Lost por Gustavo Mini

, por Alexandre Matias

A primeira coisa que eu falei pro Matias quando ele me chamou pra escrever sobre Lost foi um simples “não”. Afinal de contas, diferente da maior parte das pessoas que estão lendo as séries de posts de Lost no Trabalho Sujo, eu não estou acompanhando o seriado. Pra ser mais exato, eu abandonei Lost mais ou menos em S03E05 ou S03E06, quando percebi que não ia conseguir acompanhar as temporadas num ritmo adequado. Preferi, então, dizer não e me mantar à parte do tumulto da final.

Mas, veja como eu aprendi logo nas primeiras temporadas, não é tão fácil abandonar a ilha. Ou, melhor dizendo, não é tão fácil a ilha abandonar você. O Matias insistiu e eu me dei conta: mesmo sem continuar assistindo Lost de fato, eu acompanhei a maior parte da trama por fragmentos que chegaram até mim através de conversas próximas, posts rápidos em blogs ou comentários em redes sociais. Não vou saber descrever com detalhes o destino dos personagens, mas, mesmo sem querer, chegaram até mim notícias de que a coisa ficou realmente feia e incluiu viagens no tempo e realidades paralelas, uma grande sacanagem com os personagens de qualquer trama pop.

O ponto é o seguinte: em vez de eu acompanhar Lost, Lost é que me acompanhou. Pedaços da trama, entrevistas com os produtores e reações de fãs volta e meia orbitavam a minha vida mesmo que eu não quisesse ter nada a ver com o assunto. Obviamente isso não acontecia por acaso (acaso? Em Lost?). O seriado é um dos produtos ícone de uma nova leva de entretenimento meticulosamente desenhado para se espalhar, não apenas no que diz respeito aos formatos de mídia mas inclusive no conteúdo. Não é qualquer trama que suporta tamanha amplitude.

Como tudo hoje já nasce com teoria e explicação, compartilho com vocês a pirâmide invertida que fotografei num workshop da 42 Entertainment, empresa responsável por ARGs célebres como Why So Serious pro Cavaleiro das Trevas e Year One do Nine Inch Nails. Ela oferece uma visão bastante interessante que explica de forma clara o fenômeno Lost.

Em 2008, depois de participar desse workshop no Festival de Publicidade de Cannes, escrevi: “Essa pirâmide aí em cima mostra os níveis de envolvimento que o público pode ter com um ARG (clica na imagem que ela aumenta). Na ponta lá embaixo estão os louquinhos que rastreiam todas as pistas, formam comunidades pra resolver, atravessam a cidade até um telefone público para receber uma informação gravada, largam a namorada pra se dedicar ao ARG. Logo acima, no nível dois, estão os que acompanham as comunidades e participam do ARG de um jeito um pouco mais light, meio que sentado na cadeira em frente ao computador. O nível três diz respeito a quem sabe que um ARG está rolando, dá uma olhada de vez em quando e, se descobrir uma pista, passa para um amigo. O nível zero é o mainstream, que não sabe muito bem que negócio é esse, mas olha que legal a reportagem na TV sobre o ARG.”

Pois então.

O ensaísta Douglas Rushkoff chama de “moeda social” tudo aquilo que é usado pra gerar conexões entre pessoas. É uma espécie de medida de riqueza que determinados conteúdos ou produtos podem agregar a relações pessoais. O grande sucesso de Lost residiu na distribuição inteligente de moeda social para todos os níveis dessa pirâmide. Até mesmo os pobre maltrapilhos da base invertida como eu, que não tinham muito contato com o seriado, saíram com umas moedinhas no bolso. Se não muito pra dizer que fez parte da comunidade de um novo tipo de produto de entretenimento, ao menos o suficiente pra escrever um post no blog de um parceiro.

* Mini é dOEsquema.

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