Toda a majestade

Maravilhoso o tributo que Luedji Luna está fazendo em homenagem à sua (e nossa) musa Sade. Depois de shows no Rio de Janeiro e Salvador ela estreou esta apresentaçãoi em São Paulo na mágica sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo, cujos ingressos evaporaram assim que o show foi anunciado – e ela não decepcionou. Ela contava com uma banda afiadíssima – Weslei Rodrigo no baixo, Renato Sobral na guitarra, Gabriel Gaiardo nos teclados, Jhow Produz na batera, Rudson Daniel na percussão, Sidmar Vieira Souza no trompete, Jefferson Rodrigues no sax, Flavia Mello e Edyelle Brandão nos vocais de apoio. – que não só a reconhecia pelo olhar como sabia muito bem a hora de deixar o groove macio correr solto e os momentos em que a estrela tinha que brilhar. E como brilha! Luedji estava deslumbrante cantando descalça e trazendo toda a majestade que a homenageada pedia, hipnotizando o público com uma voz de cetim, que aveludava nos momentos mais graves e parecia líquida em momentos-chave, como por exemplo quando visitou a perfeita “No Ordinary Love” emendando com sua “Salto”, num dos vários momentos em que a noite esquentou mais que o calor que fazia naquela quarta-feira. Era um encontro de deusas numa só pessoa, tão natural que Luedji sequer parecia sentir o peso da responsabilidade, carregando-o como quem empina uma pluma no nariz. Uma joia de show – e como é bom retornar ao Centro Cultural São Paulo…

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Luedji Luna canta Sade

E se você estava esperando as datas dos shows da Luedji Luna cantando Sade em São Paulo anote aí: o espetáculo acontece três vezes durante o mês de novembro, além da data no Circo Voador (dia 19), que já teve seus ingressos esgotados. Na cidade, a musa toca dias 27 e 28 de novembro na mitológica sala Adoniran Barbosa, no Centro Cultural São Paulo, e no dia 30 no Festivalzinho, evento que será realizado no Parque Villa-Lobos, e pretende unir atividades para pais e filhos, trazendo shows infantis (como os palhaços Patati Patatá, o espetáculo Os Saltimbancos, a Galinha Pintadinha, o grupo Tiquequê e a banda Beatles para Crianças) e para o público em geral (e além de Luedji ainda se apresentarão Mariana Aydar com Mestrinho, Céu com seu Baile Reggae, Maria Gadú e a dupla Anavitória. Teve quem pedisse que ela fizesse esse show na abertura do show que vai fazer para Erykah Badu no dia seis de novembro, mas ela vai apresentar seu próprio show – mesmo porque além de fazer bonito frente à gringa com suas próprias músicas, ela não precisaria invocar outra diva gringa da soul music para dividir atenção com Badu. Os ingressos para os shows no Centro Cultural ainda não estão disponíveis para compra, mas os do Festivalzinho já estão à venda neste link.

Xande de Pilares ♥ Luedji Luna

Não sou propriamente fã do disco que o sambista Xande de Pilares gravou ano passado cantando Caetano Veloso porque acho que cai naquele lugar cinzento entre a MPB e o elemento fofo do cenário independente deste século, dois recortes que gentrificam – com meio século de diferença – a música brasileira (e eu que não vou entrar nessas polêmicas caça-clique, que preguiça…), mas entendo a importância do disco ao apresentar diferentes artistas para diferentes públicos, passo crucial rumo à união das duas metades de um país que sempre foi partido. Mas ao regravar “Banho de Folhas” de Luedji Luna, meu xará acerta na mosca em uma veia que precisava ser pressionada há tempos. Pois são dois artistas contemporâneos que vêm da mesma matriz mas saem de cenários distintos e a nova versão para a música de Luedji (com seu belo clipe, veja abaixo), reforça uma beleza sambista que a música original apenas insinuava – e isso sem precisar recorrer à nostalgia. A versão ficou lindona e, com isso, consagra de vez “Banho de Folhas” como um estandarte do repertório da atual música brasileira.

Assista abaixo:  

Erykah Badu no Brasil!

Olha ela aí! Erykah Badu vem mais uma vez ao Brasil no início de novembro, quando fará quatro apresentações por aqui, uma em São Paulo (dia 6, no Espaço Unimed, com abertura da Luedji Luna), outra no Rio de Janeiro (dia 8, dentro do festival Rock The Mountain, que abriu data extra para receber a diva) e duas vezes em Salvador (dias 9 e 10, dentro do festival Afropunk). Os ingressos para o show de São Paulo começam a ser vendidos nessa sexta-feira, os de Salvador já estão à venda pelo Sympla e os do Rio começam a ser vendidos em breve.

Tá achando que tem muita capa de disco brasileira esticada por inteligência artificial?

Você não viu nada. Se liga em mais uma série feita pelo Caramuru.

