Lost por Daniel Araújo

, por Alexandre Matias

Assisti a primeira temporada de LOST na TV aberta. Sem paciência de esperar a Globo exibir a segunda e sem TV a cabo em casa, organizei um tráfico de fitas VHS gravadas por amigos para poder continuar acompanhando a série. Quando os amigos não puderam gravar o season finale da segunda temporada, peguei um DVD pirata comprado no centro por um colega de trabalho. Na terceira temporada, comecei emprestando episódios baixados por um amigo hacker e no final, no famoso “we have to go back!”, eu já estava um expert em torrent. E a partir da 4a. temporada, pelo menos para mim, já não fazia o menor sentido chamar LOST de “programa de TV”. Acredito que não foi só para mim que a série foi se desincorporando da TV.

A única maneira, hoje em dia, de ter a genuína “experiência LOST” – assistir um episódio sem saber de nada – é assistir pela internet. Quando a TV brasileira exibe o episódio, uma semana depois, já é praticamente reprise, todo mundo já leu na Internet tudo que aconteceu. Pô, quando a TV americana exibe o episódio inédito já é quase reprise, menos de uma hora depois de passar no Canada!

O mais legal de LOST sempre foi extra-TV. Acompanhar e tentar entender LOST sempre foi um esforço coletivo. A série não tem a menor graça para quem não corre pra internet depois de assistir, não debate com uns amigos, não vai atrás das referências espalhadas nos episódios, nunca jogou os joguinhos de realidade alternativa (nome interessante, levando em conta a ultima temporada) ou nunca acessou o site da Oceanic ou da banda do Charlie. Ou se nunca jogou os “números” na mega-sena esperando que algo mirabolante acontecesse. O legal da série era te deixar em “modo LOST” por muito tempo depois do fim do episódio. E para mim o que media a qualidade de um episódio não era o episódio em si – direção, roteiro, fotografia – mas a capacidade do episódio de me deixar encafifado depois que ele terminasse. LOST sempre foi legal pelo que gerava além da TV, e agora chega ao final dispensando totalmente a TV. Talvez ainda não haja um nome para que tipo de obra é LOST, mas certamente já não é mais um “programa de televisão”.

O que eu espero do season finale é isso. Não quero explicações, quero ficar encafifado, pensando durante muito tempo sobre o que foi que eu assisti. Quero o velho “nó LOST” na cabeça. Se o final for
mastigadinho, vai ser muito frustrante.

Até porque, se LOST se espalha para além da TV como o monstro de fumaça, o último episódio não vai ser o fim, vai ser no máximo o começo do fim. Enquanto estiverem discutindo e destrinchando o season finale e a série como um todo, ela não vai ter terminado. Se a série já dispensou a TV para existir, por quê o mero fim dos episódios inéditos iria acabar com ela?

* Daniel Araújo é o ouvinte número 1 do Comentando Lost. Sempre comentou todos os episódios – fiz questão de chamá-lo para escrever. E a ilustra é dele.

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