Domingo foi dia de celebrar o aniversário do Massari em mais um Massarifest que ele organiza perto de sua data festiva, sempre trazendo representantes daqueles que ele chama de “os bons sons” para uma comunhão de velhos fãs de rock pouco ortodoxo. O festival que fiz no dia anterior infelizmente me impediu de ver a conjunção Oruã com o Retrato que abriu a noite, mas pude ver os senhores Bufo Borealis – em formação completa, com dois tecladistas – mostrar seu jazz funk no palco do Fabrique (“o mais alto que já tocamos!”, constatou o baixista Juninho Sangiorgio) e também saudar a passagem de Hermeto e sua música universal, como bem lembrou o baterista Rodrigo Saldanha ao final do show. A imagem do mestre alagoano surgiu no telão do festival e por lá permaneceu em todo o show do Violeta de Outono, que visitou hinos dos anos 80 e 90 de sua psicodelia paulistana com sua formação clássica: Fabio Golfetti na guitarra e voz, Angelo Pastorello no baixo e Claudio Souza na bateria. E a noite encerrou com um atropelo sônico equivalente ao grupo que fechou a primeira edição do festival no ano passado, quando o reverendo trouxe o grupo noise japonês Acid Mothers Temple. O trio norte-americano A Place to Bury Strangers passou por cima do público algumas vezes: primeiro engolir a audiência com uma massa sonora indescritível, que fez o vocalista e guitarrista Oliver Ackermann quebrar seu instrumento na segunda música, depois quando a atirou para os braços do público e mais tarde quando a pendurou no teto da casa de shows. Mais tarde desceram do palco para tocar no meio do público, levando inclusive partes da bateria. De volta ao palco, o baixista John Fedowitz retomou o ruído elétrico tocando baixo e guitarra ao mesmo tempo, até que Ackermann voltasse do público, pegasse seu instrumento, e a elétrica Sandra Fedowitz, que parece uma pré-adolescente com um sorriso ligado em 220 volts, retomar sua bateria e mais uma vez abordar bruscamente o público com um soco sonoro. Ave Massari!
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O Massarifest — já clássico festival do nosso pastor Fábio Massari — acaba de acrescentar mais uma atração em seu elenco e ninguém menos que o prog psicodélico do Violeta de Outono está incluso no festival dominical, que também anunciou os horários dos shows. Veja abaixo:
O maestro Fabio Massari acaba de anunciar a segunda edição de seu próprio festival, quando comemora mais uma vez aniversário reunindo velhos camaradas para ver uma sequência de bons sons ao vivo. O Massarifest 2025 acontece mais uma vez no Fabrique, quando ele traz para o Brasil o barulhento A Place to Bury Strangers, trio nova-iorquino que caminha entre o noise e o shoegaze e que fez duas apresentações arrebatadoras no Centro Cultural São Paulo quando fazia a curadoria por lá, em 2019. Antes dos gringos, quem começa a noite é a fusão das bandas indie Oruã e Retrato e o jazz funk do grupo instrumental Bufo Borealis, que ajudam a criar o climão da festa, que acontece no dia 14 de setembro e já está com ingressos à venda. Vamos lá celebrar mais um aniversário do reverendo, que traz o presente pra gente!
Assista aos shows do A Place to Bury Strangers que filmei em 2019 abaixo:
O senhor Fabio Massari comemorou tornou-se oficialmente sexagenário nesta sexta-feira num evento em que redefiniu o conceito ligado à nova idade, afinal o Fabrique recebeu uma tríade de apresentações ao vivo que reuniu velhos roqueiros que vão para muito além do estereótipo ligado à vertente clássica do gênero, que quase sempre resvala num conservadorismo estético e, portanto, político. A bordoada sonora à qual o público que encheu a casa de shows na Barra Funda foi submetido a anticlichês que superaram probabilidades sonoras neste que esperamos que seja apenas a primeira edição do Massarifest, que poderá se tornar um encontro anual de cabeças abertas esperando por doses cavalares de ruído experimental, um recorte caro à audição do aniversariante. Perdi o show de abertura dos pernambucanos dos Devotos, mas cheguei a tempo de ver Paulo Barnabé desvirtuando andamentos e expectativas enquanto contrapunha vocais e letras tensas à frente de sua Patife Band, que além de engalfinhar-se em solos e mudanças de tempos entre a erudição e o jazz de vanguarda, ainda desfilou pérolas de seu disco de formação – o Corredor Polonês, de 1987, que inaugurou o que chamamos hoje de math rock -, fazendo o público cantar músicas como a faixa-título, “Tô Tenso” e a adaptação do “Poema em Linha Reta” de Fernando Pessoa, tocado logo após o pianista Paulo Braga entortar um improvável “Parabéns a Você”.
Mas as coisas ficaram pesadas mesmo quando o quinteto japonês Acid Mothers Temple subiu ao palco. Liderados pelo inacreditável guitarrista Kawabata Makoto e por seu comparsa Higashi Hiroshi, impávido nos synths apocalípticos, a instituição psicodélica do outro lado do mundo veio ao Brasil pela segunda vez com o novato Jyonson Tsu, que, além de cantar também alterna entre um alaúde grego chamado bouzouki e uma guitarra Telecaster japonesa dos anos 70, e uma cozinha inacreditável formada pelo baterista Satoshima Nani e pelo baixista Wolf. E apesar de Makoto ter o holofote sempre que começa a solar, é impressionante o que o baixista e o baterista fazem quando passam a conduzir as bases para o improviso sonoro, fundindo elementos de rock progressivo alemão a doses cavalares de noise e protopunk, transformando o grupo em uma usina de ruído rítmico de tirar o fôlego. Mas não há como desviar o olhar do guitarrista fundador da banda, que encarna um Jimi Hendrix alienígena, que empilha camadas de microfonia enquanto transforma seu instrumento em uma antena elétrica que capta ruídos do espaço sideral em músicas que ultrapassam os dez minutos. A apresentação culimou com uma tour de force de Makoto, quando este entregou seu instrumento para o público tocar antes de pendurá-lo no teto do palco, deixando-a sozinha ressoando ecos do cosmo. E quem ficou até o final ainda ouviu, sem saber, uma música nova dos Boogarins que o Mancha, que estava discotecando entre as bandas, tocou logo que a banda japonesa terminou.
Nesta sexta-feira, nosso mestre Fabio Massari completa seis décadas de vida, cinco delas dedicadas, como ele mesmo gosta de falar, aos bons sons – e comemora a data em grande estilo, reunindo, no Fabrique, três bandas de polos estéticos distintos de sua contínua apreciação por músicas fora da curva: os papas do hardcore pernambucano Devotos, os pais do math rock Patife Band e o turbilhão de sentidos chamado Acid Mothers Temple, diretamente do Japão. O festival, apropriadamente chamado Massarifest – e ainda com ingressos à venda – acontece neste dia 20 de setembro e aproveitei a deixa para conversar com o ídolo e compadre sobre sua trajetória até aqui e sobre a possibilidade deste seu festival tornar-se anual. Assista abaixo.