thiago frisou: “Sabe que hoje é aniversário daqui, né?”. Não estava sabendo, mas há exatos sete anos a Casa de Francisca arrancava suas raízes na rua José Maria Lisboa nos Jardins para replantá-las no coração de São Paulo, há poucos metros da Praça da Sé, no Palacete Tereza que hoje é a cara do lugar. Feliz por estar participando mais uma vez de um momento histórico desse palco sagrado (ainda mais com show do Metá Metá!), também comemorei que esse poderia um bom começo de carnaval, embora a vibração fosse distinta. Até que começaram a cair umas fichas: primeiro que aquele começo de carnaval tinha começado algumas horas antes, quando a polícia federal deteve o passaporte do meliante que ocupou a presidência da república, aproximando-o de seu destino desejado, a cadeia. O efeito dominó que as notícias da quinta-feira causaram (e seguem causando) inevitavelmente desdobraram-se na série de piadas e numa contagem regressiva que a prisão do desgraçado poderia ser o início do carnaval (eu acho que não vai rolar agora, vai ser um carnaval fora de época daqui a pouco). E depois me lembrei do show que vi daquele mesmo Metá Metá na outra Casa de Francisca, no fatídico dia 12 de maio de 2016, quando o Senado autorizou o início do golpe na Dilma. Foi o começo da era de trevas da qual ainda estamos saindo e lembro direitinho (até escrevi sobre isso na coluna que tinha na Caros Amigos na época) de como aquela notícia pesou nosso encontro antes do show e como o show em si foi um exorcismo daquele futuro ruim que sabíamos que viria. Oito anos depois, lá estava o mesmo Metá Metá – só os três de novo – em outra Casa de Francisca comentando a possibilidade de prender a pessoa que só chegou onde chegou porque derrubaram a presidenta naquele passado não tão distante. Ainda não estamos festejando o que deve ser festejado, mas o futuro sombrio (que ainda se avizinha, à espreita, fingindo-se de desentendido) está mais distante do que estava naquela noite de 2016. E mais uma vez era a música que mostrava o rumo a ser seguido. Viva a resistência cultural! Viva a Casa de Francisca! Viva o Metá Metá! Viva o Brasil e viva a música!

#metameta #casadefrancisca #trabalhosujo2024shows 15

Assista abaixo:  

Metá Metá em casa

E por falar em Casa de Francisca, foi bom ver o Metá Metá nesta quinta-feira mais uma vez em um de seus territórios habituais. O trio formado por Thiago França, Juçara Marçal e Kiko Dinucci é essa usina acústica de energia vital e vê-los repetindo seu repertório em condições ideais de temperatura e pressão é sempre revigorante. Além de passear pelas canções de sua trilogia imbatível de discos, os três ainda passearam por faixas inéditas (mas já conhecidas de quem frequenta seus shows), uma das músicas que fizeram para o balé do grupo Corpo e até uma pinçada do repertório do Duo Moviola, que Kiko mantinha (mantém? Tomara) com Douglas Germano. Sempre um descarrego, uma aula, uma festa.

Assista abaixo:  

