Mais uma vez Juçara Marçal mostrou toda sua majestade ao visitar o clássico Elizeth Sobe o Morro em um espetáculo idealizado e dirigido pelo jornalista e pesquisador Lucas Nobile, que pinçou o disco em que Elizeth Cardoso investiga uma cena sambista carioca que incluía nomes consagrados como Nelson Cavaquinho (registrado pela primeira vez em disco neste álbum), Zé Kéti, Cartola e Nelson Sargento, além dos então novatos Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Para recriar o álbum, Lucas reuniu um time precioso para acompanhar Juçara por duas noites no Sesc 14 Bis, que recebeu Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Marcelo Cabral, Fumaça e Xeina Barros com lotação esgotada. Além do repertório do disco, o grupo ainda pinçou canções que se encaixavam no espírito do disco, sejam músicas da época, como “Vazio” de Elton Medeiros, “Século do Progresso” de Noel Rosa, “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço” de Dona Yvonne Lara e “Mascarada” de Zé Keti, e contemporâneas, como “Pavio de Felicidade” de Rodrigo Campos, “João Carranca” Kiko Dinucci e “Gurufim”, parceria dos dois, que fechou o show deste domingo. Um espetáculo maravilhoso, delicado e sofisticado, banhado pelas luzes hipnotizantes de Olívia Munhoz, que rendeu momentos mágicos, como as versões para “Rosa de Ouro” (de Paulinho e Elton), “Sim” (de Cartola, num dueto entre Juçara e Kiko) e “Minhas Madrugadas” (de Paulinho e Candeia) em que Juçara avisou que tentaria “encarnar” a Divina, o que fez com maestria, num dos shows mais bonitos do ano até aqui.
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Tá sendo bonito acompanhar os textos que estão saindo a partir do Rastilho de Kiko Dinucci, uma prova que tanto o jornalismo quanto a crítica musical brasileiros vão bem, embora tudo esteja espalhado, dificultando o contato com o público. Não seja por isso, vale a pena ler a crítica que o Vina e a Amanda fizeram do show no Sounds Like Us, a crítica e a entrevista que o Ramiro fez pro Radiola Urbana, o texto que o Lucas fez para a Ilustríssima (bem como a entrevista que fez com Kiko pra Rádio Batuta), bem como a entrevista e a crítica que GG fez em seu Volume Morto, a entrevista que Amadeu Zoe fez com Kiko no seu Aqui e Agora, a ótima crítica que o Fred fez no Objeto Sim Objeto Não. Minha contribuição pra esse rol está na entrevista que fiz pra Trip – que foi editada até encolher em um quarto seu tamanho (um dia publico a íntegra).
Conhecem?
“A característica mais óbvia do disco é essa coisa colaborativa. O Cabral toca no trabalho individual dos três, eu toco guitarra na banda do Rodrigo, que toca cavaquinho com o Romulo. O que acontece com a gente é diferente de trampo de músico, em que o cara toca e vai embora. Tem o lance da vivência. Isso transparece na música de um jeito espontâneo”
…disse o Kiko ao Lucas. Reparem: o disco não tem percussão.
É impressão minha ou tem cada vez mais música sendo feita – e colocada pra download quase que instintivamente – hoje em dia? Será que os artistas brasileiros estão entendendo a internet antes de todos os outros players do mercado?