O YouTuber norte-americano Evan Puschak, dono do canal NerdWriter, analisa, usando Louis C.K. como ponto de partida, a forma que comediantes agem na área cinzenta da moral justamente para testar seus limites – se arriscando em nome da sociedade.
Muito bom.
Filosofia fingido-se de humor.
Uma piada pesada para esse tempo de mudança de papas.
O bom do humor é que ele pode fingir falar de algo verdadeiro fazendo aquilo parecer mentira só pelo fato de estar transformando algum assunto em motivo de riso.
Dois humoristas – um inglês e um americano – num vôo de ida e volta entre Londres e Nova York…
O melhor comediante na ativa na televisão está preparando seu novo especial…
Tudo bem que o trailer pega a mesma lógica do trailer do Comediant, do Seinfeld – mas eu já falei como um dos grandes baratos da série que Louie toca na TV é a forma como ele usa Seinfeld como base para a sua, não? Não falei? Um dia eu falo.
O comediante Louis CK foi o apresentador do Saturday Night Live da semana passada e ele escreveu um texto para o blog do programa falando sobre o fato de sua apresentação acontecer no mesmo fim de semana em que um furacão passou por cima de Nova York. Se alguém quiser traduzir, reproduzo a tradução em seguida:
“Hello. Its louis here. I’m clacking this to you on my phone in my dressing room here at studio 8H, right in 30 rockefeller center, in Manhattan, new york city, new york, america, world, current snapshot of all existence everywhere.
Tonight I’m hosting Saturday Night Live, something I zero ever in my life saw happening to me. And yet here it is completely most probably happening (I mean, ANYTHING could NOT happen. So we’ll see).
I’ve been working here all week with the cast, crew, producers and writers of SNL, and with Lorne Michaels. Such a great and talented group of people.
And here we are in the middle of New York City, which was just slammed by a hurricane, leaving behind so much trouble, so much difficulty and trauma, which everyone here is still dealing with every day.
Last night we shot some pre-tape segments in greenwich Village, which was pitch black dark for blocks and blocks, as it has been for a week now.
Its pretty impossible to describe walking through these city streets in total darkness. It can’t even be called a trip through time, because as long as new york has lived, its been lit. By electricity, gas lamps, candlelight, kerosene. But this was pitch black, street after street, corner round corner. And for me, the village being the very place that made me into a comedian and a man, to walk through the heart of it and feel like, in a way, it was dead. I can’t tell you how that felt. And you also had a palpable sense that inside each dark window was a family or a student or an artist or an old woman living alone, just being in the dark and waiting for the day to come back. Like we were all having one big sleep over, but not so much fun as that.
This is how a lot of the city is still. I know people in queens, brooklyn, Staten Island, new jersey, all over, are not normal yet. And not normal is hard.
And here at 30 rock, these folks are working so hard this week. There are kids in the studio every day, because members of the crew and staff had to bring them to work. Many people are sharing lodging. Everyone is tired. But there’s this feeling here that we’ve got to put on a great show. I’m sure it feels like that here every week. But wow. I feel really lucky to be sharing this time with these particular good folks here at SNL.
In about 5 hours we’ll be going on the air. I’ll do a monologue. And we’ll show you some sketches that we wrote and try to make you laugh. I’m gonna look really dumb in some of this stuff. But I don’t care. Its awfully worth it. And I’m really excited.
Anyway. I just wanted to let you know. If you watch the show tonight, when Don Pardo says my name and you see me walking out, all the shit in this email is what ill be thinking. I’m a pretty lucky guy. I hope you enjoy the show.
Thanks.
Louis C.K.
Live. From new york. Its saturday night.”
A foto que ilustra o post é a capa da revista New York que eu vi no Camilo. E, abaixo, dois trechos da apresentação de Louis no programa, que encontrei no YouTube, o genial monólogo de abertura e a paródia que mistura seu seriado com o novo filme de Spielberg, Lincoln:
Peguei um velho papo do Louis CK como gancho pra falar da nossa insatisfação em relação à tecnologia na minha coluna da edição de hoje do Link.
