Sob o domínio do Facebook

zuckerberg

Comecei a colaborar com a revista Cultura, distribuída gratuitamente pela Livraria Cultura, escrevendo uma matéria sobre a onipresença do Facebook em nossas vidas, além de assinar a coluna de tecnologia, chamada de Inovação. Eis a matéria sobre a rede de Zuckeberg, cuja íntegra pode ser lida no site da revista.

A era digital fez nascer um novo tipo de oligopólio: o dos dados pessoais. Aproveitando-se da ingenuidade do público e de uma nova legislação norte-americana que permitia a vigilância online após os atentados de 11 de setembro de 2001, novas empresas passaram a oferecer produtos online aparentemente gratuitos – sejam redes sociais, e-mails online, aplicativos de comunicação e de relacionamento, serviços na nuvem e mapas digitalizados – que coletam informações sobre cada passo dado por seus usuários. Ao aceitar os termos de uso destes novos serviços, as pessoas aos poucos foram abrindo mão de sua privacidade e até de sua liberdade, carregando dispositivos de monitoramento online em seus bolsos.

Corporações como Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft começaram a desdobrar suas atividades para além de suas funções originais, aumentando o nível de consentida invasão de privacidade de seus usuários. Conhecendo melhor seus clientes como nenhum outro tipo de empresa na história, eles começaram a vender estas informações em forma de publicidade, personalizando os anúncios de acordo com os hábitos digitais de seus “consumidores” – que são, na realidade, o verdadeiro produto oferecido aos anunciantes pela rede social.

Empresas menores como Twitter, Spotify, Uber e Netflix, entre inúmeras outras, também coletam seus dados para “melhorar seus serviços”, embora todos almejem ter a influência e o tamanho dos dois maiores gigantes digitais: Google e Facebook. Se o primeiro não tem uma grande rede social para conectar as pessoas, é simplesmente dono do maior site de buscas do mundo, do principal serviço de streaming do planeta (o YouTube), do principal sistema operacional para celulares (o Android) e do principal serviço de mapas online do mundo (o Google Maps).

Já o Facebook parece ter uma influência maior do que a simples inteligência artificial bradada pela empresa. Ele bane a nudez (incluindo mães que amamentam), mas não tira do ar cenas violentas, por alegada “liberdade de expressão”. No mesmo inquérito realizado nos EUA, Zuckerberg assegurou que grupos de ódio são proibidos no Facebook, quando qualquer usuário percebe a tendência belicosa por trás de comentários, likes e compartilhamentos.

A crescente polarização ideológica da sociedade no mundo todo parece ter sido reforçada pela distribuição eletrônica de publicações da rede, com a criação de bolhas de interesse que não conversam entre si. Problema que o indiano Chamath Palihapitiya, que chegou a ser vice-presidente de crescimento de usuários da rede entre 2007 e 2011, apontou no fim do ano, em uma palestra na Escola de Negócios de Stanford sobre o vício em redes sociais. Para o ex-diretor da empresa, o Facebook está destruindo o funcionamento da sociedade e rasgando o tecido social ao fazer as pessoas se tornarem compulsivas no uso e na recompensa mental que seu uso traz. Na mesma época, o primeiro presidente do Facebook, Sean Parker, admitiu em um evento na Filadélfia que a rede foi desenhada para ser viciante: “Só Deus sabe o que estamos fazendo com o cérebro de nossas crianças.”

Todas essas revelações não alteraram significativamente o engajamento de seus usuários, embora um movimento de êxodo digital tenha se intensificado desde então, e o Facebook venha encontrando dificuldades em atrair usuários mais jovens. Obviamente, a opção de abandonar o Facebook é complicada, pois a rede se tornou central em uma série de relações sociais e comerciais – e ainda não encontrou um rival à altura (quadro acima).

O que nos deixa a um clique da tirania, como alertou a professora Melissa K. Scanlan, da Escola de Direito de Vermont, em um artigo no jornal britânico The Guardian: “O uso nefasto de nossos dados pessoais está em toda parte. Se a Cambridge Analytica pode obtê-los, o que impede que um governo também os tenha?” E prosseguiu: “A maior tirania seria a fusão do monopólio corporativo e do poder governamental, criando o estado de vigilância mais invasivo da história.”

