• Canal Livre • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Além da televisão • Redes sociais só para os íntimos • Google Now: Ajudante intrometido • No arranque (Filipe Serrano): Proteger empresa com ameaça vai contra princípio da internet • Andrew Keen e a rede desorientada • Eleição no mural • Impressão digital (Alexandre Matias): As eleições podem acelerar a desimportância do Facebook •
Já tinha tocado nesse assunto e voltei a insistir em como as eleições podem acelerar o cansaço em relação ao Facebook, no Brasil, na minha coluna desta edição do Link…
As eleições podem acelerar a desimportância do Facebook
Um ou dois temas monopolizam o feed
Alguns amigos e conhecidos meus abandonaram o Facebook. Cada um por um motivo diferente ou específico.
Não chega a ser uma onda como a de orkuticídios que começou quando a primeira rede social de sucesso no Brasil se popularizou demais (antecipando o termo “orkutização” que já abordei em colunas passadas). Mas são insatisfações diferentes que fazem muita gente deletar a própria conta ou abandoná-la.
Há quem não confie no fato de um único site centralizar tantas informações sobre tanta gente. Há quem se sinta incomodado com o incessante clima de oba-oba do site – curtições, fotos sorridentes, paisagens, viagens, festas. Há quem discorde das políticas de privacidade da rede social. Ou quem não goste do aplicativo do Feice para o celular. Ou quem cansou do humor nonsense ou das discussões intermináveis. Ou dos perfis falsos. Ou quem não quer manter toda sua vida em um único ambiente, permitindo que parentes, colegas de trabalho e amigos de infância se encontrem num mesmo lugar. Ou de gente que se aproveita do conforto da rede social para destilar ódio, inveja ou preconceitos de toda a ordem. Há quem também não goste de ser tratado como produto ou do excesso de publicidade na rede (que, na minha opinião, é o que vai acabar com o Facebook – não matando, mas o tornando desimportante).
Uma coisa é praticamente consenso inclusive entre os que resolvem continuar no Facebook: existe uma monótona rotina relacionada a um ou dois temas que acabam dominando o feed em uma rede de quase um bilhão de pessoas. Na semana passada, o Facebook anunciou que está às vésperas de atingir essa quantidade de usuários (foram 955 milhões em junho, segundo o instituto de pesquisa norte-americano Nielsen).
Você sabe. Basta entrar na rede social para ver um link que foi postado por dois ou três amigos. Dependendo do teor da notícia, é fácil prever que durante o resto do dia (e da semana), esse link será compartilhado por mais um tanto de outros usuários da rede. Tanto faz se é um vídeo, uma notícia, uma foto ou um tweet redirecionado.
O desdobramento desta primeira etapa são discussões intermináveis em que dois ou três usuários da rede – e amigos seus que, na maioria dos casos, só vão se cruzar porque são seus amigos – monopolizam o debate, deixando a discussão em segundo plano e partindo para ataques pessoais grotescos. Lá pelo trigésimo comentário o tema original da discussão já era. Assistimos a um ataque verborrágico de gente disposta a mudar o ponto de vista alheio a partir de uma discussão pela internet.
E nesta terça-feira começa o horário eleitoral em todo o Brasil e, com ele, efetivamente, as eleições de 2012. Isso significa que não bastasse ter de aturar todo o tipo de gente implorando por seus votos em cartazes, jingles, carros de som, faixas e pichações, ainda vamos ter o desprazer de ver amigos e conhecidos nossos – uns mais prezados que outros – transformando-se em cabos eleitorais amalucados, debatendo questões secundárias ou risíveis para justificar suas preferências políticas.
Idealmente, o Facebook seria uma arena perfeita para um debate político civilizado. Mas, se nem mesmo na televisão os principais candidatos conseguem manter a compostura, o que podemos esperar de eleitores que perdem as estribeiras para tentar aparecer ou convencer o outro de que seu ponto de vista é o melhor?
Por isso, vejo quatro opções desenrolando-se nos próximos meses. Na primeira, continua-se no Facebook e recebe-se uma enxurrada de santinhos digitais, todos eles lutando pela sua atenção, aos berros. Noutra, continua-se usando a rede, mas aprendendo a utilizar os recursos apresentados pela repórter Anna Carolina Papp na matéria nesta edição do Link – usando as ferramentas que a própria rede social oferece para conter a avalanche de opiniões alheias. Numa terceira, simplesmente deixa-se de usar o Facebook enquanto a eleição não termina. E na quarta, finalmente, abandona-se a rede social de vez.
