Há um tempo venho falando que há uma nova geração na cena musical brasileira que está vindo com tudo. Uma molecada de parcos 20 anos que escuta todo tipo de música, vai atrás das referências, quer saber mais e mete a mão na massa, sem medo de quebrar a cara – afinal as coisas só acontecem quando elas são feitas. E nesta quinta-feira pudemos assistir a uma apresentação exemplar que não apenas mostra que essa geração não está para brincadeira, como estabeleceu um novo padrão de excelência. Quando Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo e iloveyoulangelo subiram no palco do teatro do Sesc Pompeia para mostrar ao vivo aquele que é um dos principais discos de 2024, eles extrapolaram todas as expectativas e não apenas fizeram o melhor show do ano como elevaram o disco a um outro patamar. Podendo exibir no palco o disco Maria Esmeralda como o que ele realmente é – uma obra conceitual, com começo, meio e fim, que mistura referências gringas e brasileiras para contar uma história de perda, dor, sofrimento e redenção. E fizeram isso não apenas chamando quase todos os convidados do disco (Doncesão, Servo, Yung Vegan, Quiriku e Rubi – só Tchelo Rodrigues ficou de fora), como criando toda uma ambientação para apresentar tudo de forma espetacular: do cenário minimalista que criava uma sala de estar com sofá e poltrona, às projeções que misturavam cenas em preto e branco gravadas previamente com imagens captadas durante o próprio show, à luz de Olivia Munhoz e um roteiro redondo e fechado como um filme (com direito a créditos finais e sem bis), num show enxuto de menos de uma hora em que todos puderam brilhar sem perder o compromisso com o todo. Desde as bases disparadas por VCR Slim e Pirlo, aos vocais de Iloveyouangelo, Cravinhos (que também tocou lindamente violão e guitarra) e, em especial, a força que é Thalin, um MC único, de flow interminável, carisma natural e diferentes personagens em sua voz, a grande estrela da noite. Mas mesmo o brilho inacreditável dele não tirou o foco da história que estava sendo contada, que não pode ter a presença de Marília Medalha (escalada para a apresentação, não se sentiu bem para subir no palco, mas passa bem), mas teve duas faixas inéditas, participação de Matheus Coringa e fez o quinteto atingir um novo padrão de excelência tanto para os artistas de sua geração para os das anteriores. Parabéns ao Sesc Pompeia, que peitou uma ideia ousada de jovens que estão com sangue nos olhos e mostram os novos horizontes que estão despontando. A lua cheia no final só consolidou uma noite perfeita. O bom da música, já disseram, é que quando ela bate não dó.
Conheço Pérola de outros carnavais, quando ela ainda estava nos corres de produção no Recife e tenho acompanhado sua evolução como curadora musical nos últimos anos, especificamente o trabalho que fez quando estava à frente da agenda de música do Sesc Pinheiros, quando transformou aquela unidade em uma das mais intensas na área de música no ano passado. Agora ela foi para o Sesc Pompeia e segue fazendo bonito como parte da equipe de programação de música de lá, mas confesso que senti um misto de orgulho e ousadia quando soube que ia rolar o primeiro show do disco Maria Esmeralda no teatro desenhado por Lina Bo Bardi. O Maria Esmeralda é uma das gratas surpresas de 2024 ao consolidar uma ideia que o rapper Thalin – que também é baterista d’Os Fonsecas e toca com outros artistas, como Eiras e Beiras e Nina Maia – vem desenvolvendo há alguns anos com seus amigos produtores VCR Slim, Cravinhos, Pirlo e Iloveyoulangelo. Puxei o Thalin pra conversar logo que o disco saiu porque tinha curiosidade pra saber como aquele disco se materializaria no palco e ele falou de ideias grandiosas que achava que não iria realizar naquele primeiro momento. Mas qual a surpresa quando descobri que ia rolar nesta quinta-feira, 19, no teatro do Sesc Pompeia e, ao comentar sobre isso com ela, ela me disse que havia rascunhado algumas linhas sobre o impacto que o disco teve nela. Pedi para ler e segue abaixo o devaneio urbano e crítico de uma curadora de música sobre um dos discos mais importantes deste ano – e o show, que terá a participação da cantora Marília Medalha, que abraçou a temática do disco e esteve na faixa de abertura, já está esgotado, mesmo que eu tenha insistido com o Thalin de abrir a segunda parte do teatro pra dividir a noite com mais gente, mas ele preferiu manter assim, porque tem uma visão. Fala Pérola: