Lost por Ana Bean

, por Alexandre Matias

Tirando um certo crush pelo MacGyver nos anos 80, nunca gostei de séries e filmes de ação/drama centradas em um personagem ou em um “herói recorrente”. E, os meninos que me perdoem, incluo aí Jack Bauer e até os super-heróis da Marvel (e você também, James Bond). A meu favor, vejam bem, se isso lá for um aliado de respeito, tenho o Nick Hornby.

Eu adoro um trecho do livro Frenesi Polissilábico (não tive tempo de procurar o quote exato) no qual ele fala sobre o “não conseguir se solidarizar” com os heróis de livros de ação. Eu mudo esse argumento para filmes, aqui. Por que eu vou sofrer com o Jack Bauer se ele ainda tem mais 16 horas pela frente, antes que as 24 acabem? Como você vai me convencer que devo sofrer por você agora, com a mesma intensidade com que sofri há três episódios, quando você tinha uma bomba na virilha e mesmo assim não morreu?

É frustrante. Não sofro, não torço, quero mais é que morra logo. Mas eu sofri com o LOST e com os seus “personagen recorrentes” que eram às vezes heróis, às vezes vilões, e às vezes só babacas mesmo. Achei que valia a pena acreditar que o Jack poderia sim morrer engolido por uma fumaça preta em qualquer episódio. Quem passou pelo seriado sem sofrer, pesquisar, sem fundir a cabeça, sem entrar em fóruns de discussão, sem se irritar com spoilers… não “viu” LOST. A experiência é/foi justamente esse grau (exagerado) de envolvimento, essa participação e utilização de todas as ferramentas virtuais para montar um quebra-cabeça de peças beeem tortas. Eu faço parte dos que se divertem mais com o processo que com o produto final. Juntar as peças, tentar encaixa-las, decifra-las… quando o jogo vai chegando ao final, eu sento e observo. Já não me sinto mais no controle e daí perde a graça. Gosto de torcer para o vilão, ou melhor, torcer sem ter idéi a de quem é realmente o vilão. Sou do Team Ben & Team Locke! (*fazendo coraçãozinho com as mãos haha). Porque Jack, desculpa, é só um rostinho barbudo e bonito.

Seis anos depois, claro que exageramos. Inventamos mais teorias que os próprios roteiristas poderiam conceber. Achamos indícios e referências literárias, científicas, freudianas (por que não?) que não ajudaram em muita coisa… Demos atenção até ao que o Sawyer lia, às tatuagens cafonas do Jack, ao diário do Faraday… Moldamos personagens a torto e direito e fomos até ouvidos em alguns momentos.

Com tamanha expectativa, não há season finale que aguente. As frustrações serão proporcionais ao frenesi. A constatação de que – hey atenção amiguinhos do fórum – AS PEÇAS NÃO SE ENCAIXAM INTENCIONALMENTE vai fazer a bolsa de valores despencar. Gente se atirando dos prédios. Gente xingando muito no twitter. =)

E isso, acredito, também faz parte da brincadeira. Essa é a graça! Você vai ficar satisfeito se o final for exatamente como você esperava? Eu não. Prefiro ficar sem algumas respostas porque quero pensar na possibilidade delas existirem. Quero bolar meus finais alternativos, minhas realidades paralelas. Lembram daqueles livrinhos que a gente lia quando criança? Você escolhia se fulano pegava a faca (“pule para a página 26”) ou o serrote (“pule para a página 52”) e 72 escolhas depois, você tinha praticamente dezoito realidades paralelas em um livro de menos de 100 páginas. Os “what if?” do LOST ainda vão continuar por muito tempo online. “Você quer que o Jack aperte o botão (“alternativa a”) ou siga em frente (“alternativa b”)?” Provavelmente teremos uma versão 2.0 desse final “múltipla escolha” para que menos pessoas morram de depressão pós-finale e para que todos saiam dessa ao menos ilesos.

ps1: De todas as experiências estranhas que o LOST me trouxe, tenho que destacar duas.

1- A bizarrice do JustinTV. A fissura de ver LOST ao vivo e se submeter a um áudio capenga, imagem tosca e um bate-papo surreal na barra lateral. Gente do mundo todo tentando se entender, gente que nem falava inglês pedindo legenda real time, pedindo tradução simultânea (!!!)… Lembro de um brasileiro desesperado gritando em caps lock: “To usando 100% do meu inglês para entender 10% do que eles estão falando, HELP!!”. haha

2- Os DVDs pirateados do Stand Center. Quero agradecer ao senhorzinho que ficava lá na extinta loja da Augusta vendendo mashup de seriado em DVD. Para quem tinha preguiça e não tinha tempo de baixar os seriados em casa, ele colocava o último do LOST (no dia seguinte) com mais dois episódios de séries a sua escolha. Legendado, imagem ok. Ah, ele vendia os teasers também. Os TEASERS! #wtf

ps2: Poderia escolher várias frases dos diálogos entre Hurley e Miles, mas pensando bem, minha frase preferida do LOST ever é essa: “A 12-Year-Old Ben Linus Brought Me a Chicken Salad Sandwich. How Do You Think I’m Doing?” (Sayid, S05)”

* Ana Bean manda no Trash it Up.

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