Algo me diz que a última opção vai ser cada vez mais popular…
• Sem sinal • Qualidade é obrigação, não propaganda • A fórmula musical do SongPop • O Vale dentro de uma bolha • Impressão digital (Alexandre Matias): A internet e a encruzilhada entre o consumidor e o cidadão • Segurança ultrapassada • Dicas para proteger suas contas de ataques • Firefox OS: Mais leve e barato • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Mesma marca, aparelho novo • P2P (Tatiana de Mello Dias): Lei antipirataria da França é desperdício de dinheiro • Amazon não dá datas para Brasil, Ucrânia fecha site de torrents e Acer não quer tablet da Microsoft •
Na edição desta segunda do Link, falei sobre um dos principais dilemas do século digital.
A internet e a encruzilhada entre o consumidor e o cidadão
O mercado nos distrai de interesses reais
Duas matérias nesta edição do Link abordam assuntos aparentemente distintos: a matéria de capa, assinada por Tatiana de Mello Dias e Murilo Roncolato, fala dos problemas que usuários da telefonia móvel no Brasil têm com a péssima qualidade dos serviços das operadoras no País – que a revista inglesa Economist cogitou ser o equivalente do governo Dilma ao apagão elétrico do governo Fernando Henrique Cardoso. Outra matéria, do repórter norte-americano Farhad Manjoo, conta a assustadora história de como o repórter da revista Wired Mat Hanon, em quinze minutos, perdeu o controle sobre todas as suas contas digitais graças ao ataque de um hacker amador.
As duas situações parecem apenas descrições de problemas modernos, que não existiam há quinze anos. Mas, na verdade, são desdobramentos ágeis de uma tendência que atravessou todo o século 20 e foi reforçada nas últimas décadas até ganhar força e velocidade graças aos meios digitais: a lenta transformação do cidadão – e de seus direitos – em mero consumidor.
Isso é bem preocupante. Afinal, todos os direitos do cidadão, uma das principais provas da evolução da humanidade, são substituídos pelos direitos de quem tem dinheiro para pagar pelas coisas. Esta mercantilização da cidadania foi acelerada com o movimento que aconteceu logo depois da criação da World Wide Web, que completou 21 anos há uma semana. O engenheiro inglês Tim Berners-Lee criou o padrão que permitia acessar à internet (que existe desde os anos 60) sem a necessidade de digitar comandos ou de conhecer sites específicos, o que abriu espaço para o surgimento dos programas da navegação gráficos, primeiro com o Netscape e depois com o Internet Explorer. Foi a partir daí que a internet deixou de ser uma rede de contatos entre acadêmicos e entusiastas da tecnologia para ganhar o mundo.
E na metade dos anos 90, houve o primeiro salto de popularidade da rede, quando a maioria das pessoas descobriu que existia “um negócio chamado internet”. E, neste mesmo momento, empresas entraram online, ajudando a batizar essa primeira safra de “o início da internet comercial”.
A partir disso, a popularização da rede quase sempre esteve associada à criação de novas empresas ou como empresas que existiam antes deste momento souberam aproveitar-se desta nova realidade. E, como empresas fazem, entraram nessa para ganhar dinheiro. Até mesmo empresas que não cobram pela utilização de seus recursos – como o Google e o Facebook, por exemplo –, acabam cobrando outro tipo de moeda de seus consumidores: seus próprios dados pessoais. Ecoa na rede um novo ditado que é muito preciso: “Quando você não paga por nenhuma mercadoria, a mercadoria é você”.
Governos e instituições não-comerciais levaram mais tempo para entender a nova realidade e alguns ainda tateiam no escuro. Mas, como as empresas e a lógica comercial dominaram a internet nos seus primeiros dias de maior popularidade, questões de cidadania ficam em segundo plano em relação a questões de mercado.
(E antes que algum neoludita venha reclamar que isso “só poderia acontecer por causa dos computadores e da internet”, lembre-se que o sistema financeiro sabe muito mais sobre cada um de nós – e bancos estão aí há muito mais tempo.)
Por isso a atenção que damos, no Link, a temas como privacidade, à criação de novas leis, à forma como governos e empresas lidam com a inevitável inclusão digital, o futuro dos direitos autorais. Questões políticas que podem parecer tediosas e complicadas, ainda mais se comparadas a tweets engraçadinhos, computadores elegantes, smartphones encantadores, serviços online práticos e úteis.
Temas que podem não ter o apelo sedutor da internet comercial, mas que devem ser acompanhadas de perto, para que a política – e a noção de cidadania – não caia por terra de vez como já acontece na vida offline. Ninguém disse que iria ser fácil…
• Software livre: Em toda parte • Outra lógica • Inimigo digital (Alexandre Matias): O software livre está no centro do avanço tecnológico • Procurado• Homem-Objeto (Camilo Rocha): Sistema integrado e Mais Potência • No Arranque (Filipe Serrano): A essência do BuzzFeed é fazer conteúdo se espalhar pela rede • Outlook.com: Um novo e-mail • Vida Digital: Tulipa Ruiz • Menos óbvio, mas ainda ensolarado
Aproveitei o tema da capa desta semana do Link para falar um pouco sobre software livre.
