…aconteceu. Pelo menos foi isso que disse Daniel Faraday – e será que o próximo episódio (batizado justamente de Whatever Happened, Happened) vai concluir isso ou mudar tudo?
He’s Our You é o nome do episódio de Lost de hoje.
O designer canadense Adam Campbell juntou uma série de itens Dharma e os recriou como se fossem propagandas tiradas de revistas dos anos 70. Olha que foda:
A dica é do Chapiro, via Grain Edit.
Ainda sobre o episódio passado de Lost: você não conseguiu ver quem está atrás no espelho? (Ou atrás DO espelho?)
* Desculpem o trocadilho infame
Não, não estamos errados – estamos atrasados, isso sim. O Comentando Lost de hoje é sobre o episódio da semana retrasada e não da passada, porque tanto eu quanto o Ronaldo nos enrolamos e só estamos conseguindo botar ordem nessa parte da vida agora. Por isso, peço desculpas pelo atraso – e siga o mesmo esquema de sempre: baixe o MP3 no mesmo computador em que for ver o episódio LaFleur e, quando dissermos que tá valendo, você aperta o play no episódio.
Ronaldo Evangelista e Alexandre Matias – Comentando Lost: LaFleur
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A Iniciativa Dharma, os anos 70 e a nova fase da série
Se LaFleur já tinha me feito recobrar as esperanças em Lost – num grande episódio feito em homenagem a um grande personagem -, Namasté oficializou essa nova fase. Só o início do episódio, recriando o acidente com o vôo 316 da Ajira Airways, teve mais emoção, adrenalina, revelações e carga dramática do que toda a história dos Oceanic Six. Sim: houve o clarão e Jack, Hurley, Kate e Sayid desapareceram para reaparecer na ilha, 30 anos no passado. Não: o avião da Ajira não caiu, mas pousou – aos trancos e barrancos. Sim: o avião pousou na pista que os Outros estavam fazendo em 2004. Não: o avião ficou mesmo em 2007.
(Antes de continuar o episódio, vale cogitar o motivo de Sun, Locke e Ben não terem voltado com o clarão. Locke é mais ou menos fácil adivinhar – ele estava morto e a energia que teoricamente o levaria para o passado só foi suficiente para revivê-lo. Ben nos leva ao ponto crítico da suposição: afinal, se uma das formas de viajar no tempo em Lost é a transferência da consciência de uma época para a outra, que passa a habitar o corpo de uma fase da vida com a mentalidade de outra, Benjamin Linus não poderia ser transportado para 1977 pois ele também habitava a ilha nesta mesma época, só que ainda adolescente. O que nos leva ao ponto crítico da teoria – Sun. Será que ela esteve na ilha nos anos 70? Será que ela é o bebê que vemos chorar no início desta temporada?)
Enquanto isso, retomamos o fim do episódio passado, quando Sawyer e Jin reencontram Hurley, Jack e Kate. Jin logo sai de cena quando o avisam da possibilidade de Sun estar viva, dirigindo pela ilha desenfreadamente, como se pudesse encontrá-la a qualquer momento. Resta a Sawyer não apenas explicar aos três recém-chegados o que está acontecendo – e quando estão – como explicar para a Dharma quem são aquelas três pessoas.
Namasté ainda mantém o clima iniciado em LaFleur, quando, depois de conseguir infiltrar os três na Iniciativa Dharma (olá, Pierre Chang!), Sawyer faz questão de colocar Jack em seu lugar, provando que sua transformação não foi apenas sazonal – nem que foi abalada pela chegada de três dos Oceanic Six.
