Impressão digital #128: Só melhora!

E a minha coluna nessa edição do Link foi a continuação da coluna da semana passada

Só melhora: o otimismo é a mola mestra de nossa evolução
A ficção científica não previu o celular

Engraçado ver como um assunto repercute. Na coluna da semana passada, me referi a um texto do comediante norte-americano Louis C.K. para comentar como passamos o tempo todo reclamando e não percebemos como a época em que vivemos é fantástica. Muitos aplaudiram, outros contestaram e a discussão ficou dividida entre os que consideraram o texto deslumbrado e os que se identificaram com meu otimismo. E, claro, muitos apenas reclamaram, uns com argumentos, outros só por prazer.

E, no meio da repercussão, um link me foi enviado quatro vezes. Ele remetia ao site do escritor inglês Warren Ellis, autor de quadrinhos que já são clássicos modernos, como Transmetropolitan, Authority e Frequência Global (todos lançados no Brasil). Ellis usa os quadrinhos como veículo para discutir temas que ainda são ficção científica, mas que ele trata como realidade iminente, justamente pela onipresença da tecnologia em nossos dias (como robótica, inteligência artificial, transferência de consciência, a fusão homem-máquina).

O texto, chamado Como ver o futuro, foi apresentado durante a conferência de ficção científica Improving Reality, que foi realizada no início do mês passado na Inglaterra. Ele começava o texto explicando que a obsessão tecnocêntrica de nossos dias tem nos deixado apáticos em relação aos avanços do presente e, desta forma, desiludidos em relação a qualquer tipo de futuro melhor.

E, em dado momento, cita uma das principais passagens do pensador maior da era digital, Marshall McLuhan: “Olhamos para o presente pelo espelho retrovisor. Marchamos de ré para o futuro. Devido à invisibilidade de qualquer tipo de ambiente durante este período de inovação, o homem só passa a perceber conscientemente o ambiente que veio anteriormente. Em outras palavras, um ambiente só se torna inteiramente visível quando é substituído por um novo ambiente. Assim, estamos sempre um passo atrás de nossa visão do mundo. O presente é sempre invisível porque ele é o próprio ambiente em que vivemos e assim acaba saturando todo nosso campo de atenção de forma implacável. É por isso que vivemos no dia de ontem.”

Isso foi escrito em 1969. E Warren Ellis destrincha o tema no texto: “Você não consegue ver o presente propriamente pelo retrovisor. Ele está à sua frente. Bem aqui.”

E descreve o nosso presente fantástico e invisível: “Exatamente agora, há seis pessoas morando no espaço. Há pessoas imprimindo protótipos de órgãos humanos e pessoas imprimindo tecidos compostos por nanofios que vão misturar a carne humana com o sistema elétrico humano. Já fotografamos a sombra de um único átomo. Temos pernas mecânicas controladas por ondas cerebrais.”

Ele continua: “Nos últimos dez anos, descobrimos duas espécies desconhecidas ao ser humano. Conseguimos fotografar erupções na superfície do Sol, aterrissagens em Marte e até mesmo na lua de Titã. Isso parece sem graça para você? É porque está acontecendo agora, neste exato momento. Olhe as horas no seu relógio, pois este é o presente e essas coisas estão acontecendo. O telefone celular mais simples é, na verdade, um dispositivo de comunicação que envergonharia toda a ficção científica, todos os rádios no pulso e comunicadores portáteis. O Capitão Kirk tinha de sintonizar seu comunicador, que não conseguia mandar mensagens de texto, nem tirar fotos em que ele poderia colocar um filtro Polaroid por cima. A ficção científica não antecipou a chegada do telefone celular.”

Mais uma citação para encerrar a coluna dessa semana (mas não o assunto). O escritor de ficção científica inglês Arthur C. Clarke repetia que “toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. Imagine nossos avós no começo do século passado, antecipando a nossa rotina do século 21. Mais do que comemorar feitos fantásticos, eles ficariam espantados a nos ver vivendo como… magos.

O otimismo é a mola mestra de nossa evolução, e não o pessimismo. Digo e repito meu mantra: só melhora.

Vinteonze: A Orkutização de McLuhan

Sem pauta, voltamos à ativa inaugurando um segundo semestre cheio de novidades velhas e ideologias atemporais que confrontam o novo futurismo com a experiência enquanto meio final, juntando Elis & Tom, Spaced, omertá de mídia, vinis que custam os olhos da cara e o formato álbum, enquanto o Neu! 75 e o Impacto do Hector Costita Sexteto giravam na vitrola.