O software livre está no centro do avanço tecnológico
E sua expansão está apenas no começo
Embora já exista há décadas, não faz nem dez anos que a mentalidade open source e o conceito de software livre começou a se popularizar de fato. Até o início da década passada, era bem difícil encontrar quem entendesse a lógica por trás destas ferramentas – e muito mais difícil quem as utilizasse. Mesmo os que tentavam se aventurar por este universo à parte, se não soubessem nada de programação ou computação, penavam entre códigos, interfaces e comandos.
Mas, de dez anos para cá, o que antes era uma realidade completamente diferente começou a se aproximar da que vivemos. Primeiro pelo simples fato de que o universo digital se impôs até para quem era avesso à utilização de qualquer tipo de máquina. A sensação de que “todo mundo virou nerd” (um clichê repetido como uma espécie de repulsa à onipresença digital) forçou muita gente a perder o medo do computador e entender que estas máquinas, que eram vistas por muitos como aparelhos feitos para nos controlar, são as ferramentas mais sofisticadas desenvolvidas pela espécie humana, que se caracteriza justamente pela invenção de ferramentas.
Mas isso é apenas uma parte da história. A outra está na ponta de lá, entre os entusiastas do software livre que, a partir do Linux criado há mais de vinte anos, entenderam que era preciso tornar mais intuitiva e amigável a utilização das ferramentas caso quisessem atrair mais gente para sua comunidade.
O resultado deste esforço foi a criação de sistemas operacionais menos complexos e abertos para quem nunca se dispôs a entender a parte técnica do uso de computadores. Isso não só fez mais gente encarar a novidade com menos temor (como fez a repórter Tatiana de Mello Dias, como ela mesma conta em seu relato nesta edição), como fez mais gente se dispor a aprender a programar.
No entanto, o que tem tornado o software livre e a lógica do open source mais presente e menos complexa não está nem tanto ao céu do idealismo de quem lida com estes conceitos há anos nem tanto à terra dos “novos nerds” – e sim entre este dois universos, graças à ascensão de tendências e empresas decorrentes da popularização da realidade digital deste começo de século.
Afinal, o Google é um dos principais responsáveis pela popularização deste conceito, ao trabalhar em plataformas abertas. A mesma lógica de API abertas que tornou tanto o Facebook quanto o Twitter gigantes de popularidade também veio do software livre. Até mesmo empresas fechadas como a Apple, ao criar a economia dos aplicativos, também abriu a possibilidade de mais gente tentar entender de programação.
A febre das startups talvez seja a principal tendência destes últimos anos, quando falamos de software livre. Os programadores deixaram de ser vistos como criptólogos antissociais e aos poucos passaram a ser cortejados por suas habilidades, mudando o perfil destes entusiastas e a forma como eles são encarados agora pelo mercado. Foi-se o tempo em que software livre era praticamente sinônimo de “comunista” (as aspas se referem ao tom pejorativo da crítica do passado) e hoje lidar com open source é uma credencial que gabarita muito empreendedor.
Mas esta tendência não deve parar tão cedo – e deve caminhar para um momento em que escrever programas deixe de ser uma atividade essencialmente técnica para entrar em nossa rotina. Programadores gostam de dizer que escrever código é uma arte e o auê em torno das startups já fez muita gente comemorar que a programação de software é o “novo rock’n’roll”.
Mas é questão de tempo para que a lógica não-proprietária de programação habilite cada vez mais gente para entrar neste universo e comece a pegar gosto pela linguagem e pelo assunto. E, aí sim, pode ser que veremos programas que são verdadeiras obras de arte – mesmo que não saibamos programar. Afinal, reconhecemos que alguns carros ou instrumentos musicais são ícones culturais mesmo sem entender sua parte técnica. No futuro, isso ocorrerá com os softwares também.
E eu falei sobre essa tal “camada social” que estamos assumindo na minha coluna do Link dessa semana, que foi um especial sobre redes sociais.
Dicas para lidar com a onipresença das redes sociais
A distância entre online e offline está diminuindo
Na manhã da quinta-feira da semana passada o Gtalk morreu. Ficou sem funcionar por algumas horas, sem nem sequer exibir a velha mensagem em inglês “…And we’re back!” tão característica dos curtos momentos de ausência do programa de troca de mensagens do Google. Mas na semana passada o programa não voltou a funcionar tão rápido. Entrou a tarde da quinta-feira e nada do bicho voltar ao ar. Era um mau sinal.
