O “jornal do futuro” esqueceu de publicar em sua versão online ao cartum que o Rafael Campos da Rocha reagia à descrição que eu fazia de seu trabalho num post natalino do fim do ano passado (essa eu curti, Rafael, ficou engraçado). Tive de esperar a publicação no blog do artista para não ter que reproduzi-la numa foto tirada com celular (Helô até sugeriu tirar foto com Instagram, mas eu sou menino, uso Android). Irônico esse lapso acontecer na edição em que o caderno que publica a polêmica sobre o livro do Nicholas Carr, que outro Rafael, o Cabral, entrevistou no Link no ano passado (e também publicamos o artigo de Steven Pinker citado no texto do caderno da “concorrenssa”).
E a minha coluna de ontem no 2 foi sobre aplicativos, antecipando o especial que fizemos nesta segunda-feira no Link…
Outros programas
Vivemos a era dos aplicativos
Houve um tempo em que dizia-se que o celular não era só um telefone móvel, mas também um dispositivo portátil de acesso à internet. Esse tempo já era. Estamos vivendo uma fase de transição que culmina com a extinção do computador pessoal, mas que começou justamente com a possibilidade de conectar um aparelho portátil à internet, inaugurado para as massas quando Steve Jobs apresentou o iPhone para o mundo, em janeiro de 2007.
O clichê que chamava o aparelho de “supertelefone da Apple” levava a crer que a revolução acontecia no hardware do celular, enquanto na verdade a grande novidade era seu sistema operacional, que funcionava online. Assim, seus programas ofereciam muito mais do que se fossem apenas instalados no próprio aparelho. Online, esses programinhas – chamados aplicativos – deixavam de fazer tarefas simples para ganhar funções impensáveis até mesmo para tradicionais programas de computador.
Fácil entender o porquê. Uma vez móvel, o aparelho ganhava qualidades impossíveis de serem aproveitadas num computador de mesa. Para começar, a mobilidade do aparelho permitia usar programas em que sua localização – e, portanto, de quem o usa – pudesse ter alguma utilidade. O mesmo pode ser dito aos sensores de movimento, que fazem o celular perceber se, por exemplo, você está o segurando com a tela na vertical ou horizontal. Una isso à câmera que filma e fotografa, microfone, sensores de luminosidade, a tela sensível ao toque e o fato de caber no bolso e, voilà, os programas de celular são muito melhores que seus companheiros dos velhos PCs.
Vivemos uma era em que o celular não é mais só um aparelho para fazer ligações ou conectar-se à internet. Com programas específicos, ele se metamorfoseia em todo tipo de ferramenta. Há aplicativos para achar o carro no estacionamento, que traçam o percurso que você precisa percorrer para chegar a algum lugar, que diz quais constelações estão acima de sua cabeça, que convertem medidas e moedas, que permitem edição de fotos e vídeos, entre um sem-número de opções.
A chegada dos tablets, que também usam esses aplicativos, e a popularização dos smartphones (celulares que acessam a rede) tornam esses programinhas cada vez mais onipresentes. E para quem quer saber por onde começar e quais os mais úteis e fúteis (afinal, lazer também está na agenda do celular móvel), basta ler a edição desta segunda do Link, o caderno de tecnologia e cultura digital do Estadão, que traz um guia para quem quer entrar nessa nova realidade móvel.
Na edição da semana do Link, pedi pra equipe do caderno comentar sua relação com os aplicativos e não poderia fugir de comentar meu vício portátil favorito, as enfezadas aves kamikazes e os malditos porcos verdes!
Nada vale mais que um pássaro voando
Depende do ângulo da borracha do estilingue e da hora do tapinha na tela. Tem também o tipo de pássaro arremessado e o material de que é feita a parede que ele tem de atravessar para matar o maldito porco verde. Morra!
“Opa, chefe, chegamos”, o taxista me tira do transe de explodir pássaros em cima de porcos. Calma, Ibama! Os bichos que explodem nas pontas dos meus dedos são os protagonistas de Angry Birds, um dos aplicativos mais populares do mundo. Tento conter o uso desses pequenos programas para não cair numa espiral de uso contínuo típica do meio digital – o “loop de tecnologia” descrito na série Portlandia. Mas eis que o celular me transporta para os Game Watch da minha infância e os Nintendinhos da minha adolescência, dragando mais energia vital que o player de MP3, checar e-mail ou tirar fotos.
O This is Not Porn já pode ser considerado um clássico na curta história do Tumblr e justamente por isso merece ser linkado. Mas eu estou citando-o agora porque a Tati entrevistou o autor do site, o sueco Patrik Karlsson para a seção Sábado Livre, do site do Link.
• Faixa adicional • Quanto mais longe e ao norte, mais caro se paga • Aposente o pen drive • Tablet da Motorola e da RIM, lançamentos da HTC e da Nokia, iPhone branco, vendas de PCs, Facebook, Rebecca Black… • LOL • Graças a Gagarin • Paypal vem com tudo • iPad no Brasil • Projeto genoma para todos • Vida Digital: Projeto Axial
Minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre formas de rir por escrito, em tempos digitais.
“Kkkk”, “rs” ou “AHAHAH”?
Como é que você ri na internet?
Como você ri na internet? A pergunta parece não ter sentido se pensarmos na pessoa que está utilizando a rede sendo vista do lado de fora. Mas, uma vez online, o sorriso, o riso e a gargalhada pouco têm de biológico e são traduzidos em versões por escrito – e, não custa lembrar que, mesmo com vídeo, áudio, animações e links, a internet ainda é um meio primordialmente escrito. Assim, em e-mails, bate-papos por MSN, comentários em blogs, redes sociais e onde mais a conversa por escrito possa ser travada informalmente, a informação que avisa que o interlocutor está rindo ou brincando é sempre uma palavra, um emoticon ou uma sigla.