Mas o episódio é sobre a nova fase da temporada 2009 e ela fala sobre a Dharma. Assim, somos apresentados a um novo núcleo de ação, como novos protagonistas. Alguns são velhos conhecidos (nossos, não dos personagens) – Radzinsky já tinha sido citado por Kevin Inman, o companheiro de Desmond quando ele ainda era apenas um náufrago apertando um botão numa escotilha subterrânea em uma ilha perdida, e Horace Godspeed já havia aparecido em um sonho de Locke, construindo a cabine em que John encontraria o sinistro Jacob (sua esposa Olivia também já tinha dado as caras). Outros são apenas nomes e rostos, como Amy (que, ora ora, batizou seu filho de Ethan), seu falecido marido Paul, Phil, Raymond, Rosie, Tom (que aparece num rápido momento na oficina de Juliet – será o mesmo Tom que mais tarde tornaria-se um dos Outros?), Anthony, Elmer e Jay. Outros personagens, como Doctor, Jerry e Heather já haviam sido apresentados no episódio anterior – além de todos os que já têm nome e ator exibidos no episódio The Man Behind the Curtain. Essa enxurrada de personagens não vem anônima – alguns, certamente, não passarão de figurantes com nome, mas outros devem ser aprofundados e postos em conflito com os outros personagens da série. Fora que ainda outros devem aparecer, como o mítico casal Gerald e Karen DeGroot, fundadores da iniciativa e, quem sabe, seu patrocinador, o soturno e enigmático Alvar Hanso.
Ainda no passado, Jin reencontra outro 815 perdido em 1977. Sayid é rapidamente confundido com um Outro e trancafiado como se tivesse quebrado a tal trégua que a aparição de Sawyer já havia ferido.
No futuro, Ben descobre que Sun está o seguindo pois acha que pode encontrar Jin. Aliás, o reencontro de Jin e Sun promete ser o grande momento romântico da temporada, como foi o de Desmond e Penny na passada (por isso, preparem os lenços aí, mulherada). Mas enquanto ela não o encontra, a vimos sendo apresentada à alternativa sugerida por Ben – deixar a ilha menor rumo à ilha principal. Na fuga, os dois encontram o piloto Frank Lapidus e, quando imaginávamos que Sun iria cair no papo de Ben, ela dá uma remada (!) na cabeça do sujeito e segue com a canoa para a ilha.
Lá chegando, os dois encontram o acampamento Dharma que, em 2004, havia sido tomado e transformado na Vila dos Outros. Mas o detalhe é que em 2007, a Vila parece estar abandonada há muito tempo – bem mais do que três anos -, além de contar com os logotipos da Iniciativa banidos pelos Outros. O que nos leva a crer que a vila foi abandonada – e talvez não tenha sido usada pelos Outros. É o primeiro aceno a uma possibilidade tida como inexistente em Lost até agora – a que existe uma linha do tempo paralela, diferente da que conhecemos. Ou seja, existe a possibilidade da regra de Faraday (“O que aconteceu, aconteceu”) não ser uma regra. Afinal, já tinha dito Ben quando viu sua filha morrer, regras foram mudadas…
(Fora a aparição de Christian Sheppard e a possível aparição de Claire, mas tá muito cedo pra especular em cima disso ainda.)
E, falando em regras que podem ser mudadas, o episódio terminou com Sayid sendo visitado pelo jovem Ben, que se apresenta para, logo depois, ser felicitado pelo encontro. “Prazer em te conhecer, Ben”, diz o iraquiano, numa cena que, pelo andar da carruagem, vai se desdobrar.
Em Namasté, demos os primeiros passos no playground que vai ser a Dharma até o final da série. Novos personagens virão, novos conflitos entre personagens ocorrerão, velhos ressuscitarão (velhos personagens também? Vai saber…). Mas se estamos mesmo à beira de um paradoxo temporal, ele vai ser deflagrado nos anos 70. Afinal, os 815 sabem que Ben matou toda Iniciativa Dharma – mas será que vão deixar isso acontecer no futuro?
***
Mais quinta temporada de Lost:
Como o final de Battlestar Galactica pode antecipar o final de Lost
E por falar nisso, será veiculado hoje nos EUA o último capítulo de Battlestar Galactica. Na verdade, Daybreak começou na sexta passada, quando a primeira parte do final da série foi exibida, embora seu criador, Ron D. Moore, insista que estas três horas (a parte final do episódio tem duas) sejam vistas como um filme.
