Minha coluna do 2 de domingo foi sobre a principal rivalidade entre empresas de internet do mundo hoje.
Google x Facebook
Essa briga está só começando…
A capa da mais recente edição da revista Fortune escancara uma briga que não é novidade para quem acompanha de perto o universo digital. Em uma montagem, a revista colocou os dois CEOs de duas das maiores empresas de tecnologia do mundo em um embate típico dos velhos filmes de artes marciais: de um lado, Mark Zuckerberg, do Facebook; do outro, Larry Page, um dos criadores do Google.
A briga é velha e se acirra desde que a rede de Zuckeberg atingiu a marca de meio bilhão de usuários no meio de 2010. Piorou quando o Google resolveu concentrar suas forças em mais um projeto de rede social, o Google Plus, lançado no meio deste ano. O Plus se tornou – por motivos óbvios, afinal, ele é do Google – a rede social que cresceu mais rápido em toda a história, embora as pessoas ainda estejam fazendo aquela clássica pergunta que sempre acompanha o surgimento desse tipo de site: “e agora, o que é que eu faço?”
O Plus parece ainda estar pela metade porque ele realmente está. Quando foi anunciado, o Google frisou que não era uma rede social e sim uma “camada social” que estava distribuindo em todos seus serviços. Começou criando a sua versão para o botão “Curtir” do Facebook (o “+1”). Forçou o Feice a criar uma divisão entre os amigos (pois havia criado, no Plus, os “Circles”, em que você divide seu grupo de amigos em “família”, “pessoal do trabalho”, etc. e esta semana liberou a construção de páginas de pessoas jurídicas (antes, só pessoas físicas poderiam abrir contas). Houve também o vazamento de que o estariam para lançar o Google Drive, espécie de HD virtual em que você pode deixar tudo que quiser (fotos, filmes, música) online apenas para seu próprio uso.
As mudanças ouriçaram Zuckerberg, que desmereceu o novo projeto do Google como “um mini Facebook” em uma entrevista para a TV no início da semana passada. Mas é certo que é um vai ou racha. Ou o Google acerta de vez e desbanca o Facebook no seu próprio jogo ou cria mais um trambolho digital que pode deixar de ser usado em poucos meses. E isso pode ser, acreditem, seu fim. Será?
• A Hora de Comprar seu Smartphone • Terra Nova • App de anotações chega ao Brasil • O Occupy de São Paulo • Uncharted 3: cinema para jogar • Uma lei para vigiar e punir • O fim do Flash, o game que bateu recorde, desenvolvedor da Apple expulso e Office na nuvem •
E a minha coluna no 2 de domingo foi sobre a última sacada de Jobs e a nova novidade do YouTube.
A televisão do futuro
A última fronteira digital?
O casamento da televisão com a internet já vem acontecendo mesmo que o aparelho ideal para isso ainda não exista. O fato dos trending topics do Twitter quase sempre regularem com programas de maior audiência – seja no Brasil ou no exterior – é um indício disto. Outro indício é a frequência com que tablets e smartphones são usados em frente à TV – se você não reparou, comece a perceber. DVD players e TVs que vêm com entrada USB de fábrica também ajudam a comprovam que essa teoria: basta espetar um pendrive para assistir a conteúdo digital baixado no computador.
Não é que não existam aparelhos que já se proponham a fazer tal fusão. Já há vários modelos de aparelhos de TV no mercado brasileiro que, por exemplo, permitem assistir a vídeos do YouTube – e não só. As chamadas smartTVs pegam a lógica dos aplicativos, consagrada nos smartphones, e a transferem para a telona. Ainda são protótipos da TV do futuro, que não é nem uma televisão nem um computador, mas um híbrido de ambos.
Na recém lançada biografia oficial de Steve Jobs, o escritor Walter Isaacson conta que uma das últimas sacadas do pai da Apple foi perceber que o Siri poderia ser a chave final para a Apple TV deixar de ser uma promessa e a empresa mudar o mercado de televisão como fez com o de telefonia celular.
Siri, para quem não conhece, é um programa de reconhecimento de voz que entende o que foi dito e responde em forma de texto. É uma das principais novidades do novo iPhone, o 4S, lançado há pouco nos EUA (e, possivelmente, em breve no Brasil). Vários celulares já contam com um sistema parecido, mas a maioria limita-se a acionar funções do próprio telefone. Você fala “rediscar” e o telefone liga sozinho para o último número que foi acionado, por exemplo. A diferença do Siri para os outros é que ele não está restrito aos recursos do próprio celular – ele responde questões do dia a dia. Ele entende se você pergunta se vai fazer frio mais tarde e consulta um site para mostrar a temperatura prevista para o período. Pergunte qual é cinema mais perto de você que está passando um filme que você quer ver e ele faz isso.
A sacada de Jobs unindo o Siri e a Apple TV foi perceber que este sistema de reconhecimento de voz pode matar de vez o controle remoto – como o iPad almeja acabar com o teclado e com o mouse. Mas ainda estamos na mera futurologia.