Jamais poderíamos imaginar que a distopia do futuro digital que habitamos hoje fosse mais assustadora que a ficção de George Orwell e Aldous Huxley, que cogitaram, respectivamente, o estado de vigilância máxima personificado na figura do Grande Irmão no livro 1984 e o estado de êxtase alienante em Admirável Mundo Novo. O início do século 21 parece ser uma mistura destes dois cenários, em que alimentamos um Grande Irmão digital com nossos êxtases pessoais.  

Toda a matéria neste link.

PC Siqueira está morto em São Paulo

PCSiqueiraestamorto-

Começa nesta quinta-feira extensa turnê de lançamento de meu primeiro livro, ao lado de seu próprio personagem. Pra quem ainda não sabe, fui chamado pra escrever o livro do primeiro YouTuber brasileiro – o PC Siqueira – com a intenção de ambas partes de não ser um ghost-writer nem escrever a “história de vida da pessoa humana” que seria Paulo Cezar Siqueira. Optamos por uma ficção que é uma colagem de referências sobre a personalidade do sujeito e PC Siqueira Está Morto está saindo pelo selo Suma de Letras, da Companhia das Letras. O primeiro lançamento acontece hoje em São Paulo, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, a partir das 19h, e também é a primeira vez que o PC aparece em público depois da cirurgia para corrigir seu estrabismo, saca só:

É só colar lá.

Educação Musical, com Marcelo Jeneci

jeneci

Hoje encerro o curso Educação Musical, que coordenei na Livraria Cultura por três aulas, com um papo com Marcelo Jeneci, cuja formação deu-se mais pelo lado instrumentista do que propriamente fonográfico. Filho de um dos criadores do captador elétrico para acordeão, ele conta sobre como a convivência com músicos e a referência dos arranjos musicais fizeram parte de sua educação musical, tornando-o um ouvinte mais atento que, anos depois, se transformaria em compositor de canções. A aula acontece na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi e as inscrições podem ser feitas através deste link.

Educação Musical, com Tiê

tie

Faça sua inscrição aqui.

Realizo hoje a segunda aula do curso Educação Musical, que coordeno na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi e que fala sobre a importância da audição musical a partir da formação musical de três dos principais nomes da atual música brasileira. O primeiro, que aconteceu há duas semanas, aconteceu com a Céu e o de hoje é com a Tiê, que explica como ouvir atentamente clássicos da música brasileira, hits do rádio e novos artistas lhe ajudaram a se tornar uma melhor ouvinte e sua própria produção cultural. A aula de hoje começa a partir das 20h na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi de São Paulo e as inscrições podem ser feitas neste link. Na semana que vem eu converso com o Marcelo Jeneci.

Educação Musical, com Céu

ceu-curso

Faça sua inscrição aqui.

Realizo nesta quinta-feira a primeira aula do curso Educação Musical, o primeiro que ofereço junto à Livraria Cultura, na loja deles no Shopping Iguatemi. São três encontros com artistas diferentes para falar da importância da audição musical, que parece ter se perdido nesses tempos digitais. O primeiro papo acontece hoje, a partir das 20h, e é com a Céu, que vai falar sobre como discos como Gil e Jorge, Afrociberdelia, Lonerism, o primeiro do Velvet Underground, o segundo da Marisa Monte e o Coisas, entre outros, foram importantes para sua própria formação. Dá para comprar ingressos no site da loja ou um pouco antes do curso começar. As outras aulas acontecem na semana que vem, com a Tiê (no dia 4 de fevereiro) e depois no carnaval, com o Marcelo Jeneci (no dia 22). Quem comprar para os três encontros neste link tem desconto.

Educação Musical, com Jeneci, Céu e Tiê

jeneci-ceu-tie

Semana que vem estreio mais um curso sobre música, desta vez para falar de apreciação musical, na Livraria Cultura. Chamei a Céu, o Jeneci e a Tiê para conversar sobre a importância de ter tempo para ouvir música, de perceber as conexões entre os artistas, a importância da ficha técnica e outros detalhes que parecem se perder na correria da internet.

