Irã 2.0


De verde, jovens protestam nas ruas do Irã (foto: AP)

Escrevi dois textos pra matéria de capa do Link de hoje:

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Da rua para a rede, da rede para a rua

Protestos no Twitter e em Teerã mostram a força da mobilização online e reforçam a importância política dos meios digitais

Começou, veja só, no Twitter. Após o resultado da eleição para a presidência do Irã ter sido anunciado e sua veracidade ser posta em xeque por entidades internacionais, o país passou a restringir o acesso de correspondentes estrangeiros em suas fronteiras e a cortar as comunicações de sua população com o resto do mundo. O interesse mundial se agravou de tal forma que fez aparecer, no domingo passado, uma nova hashtag na rede de microposts: #IranElections.

Ela surgiu acompanhada de outra, chamada #cnnfail, que ironizava o fato de a emissora de notícias americana CNN não estar cobrindo a situação como deveria. Na segunda-feira, a CNN – motivada ou não pelo Twitter, a emissora não comentou – passou a dar mais espaço para o tema em sua programação. E os usuários do Twitter passaram a mudar os fusos horários de seus perfis para o de Teerã, para confundir o governo de lá, ao mesmo tempo em que pintavam suas fotos de verde, a cor do país, em solidariedade à causa iraniana.

Isso foi só o início de uma reação em cadeia que transformou não apenas o Twitter, mas as principais comunidades da web 2.0 (Facebook, YouTube) em canais de comunicação entre o Irã e o mundo. Logo, iranianos estavam nas ruas, protestando contra o presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad ao mesmo tempo em que filmavam, fotografavam e reportavam tudo para o resto do mundo via web.

Não é a primeira vez que os meios digitais são usados para difundir causas que não têm destaque na mídia tradicional – pelo contrário. Remonta ao mexicano Subcomandante Marcos, passa pela “Batalha de Seattle” em 1999, pelos protestos contra a invasão do Iraque pelo governo Bush no mundo inteiro e culmina na surpreendente campanha online que levou Barack Obama à presidência dos EUA. E quando até parlamentares brasileiros aderem ao Twitter para estreitar suas relações com seu eleitorado, uma coisa é certa: a internet está trazendo a política de volta para as ruas.

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Entrevista: John H.D. Downing

Há trinta anos pesquisando o impacto da mídia e da comunicação na política, o inglês John H. D. Downing é autor de Mídia Radical (Ed. Senac), em que traça diferentes movimentos políticos pelo mundo que começaram como pequenas manifestações regionais e localizadas para, a longo prazo, ganhar proporções globais – e os exemplos vão do movimento ambientalista à Anistia Internacional e ao movimento europeu pelas rádios livres. Diretor do Centro de Pesquisa de Mídia Global na SIUC, nos EUA, ele tem acompanhado a evolução de causas políticas com a internet com atenção e falou com o Link por telefone, de Paris.

Qual a principal diferença entre o Irã em 1979 e o que está acontecendo hoje?
Em termos de tecnologia, houve algo mais ou menos parecido em 1979 com os gravadores portáteis, que eram usados para gravar o que estava acontecendo no país e mostrar para o resto do mundo.

Mas quando o ‘gravador’ de hoje em dia – o celular – consegue filmar e tirar fotos…
Tudo muda. A comunicação através do Facebook, do Twitter e outras redes sociais é imediata, ao contrário dos gravadores que tinham de ser usados secretamente. O outro uso da internet além do celular acontece em lan-houses, que dão um fator social muito mais dinâmico ao movimento. O lugar onde as pessoas estão postando estas informações é um ambiente coletivo e público, elas não estão isoladas em suas casas. E ainda há o fato de que grande parte da população das grandes cidades no Irã hoje é formada por jovens, gente com menos de 25 anos. Isso tem um impacto tremendo neste aspecto urgente que estamos vendo. Quando estas três coisas acontecem, fica ainda mais evidente a importância da internet hoje.