Enquanto isso, o YouTube fechou, esta semana, um acordo com produtores de conteúdo para criar cem canais de conteúdo original, reunindo parceiros como celebridades (Madonna, Jay Z, Rainn Wilson, Tony Hawk), sites (The Onion e Slate) e estúdios de cinema e TV.
E enquanto a Apple (e outras empresas) se esforçam para imaginar o aparelho de televisão do futuro, o YouTube já está colocando em prática como funcionará esta programação.
• Em nome do Plus • Reader 2005-2011 • Não perca o contato • Objeto de desejo e muito caro • Mais barato • Muito além do game: um ano de Kinect • Quem está de que lado • Servidor • Chris Kaskie, do Pitchfork •
O futuro do cinema
Spielberg, Jackson e Tintim
Um amigo meu comentou outro dia, com certo alívio, que estava feliz por ler que as primeiras impressões à adaptação para o cinema das aventuras de Tintim estavam sendo boas. O alívio veio porque assim ele poderia dizer que gostou sem culpa de estar assistindo a um mico filmado, pois gostaria de qualquer jeito. Afinal, o personagem criado pelo belga Hergé é um dos principais nomes do quadrinho europeu e sua adaptação definitiva para o cinema vem sendo aguardada com muita expectativa.
Ainda mais pelo fato da adaptação ter sido encampada pela dupla Steven Spielberg e Peter Jackson. O primeiro dispensa apresentações. O segundo também, mas vale frisar que o trabalho que desenvolveu em seus filmes – principalmente em O Senhor dos Anéis e em King Kong – e no épico 3D de James Cameron, Avatar, funcionou como preparação para o grande desafio que é o novo filme, também gerado na fábrica de ilusões de Jackson na Nova Zelândia, os estúdios Weta, o melhor estúdio de efeitos especiais do mundo hoje.
As Aventuras de Tintim já estreou na Europa, só chega aos EUA no final do ano e no Brasil no meio de janeiro de 2012 e não é o principal passo dos dois diretores em suas carreiras, mas pode determinar o futuro do cinema. Pois utiliza atores apenas na captura de movimento e vozes, mas sem usar suas imagens – estas, todas geradas por computador. Isso já havia sido feito em Avatar, mas os personagens de Tintim são cartuns, e não humanos hiperrealistas.
Assim, os dois podem estar dando o passo definitivo para fundir cinema e animação e concretizar um sonho perseguido há décadas por George Lucas, que queria fazer Guerra nas Estrelas sem precisar filmar ninguém (não conseguiu), e por em prática uma inveja que o velho Hitchcock tinha de Walt Disney – ao resmungar sobre o quanto este último era feliz por poder simplesmente “apagar” um ator quando não gostava dele.
• SMS: O meio de comunicação de dados mais popular do mundo • SMS para todos • Personal Nerd – Qto vc paga por msg • Vida Digital: A emenda que ficou melhor que o soneto • James Gleick: Sob o domínio do Google • Steve Jobs: Criativo e mal criado • Retrospectiva em tempo real: Mês 10 • Nova regulamentação da Anatel, Rdio no Brasil, Sony compra Sony Ericsson… •
Que mané Lou Reed + Metallica…
Mais um mashup do Faroff.
Minha coluna no 2 de domingo foi sobre a “autencidade” (wtf) de Lana Del Rey.
Mentira ou fantasia
O misterioso caso de Lana Del Rey
“It’s you, it’s you… It’s all for you…”. A voz lânguida de Lana Del Rey escorrega-se pelo refrão de “Video Games” como uma diva entediada deslizaria-se numa chaise longue. A música, seu primeiro single, apareceu há dois meses, num vídeo filmado pela webcam e editado por ela mesma, misturando cenas próprias com imagens de arquivo. Em pouco tempo, surgiam novas músicas, todas em vídeo – “Blue Jeans” e “Kinda Outta Luck” –, todas seguindo a mesma estética: Lana fazendo biquinho para mostrar seus beiços grossos, deixando o cabelo cair sobre o rosto para enfatizar o clima retrô, como se fosse uma Jessica Rabbit de carne e osso, sempre com imagens que remetem a uma nostalgia dos anos 50, tão em voga nesses tempos de Mad Men.
Foi o suficiente para que começassem a falar dela, primeiro em blogs de MP3 e depois nos sites, jornais e revistas. E, sem ao menos ter nem um single lançado, ela já era candidata a título de diva de 2012.
E, em seguida, veio a reação. Não era possível que o hype todo viesse sozinho e começaram a fuçar no passado de Lana – e descobriram que esse nome era um pseudônimo e que não era sua primeira incursão ao mercado fonográfico. Chamava-se Lizzy Grant e circulava pelos corredores da indústria – além de ter lábios bem menos cheios. E logo as especulações sobre seu passado se tornaram um certeiro “arrá!” quando, antes mesmo de ter seu single lançado, a cantora anunciou que havia assinado com a gravadora norte-americana Interscope.