Caiu a noite e, com ela, caiu o Gmail. O serviço de buscas do site ia e voltava, sem manter nenhuma estabilidade. O YouTube carregava pela metade – os vídeos relacionados não apareciam, apenas o vídeo principal, que só carregava nos primeiros minutos e depois travava. O Google Images não funcionava. Por instantes, cogitei que a pauta que mais temo depois da morte de Steve Jobs pudesse se concretizar – e o Google tivesse parado de funcionar de vez.
Não foi o caso. O bug no Google Talk obrigou a empresa a mexer em seus serviços deixando-os instáveis por toda a quinta-feira – e isso apenas para parte de seus usuários. Outros nem sentiram a alteração. Na madrugada de quinta para sexta, a situação havia se normalizado e os serviços voltaram ao normal.
Mas entre quinta e sexta eu precisava falar com a artista plástica Pacolli, que mora em São Francisco, nos Estados Unidos, e fez as ilustrações desta edição. Meu contato com ela era via Gmail e não sabia do alcance da pane no webmail do Google. Bateu aquele micropânico típico de quando a internet sai do ar. Mas logo lembrei do Facebook e do Dropbox – e antes dos serviços do Google voltarem a funcionar.
(Antes que algum saudosista comece a lamentar sobre a fragilidade da internet e de como era bom no tempo em que só existiam mídias físicas, antecipo-me para comemorar a felicidade que é trabalhar em jornalismo à medida que a internet vai se popularizando. Já passei por redações offline ou da era da conexão discada e isso é uma realidade que, por mais que os nostálgicos suspirem sobre como era romântico naquela tempo, nem sequer cogito em retornar.)
Começo a editar a matéria que a repórter Tatiana de Mello Dias escreveu para esta edição especial sobre redes sociais. Logo no início de seu texto, ela fala sobre nossa compulsão por nos fazermos presentes online, que caminha junto à nossa insegurança em relação ao que podem saber sobre nós mesmos apenas a partir do que publicamos online.
É um dilema moderno, e Google e Facebook insistem em dizer que a privacidade acabou. Mas não é bem assim.
Por um lado, estamos sim despejando informações sobre nós mesmos sem perceber. Por outro, estas mesmas informações facilitam bastante a utilização de serviços e ferramentas digitais em nosso dia a dia.
Qual é a melhor saída, então? Ficar completamente offline? Escolher a rede social que melhor se encaixa em seu perfil e especificar bem o que publica lá? Entender que o mundo agora é assim mesmo e não se preocupar com nada que você coloca na internet?
Todas essas saídas são soluções radicais e não parecem ser o melhor a ser feito. As redes sociais, como Tati explica em sua matéria ao entrevistar diversos especialistas, já fazem parte de nosso tecido social. Sair delas é mais ou menos o equivalente a não andar a pé na rua ou não sair de casa à noite. As pessoas – físicas ou jurídicas – estão lá, aos montes. E continuarão entrando.
Creio que o segredo está no entendimento de como cada rede funciona de acordo com seus hábitos. Não há motivos para ter uma conta no Last.fm se você não escuta música no celular ou no computador. Como também não faz sentido ter uma conta no Instagram se você não gosta de tirar fotos.
A internet em si é uma rede social e este “momento redes sociais” que vivemos há dez anos há de ser diluído entre milhares de serviços e sites. Se usasse apenas a rede do Google, talvez não conseguisse falar com Pacolli nem receber suas ilustrações a tempo do fechamento desta edição. As principais dicas sobre o uso de redes sociais valem para quase tudo na vida: use com moderação e prefira a variedade.
• 100% conectado • Qual é a sua? • O futuro da rede social • Impressão digital (Alexandre Matias): Dicas para lidar com a onipresença das redes sociais • A tecnologia fora do caminho • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Uia! – conheça o console Ouya • P2P (Tatiana de Mello Dias): Dinamarca reconhece: pirataria também pode trazer inovação •
E neste especial de redes sociais, chamei a Pacolli pra fazer as ilustrações para o caderno, dá uma sacada neste link.
Ficou demais.
Na edição dessa semana do Link, publicamos um texto do Cory Doctorow em que o editor do Boing Boing fala sobre o porquê do papel central da música, desde o Napster, na discussão em relação às liberdades digitais:
Então, por que a indústria musical continua a ser vista como o bicho-papão das disputas políticas da internet? Brown chamou o ato de baixar músicas de “o pecado original da internet”, imaginando que continuaremos a falar de música por bastante tempo.
Acho que ele está certo. A música existe num ponto especial de intersecção entre o comércio e a cultura, entre o esforço individual e o coletivo, entre a identidade e a indústria, e entre o digital e o analógico. Ela é a forma de arte perfeita para criar uma controvérsia infinita na internet.