Na próxima quinta converso (28) com a Céu, na primeira quinta do mês que vem (4) com a Tiê e no meio de fevereiro (dia 22) com o Jeneci. As aulas acontecem a partir das 20h na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi e as inscrições podem ser feitas pelo site da Livraria Cultura. Abaixo, a ementa do curso:

A velocidade e a disputa por atenção dos tempos digitais pode estar nos fazendo perder a capacidade de apreciação musical, entre programas de streaming, aplicativos e vídeos online. Mas é possível, mesmo na agitação frenética dos dias de hoje, parar para escutar um artista com atenção, procurar conexões entre gêneros e estilos musicais, conhecer o trabalho de quem assina as fichas técnicas dos discos e aumentar seu vocabulário musical. No curso Educação Musical, o jornalista Alexandre Matias, que cobre música e tecnologia há vinte anos em seu site Trabalho Sujo, mostra como ampliar seus conhecimentos musicais e afinar sua fruição artística em conversas com artistas já estabelecidos neste novo cenário brasileiro, que explicam como passaram de fãs e ouvintes a apreciadores e conhecedores de música. Marcelo Jeneci, Céu e Tiê compartilham suas experiências pessoais com discos e artistas, raros ou populares, mostrando como deram este salto e como isso influenciou suas escolhas artísticas. São duas horas de bate-papo entre os dias 21 de janeiro e 4 de fevereiro, cada dia com um dos artistas.

tie-ceu-jeneci

28/01
Céu é uma das principais artistas da música brasileira deste século. A cantora é pioneira ao desbravar os mercados digital e internacional após a popularização da internet. Ela foge da tradição de cantoras brasileiras que começaram pela bossa nova e MPB ao trazer elementos de reggae, dub, música latina e africana em sua obra e está prestes a lançar seu quarto disco, no início de 2016.

04/02
Tiê começou tocando com Toquinho, mas logo bandeou-se para sua geração de contemporâneos e em pouco tempo colaborava com Jorge Drexler, Helio Flanders, Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci. Seu terceiro disco, Esmeraldas, de 2014, acena para um lado mais pop e foi produzido por Adriano Cintra (ex-Cansei de Ser Sexy).

22/02
Marcelo Jeneci começou tocando acordeão com Chico César e fazendo arranjos para Vanessa da Mata e Arnaldo Antunes, mas logo se firmou como cantor e compositor no disco ‘Feito pra Acabar’, de 2010. Seu disco mais recente, ‘De Graça’, de 2013, foi indicado ao Grammy Latino de melhor álbum de música brasileira.

Domingo com PC Siqueira

matias-pc-youpix

Eu e PC Siqueira voltamos a nos encontrar, desta vez no Teatro Eva Hertz, da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, ali na Av. Paulista, neste domingo, dia 15 de novembro, às 13h. Na conversa, vamos continuar o papo que começamos no YouPixCon deste ano, falando sobre produção de conteúdo, fazer o que se gosta, as mudanças nas comunicações, a onipresença das redes sociais, nossa relação com a tecnologia e outros desdobramentos do livro que venho fazendo com ele. Livro? É, pois é…

A nossa conversa acontece dentro do projeto Cultura na Faixa, quando a livraria apresenta uma série de atividades gratuitas durante este fim de semana.

Uma tarde com Lourenço Mutarelli


Mutarelli desce a Augusta rumo à Casa do Artista após pedir para carregar a mala do fotógrafo André Lessa, à esquerda (essa foto é minha)

Fui assistir à cabine do Natimorto, o filme de Paulo Machline baseado em um dos livros de Lourenço Mutarelli, com o Douglas, um dos editores do Divirta-se, o guia de programação lá do Estadão, e compadre de outros carnavais (Douglas era editor da falecida Simples quando me convidou para ter uma coluna de música por lá, nos idos de 1840). Saímos da sessão comentando como o filme parecia ser situado em São Paulo apesar de se passar quase que inteiramente em um quarto de hotel. E assim naturalmente surgiu a idéia que foi capa do Divirta-se desta sexta, quando o filme chegou aos cinemas: passar uma tarde com o Mutarelli para que ele nos dissesse quais eram seus lugares favoritos da cidade. O encontro se materializou no mesmo dia em que Lourençou completou 47 anos (ele faz aniversário no dia 18 de abril e faz questão de não comemorar, “comprei um bolo Pullman”), quando conhecemos um sujeito pacato e de fala tranquila, mesmo que falasse de assuntos terríveis e projetos aparentemente sem sentido e fosse o autor de obras perturbadoras e caóticas. Publico o resultado a seguir, já com a promessa (ah, minhas promessas…) de trazer à toda, um dia, quem sabe, tudo mais que o mestre conversou com a gente pelas quase sete horas de passeio naquela segunda-feira quente de outono. As fotos da matéria são do André Lessa, de quem o Mutarelli se dispôs a carregar a mala, descendo a Augusta, em foto que tirei no celular.