Ronaldo Evangelista & Alexandre Matias – “Vinteonze #0013“ (MP3)

Link – 31 de janeiro de 2011

O século McLuhanSe funciona, está obsoleto‘A aldeia global encolheu’Iniciativa quer reduzir preço de games no BrasilPersonal Nerd: Compre games de PC via downloadMuseu do novoAtravesse com cuidadoMês 1Servidor

McLuhan 100

2011 é o ano McLuhan – e escrevi a capa do Link sobre este assunto, além de traduzir um texto do David Carr sobre o novo livro do Douglas Coupland sobre o sujeito e entrevistar o filho do homem, Eric McLuhan.

O Século McLuhan

Woody Allen e Diane Keaton estão na fila do cinema, em crise (como sempre), enquanto alguém logo atrás deles exibe seu intelectualismo de araque (como sempre acontece em filas de cinema). O papo do coadjuvante começa a irritar Woody Allen, que inclui sua inquietação na briga com sua mulher.

Até que, em dado momento, o sujeito fala em Marshall McLuhan, sobre a influência da TV na cultura atual – é a gota-d’água para nosso herói, que vira-se para a câmera e lamenta a situação. O falastrão, então, interfere o lamento de Woody e começa a se gabar como acadêmico, que teria autoridade para falar sobre McLuhan. É quando Woody recorre a um absurdo genial – e puxa ninguém menos que o pensador canadense para a cena em que, sem pestanejar, crava: “Você não conhece nada sobre o meu trabalho!”.

E quem conhece? Teórico pop e acadêmico transgressor, Marshall McLuhan é o grande pensador da era digital. Um gênio que anteviu a vida eletrônica pautada pela comunicação total dos tempos da internet quando ela nem existia. A partir dos efeitos do rádio na cultura mundial, passou a analisar o impacto da publicidade e da mídia na vida das pessoas, pregando, nos anos 1960, uma transformação que ainda segue em curso. E em 21 de junho de 2011, ele completaria um século de vida, o que faz que este seja o ano de seu centenário.

Entre as comemorações, surge uma biografia que tem como título justamente a frase que McLuhan em pessoa profere no filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de 1977, citado no início. You Don’t Know Nothing of My Work! assinado por Douglas Coupland, outro pensador pop que, em 1991, definiu seus contemporâneos como Geração X, e é uma tentativa de apresentar o trabalho de McLuhan à geração digital.

“Achei o livro divertido”, diz Eric McLuhan, o filho do pensador canadense que se propõe a ser seu sucessor intelectual. Michael McLuhan, irmão de Eric que toma conta do espólio do pai, não é tão otimista: “Achei um lixo. Seus insights sobre Marshall são poluídos com devaneios rasos como o que cogita que ele poderia ser autista – uma fantasia completa – e as páginas de blablabla e jogos de palavras que só distraem o leitor.”

O fato é que o autor de termos e expressões como “aldeia global” e “o meio é a mensagem”, por mais que seja popular, ainda está longe de ser compreendido. Como um Marx ou um Freud da era digital, ele antecipou problemas e discussões que só começamos a entender décadas depois de serem cogitados. Morreu em 1980, deixando sua obra em aberto para considerações alheias. O ideal seria, como no filme, puxar McLuhan do nada para o meio da discussão. É como diz Allen no fim da cena: “Quem dera pudesse ser assim na vida real.”

Entrevista: Eric McLuhan
“A aldeia global encolheu”

O sr. acredita que o trabalho do seu pai é compreendido?
É evidente que o trabalho de meu pai tem atraído a atenção de muitos na mídia atual. Há um dilúvio de material sobre ele – entrevistas e vídeos – repentinamente disponível online, mas só uma pequena porcentagem daqueles que estão interessados em seu trabalho tem alguma ideia do que ele estava falando. No geral, ele é tão incompreendido como sempre foi.

Como o sr. vê a obra de McLuhan à luz da web? A aldeia global ficou ainda menor?
A aldeia global foi criada para explicar os efeitos do rádio na primeira metade do século 20. Com os satélites e a web, alcançamos o teatro global, em que todos estão no palco e não há limites entre o elenco e o público. A aldeia global é parte do conteúdo do teatro global e talvez seja por isso que as pessoas a percebam de forma tão clara, pois ela não está mais no centro, e sim faz parte de algo ainda maior.

O futuro pelo retrovisor

Um clássico do Marx de nossa era lido pelo designer Frank Chimero.

Feedforward

“Poets and artists live on frontiers. They have no feedback, only feedforward. They have no identities. They are probes.”

Marshall McLuhan