Amor de ver

A Lupe de Lupe pegou os tais dos visualizers que os artistas criam pra colocar como vídeos animados nas plataformas de streaming e transformou-os em curtas em câmera lenta que acompanham cada uma das quatro faixas de seu recém-lançado álbum, o excelente Amor. A frequência lenta, ambient e introspectiva compostas por paisagens quase elementais feitas por Gabriel Honzik funciona como o espaço mental perfeito para abrir os épicos intensos desse novo disco da banda. Sugiro deixar tocando na TV e embarcar na viagem sem precisar assistir tudo direto… Só deixar rolar…

Assista abaixo:  

Catarse emocional elétrica

“Se isolar não é uma forma de se descobrir, é apenas uma forma conveniente de fuga”, sentencia Vítor Brauer no meio dos doze minutos de “Se Nosso Nome Fosse Um Verbo (Canibalismo como Forma de Amor)”, segunda faixa do sexto álbum da banda mineira, que lançou o disco à meia-noite desta terça-feira para inaugurar o segundo semestre de 2025 de forma apaixonada – em todos os sentidos -, justamente por não isolar-se e sim entregar-se. Batizado apenas de Amor, o disco talvez seja o trabalho mais intenso e extático da banda, que dedica quatro longas faixas à entrega ruidosa para falar sobre sentimentos em relacionamentos a dois de forma crua e extasiada. São épicos repletos de zumbido de microfonia que se abrem em crescendos instrumentais que vão ficando vigorosos e violentos à medida em que cada uma das músicas vai cedendo à própria duração, quase sempre dando um cavalo de pau musical e dramático pela metade de sua extensão, atingindo picos de explosão de uma dinâmica de guitarras imbatível na música brasileira atual e tirando o fôlego do ouvinte, quase sempre ao trazer conclusões ou revirar lembranças que vão crescendo junto com o volume das canções. É muito fácil imaginar um show em que a banda toque apenas essas quatro músicas, esticando-as ainda mais, e fazendo seu público berrar, às lágrimas, versos como “eu sei que a gente fez tudo que foi capaz” – da faixa de abertura “Vermelho (Seus Olhos Brilhando Violentamente Sob os Meus)”, que tira o chão do ouvinte quando quase desliga-se na metade da música – ou as citações à carne que Vítor faz ao final da citada “Canibalismo”. Se fizerem só isso já estarão proporcionando um dos melhores eventos ao vivo deste ano, um complemento inevitável à catarse emocional elétrica que é este Amor. Discaço.

Ouça abaixo:  

O Amor da Lupe de Lupe

Eis a capa do disco novo da Lupe de Lupe, que chama-se Amor e será lançado no próximo dia 1º de julho. O disco conta com participações de Estevan Cípri Barbosa, Ricardo de Carli e Filipe Monteiro como bateristas e arranjos de cordas feitos por Felipe Pacheco Ventura e tem apenas quatro faixas. Mas se o formato do título das três novas faixas anunciadas – “Vermelho (Seus Olhos Brihando Violentamente Sob os Meus)”, “Se Nosso Nome Fosse Um Verbo (Canibalismo como Forma de Amor)” e “Uma Bruta Realidade (O Nosso Jatobá)” – forem uma pista para a duração extensa de cada música – como aconteceu com “Redenção (Três Gatos e Um Cachorro)“, com quase 10 minutos – teremos um disco épico com apenas quatro faixas. Imagine os shows.

Lupe de Lupe: Rock é trabalho


Foto: Tiago Baccarin (Divulgação)

“Dos poucos artifícios que ainda posso usar sobrou o sacrifício de não lhe procurar” – assim vem a Lupe de Lupe ressurge anunciando seu próximo disco, programado para ser lançado em breve, com uma pedrada épica de quase dez minutos de guitarradas sobre o término de um relacionamento chamada “Redenção (Três Gatos e um Cachorro)”. Se comentei outro dia que a nova cena de rock de Belo Horizonte poderia chamar-se de indie come-quieto, esta surgiu com a centelha acesa há mais de dez anos pela própria Lupe de Lupe, que, sem fazer alarde, tornou-se uma das melhores bandas de rock do Brasil, mesmo que não toque no rádio, não esteja em grandes festivais ou faça shows no exterior. Na verdade, o mote da Lupe é rock como trabalho, com o guitarrista e vocalista Vitor Brauer vindo à frente de suas redes sociais para falar das dificuldades de ser underground no Brasil, mas sem tom de reclamação – e sim pregando a importância do ofício, mostrando que fazer sucesso quer dizer ser pago pra fazer o que se gosta sem precisar bajular uns ou ter parentesco rico ou célebre . E além de anunciar sua volta com uma faixa espetacular (escrita e cantada por Renan Benini, com a participação de Felipe Pacheco Ventura, da banda Baleia, nos arranjos de cordas), o grupo também acaba de anunciar mais uma extensa turnê, passando por mais de 20 cidades nas cinco regiões do país apenas na raça, como sempre. Ouça a música nova e veja as datas da turnê abaixo:  

Vida Fodona #809: Maio tá chegando com tudo

Aproveitando o flow.

Ouça abaixo:  

Duas bandas que tornam-se uma

Assisti à última apresentação da turnê Baleia de Lupe que reuniu dois integrantes da banda Baleia (Gabriel Vaz e Felipe Pacheco Ventura) e dois da Lupe de Lupe (Vitor Brauer e Jonathan Tadeu) para percorrer uma maratona de quase 30 shows por dezenas de cidades pelo Brasil tocando o repertório das duas bandas. Era inevitável que depois de tanto tempo convivendo e tocando juntos os quatros soldassem uma liga pessoal e musical que os transformou numa banda completamente nova, que além de dar uma energia intensa às canções do Baleia ainda corre o risco de fazer a banda carioca, parada desde 2019, voltar à ativa. A apresentação no Bar Alto foi filmada, o que deu tempo para o grupo respirar entre a enxurrada de canções e até fazer mais gracinhas que o normal, como quando ameaçaram – e começaram a tocar – “Sultans of Swing” dos Dire Straits entre “Frágua” (da Lupe) e “Tudo Falta, Você Sobra” (do Baleia), um dos grandes momentos do show.

Assista abaixo:  

Os 50 melhores discos de 2023 segundo o júri de música popular da APCA

Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo:  

Vida Fodona #795: Deliciosamente maluco

Seguindo a intensidade deste mês…

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #792: Aquecer por dentro

Frio nada a ver.

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #781: Essa é que é a graça da vida

Vem que não tem erro.

Ouça aqui.