O desenho da capa do guia foi feito em menos de dez minutos, enquanto eu tirava as fotos dos detalhes da casa de Lourenço (eu pedi e ele deixou!)


E na capa da versão do guia para o JT, Mutarelli encarnou o cartomante ao ler os maços de cigarro cenográficos em uma das salas do Espaço Unibanco

Saia já desse quarto
Baseado na obra de Lourenço Mutarelli, o filme ‘Natimorto’ se passa entre quatro paredes. Mas o Divirta-se levou o autor para passear pela cidade

Cigarros. Cafés. Obsessão. Simone Spoladore. Lourenço Mutarelli. Esses elementos serão suficientes para prender a atenção de quem estiver no cinema – e, ao mesmo tempo, serão suficientes para perturbar a paz dessa mesma pessoa. A capacidade de perturbar, aliás, não é privilégio de ‘Natimorto’, a mais nova adaptação de uma obra de Mutarelli, estrelada por ele e dirigida por Paulo Machline. É recorrente em seu trabalho. E, com a opção de Machline de tirar o humor presente no livro, restou apenas a tensão.

Os cigarros são essenciais para amarrar a história. É no verso de cada maço que está a principal sacada: o Agente (Mutarelli) interpreta as imagens exigidas pelo Ministério da Saúde como se fossem cartas de tarô. E não passa um dia sem que leia a sua sorte e, desde que a conheceu, a de sua musa, a cantora Voz da Pureza (Simone Spoladore).Ocafé não precisa de explicação – serve para acompanhar o cigarro, é claro.

A presença do autor como ator não estava nos planos. Quem faria o Agente seria Marco Ricca, mas problemas na agenda de Ricca fizeram o diretor cogitar outros nomes, comoMatheus Nachtergaele (que Mutarelli chama de ‘Mastercard’, por não lembrar da pronúncia do sobrenome). “Mas ele também não podia, e aí começaram a cogitar alguns galãs”, explica o escritor. “Foi quando sugeri ao roteirista, André Pinho, que eu poderia fazer o papel, pois não dava para ser um galã. Eu já havia atuado outras vezes. O diretor gostou da ideia e virei o protagonista.”

Assim, o personagem de Mutarelli embarca numa viagem kamikaze com a personagem de Simone, num quarto de hotel que se torna um templo à obsessão e à nicotina – a fumaça do cigarro pode incomodar, e muito, os não-fumantes que se arriscarem a ver ‘ Natimorto’. Toda ação do filme ocorre em um quarto claustrofóbico, que pode ficar em qualquer lugar da cidade.

Mas, se no filme a São Paulo de Mutarelli é um mistério, a da vida real é desvendada pelo Divirta-se. Passamos um dia com o escritor, cujo passeio impressionou pela normalidade, revelando uma São Paulo que frequenta com a mulher e com o filho. Siga-nos rumo à cidade bem familiar desse sujeito pouco família.

Mudança de nome

Era para ser Cowboy Light, como é no livro ‘O Natimorto’. Porém, durante o processo de adaptação, os produtores descobriram que já existia uma marca de cigarro com esse nome. A opção então foi mudar o nome para Cowboi – mais divertido, a propósito. E, nas advertências do verso, há fotos de muita gente da produção do filme – entre eles, o diretor, Paulo Machline.

A São Paulo de Mutarelli
As pessoas atravessam, Mutarelli observa. Mas ele não fica parado ali. Assume a missão de ser nosso guia pela cidade que ele mais gosta.

A sorte do dia
Na entrada do Espaço Unibanco, o escritor dá as últimas baforadas antes de iniciarmos a jornada. Mas não sem antes ler a nossa sorte.

