Há quem lamente a morte dessa mulher. Prefiro lembrar os protestos que fizeram contra ela – e ainda acho que foi pouco. Primeiro os Specials constatando o que aconteceu com Londres sob sua sombra, na clássica “Ghost Town”:
Depois vêm o Beat pedindo pra ela renunciar:
O Crass a homenageou após as centenas de mortes inglesas na Guerra das Malvinas em “How Does It Feel to Be The Mother Of A Thousand Dead”:
Roger Waters previu seu fim num asilo de tiranos (com Reagan, Brejnev, “o fantasma de McCarthy e as lembranças de Nixon”) em “The Fletcher Memorial Home”, do Final Cut:
Elvis Costello também pediu sua renúncia:
E Morrissey (e “the kind people”) sonhou com a ministra na guilhotina:
E o Hefner também cantou sobre sua morte – mais especificamente sobre o dia de hoje:
E não é porque ela morreu que virou boazinha. O diretor Ken Loach se pronunciou sobre a morte da “dama de ferro” inglesa:
Margaret Thatcher was the most divisive and destructive Prime Minister of modern times.
Mass Unemployment, factory closures, communities destroyed – this is her legacy. She was a fighter and her enemy was the British working class. Her victories were aided by the politically corrupt leaders of the Labour Party and of many Trades Unions. It is because of policies begun by her that we are in this mess today.
Other prime ministers have followed her path, notably Tony Blair. She was the organ grinder, he was the monkey.
Remember she called Mandela a terrorist and took tea with the torturer and murderer Pinochet.
How should we honour her? Let’s privatise her funeral. Put it out to competitive tender and accept the cheapest bid. It’s what she would have wanted.
Morrissey também:
Thatcher é lembrada como A Dama de Ferro somente porque possuía traços negativos como uma teimosia persistente e recusa determinada a escutar os outros.
Cada gesto seu era carregado de negatividade; ela destruiu a indústria britânica, ele odiava os mineiros, as artes, os Irish Freedom Fighters a ponto de permitir que eles morressem, ela odiava os pobres ingleses e nada fez para ajudá-los, ela odiava o Greenpeace e os ativistas ambientais, ela foi a única líder política europeia que se opôs a proibir o comércio de marfim, ela não tinha sagacidade nem cordialidade e seu próprio gabinete a expulsou. Ela deu a ordem para explodir o (navio) Belgrano ainda que estivesse fora da zona de exclusão das ilhas Malvinas = e estavam navegando para LONGE das ilhas! Quando os jovens garotos argentinos a bordo do Belgrano sofreram a mais estarrecedora e injusta morte, Thatcher acenou com um joia para a imprensa britânica.
Ferro? Não. Barbárie? Sim. Ela odiava as feministas apesar de ter sido graças à progressão do movimento feminista que o povo britânico se permitiu aceitar que uma premier. Mas, graças a Thatcher, não haverá jamais outra mulher com tanto poder na política britânica, e em vez de abrir a porta para outras mulheres, ela a fechou.
Thatcher será lembrada afetuosamente apenas por sentimentalistas que não sofreram sob sua liderança, mas a maioria do povo trabalhador britânico já a esqueceu, e o povo da Argentina estará celebrando sua morte. Só para registrar: Thatcher era terror sem um átomo de humanidade.
Se alguém traduzir, publico aqui. Valeu pela tradução, Droit!
Embora muitos associem V de Vingança (1981), de Alan Moore e David Lloyd, a uma visão pessimista do que se tornaria a Inglaterra pós-Thatcher, o fato é que nem seu autor não imaginava que o partido conservador inglês ganhasse as eleições parlamentares em 1983 – explicitamente confirmado no ensaio Behind the Painted Smile, do próprio Moore, sobre sua obra:
Starting with the assumption that the Conservatives would obviously lose the 1983 elections, I began to work out a future based upon the Labour Party gaining power, removing all American missiles from British soil and thus preventing Britain from becoming a major target in the event of a nuclear war. With disturbingly little difficulty it was easy for me to plot the course from that point up until the Fascist takeover in the post-holocaust Britain of the 1990’s.
Mas ele não deixou barato e, anos depois, em 1990, citaria a própria Dama de Ferro numa página memorável de seu Miracleman:
Esta foi pinçada pelo Bleeding Cool, que também listou outras manifestações anti-Thatcher nos quadrinhos ingleses. A dica foi do Daniel, valeu!
Não que torcidas de futebol possam funcionar como medida de qualquer coisa para além de seu próprio universo, mas não é todo dia que se vê tanta gente comemorando a morte de um político, como a torcida do Liverpool nessa segunda-feira:
A foto saiu do site da ESPN.