Mais Yo La Tengo do que nunca

, por Alexandre Matias

O décimo sétimo álbum do Yo La Tengo, This Stupid World, lançado na semana passada, foi gravado em 2022 quando Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew finalmente puderam voltar a ensaiar, tocar e compor juntos depois do período de isolamento pandêmico. O reencontro musical dos três no estúdio exprimiu a essência das qualidades dessa pedra fundamental do indie norte-americano, em que o trio equilibra doces baladas contemplativas e pilares de microfonia erguidos sobre uma base hipnótica sintetizando toda uma tradição roqueira nova-iorquina que começa no Velvet Underground, passa pelo Sonic Youth e Galaxie 500 e deságua na cena dos Strokes do começo do século. E no meio do transe interminável de faixas longas (como “Sinatra Drive Breakdown”, a faixa-título e “Miles Away”) e curtas (como “Until It Happens”, “Fallout”, “Tonight’s Episode”) as vozes dos três surgem como observadores desta longa tradição: o vocal mole e manhoso de Ira, o quieto e assertivo de Georgia e o quase vago de James, costurando canções que por vezes são delicadas como um dedilhado de violão (“Aselestine”) e outras explosivas como uma descarga elétrica (“Brain Capers” e a faixa-título), mas que na maioria das vezes unem essas duas facetas, neste que é o melhor disco da banda desde seu último clássico, And Then Nothing Turned Itself Inside-Out, lançado há exatos 22 anos. O que nos leva a uma zona de conforto muito específica, que parece ruidosa e áspera para quem ouve de fora, mas que conta com um calor humano que está no coração da obra da banda.

Vai na fé.

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