Seria possível algo desta natureza acontecer na primeira eleição de Bush, no ano 2000?
Creio que não. Primeiro, há uma questão cultural, que faz que as classes que atingiram certo nível econômico nos EUA não tenham o hábito de protestar por nada. Mas isso é algo que tem mudado: nos últimos 30 anos, uma grande parte da população do país pode estudar até a universidade, muitas mulheres estão entrando em áreas que eram dominadas apenas por homens e acredito que isso vá mudar a dinâmica desta cultura.

É possível pensar que o processo político pode ultrapassar o conceito de representação parlamentar? As pessoas podem substituir o congresso, quando todos estiverem online?
Não gosto desta ideia, pois existe uma grande possibilidade deste resultado ser manipulado. Na minha opinião, o exemplo mais recente disso que vimos foi a manipulação da eleição californiana sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo. E isso foi apenas um referendo, sobre um tema. Imagine envolvendo várias questões.

A internet está despertando a consciência política das pessoas?
Sim, e em muitos níveis. Um deles diz respeito àquele tipo de situação que já ouvimos falar, em que duas pessoas podem jogar um mesmo jogo ou frequentar uma comunidade online, em partes diferentes do mundo, com idades diferentes e mesmo assim conseguem manter um diálogo – que pode ou não continuar fora do jogo. Isso é um nível. Mas quando entram em pauta essas redes sociais, estamos falando de algo que é complementar à interação pessoal, cara a cara. E a internet torna-se cada vez mais complementar às nossas vidas.

Link – 15 de junho de 2009

Música socialBrasil pode ter sua própria ‘lei Sarkozy’‘Pirataria’ cresce como causaProvedores de acesso também reagem contra o projeto de leiCada vez mais sozinhos ou mais conectados?Há 30 anos, walkman fazia a música andar‘O universo musical é mais rico hoje que antes da web’Há 10 anos, Napster tornava a web socialThe Sims 3: Eles precisam de você para viver, se relacionar – e até se vestirClássico dos games de boxe volta em versão de tirar o fôlego – mesmo!Twittermania!Vida Digital: Matheus Souza (Apenas o Fim)

Música social

Cada vez mais compartilhada, a música do século 21 mudou nossos hábitos e a internet; mas a lei ainda não acompanhou essas mudanças


Todos de fone de ouvido em festa silenciosa na Virada Cultural de 2008 (foto: Mônica Bento/AE – 26/04/2008)

Nunca se fez tanta música quanto hoje. As possibilidades abertas a quem não tinha recursos ou técnica para fazer música permitiram que gerações inteiras finalmente pudessem produzir sua própria trilha sonora.

Seja criando música nova, remixando hits do passado ou regravando velhas canções, pessoas de diferentes faixas etárias se descobriram artistas e puderam finalmente reconhecer-se como músicos, independentemente de profissionais ou amadores. Mais: com a internet, essa produção passou a ser ouvida por gente que não tinha outros canais senão o rádio, o show e a loja de discos para descobrir e curtir música nova.

Ao mesmo tempo, nunca se ouviu tanta música quanto atualmente. A mesma rede que permitiu que músicos finalmente tivessem acesso direto a seu público fez que cada vez mais pessoas ouvissem cada vez mais música.

Hábitos como garimpar raridades, gravar fitas cassetes (ou CD-R) com músicas escolhidas a dedo e até mesmo manter uma coleção de discos foram acelerados pela rede de tal forma que praticamente foram reinventados.

Em vez de prateleiras, falamos em gigabytes; disco raro é aquele que nunca saiu da casa – ou da cabeça – de seu autor.

Assim, aos poucos, um termo técnico que designa a forma de adquirir um arquivo digital da rede tornou-se praticamente sinônimo de música nesta década: o download. Graças à popularização do MP3, iniciada há exatos dez anos, baixar música virou uma atividade rotineira e um hábito típico de nossos tempos.

