Vale encarar as mais de duas horas de discussão da estréia do programa Sem Filtro, que tem como seu primeiro tema a a crise da água em São Paulo – e no Brasil. O programa é cria do Estúdio Fluxo que neste debut convidou a ambientalista Marússia Whately para uma sabatina sobre a grande seca paulistana de 2015. Na bancada, puxada pelo chapa Bruno Torturra, estão os jornalistas Antônio Martins (dos sites Outras Palavras e Conta D’Água), Barbara Gancia (da Folha e do GNT), Claire Rigby (que cobre a crise hídrica pra Vice, Monocle e Guardian) e João Wainer (também da Folha). Mas mesmo como vídeo, dá pra deixar a imagem rolando em uma aba e ouvir a importante discussão enquanto você atua em outras abas de seu navegador.
Bom saber que estão começando a discutir algumas questões fora da torrente monótona que se repete em nossas timelines (online ou offline). Além do Sem Filtro ainda há o recém-lançado Havana Connection, liderado pelo Sakamoto, que também vale conferir.
E você, que mora em Sâo Paulo, já está se preparando para enfrentar a seca de 2015? Ou o plano B é mudar de cidade? Considere uma das opções pois a crise é fato, como dá pra ver por essa entrevista da ambientalista Marussia Whately, do projeto Água São Paulo e do Instituto Socioambiental (ISA). Destaco um trecho:
“O plano de contingência é a principal reivindicação da Aliança pela Água. Em final de outubro do ano passado, fizemos um processo rápido de escuta de mais ou menos 280 especialistas de diferentes áreas. E o plano de contingência apareceu como uma das principais reivindicações desses especialistas.
Naquela ocasião, a idéia predominante era que se adotasse um plano de contingência que permitisse que chegássemos a abril deste ano com um nível de reservação de água nas represas, que desse para aguentar o período da estiagem. Infelizmente, esse plano não foi elaborado e muito menos realizado.
O que aconteceu na prática foi uma negação da crise hídrica por parte do governo do Estado até dezembro de 2014 —uma negação que vai levar para outras instâncias de responsabilização.
O governador terminou o ano dizendo que não teríamos racionamento e que não haveria falta d’água. E começou 2015 dizendo que existe o racionamento e que pode ser que falte água.
Se fosse um novo governador, a gente até poderia aceitar, mas se trata do mesmo cara. Então tem uma questão aí: a forma como a crise foi conduzida nos fez perder muito tempo em termos de ações para chegar a um nível seguro em abril.
Realmente, existe um componente de clima na crise que não dá para negar. Já está confirmado que 2014 foi o ano mais quente da história. O que já seria um quadro de extrema gravidade, entretanto, tem sido agravado porque desde 2011 a Sabesp está super-explorando as represas. Ou seja, tirando delas mais água do que entra.
O governo do Estado deveria ter assumido a liderança em relação à crise da água em São Paulo. No caso do sistema Cantareira, essa liderança deveria ser dividida com o governo federal, por intermédio da Agência Nacional de Águas e do Ministério do Meio Ambiente, a quem compete organizar a Política Nacional de Recursos Hídricos. O problema é que muitos dos nossos instrumentos de gestão vem sendo desmantelados em escala federal, estadual e municipal.
Vale a pena ler tudo antes de entrar em pânico ou desmerecer a crise como “alarmismo”. O texto foi escrito antes do racionamento ser cogitado pelo governo do estado e a foto, da Mídia Ninja, que ilustra o post também ilustra o artigo original.