Ave Joni Mitchell!

E um dos grandes eventos do ano aconteceu neste fim de semana, quando a mestra Joni Mitchell esgotou por duas vezes (sábado e domingo) o Hollywood Bowl, em Los Angeles, nos EUA, para realizar seus primeiros grandes shows após o aneurisma cerebral que a derrubou em 2015, deixando-a sem falar, cantar ou tocar por um bom tempo. Infelizmente isso não foi uma novidade em sua vida, já que ela que ficou reclusa em seu quarto no início da adolescência, vítima da pólio, tragédia que a transformou em uma instrumentista de excelência ímpar e uma das maiores compositoras da América do Norte. A recuperação da calamidade recente tornou-se pública há poucos anos, quando ela começou a fazer algumas aparições-surpresa: primeiro no festival de folk de Newport em 2022, depóis em dois shows mais longos em 2023 em Washington, capital dos EUA (um em março e outro em junho), e mais recentemente em uma aparição no Grammy deste ano, na mesma época em que anunciou as apresentações deste fim de semana. E ela não veio só: sua famosa banda rotativa Joni Jam, contou com, além da velha amiga Brandi Carlile, que a chama de “minha embaixadora”, Joni reuniu uma constelação de estrelas que incluía nomes como o cantor e compositor Blake Mills, o fleet fox Robin Pecknold, o jazzman inglês Jacob Collier, integrantes da banda Lucius, a soberba Annie Lennox, o inglês Marcus Mumford da Mumford & Sons, o multiinstrumentista Jon Batiste, a cantora e ativista canadense Allison Russell, a dupla afilhada por Prince Wendy & Lisa, a atriz e cantora Rita Wilson, Taylor Goldsmith do grupo Dawes, o imortal Elton John e a deusa do cinema Meryl Streep, além de Lucy Dacus e Chappell Roan, que cantaram com Joni em seu camarim. Separei uns trechos que achei da apresentação abaixo, bem como o setlist dos dois dias (que foram idênticos), e aproveito para agradecer publicamente à maravilhosa Luiza Villa, que há pouco mais de um ano, me cutucou para fazer um show em homenagem à mestra e me reconectou à história deste colossso da canção. Valeu, Lu! E tá na hora de fazer outro show daqueles, hein? Ave Joni Mitchell!  

25 anos de Electr-O-Pura

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Electr-O-Pura não é o clássico do Yo La Tengo que os fãs respondem imediatamente quando perguntados qual o melhor disco da banda nova-iorquina – normalmente a resposta varia entre o disco que a banda lançou antes (o Painful, de 1993) ou o que lançou depois (I Can Hear the Heart Beating as One, de 1997) -, mas é o meu disco favorito do trio. Pode ser por motivos sentimentais (foi o primeiro disco do grupo que escutei) e emotivos (“Blue Line Swinger”, a faixa de nove minutos que encerra o disco, é uma das minhas músicas favoritas – e não só entre as deles), mas é bom vê-lo ganhando o verniz histórico necessário quando a gravadora Matador o incluiu como o novo item de sua série Revisionist History.

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A nova edição, que já está em pré-venda e sai apenas em setembro, no entanto, não traz nenhum extra, apenas prensa o disco em vinil duplo, como deveria ter sido anteriormente, com capa gatefold (a versão original do vinil deste disco era simples e a capa não abria), garantindo melhor qualidade sonora para as músicas. Como parte das comemorações do lançamento – o disco fez aniversário no último dia 2 -, a gravadora convidou uma de suas novas artistas, Lucy Dacus, para gravar uma versão para “Tom Courtenay”, ela que também o considera seu disco favorito.

Como se não bastasse, ela nasceu no mesmo dia em que o disco foi lançado e aproveitou para escrever sobre ele, num texto que foi traduzido pelo Marcelo, no Scream & Yell. Um trecho da tradução:

O que me fez voltar ao Yo La Tengo foi a compreensão deles sobre o humor. Ouvi bandas que exprimiam raiva, bandas que exprimiam tristeza, mas não conhecia outras bandas que pudessem expressar uma gama completa de sentimentos da maneira como o Yo La Tengo pode. De música para música, ela podia ser ansiosa, celebratória, triste, contente, confusa, etc. E mesmo quando ficavam barulhentas ou dissonantes, nunca pareciam hostis. Os sons podiam ser severos, até feios, mas eram alegres. Algumas músicas poderiam me fazer chorar, mas eram divertidas e não agressivas. Eu estava assimilando o gosto de outra pessoa e, no processo, descobrindo o meu.

“Tom Courtenay” foi a primeira música do Yo La Tengo que aprendi na guitarra. Eu não sabia o que significava, mas sabia quem Julie Christie era e amava os versos: “As the music swells somehow stronger from adversity / our hero finds his inner peace.” Não sabia o significado, mas não conseguia parar de pensar nisso. Era como qualquer bom poema, deixando um espaço para mim, entre imagens. Agora, acho que a música pode ser sobre obsessão com a mídia, equiparando aos filmes e estrelas de cinema à dependência de drogas. Bom, quem sabe, essa é apenas a minha opinião.

Eventualmente, quando a Matador me convidou para entrar no selo, o fato do Yo La Tengo estar na lista deles foi um componente importante da minha decisão. Eles lançam ótimos álbuns a cada dois anos há mais de três décadas, experimentando e explorando o que parece ser uma criatividade despretensiosa. Vale a pena comemorar, especialmente agora, quando qualquer oportunidade de celebração é uma bênção. Feliz aniversário de 25 anos para o “Electr-o-pura” e obrigado pela música, Yo La Tengo.

Eu também agradeço.

https://www.youtube.com/watch?v=_wRB4l2kVrQ&list=OLAK5uy_lB0mugAGuiMo5uOM6hnP_apo3VqZx_vlQ