E aí chegamos ao ponto central da coluna de hoje: Lana é um artista menor ou pior simplesmente por ter sido “fabricada” por uma gravadora para “enganar” o público que se orienta por música via internet? Reforço as aspas nos verbos pois essa “fabricação” não é necessariamente artificial (Britney Spears é fabricada? E Lily Allen? E Amy Winehouse, também era?) nem essa “enganação” é trapaceira.
Nos tempos de reality show em que vivemos graças à internet – que permite acompanhar passo a passo a vida de qualquer celebridade –, os limites entre realidade e ficção ficaram tão borrados que nos tornamos céticos em relação a qualquer novidade ou notícia que apareça. Há quem diga que esse é o motivo do sucesso dos próprios reality shows, uma vez que novelas, filmes e seriados já foram assimilados a ponto de os distanciarmos da realidade – e não nos envolvermos emocionalmente com eles.
O mesmo acontece na música. E o desafio que Lana Del Rey (seja a artista, seja “o projeto Lana Del Rey”) nos propõe independe do fato de ela ser uma artista de verdade ou um produto fabricado em estúdio. Como escreveu Amy Klein, da banda Titus Andronicus, em seu blog. “Não importa se ela tem algo de real para nos vender porque Lana Del Rey nos fez pensar sobre a relação entre vender uma fantasia e vender mentira. Ela é a mentira que nós mentimos para nós mesmos – e é isso o que os Estados Unidos sempre foram e sempre serão, essa mulher maravilhosa que pode fazer nossos sonhos virarem realidade. Então não importa se ela te ama ou te odeia, porque ela vai pegar todo seu dinheiro e você vai deixá-la ir. Essa é a realidade dela.” Amy está falando dos EUA, mas também sobre o que é música pop.
* A coluna Impressão Digital, do editor do Link Alexandre Matias, é publicada todos os domingos, no Caderno 2
• Tecnologia, consumo e dor • ‘Deixei uma câmera na mão dos meninos’, diz diretor de ‘Blood In The Mobile’ • Mudança em andamento • Fabricantes dizem pressionar fornecedores • Por dentro de Jobs• Servidor • Vida Digital: Bia Granja (YouPix) • Ecad nas nuves – Personal Nerd: Copyright captado pelo ar • No meio de uma CPI • E-commerce em alta • Reader para o G+ • 10 anos de iPod •
Minha coluna de domingo no Caderno 2 foi sobre esses novos movimentos populares que buscam reinventar a política atual.
É só o começo
Um novo conceito de política
Ativismo digital não é mais novidade. Usar a internet para conectar pessoas, divulgar causas e reunir multidões é algo que teve início ainda nos anos 90, quando o Subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional, usava a internet para espalhar o drama dos índios no sul do México. Ou quando uma multidão se reuniu em Seattle, em novembro de 1999, para protestar contra encontros de cúpula da Organização Mundial do Trabalho. Mas a internet e as mídias digitais só começaram a se popularizar de verdade no início da década passada, por isso esse tipo de organização política ainda estava restrito a militantes mais engajados.
Mas a internet deixou de ser uma rede de geeks. Celulares se tornaram o principal meio de comunicação do planeta. Além de fotografar e filmar, ainda se conectam à web para divulgar o que foi registrado onde for.
Foi assim que vimos uma série de novos movimentos utilizarem redes sociais e comunicação móvel para furar bloqueios governamentais e sair às ruas. Essa nova organização política – popular, digital e sem lideranças – cresceu principalmente em 2011, quando vimos esse tipo de movimento ganhar as ruas dos países árabes, ir à Europa (primeiro na Espanha, depois em Londres) e finalmente chegar aos Estados Unidos, onde um grupo de ativistas resolveu seguir o exemplo de árabes e europeus e acampar, sem prazo para ir embora, no centro financeiro de Manhattan.
As críticas que fazem ao movimento Occupy Wall Street são as mesmas que fizeram sobre as manifestações no Egito, na Tunísia, na Síria, na Espanha e na Europa. De que são apenas jovens desempregados, que não têm causa definida, nem reivindicação clara ou outra solução para o problema que apontam. Mas a indignação já deixou de ser localizada em determinada cidade e ontem, dia 15 de outubro (ou 15O, como escolheram codificar), vários manifestantes em dezenas de cidades do planeta saíram às ruas para protestar contra corporações e governos.
O que está acontecendo, na verdade, é o despertar de uma consciência global. Quando os meios impressos surgiram, foi o alcance de sua distribuição que determinou as fronteiras dos países para, num segundo momento, consolidá-los como nações, um conceito que não tem nem 500 anos de existência. Foi a partir disso que a política moderna, a de representação, surgiu. Mas à medida que o século 20 foi despertando a consciência de que todos somos parte de um mesmo planeta (graças à iminência de uma guerra nuclear e pela ecologia), aos poucos vem caindo a ficha de que a política de séculos passados se esgotou. E o que estamos vendo, nessas manifestações populares, é o clamor por um novo tipo de política. É só o começo.