No fim do mês passado, o tradicional dicionário britânico Oxford incluiu algumas dessas siglas em seu léxico. Termos como “LOL” (acrônimo em inglês para “laughing out loud”, que quer dizer “gargalhando”), “BFF” (“melhores amigos para sempre”), “OMG” (“Oh meu Deus!”) e IMHO ( “na minha humilde opinião”) já faziam parte do vocabulário inglês até mesmo antes de a internet existir, mas foram popularizados, consagrados e oficializados naquele idioma graças à sua onipresença no diálogo por escrito.
(Cabe um parêntese aqui: o fato de o texto por escrito não permitir inflexões emocionais é um dos principais fatores do uso desse tipo de recurso e, portanto, de sua popularização. É muito fácil confundir o que está sendo escrito por alguém do outro lado da tela. Sutilezas podem passar despercebidas se vierem escritas exatamente como se fala. Um simples emoticon – aquela carinha feita com dois pontos e um parêntese, por exemplo – já agiliza bastante o lado de quem lê.)
Mas em português, ou melhor dizendo, no Brasil, essas siglas não são tão comuns. Há até quem ria escrevendo “LOL” no fim da frase. Mas eles são poucos e, em geral, vêm de gente que é bilíngue ou tem hábitos digitais mais frequentes que a maioria das pessoas.
E é aí que volto à pergunta inicial do texto: como você ri na internet? Eu rio “AHAHA”, mas há quem ria “KKKK” ou usando apenas uma abreviatura pálida para o termo “risos” (“rs”). E essas palavras não entrarão para o Aurélio ou para o Houaiss tão cedo, como já sabemos da resistência dos linguistas da língua portuguesa a esse tipo de “invencionice”.
E há quem se comunique por escrito apenas usando esse tipo de linguagem. Uma das formas mais comuns de texto escrito na internet brasileira é tida como assassinato do idioma para os puristas. Batizado de “tiopês”, esse português mal escrito surgiu de erros de digitação comuns e da agilidade exigida pela conversa por escrito – o nome veio do excesso de vezes que a palavra “tipo” é escrita e, portanto, mal digitada (virando “tiop”). Consagrada por novos humoristas como Misto Eleazar e Cersibon, esse português tosco não é utilizado por gente que não sabe escrever – mas sim como código territorial, idioma próprio, para afugentar quem é de fora, funcionando como uma enorme piada interna. Como as formas de rir na internet também o são.
E minha coluna no 2 de ontem foi sobre música.
O som de 2011
Strokes? Melhor ir atrás do chillwave
O excesso de expectativa a respeito do novo disco dos Strokes só foi superado pelo excesso de frustração. Pudera: seu novo disco, Angles, apenas repete a velha fórmula de seus primeiros singles, já com 10 anos de idade, de requentar riffs pós-punk para uma geração acostumada a ouvir rock na pista de dança. Acostumada, diga-se, pelos próprios Strokes e pela geração que surgiu em sua esteira – nomes como White Stripes, Interpol, Rapture e outros grupos inspirados em bandas dos anos 80, como Joy Division, Cure e Television.
No início do século, aquele som fazia sentido. O rock havia se transformado num arremedo pasteurizado e corporativo do rock alternativo apresentado ao mundo pelo Nirvana. Era uma época em que a dance music e a música eletrônica haviam conseguido se firmar no mercado e que o hip hop dominava. Britney Spears estava começando e o N’Sync ainda existia. Guitarras faziam sentido naquela época.
Dez anos depois, não mais. Mas a geração que tinha 20 e poucos anos quando os Strokes surgiram não liga. E espera o novo disco da banda como se eles pudessem se reinventar ou, pior, recuperar o brilho de seus primeiros dias. Esqueça. O rock dos Strokes em 2011 faz tanto sentido quanto o rock corporativo de bandas como Coldplay, Muse e Travis – o rock que o mundo ouvia quando eles apareceram.
E o que faz sentido em 2011? Não há uma só resposta, mas, na minha opinião, nenhum tipo de música pop parece fazer mais sentido neste ano uma cena chamada… chillwave.
Embora seja rejeitado por seus principais nomes, o rótulo chillwave caracteriza-se por unir duas qualidades: uma é etária, a outra, tecnológica. A primeira diz respeito à idade de seus protagonistas. Jovens que nasceram nos anos 80, ouvindo dance music rasteira, de instrumentos sintéticos e texturas de plástico. Cresceram, gostando ou não, ouvindo esse tipo de som. E ao começar a compor seus trabalhos, recorreram à tal palheta de timbres para compor músicas, mas acabaram optando por outra abordagem. Em vez da dance music farofa, aquela sonoridade agora dava espaço para construções mais etéreas e líricas, quase zen. E, em vez de serem produzidas em grupo durante ensaios, esses artistas – quase sempre bandas de um homem só – usavam a solidão do quarto e o computador para compor.
Nomes como Memory Tapes, Ariel Pink e Neon Indian aos poucos começam a sair da obscuridade dos blogs de MP3 e ganhar um público maior. Tanto que o segundo disco de um desses artistas, Underneath the Pine do Toro y Moi, está sendo lançado no Brasil. E outro, Washed Out, teve seu melhor single (I Feel It All Around) transformado em abertura de seriado neste ano (o ótimo Portlandia). É um início tímido, mas é bem mais interessante do que tentar reviver os dias em que os Strokes importavam.