Ainda dentro da sala 4 do Espaço Unibanco, minutos antes de nos apresentar a São Paulo que lhe ‘pertence’ – algo que vai da Rua Augusta até a Vila Mariana, com uma escapada pelo Parque do Ibirapuera –, Mutarelli tratou de prever a nossa jornada. Emseu baralho de tarô, formado por maços de Cowboi, teve uma impressão inicial de que o dia seria ruim. Mas mudou de ideia – ou melhor, as ‘cartas’ mudaram.

O dia prometia ser bom. E foi. Ali mesmo, mas na nobre sala 1, o quadrinista, escritor, roteirista e hoje
mais ator do que nunca, lerá a sorte outras vezes. Só que agora em público, como protagonista do filme ‘Natimorto’, que, segundo ele, você deveria assistir no próprio Espaço Unibanco, que é o “seu cinema”.

E, para não ficar perdido quando o filme acabar – o que, a julgar pelo caráter sempre perturbador das obras de Mutarelli (como ‘O Cheiro do Ralo’), pode realmente acontecer –, ele indica por onde caminhar.
Espaço Unibanco. R. Augusta, 1.470, Cerqueira César, 3287-5590.

Subindo a Augusta rumo à Paulista
Mutarelli sempre passa pelo sebo. São assim os frequentadores desse tipo de loja: fieis. E, depois revirar livros usados, é hora de mais um cafezinho.

“É um lugar a que sempre vou” afirma Mutarelli, enquanto dá apenas alguns passos até o sebo Alfarrabista Corsarium, em uma galeria a poucos metros do Espaço Unibanco. Vai lá. Só não espere encontrar um livro dele. “Me disseram que meu primeiro álbum está sendo vendido a R$ 300!”.
Alfarrabista Corsarium. R. Augusta, 1.492, loja 8, Cerqueira César, 3284-1214.

Entre um cigarro e outro, ele para e toma um café, em pé mesmo, no quiosque do Viena, na entrada do Conjunto Nacional, já na Av. Paulista. “Sempre tomo café ali. Às vezes mais de uma vez por dia.” Na hora de almoçar, voltamos à Rua Augusta. E hesitamos entre o PF da lanchonete BH (na esquina com a Rua Luis Coelho) e o clássico beirute do Frevo – ficamos com o segundo. Ufa.
Frevo. R. Augusta, 1563, Cerqueira César, 3284-7622

Perdido no Conjunto Nacional
Ele conhece o espaço muito bem, é verdade. Mas nem por isso a visita é rápida. Passa pelas estantes devagar e só observa. Espera que algum livro o encontre.

É sem um objetivo traçado que ele passa pela entrada da loja principal da Livraria Cultura, no Conjunto
Nacional. A única coisa que sabe é que vai passar antes pela unidade dedicada aos livros de arte. “Vou bastante ali. Mas, mesmo com as grandes livrarias, ainda é muito pequeno o acervo no Brasil. Então, eu
sempre dou uma fuçada para ver se apareceu algo novo. Depois, vou ver os outros livros e os DVDs.”
Livraria Cultura. Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2.073, Bela Vista, 3170-4033.

Na oficina do traço
Ele olha para as penas (de desenho com nanquim) e as compara com agulhas de vitrola. Na Casa do Artista, perdoe a redundância, ele sente-se em casa.

Da Livraria Cultura, Mutarelli desce algumas quadras no sentido contrário, rumo ao Jardins, onde vai parar no parque de diversões que é a Casa do Artista, na Alameda Itu. Principal loja de materiais artísticos de São Paulo, a casa é um deleite para o autor, que se perde pelas prateleiras em busca de penas, tintas e papéis. “Acho que estão redescobrindo o papel. Teve uma hora em que todo mundo queria ser digital, ir para o computador. Acho que o desenho a mão está sendo redescoberto, como o vinil.”
Casa do Artista. Alameda Itu, 1.012, Jardins, 3088-4191.

Um cara normal
No final do passeio, vamos para a região onde mora Mutarelli hoje. No Parque do Ibirapuera e nas redondezas da Vila Mariana, ele mostra que é um ‘pai de família’.