Veja mais aqui:  

Os 50 melhores discos de 2022 segundo o júri de música popular da APCA

Eis a lista com os 50 melhores álbuns de 2022 de acordo com o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, do qual faço parte. A seleção reflete o quanto a produção musical brasileira ficou represada nos últimos anos e esta seleção saiu de uma lista de mais de 300 discos mencionados por mim e pelos integrantes do júri, Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Eis a lista completa abaixo:

Leia mais:  

Os 75 melhores discos de 2020: 24) Luedji Luna – Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água

“Me desespero, são tuas ondas que me levam”

Os 75 melhores discos de 2020: 34) Acorda Amor

“Eu não quero mais conversa com quem não tem amor”

Os melhores de 2020 no Brasil… pra gringa!

O Lewis Robinson, do selo britânico Mais Um Discos me convidou para elencar os grandes trunfos musicais daqui no ano passado, ao lado de vários outros olheiros de música espalhados pelo mundo. Falei dos discos do Kiko, da Luedji, da Letrux, do BK, do Tantão, do Gui Held, do seu Mateus Aleluia, do Acorda Amor, do Rico Dalasam, da Larissa Conforto, do Negro Leo, do Zé Manoel, do Thiago e do Schiavo, além dos shows do Bixiga com a Luiza Lian, da Juçara cantando seu Encarnado sem energia elétrica, do Romulo revisitando o Transa, do Kiko Dinucci, das lives do Paulinho da Viola e do Caetano Veloso e do documentário do Emicida (tudo em inglês). E minha retrospectiva 2020 começa em breve…

I’ve been to 34 concerts in 2020 and in less than three months this quota of live music fulfilled me through the year (John Cale was the last one I’ve seen and got a chance to see Juçara Marçal three days in that same last week – what a thrill!). 2020’s been a weird year, full of haunting and dramatic Brazilian new milestones, classic acts streaming online and some of those concerts I’ve been able to watch (and film, yes, I’m one of those people) in those first “normal” months… Here’s twenty great moments of Brazilian music in 2020, in any particular order.

Guilherme Held – Corpo Nós
A psychedelic guitar hero and an afrossamba aficionado that axed most Brazilian music in the last decade, gather his friends to a deep turn into the black heart of the country.

Kiko Dinucci – Rastilho (live at Sesc Pompeia)
Kiko’s raw and gripping second solo album grow an extra dimension when performed live – and what is this samba choir…

Letrux – Letrux aos Prantos
The drama diva dives into the seas of deep sadness, laughing just to stay sane – if that’s possible in 2020.

BK: O Líder Em Movimento
One of the best rappers in Brazil today, BK’ is also the best audio director in Brazilian pop music, leading the listener to different regions of Rio de Janeiro and his third album is a masterclass about political racism in our country.

Romulo Froes canta Transa com Jards Macalé (live at Sesc Belenzinho)
Romulo manages to gather a gang of aces (Marcelo Cabral, Guilherme Held, Richard Ribeiro and Rodrigo Campos) to craft his own deconstructed version of Caetano’s most emotional album, inviting one of its masterminds, the ominous Jards Macalé, to stage – just to call “bora Macao” at his guru, just as Veloso did on record.

Luedji Luna – Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água
This goddess finally made an album worth her majesty: a lavishly black blending of soul, samba and funk melted into the same pearl.

Luiza Lian + Bixiga 70 (live at Sesc Pinheiros)
The meeting between the electronic pixie and the nine-headed groovy hydra works almost as a mythological tale.

Juçara Marçal Encarnado Acústico (live at Centro da Terra)
Juçara is an entity and she revisited her bold and epic Encarnado in a really acoustic way: no mics, no amps, audience onstage in a journey she led escorted by Kiko Dinucci, Thomas Rohrer and Rodrigo Campos.

Caetano Veloso Live (Globoplay)
The old professor gathered his sons to visit his golden era (from 1968 to 1992) in a widely watched live concert.

Acorda Amor
Cultura Livre’s TV host Roberta Martinelli and Bixiga 70’s drummer Decio 7 assembled five of the most poignant contemporary Brazilian female voices (Liniker, Letrux, Maria Gadu, Xenia and Luedji) to visit a cannon of political songs from the country’s repertoire.

Mateus Aleluia – Olorum
There’s a submerged continent in between Brazil and Africa and the only stone we can see over the sea level is this old Tincoã.

Negro Leo – Desejo de Lacrar
An exercise about cancelment culture, online behavior and how it’s affecting our days.

Emicida – AmarElo – É Tudo Pra Ontem (Netflix)
The paulista rapper got into the sumptuous Theatro Municipal de São Paulo and get the chance to link it to the story of samba, the story of Brazilian hip hop culture, our black political movement and the meaning of being Black in Brazil.

Rico Dalasam – Dolores Dala Guardião do Alívio
So painfully good, Rico’s one the best new singers and composers in Brazil, reinventing R&B through his own point of view.

