M. Takara – Conta

, por Alexandre Matias

Terra chamando Takara

Um dos melhores bateristas de sua geração (e é uma geração de bons bateristas), Maurício Takara transita entre o hip hop, o free jazz, o hardcore desconstruído via indie cabeçudo e a eletrônica de laptop – um produto essencialmente paulistano. E, como acontece com a sua própria cidade, aos poucos Takara consegue assumir que suas diferentes facetas podem coexistir. Não é porque é baterista do Instituto, do Hurtmold, do São Paulo Underground, dono de seu próprio show e de uma dupla com o rapper Akin que seus discos solos tenham que soar como apenas parte de sua personalidade. O que era uma afirmação em sua estréia (M. Takara, de 2004) caiu na “síndrome do segundo disco” (Com Chankas & Jon, de 2005) e corria o risco de soar redundante, caso Conta não acenasse mudanças. Elas ainda são sutis, mas já apontam rumo a uma ponte que nem o próprio Takara pensaria em cogitar – e com o pop brasileiro. Embora o disco ainda seja dominado pelo autismo abstrato de seus ídolos Four Tet e Prefuse 73, o novo disco abre a cabeça para a música “normal” – por isso começam a surgir letras (“Eu Não”) e referências de música brasileira (“Meu Mundo Numa Quadra”) – que entregam a faceta hippie de sua geração (títulos como “Rô e Ju” e “Tudo é Muito Bonito Mas Sei Lá” não deixam dúvidas!). Do outro lado da ponte está o Los Hermanos, que já vislumbrou essa conexão antes mesmo que Takara (quando convidaram o Hurtmold para abrir seus shows). É claro que não é o caso de exigir canções, refrões e melodias do trabalho de Maurício. Aos poucos ele se abre para fugir de rótulos como “difícil” e “hermético”. Ainda é pouco – mas já é.