Escrevi sobre a chegada do iTunes no Brasil para o caderno de Economia & Negócios do Estadão, na quinta-feira:
iTunes brasileiro não deve mudar hábitos de consumo
A entrada da Apple no mercado de música digital não foi uma ideia original – ela surgiu, na verdade, de uma lacuna deixada pelas empresas que geriam o mercado fonográfico na virada do milênio e não souberam lidar com a chegada da internet. O iTunes surgiu como loja a partir do tiro que as gravadoras deram no pé ao tratar seus consumidores como vilões. E até hoje o revés sofrido é usado como prova de que é impossível deter o digital.
Recapitulando: em 1999, um universitário americano criou um software gratuito que permitia troca de músicas via internet, sem que elas estivessem em um servidor central. Assim, qualquer um poderia ver as músicas que outra pessoa tinha e baixá-las para seu computador. O programa chamava-se Napster e os executivos das grandes gravadoras entenderam como roubo. Se tivessem um pingo de visão empresarial, talvez pudessem comprar o software – como fizeram depois – para estreitar o contato com um público que, aos poucos, começava a abandonar os CDs.
A Apple fez o que as gravadoras não fizeram: legalizou esse comércio e na metade da década já era vista como uma das marcas mais associadas à música no século 21, sendo que a empresa lucrou muito mais com a venda de tocadores de MP3 – o icônico iPod – do que com a venda de músicas. Assim, pegou os americanos em um momento em que eles começavam a baixar música de graça e os educou para as compras online.
Não é um formato ideal. As músicas são vendidas individualmente, o que faz o preço das músicas de um único disco às vezes ser mais alto que o de um CD, um artefato que teve custos vinculados à fabricação, transporte, estoque e varejo. E, nos últimos dez anos, viu-se a ascensão de serviços que cobram assinatura. Nesse formato, o ouvinte não precisa sequer fazer o download – ouve o que quiser, no aparelho que quiser.
Quase dez anos após ter sido lançado nos EUA, o iTunes chega ao Brasil cobrando, em dólar, preços que conseguem ser maiores que os concorrentes em mídia física. E isso num mercado que não tem tradição de venda de mídia digital, acostumado a baixar música sem pagar. Um cenário mais favorável à entrada dos tais serviços por assinatura.
O iTunes brasileiro terá consumidores, mas serão pessoas que ainda tateiam no meio digital, gente que não se familiarizou com o download de música e que ainda apanha do computador. Não existe a possibilidade de a Apple conseguir educar o brasileiro para comprar música. Esse tempo já passou. Resta torcer para que os modelos por assinatura não levem tanto tempo para chegar por aqui…
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Escrevi sobre a importância de Angry Birds para o mundo digital na capa do Link de hoje. E pra quem acha que Angry Birds é só um joguinho de celular…
Febre aviária
Não é jogo ou passatempo. É uma marca. E caminha para ser uma das maiores do mundo
Aparentemente, é só um passatempo do tipo quebra-cabeças, como Tetris, Bejeweled e dezenas de outros antes dele. Mas os passarinhos irados que destroem plataformas feitas de metal, vidro e madeira habitadas por porcos verdes não só um jogo casual. Angry Birds é um dos fenômenos digitais mais sólidos do século 21 e seu criador, o finlandês Peter Vesterbacka, não mede palavras para torná-lo superlativo. Em entrevista à revista Time, comparou o crescimento do jogo – que existe há dois anos –, ao de Google, Facebook e Twitter.
O fato é que Angry Birds está presente no mesmo recorte que tais gigantes digitais, que são produtores de serviços e não de aparelhos. Como o maior site do mundo e as duas onipresentes redes digitais, o jogo feito para celular roda em qualquer dispositivo e grande parte de seu sucesso é justamente essa onipresença eletrônica. Mas, diferente de seus rivais, o jogo da Rovio não é representado por jovens nerds megalomaníacos em trajes executivos, e sim por personagens carismáticos o suficiente para já ter vida própria.
E ao transformar seu produto numa marca, a Rovio deixa sua franquia solta para seguir o rumo que quiser, mesmo que seja dos outros. “Temos de ficar felizes com o fato de que a marca é hoje a mais copiada na China”, riu Vestebacka em entrevista ao site TechCrunch, ao ser questionado sobre o fato de Angry Birds ser o título mais pirateado na China em 2011. A pergunta não se referia ao jogo, mas à marca – até um parque temático inspirado no jogo foi construído sem autorização da Rovio por lá.
O CEO acredita que a pirataria inspira novas formas de utilização do título e que sempre haverá público para consumir o produto oficialmente. “Queremos ser mais chineses que as empresas chinesas”, arrematou na mesma entrevista.
E é a China – um mundo digital inóspito a marcas ocidentais, que até o Facebook já anunciou não estar entre as prioridades de crescimento – o próximo alvo dos passarinhos raivosos. Vestebacka quer que a marca se torne a mais popular do país mais populoso do mundo.