Tantão e os Fita – Piorou
2020’s ugly face – look at it! Look! At! It”

Zé Manoel – Do Meu Coração Nu
What happened if Tom Jobim and Dorival Caymmi were a the same pernambucano maestro? Zé Manoel is the answer.

Thiago França – KD VCS
Metá Metá’s saxman goes completely solo in studio: just one takes, no post production, no electronic effects, just the man and his instrument, using it like a lamp in it’s own cave.

Bruno Schiavo – A vida só começou
The untranslatable involuntary pun (which mixes “Life’s just begun” with “Lone life has begun”) add a layer of sweetness and is an improbable mix of songcraft and avant-garde.

ÀIYÉ – Gratitrevas
Ventre’s former drummer, Larissa Conforto metamorphosed into Àiyé, fusing electronics, percussion, ancient traditions and artivism in the same scale.

Paulinho da Viola Live (Globoplay)
The Brazilian prince of samba is a national treasure.

10 more? 10 more!
Josyara e Giovani Cidreira – Estreite
Bonifrate – Diversionismo
Cadu Tenório – Monument for Nothing
Carabobina – Carabobina
Joana Queiroz – Tempo Sem Tempo
Marcelo Cabral – Naunyn
Pelados – Sozinhos
Tatá Aeroplano – Delírios Líricos
Pipo Pegoraro – Antropocósmico
Fellini – A Melhor Coisa Que Eu Fiz (box set)

Os indicados a melhores do ano na APCA em 2020

A comissão de música da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte, revelou nesta semana, os indicados às principais categorias da premiação neste ano. Devido ao ano estranho que atravessamos, reduzimos a quantidade de premiados, focando nas categorias Artista do Ano, Revelação, Melhor Live e Disco do Ano. Além de mim, também fazem parte da comissão Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (do canal JoseNorbertoFlesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (colunista do UOL e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (Radio Eldorado e TV Cultura). A escolha dos vencedores deve acontecer de forma virtual no dia 18 de janeiro. Eis os indicados às quatro principais categorias:

Os 5 artistas do ano
Caetano Veloso
Emicida
Luedji Luna
Mateus Aleluia
Teresa Cristina

Os 5 artistas revelação
Flora – A Emocionante Fraqueza dos Fortes
Gilsons – Várias Queixas
Guilherme Held – Corpo Nós
Jadsa e João Milet Meirelles – Taxidermia vol 1
Jup do Bairro – Corpo sem Juízo

As 5 melhores lives
Arnaldo Antunes e Vitor Araujo (03/10)
Caetano Veloso (07/08)
Emicida (10/05)
Festival Coala – Coala.VRTL 2020 (12 e 13/09)
Teresa Cristina (Todas as Noites)

Os 50 melhores discos
Àiyé – Gratitrevas
André Abujamra – Emidoinã – a Alma de Fogo
André Abujamra e John Ulhoa – ABCYÇWÖK
Arnaldo Antunes – O Real Resiste
Baco Exu do Blues – Não Tem Bacanal na Quarentena
Beto Só – Pra Toda Superquadra Ouvir
BK – O Líder Em Movimento
Bruno Capinam – Leão Alado Sem Juba
Bruno Schiavo – A vida Só Começou
Cadu Tenório – Monument for Nothing
Carabobina – Carabobina
Cícero – Cosmo
Daniela Mercury – Perfume
Deafkids – Ritos do Colapso 1 & 2
Djonga – Histórias da Minha Área
Fabiana Cozza – Dos Santos
Fernanda Takai – Será Que Você Vai Acreditar?
Fran e Chico Chico – Onde?
Giovani Cidreira e Mahau Pita – Manomago
Guilherme Held – Corpo Nós
Hiran – Galinheiro
Hot e Oreia – Crianças Selvagens
Ira! – Ira
Joana Queiroz – Tempo Sem Tempo
Jonathan Tadeu – Intermitências
Josyara e Giovani Cidreira – Estreite
Julico – Ikê Maré
Jup do Bairro – Corpo sem Juízo
Kiko Dinucci – Rastilho
Letrux – Letrux aos Prantos
Luedji Luna – Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água
Mahmundi – Mundo Novo
Marcelo Cabral – Naunyn
Marcelo D2 – Assim Tocam Meus Tambores
Marcelo Perdido – Não Tô Aqui Pra Te Influenciar
Mateus Aleluia – Olorum
Negro Leo – Desejo de Lacrar
Orquestra Frevo do Mundo – Orquestra Frevo do Mundo
Pedro Pastoriz – Pingue-Pongue com o Abismo
Rico Dalasam – Dolores Dala Guardião do Alívio
Sepultura – Quadra
Seu Jorge & Rogê – Seu Jorge & Rogê
Silvia Machete – Rhonda
Tagua Tagua – Inteiro Metade
Tantão e os Fita – Piorou
Tatá Aeroplano – Delírios Líricos
Thiago França – KD VCS
Wado – A Beleza que Deriva do Mundo, mas a Ele Escapa
Zé Manoel – Do Meu Coração Nu