O que isso tem a ver com Lost? A princípio, nada. Afinal, Battlestar Galactica é uma série de ficção científica clássica, com robôs, sistemas solares e naves espaciais usados como metáforas para questões que fazem sentido fora daquele universo fictício. Renascida após o 11 de setembro, a série aproveitou as nuvens negras que pairavam sobre o imaginário mundial para ir além do trivial, politizando os roteiros sem separar mocinhos de bandidos.
Mas Lost também é uma série de ficção científica, embora não discorra sobre temas clássicos ao gênero e use (por enquanto) o artifício das viagens no tempo como recurso narrativo, além de moer os miolos dos espectadores menos afeitos aos mistérios e enigmas da ilha.
Battlestar Galactica, por sua vez, tem seus mistérios e sua mitologia. Além das referências militares, filosóficas e religiosas, seus criadores bolaram uma trama que tem início muito antes dos acontecimentos exibidos na série (como Lost), que conta com alguns pontos-chaves nublados em sua genealogia (como Lost), como a origem de toda a história (como Lost) e a natureza de alguns personagens (como Lost). E também como Lost, a série não faz muita questão de ser didática nas explicações, empilhando roteiros paralelos e novos personagens sem sequer dar uma luz sobre as principais questões feitas pelos fãs.
E eis que chegamos ao capítulo final com uma série de dúvidas. No começo do ano, o blogueiro Alan Sepinwall conversou com Ron D. Moore a possibilidade destas questões serem respondidas ou não até o final da série. E, em certo ponto da entrevista, Alan traça um paralelo entre Lost e BSG:
One of the things I find interesting is, on “Lost,” Cuse and Lindelof have always claimed they have a master plan and know where it’s all going, and fandom has been skeptical at times and said, “Yeah, right.” Whereas you’ve been pretty candid about the fact that you’ll throw stuff out there and figure it out later, and yet people assume there’s some cohesive plan to “Galactica.” How do you pull that off to make it seem like there’s a plan?
To me, that’s the job. The job is to figure a way along in a story but make it all feel like it’s seamless, to make it all make sense. Hopefully, if I’ve done my job right, when all is said and done and the story’s been put to bed and you’ve got the entire set of DVDs before you and you watch them, that it feels like a cohesive narrative — that stuff we just threw up and decided to take a flier on without ultimately knowing where it would pay off, when you look at in hindsight, that it all tracks. You’re painting this large painting on this big canvas, and you may not know what it’s going to look like at the end, but when you’re done, you want it to feel like it’s a cohesive vision and makes perfect sense.
E continua:
One of the things I’ve always liked about your storytelling style is that you let a lot of things just be assumed: “Oh, the fans are going to understand this, we don’t need the technobabble or whatever. I just want to hit the parts of the story that are interesting to me, even if we don’t explain everything.”
I like doing it that way. On some level, I write the show for me and what I like, and I flavor everything in that light. “This is how I would like to tell a story.” And I just assume that the audience is as smart as me, easily and they’ve seen a lot of TV and seen a lot of stories, and they can fill in the blanks and make the leaps with me on certain things.
Voltando para Lost, é como se a questão sobre os ursos polares em uma ilha tropical já tivesse sido respondida. Afinal, sabemos que para “mover” a ilha, é preciso ter muita força (Ben e Locke penaram) e girar uma roda que fica em uma câmara gelada. Como sabemos que a Iniciativa Dharma fazia testes com animais (vide as jaulas da terceira temporada), podemos dizer que eles trouxeram os ursos para a ilha apenas para girar a roda secreta. E aí, Alan volta a perguntar:
A lot of times in the podcast, you’ll say things like, “I know people are interested in this, but that’s really not where the story’s going.” You didn’t really deal with the toasters becoming sentient again, that sort of thing. After I watched “Revelations,” I thought it was a great ending, but I jotted down a list of things that still had to be dealt with. I’m wondering, without you giving it away, whether these things are going to be addressed or whether these are things that we’re thinking a lot more about than you were.