Tudo é tão incrível, e ninguém está feliz
Reclamamos muito sem pensar no passado
A cada momento que o olho brilha graças aos avanços da tecnologia moderna, dois resmungos competem com o deslumbre: um deles lamenta que as coisas não são tão boas quanto no passado, o outro se inquieta com as falhas do recém-chegado. Muito já foi dito e escrito sobre a natureza insatisfeita do ser humano, mas vivemos numa época de ouro para a humanidade. Ela pode não ser a mais incrível da história, mas é, sem dúvida, aquela em que o maior número de pessoas vive bem e pode fazer o que quer. Mais do que isso: elas podem fazer coisas que nem sequer imaginariam fazer apenas alguns anos antes.
E nem estou falando das virtudes sempre exaltadas pela pauta do Link. Me refiro apenas a fatos triviais.
Estamos em contato com amigos e conhecidos o tempo todo. Hoje conversamos em vídeo pelo celular. É possível fazer compras, pagar contas e trabalhar ao mesmo tempo, sem que uma ação atrapalhe a outra. A maioria das perguntas que você pode fazer – tirando as existenciais – pode ser respondida em alguns cliques. Só o clichê do “computador de bolso” propagado na era do smartphone já justificaria tanto deslumbre: seu celular é um localizador de GPS, um tocador de mídia (música, vídeos, fotos), uma câmera que filma e tira fotos, um dispositivo de acesso à internet, um videogame portátil.
Mas, enquanto a foto não carrega, o mapa não aparece, o vídeo não sobe ou o game muda de fase, reclamamos da conexão, do aparelho, da rede, do software. Isso sem citar aqueles que esbravejam “antigamente é que era bom” e se esquecem das filas no banco, do tempo perdido para se achar um lugar, de impostos feitos em planilhas de papel, das as poucas fontes para descobrir música nova, como rádio e lojas de disco.
Sempre que vejo as pessoas confrontadas nesse dilema egoísta, minha memória me leva inevitavelmente a um texto, repetido em apresentações ao vivo e programas de TV do comediante norte-americano Louis C.K., que ficou conhecido com o título que usei nesta coluna.
“Tudo é incrível e ninguém está feliz”, começava. “Em minha vida, as mudanças que aconteceram no mundo foram incríveis. Quando eu era criança, o telefone em casa era de disco. Você tinha de ir onde ele estava e tinha que discá-lo. Você já parou para pensar como era primitivo? Você está produzindo faíscas em um telefone!”
Ele continuava falando do saudoso passado de que uns ainda fingem sentir saudade: “Se você quisesse dinheiro, você tinha de ir ao banco, que só ficava aberto por algumas horas. Você tinha de pegar uma fila, escrever um cheque para você mesmo feito um idiota e quando o dinheiro acabava você não tinha mais o que fazer. Acabou.”
“Estamos vivendo num mundo incrível e ele está sendo desperdiçado na geração mais rasa de idiotas mimados que não se importam porque é assim que as coisas são agora”, reclamava. “Estava num avião outro dia e tinha internet. E isso é o avanço mais recente que eu conheço: internet rápida no avião. Estou ali no avião e posso pegar um laptop, entrar na internet, que é rápida o suficiente para assistir a vídeos no YouTube. É incrível. E aí de repente a conexão falha, alguém da companhia aérea pede desculpas pela internet não estar funcionando e um cara do meu lado começa a reclamar que isso é uma merda!”
E conclui dizendo que nem sequer percebemos a maravilha que é voar, essa tecnologia de pouco mais de um século. “Alguém reclama que teve de ficar esperando a decolagem por 40 minutos. É mesmo?”, pergunta Louie. “E o que aconteceu logo em seguida? Você voou pelos céus como um pássaro? Você atravessou as nuvens, algo que era impossível? Você teve o prazer de participar do milagre do voo humano e depois pousou maciamente sobre pneus enormes que você nem consegue imaginar como foram parar o céu? Você está sentado em uma cadeira no céu. Você é um mito grego neste exato momento.”
Reclamamos muito e temos pouca consciência do nosso próprio contexto – e isso não diz respeito apenas à tecnologia. Mas graças a ela isso tem mudado.
Volto ao assunto em outras colunas.