Mas esse monte de gente produzindo e ouvindo música não está isolada em seus computadores ou em seus fones de ouvido, mesmo porque isso não é novidade – o marco zero deste isolamento musical, a invenção do walkman, completa trinta anos este mês.

E o mesmo ponto de partida para a música digital como a conhecemos hoje – a criação do Napster, o primeiro software de compartilhamento de arquivos sonoros digitais – também deu origem a uma nova forma de se ouvir música.

Se o rádio, a loja de disco e a gravadora aos poucos se tornam obsoletos, a internet oferece opções que vêm sendo abraçadas por milhões de pessoas, que estão descobrindo músicas que nunca ouviram e mostrando-as umas às outras.

O download ilegal ainda é um problema no que tange os direitos autorais e várias iniciativas têm insistido em punir uma prática que já é corriqueira.

Numa época em que ouvir música torna-se uma atividade cada vez mais social, resta achar uma solução que recompense quem produz mas que não puna quem ouve.

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Há 10 anos, Napster tornava a web social

Shawn Fenning só queria ouvir as músicas que seus amigos guardavam em seus PCs – e também permitir que eles ouvissem as suas. Entediado com a faculdade que fazia, começou a escrever um software que permitisse essa troca de arquivos em janeiro de 1999. Ele tinha acabado de completar 18 anos e, poucos meses depois, no início daquele junho, há dez anos, terminou o programa, que batizou com seu próprio apelido (“Napster” quer dizer algo como “dorminhoco”). Distribuiu para uns amigos e, como quem não quer nada, mudou a história da música – ao mesmo tempo em que resgatou um dos cernes da rede – seu aspecto social.

Voltando mais no tempo, quando o criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, tornou público seu projeto, o fez postando uma mensagem num fórum de notícias, no dia 6 de agosto de 1991. Nela, anunciava que “estamos muito interessados em espalhar a web para outras áreas (…). Colaboradores são bem-vindos!”

Sem querer, Shawn Fenning repercutiu a mensagem do criador da web para o planeta. E se no início dos anos 90 a rede apareceu como uma forma de facilitar a troca de dados e informações, no final da década esta troca seria acelerada graças à popularização do MP3.

Mas trocar músicas era só o começo. Logo o mundo compreendeu que a música poderia funcionar longe do disco, coisa que a indústria fonográfica não quis entender – o que a levou a processar seus próprios clientes e abrir espaço para a Apple, uma empresa sem tradição no mercado de música, tornar-se líder em comercialização de música digital.

Fenning não inventou apenas um software. Com o Napster, ele sublinhou que a rede não é compostas de máquinas que se conectam a grandes servidores – mas também de computadores que podem se conectar entre si sem precisar passar por um computador central. E que esses computadores são pilotados por seres humanos que querem conhecer não só mais músicas, mas outros seres humanos. Não é exagero: ao liberar a possibilidade das pessoas trocarem MP3 entre si, o Napster foi o embrião daquilo a que chamamos de “rede social” – que, na verdade, é uma metáfora para a própria web.

Afinal, a internet é social. E Fenning nos lembrou disso há dez anos, quando resgatou um verbo que estava um tanto em desuso e que tem sido vilanizado pelos motivos errados: compartilhar.

Link – 8 de junho de 2009

Todo mundo joga videogameJogar para se divertirSem perceber, você joga videogameGames só para diversão? Está na hora de rever seus conceitosE3 retoma o fôlego e mostra força nos gamesNovo videogame dispensa discosPre, pronto para reviver a Palm?A casa de Steve Jobs e a vida no Vale do SilícioVida Digital: Móveis Coloniais de Acaju