Saímos da região da Paulista rumo ao início da zona sul, perto da casa do escritor. Antes de chegarmos a seu bairro, a Vila Mariana, fizemos uma pausa rápida no Parque do Ibirapuera. “Com cinco contos, você aluga uma bicicleta e faz um puta programa”, explica ao contar que vai ao parque passear com o filho de 15 anos. Do Ibirapuera vamos à Vila Mariana até chegarmos ao café Vila França, pertinho de seu apartamento, onde é recebido pelo nome e tem até conta para ‘pendurar’ seus cafezinhos. “Eu adoro o bairro. É o lugar que eu escolhi para morar. Enquanto der para pagar o aluguel, eu fico por aqui.”
Vila França. R.França Pinto, 49, V. Mariana, 5084-2281.

Longe do caos da cidade
Depois de mais de 8 quilômetros (percorridos em sete horas), voltamos com Mutarelli para a sua casa– o melhor lugar para o entendermos.

“O espaço em que eu trabalho é como uma jaula. Eu gosto de ficar preso ali. Acordo muito cedo e fico nela até a hora em que o telefone começa a tocar, lá pelas 9 e meia, 10 da manhã. É quando saio para dar uma volta na região, para reconhecer aminha geografia pessoal.”

Paulistano, Mutarelli já morou em vários lugares da cidade, mas se encontrou na Vila Mariana.“Eu nem via o quanto estava envolvido com a cidade. Ultimamente, percebo melhor o meu bairro.” Tanto que situou um de seus livros recentes (‘A Arte de Produzir Efeito Sem Causa’, 2008) na região, sem citá-la nominalmente. E conta que incluiu anônimos que encontra em seus passeios matinais. “Tem uma senhora oriental que usa um chapéu grande e anda empurrando uma cadeira de rodas vazia. Tem um outro cara que trabalha na mercearia perto de casa… Uma loja de roupas de que eu só mudei uma letra no nome…”

O que o fascina na cidade é como as pessoas se tornam anônimas. “Por mais peculiares que sejam, elas ficam invisíveis. São Paulo é uma cidade de figurantes. Todo mundo figura. Há pessoas desprezíveis que se acham protagonistas. Outro dia, eu estava no museu e um cara entrou na minha frente, como se eu não existisse. E, na cabeça dele, eu não existia mesmo. Tem muita gente assim, que se acha especial. Mas São Paulo esmaga”, diz, citando o Hulk.

Ele diz que gosta da dinâmica da Vila Mariana, que se opõe ao caos organizado da metrópole. “O ritmo de São Paulo é absurdo. Faço tudo para não ter pressa, porque ela me consome, é muito corrosiva. Prefiro ir a um supermercado do que ir à praia. Descer a serra para pegar fila para comprar pão? Não dá.”

Gente Bonita na Avenida Paulista

Muito tempo sem Gente Bonita, nem conseguimos comemorar direito os primeiros quatro anos da festa, que passaram em branco entre setembro e outubro. Mas voltamos a dar as caras neste sábado, em plena avenida Paulista, quando a Livraria Cultura do Conjunto Nacional realiza sua minivirada cultural. Além de shows, autógrafos, exposições e debates, o evento ainda terá uma madrugada voltada para a pista de dança e convidou só gente fina pra cuidar do baile noturno. A noite começa à 1h da madruga com todo o remelexo brazuca do Baile Veneno (do Ronaldo), seguido do groove cabeçudo dos Chaka Hotnightz. A Gente Bonita desfila seu preview de hits da temporada primavera 2010/verão 2011 a partir das 3h da madruga e logo depois entra a festa Boom Boom, do compadre Lucas Santtana. A madruga chega ao fim com os sets da Balada Mixta e dos broders da Funhell, que entram às 6h. Toda essa programação acontece naquela rampa da livraria pro lado de fora da loja, virado pra alameda Santos, então há o pressuposto baile, em vez da mera trilha sonora para megastore. E o melhor: é de graça. Estão todos convidados.

Gente Bonita @ Vira Cultura
Na Avenida Paulista
DJs convidados: 1h: Baile Veneno, 2h: Chaka Hotnightz, 3h: Luciano Kalatalo & Alexandre Matias (Gente Bonita Clima de Paquera), 4h: Boom Boom, 5h: Balada Mixta e 6h: Funhell.
23h45
Sábado, 27 de novembro de 2010
Local: Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Av. Paulista, 2073. São Paulo.
Preço: R$ 00

A leitura na era digital

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Os outros debates (sobre política e economia em tempos digitais) podem ser assistidos seguindo este link.