Do you have a list?
Sim, Alan tinha uma lista com as principais questões relacionadas ao seriado. Como a entrevista foi feita no início do ano, algumas questões ainda estavam em aberto – e já foram respondidas nesta temporada. Outras, no entanto, seguem sem resposta até o último episódio. Vamos recapitular com Alan e Moore (uops), que eu comento o que já foi respondido até aqui nos parênteses.
Obviously, the identity of the final Cylon, we will find this out?
Yeah. (Soubemos logo no início do ano)The origin and nature of the Final Four and how they’re different from the rest of them?
Yes. (Também já respondido)The origin of the rest of the skinjobs?
Yes. (Outra resposta que já foi dada)What happened to Earth and what happened to the 13th Colony?
Yes. (Só sabemos da metade)Who, if anyone, is orchestrating all of this?
Basically, yeah. I don’t know if it’s going to be wrapped up in a neat bow. The show has an answer for it, whether it’s a satisfying answer, I don’t know. (ainda não sabemos isso)Will “All this has happened before and it will happen again” be explained in some way?
Yes. (Parcialmente respondido)The opera house?
Yes. (Nada ainda)What happened to Kara when she went through the Malestrom?
Pretty much. (Ainda em aberto)Identity and nature of the “head” characters?
Yes. (Sem resposta)Tigh and Six’s baby, and whether that means Cylons can breed?
Yes. That’s not a “yes” to whether they can breed — the question will be answered. (Já foi respondida)The fate of Boomer and whether there are other 1’s, 4’s and 5’s floating out there?
Yes. (Também respondida)Roslin’s health?
Yes. (em aberto)Okay, that’s a “yes” on all of them.
See? We knew what all the questions were! I’m kind of proud of myself. “Yes”es to all of them. I thought you were going to throw a curve at me, like, “Oh, (bleep).”
Ou seja, a última temporada de Battlestar Galactica começou com 12 questões em aberto e chega a seu último epísódio com cinco perguntas sem resposta – e são grandes questões, como “o que é a ilha?” ou “o que é o monstro de fumaça”? Vamos ver como o seriado responde aos pontos obscuros e, principalmente, se suas respostas são convincentes. É claro que são duas produções distintas, de emissoras diferentes, mas pode ter certeza que J.J. Abrams, Damon Lindelof, Carlton Cuse e toda a equipe de roteiristas de Lost estão acompanhando o final da série hoje. E, dependendo do paradigma estabelecido, ele pode influenciar diretamente o final de Lost.
Vamos torcer para que o episódio de hoje ser fenomenal – assim, Lost vai ter que se esforçar para superá-lo.
Bom episódio, hein: começo sagaz, dúvidas sanadas sem dor (e justo quem é o bebê!), boas cenas de reencontros (Juliet e Kate, em especial, merecem aplausos – atuando só com olhares, resgataram o velho cinismo de Lost sem precisar de atrito), Sun e Sayid ótimos, Sawyer mantendo o pulso, novos personagens, “Dharma Lady” na trilha sonora e um velho conhecido dando as caras de novo: o início da fase 2 da quinta temporada equilibrou perguntas, respostas, ambientação, boas atuações, diálogos ótimos e algumas cenas memoráveis. E Chang? E Daniel? E quem é aquela atrás de Sun? Sem precisar forçar, mudou completamente o ritmo da série e parece ter dado um foco menos frouxo que a primeira fase da série, com a história dos Oceanic Six. A 1977, portanto.
Nota: 7,5.
O promo de “He’s Our You”, o episódio da semana que vem de Lost.
Já viram Namasté? Então olha só atrás da Sun…