Link – 1º a 7 de junho de 2009

A internet inevitávelGoogle e Ministro das Comunicações desfazem mal entendidos; Andrew Keen comentaRede ajuda a manter relacionamentos (82% dos brasileiros dizem que seus relacionamentos melhoraram com a internet)E se um dia você acordasse e não houvesse internet?Celulares tiram web do computador (Até o fim do ano deve haver um celular por brasileiro) e Como um hobby pode mudar sua profissão – e toda sua vidaTalentos revelados via internet não incluem apenas artistas, mais entrevistas com Nelson Motta e Eugenio BucciEleição de Obama simboliza relação entre política e web; sem internet, o Brasil trava; mais entrevistas com Teatro Mágico, Sérgio Amadeu e Soninha FrancineComunidade de internautas revoluciona a televisão e o problema da piratariaA internet é formada por pontos de vistaBing é nova arma da Microsoft para enfrentar o GoogleE3 mostra reação do mercado de gamesWave quer reorganizar colaboração via internetNovo site dá início a mudanças no ‘Link’

Link – 25 a 31 de maio de 2009

Oferta muda perfil de consumidores de eletrônicosUpgrade tecnológico cria geração de compulsivosDesencanados digitais usam aparelhos até o fimDiferença de perfis é evolução do mercadoHábitos refletem a sociedade conectadaJeitinho prolonga a vida útil de aparelhosUma câmera com 26x de zoomLei Azeredo põe em risco liberdades individuaisJosé Serra no Twitter, pane na Fnac e números do YouTubeVida Digital: Cronópios

Link – 18 a 24 de maio de 2009

Novos hábitos de busca onlineGoogle e Yahoo reinventam mecanismos de procuraDiferentes formas de se encontrar algoOutros buscadoresMicrosoft faz mistério – e comprasCom o celular, Google quer fazer pesquisas até no céuQuando a busca leva em conta a localizaçãoNovo buscador traz respostas e não linksQuem é o pai do WolframAlphaBuscadores que prometeram, mas…Brainstorm, não buscaSites adaptam internet para o celular • Prévia de games: Batman – Arkham Asylum e The Sims 3O novo Kindle e a pirataria digital de livrosDownload de filmes no Brasil, leis contra pirataria ficam mais duras em vários países, Google Street View é banido na Grécia e guatemalteco é preso por causar pânico via TwitterVida Digital: Andrea Ortega (diasdeencierro.org)

Link – 11 a 17 de maio de 2009

Kindle DX: o iPod do papel?Amazon fecha acordo com editorasComo foi a repercussão do lançamentoJornais e o KindleNa Europa, outro e-reader vem com 800 jornaisSem capa, como julgar a pessoa pelo livro que ela lê?DX também fala – e chama Obama de ‘Black Alabama’O e-reader reproduz a sensação do papel?Outros dispositivos vêm aíEntenda a tecnologia do papel eletrônicoNo Japão já existe um modelo com tela em colorida e sensível ao toqueMicrosoft libera Windows 7 de graça por 13 mesesTwitter segue passo da popularização do Orkut no Brasil‘Fantasmas’ inflam novos líderesComo a Guerra Fria e os hippies criaram a internetTrote usando a Wikipedia, Blu-ray bem nos EUA, Google travado e brasileiro passa 26 horas online por mêsVida Digital: Paulo Blikstein

Link – 6 a 12 de abril de 2009

A rede social e a sala de aulaPerguntar + responder + discutir = aprenderJuntando alunos de vários paísesProfessor sai do centro da sala‘Aula tradicional não reflete complexidade do mundo atual’, diz pesquisador‘Próxima geração terá jornalismo irreconhecível’, diz Jonathan Mann, jornalista e âncora da CNNCombalidos, veículos impressos reagemO que fazer quando o Wi-Fi falhar‘New York Times’ e o futuro dos jornais: ser ousado é a nova regraVida Digital: Laís Bodanzky

Link – 30 de março a 5 de abril de 2009

A primeira década da cultura digitalO papel da ficção científica1999: o ano que não terminou10 anos depois, Matrix ainda vivePopularização do digital levou até Bill Gates à foliaEscolha o plano de celular de acordo com o seu usoA próxima revolução virá dos países emergentesResident Evil 5O Vale do Silício e o carro elétricoVida Digital: Hermeto Paschoal