Conjunção de forças

Não estava programado, mas encerrar a segunda aula do curso História Crítica da Música Brasileira, que estou fazendo no Sesc Pinheiros, com um show gratuito do Metá Metá convidando Jards Macalé dentro do festival Mario de Andrade (organizado pela Biblioteca Municipal que carrega o nome do escritor e pensador paulista) no Paço das Artes, no Centro de São Paulo, deu um tempero especial para o sábado frio de São Paulo. E a experiência não é só pessoal, uma vez que tanto Bernardo Oliveira (que deu a aula deste sábado) e Rodrigo Caçapa (que dará a aula no próximo e estava como ouvinte na aula passada) também concluíram essa jornada comigo, como alguns alunos que pude reencontrar entre o público. O show pecou pelo som baixo – nada justifica terem colocado as caixas de PA rente ao chão e não apontadas para o público -, mas a química entre o trio paulistano e o mestre carioca é irresistível. O Metá Metá começou a apresentação sozinho, enfileirando seus hits irresistíveis, todos recebidos pelo público como bênçãos coletivas: “Oyá”, “São Jorge”, “Orunmilá”, “Atotô”, “Cobra Rasteira” e “Vias de Fato”, esta última cantada baixinho pelo público e ganhando sua condição de reza. Depois o trio chamou o velho Macau para o palco, que logo depois assumiu o show sozinho puxando hinos como “Soluços” e “Vapor Barato”, esta tocada ao lado do sax de Thiago França. Kiko Dinucci e Juçara Marçal voltaram ao palco para acompanhar o compadre em outros clássicos, como “Pano pra Manga”, a nova “Coração Bifurcado”, a imortal “Negra Melodia”, composta com Waly Salomão (te dedico, Juliana Vettore), e “Let’s Play That”, que o Metá já toca em seu repertório habitual. Os quatro não resistiram ao clamor do público e voltaram para o bis cantando “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, que transformou o local numa missa sobre a vitória da luz sobre as trevas. Ave música!

Assista aqui:  

Vida Fodona #761: Minha atual obsessão

Essa sexta-feira 13 e esse frio fora de época…

Ouça aqui  

Vida Fodona #753: Ritmo normal

Começa meio rock’n’roll, mas depois…

Ouça aqui.  

Vida Fodona #744: Primavera inconstante

Muitas emoções, vamos lá…

Ouça aqui.  

Vida Fodona #718: Outono meio solar

Vai ver, vai ver… É mudança de estação.

Ouça aqui.  

Vida Fodona #694: Festa-Solo (29.11.2020)

vf694

Mais uma edição ao vivo do Vida Fodona para acompanhar a apuração da eleição – mais um Festa-Solo lá no twitch.tv/trabalhosujo nesta tarde de domingo.

Kylie Minogue – “Magic”
Konk – “Your Life”
Talk Talk – “It’s My Life”
Criolo – “Bogotá”
Bixiga 70 – “Pedra de Raio”
Metá Metá – “Corpo Vão”
Letuce – “Quero Trabalhar Com Vidro”
Boogarins – “Foimal”
Rincon Sapiência – “Crime Bárbaro”
Stevie Wonder – “All Day Sucker”
Last Poets – “It’s a Trip”
Meters – “Tippi Toes”
Cymande – “Brothers On The Slide”
Curtis Mayfield – “Superfly”
Marvin Gaye – “I Heard It Through The Grapevine”
Creedence Clearwater Revival – “I Heard It Through The Grapevine”
Amy Winehouse + Paul Weller – “I Heard It Through The Grapevine”
Slits – “I Heard It Through The Grapevine”
Yoko Ono – “Walking On Thin Ice”
Waterboys – “The Whole Of The Moon”
Velvet Underground – “Foggy Notion”
Os Cascavellettes – “O Dotadão Deve Morrer”
Raul Seixas – “A Verdade Sobre A Nostalgia”
Hüsker Dü – “Pink Turns to Blue”
Sonic Youth – “Skip Tracer”
Buzzcocks – “What Do I Get?”
Sebadoh – “Pink Moon”
Pixies – “Monkey Gone To Heaven”
Neil Young & Crazy Horse – “Powderfinger”
Legião Urbana – “Heroes”
Lulina – “Birigui”
Pavement – “Gold Soundz”
Elastica – “Connection”
Olivia Tremor Control – “Hideaway”
Big Star – “Down the Stret”
Jimi Hendrix Experience – “Still Raining, Still Dreaming”
Bob Dylan – “Just Like Tom Thumb’s Blues”
Bárbara Eugenia – “Cama”
Pink Floyd – “San Tropez”
Beck – “So Long, Marianne”
Courtney Barnett & Kurt Vile – “Over Everything”
Blur – “End Of A Century”
Billie Eilish – “All The Good Girls Go To Hell”
Angel Olsen – “Too Easy”
PJ Harvey – “The Dancer”
Paulinho da Viola – “Dança da Solidão”
Beatles – “Cry Baby Cry”