Escrevi sobre a importância de Angry Birds para o mundo digital na capa do Link de hoje. E pra quem acha que Angry Birds é só um joguinho de celular…
Febre aviária
Não é jogo ou passatempo. É uma marca. E caminha para ser uma das maiores do mundo
Aparentemente, é só um passatempo do tipo quebra-cabeças, como Tetris, Bejeweled e dezenas de outros antes dele. Mas os passarinhos irados que destroem plataformas feitas de metal, vidro e madeira habitadas por porcos verdes não só um jogo casual. Angry Birds é um dos fenômenos digitais mais sólidos do século 21 e seu criador, o finlandês Peter Vesterbacka, não mede palavras para torná-lo superlativo. Em entrevista à revista Time, comparou o crescimento do jogo – que existe há dois anos –, ao de Google, Facebook e Twitter.
O fato é que Angry Birds está presente no mesmo recorte que tais gigantes digitais, que são produtores de serviços e não de aparelhos. Como o maior site do mundo e as duas onipresentes redes digitais, o jogo feito para celular roda em qualquer dispositivo e grande parte de seu sucesso é justamente essa onipresença eletrônica. Mas, diferente de seus rivais, o jogo da Rovio não é representado por jovens nerds megalomaníacos em trajes executivos, e sim por personagens carismáticos o suficiente para já ter vida própria.
E ao transformar seu produto numa marca, a Rovio deixa sua franquia solta para seguir o rumo que quiser, mesmo que seja dos outros. “Temos de ficar felizes com o fato de que a marca é hoje a mais copiada na China”, riu Vestebacka em entrevista ao site TechCrunch, ao ser questionado sobre o fato de Angry Birds ser o título mais pirateado na China em 2011. A pergunta não se referia ao jogo, mas à marca – até um parque temático inspirado no jogo foi construído sem autorização da Rovio por lá.
O CEO acredita que a pirataria inspira novas formas de utilização do título e que sempre haverá público para consumir o produto oficialmente. “Queremos ser mais chineses que as empresas chinesas”, arrematou na mesma entrevista.
E é a China – um mundo digital inóspito a marcas ocidentais, que até o Facebook já anunciou não estar entre as prioridades de crescimento – o próximo alvo dos passarinhos raivosos. Vestebacka quer que a marca se torne a mais popular do país mais populoso do mundo.
Só em 2011, o jogo já teve mais de 100 milhões de downloads lá. Some isso a outros tantos 400 milhões de downloads no lado de cá do planeta e ao fato de somente em dezembro deste ano, a empresa ter entrado oficialmente no Japão. O ano de 2012 também é o ano em que vamos saber se Angry Birds se tornará um ícone também no país da Nintendo – uma empresa que, desde que entrou no mundo dos games no meio dos anos 70, sabe da força da marca para ser líder nos negócios. Angry Birds que habitar a mesma camada cognitiva que Super Mario e os Pokémon, Bart Simpson e Mickey Mouse.
Os números mostram que a Rovio não está para brincadeira: além dos 500 milhões de downloads em dois anos, já vendeu mais de 10 milhões de brinquedos oficiais, além de licenciar todo tipo de produto – bonecos, camisetas, mochilas, material escolar, biscoitos e até um livro de receitas para crianças.
Já se cogitou até a transformação do jogo em um filme (com trailer imaginado por fãs no YouTube, é só procurar) e isso foi fechado em parceria com o estúdio Marvel – a mesma marca de quadrinhos que se reinventou como produtora de cinema para sobreviver no século digital. Parceria é uma das palavras mágicas do sucesso do jogo. Uma de suas versões – Angry Birds Rio – foi a versão oficial do filme de animação Rio para videogames. Duas marcas convivendo juntas e ganhando bem com isso. A Rovio até criou uma versão exclusiva para celulares da Nokia, Angry Birds Magic, mas, como o sistema operacional Symbian foi desligado, a saga não decolou.
Angry Birds é o aplicativo gratuito mais baixado para iPad, o aplicativo pago mais baixado para iPhone e iPad – perceba que não é apenas o jogo mais baixado – e na lista dos aplicativos gratuitos para iPhone, só fica atrás do Facebook. No Android Market, é o jogo mais popular – e o oitavo aplicativo mais baixado.
Some a isso o fator de vício do joguinho. Ele já tomou 200 milhões de minutos de seus usuários atirando pássaros aos porcos – o equivalente a 1,2 bilhão de horas por ano de existência do jogo. A Wikipedia levou 100 milhões de horas para ser feita.
No meio do ano, a Rovio atingiu a marca de um milhão de downloads por dia e essas cifras vêm aumentando seu valor no mercado. No fim de novembro, houve o rumor de que a gigante Zynga – marca que símbolo dos jogos sociais – havia ameaçado pagar US$ 2 bilhões pela Rovio, que nem ouviu a proposta. Vesterbacka já havia declarado que o valor da empresa cogitado pela revista Forbes em julho (entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão) era baixo e que a Rovio valeria entre US$ 20 e 25 bilhões. “Mas não vamos vender, a menos que alguém ofereça o suficiente”, disse a uma revista finlandesa.
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Recomendo a leitura do texto do Douglas Rushkoff que publicamos na edição dessa semana do Link:
As novas tecnologias estão causando grandes estragos nas cifras de emprego – dos sistemas de cobrança eletrônica de pedágio a automóveis sem motoristas controlados pelo Google, que tornam os taxistas obsoletos.
Cada novo programa de computador está basicamente fazendo alguma tarefa que antes era o trabalho de uma ou mais pessoas. Com o agravante de que o computador, em geral, faz isso com maior rapidez, maior precisão, por menos dinheiro e sem nenhum custo de assistência médica.
Gostamos de acreditar que a resposta apropriada é treinar as pessoas para trabalhos de níveis mais elevados. Em vez de coletar pedágios, o trabalhador treinado ajustará e programará robôs coletores de pedágio. Mas as coisas não funcionam realmente assim, já que não são necessárias tantas pessoas quanto as que os robôs substituem.
E aí o presidente Obama vai à televisão nos dizer que a grande questão de nosso tempo é empregos, empregos, empregos – como se a razão para construir ferrovias de alta velocidade e consertar pontes fosse recolocar pessoas no mercado de trabalho. Vejo algo de retrógrado nessa lógica. E me pergunto se não estaremos aceitando uma premissa que merecia ser questionada.
Temo até fazer essa pergunta, mas desde quando o desemprego é um problema de fato? Entendo que todos queremos pagamentos – ou ao menos dinheiro. Queremos comida, moradia, roupas e tudo que o dinheiro compra. Mas será que todos queremos realmente empregos?