Só em 2011, o jogo já teve mais de 100 milhões de downloads lá. Some isso a outros tantos 400 milhões de downloads no lado de cá do planeta e ao fato de somente em dezembro deste ano, a empresa ter entrado oficialmente no Japão. O ano de 2012 também é o ano em que vamos saber se Angry Birds se tornará um ícone também no país da Nintendo – uma empresa que, desde que entrou no mundo dos games no meio dos anos 70, sabe da força da marca para ser líder nos negócios. Angry Birds que habitar a mesma camada cognitiva que Super Mario e os Pokémon, Bart Simpson e Mickey Mouse.
Os números mostram que a Rovio não está para brincadeira: além dos 500 milhões de downloads em dois anos, já vendeu mais de 10 milhões de brinquedos oficiais, além de licenciar todo tipo de produto – bonecos, camisetas, mochilas, material escolar, biscoitos e até um livro de receitas para crianças.
Já se cogitou até a transformação do jogo em um filme (com trailer imaginado por fãs no YouTube, é só procurar) e isso foi fechado em parceria com o estúdio Marvel – a mesma marca de quadrinhos que se reinventou como produtora de cinema para sobreviver no século digital. Parceria é uma das palavras mágicas do sucesso do jogo. Uma de suas versões – Angry Birds Rio – foi a versão oficial do filme de animação Rio para videogames. Duas marcas convivendo juntas e ganhando bem com isso. A Rovio até criou uma versão exclusiva para celulares da Nokia, Angry Birds Magic, mas, como o sistema operacional Symbian foi desligado, a saga não decolou.
Angry Birds é o aplicativo gratuito mais baixado para iPad, o aplicativo pago mais baixado para iPhone e iPad – perceba que não é apenas o jogo mais baixado – e na lista dos aplicativos gratuitos para iPhone, só fica atrás do Facebook. No Android Market, é o jogo mais popular – e o oitavo aplicativo mais baixado.
Some a isso o fator de vício do joguinho. Ele já tomou 200 milhões de minutos de seus usuários atirando pássaros aos porcos – o equivalente a 1,2 bilhão de horas por ano de existência do jogo. A Wikipedia levou 100 milhões de horas para ser feita.
No meio do ano, a Rovio atingiu a marca de um milhão de downloads por dia e essas cifras vêm aumentando seu valor no mercado. No fim de novembro, houve o rumor de que a gigante Zynga – marca que símbolo dos jogos sociais – havia ameaçado pagar US$ 2 bilhões pela Rovio, que nem ouviu a proposta. Vesterbacka já havia declarado que o valor da empresa cogitado pela revista Forbes em julho (entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão) era baixo e que a Rovio valeria entre US$ 20 e 25 bilhões. “Mas não vamos vender, a menos que alguém ofereça o suficiente”, disse a uma revista finlandesa.
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E na última Impressão Digital no Caderno 2, comento o filme que vi em Nova York na semana passada, que provavelmente é o filme mais bonito de Scorsese…
Magia e tecnologia
O Harry Potter de Scorsese
Na última Impressão Digital, deixo de lado omundo dos celulares, redes sociais e aplicativos para falar deumoutro tipo de tecnologia, mais ancestral. Especificamente, o cinema – que, quando surgiu, era uma novidade tecnológica tão festejada e vilanizada quanto omundo digital é nesse início de século.
Hugo, o novo filme deMartin Scorsese, já estreou no exterior, mas só chega ao País no início do ano que vem. Pude assisti-lo e cravo sem pestanejar: é a mais bela obra da filmografia do diretor. E, mais do que isso, tem tudo a ver com a reputação que Scorsese criou – e deixou de lado nos últimos anos – emsua carreira.
(E, antes de continuar,um aviso: faça-se o favor de não ler muito sobre o filme, pois grande parte da beleza está na surpresa que Hugo esconde para ametade do filme emdiante. Prometo que não toco nesse assunto.)
Scorsese tem sido criticado nos últimos anos por se ter tornado uma espécie de “diretor de aluguel”, que filma obras que não fazem parte de seu espectro artístico. Há um certo exagero, mas a crítica tem fundamento. Basta comparar seus filmes de antes de 1995 (o ano de Cassino) com os que foram feitos depois disso.
Hugo, neste contexto, pode torcer o nariz de quem tem falado mal de sua carreira. Afinal, conta uma história “mágica” de um menino que vive na Paris dos anos 30 e descobre um robô que seu pai (o ator Jude Law) está tentando consertar.
O que vemos a partir daí é uma história quemuitos já conhecem e que tem tudo a ver com o amor de Scorsese pela sua própria arte. E, mesmo que dêum pequeno nó na cabeça do espectador ao traduzir o mundo mágico do garoto Hugo – e explicar o que é a sua Hogwarts (para quem não sabe, Hogwarts é a escola de magia de Harry Potter) –, é umfilme tocante, cheio de citações sutis e uma homenagem do tamanho da importância de Scorsese para o cinema.
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Game over. Esta é a última Impressão Digital no Caderno 2. Agradeço a leitura nestes 85 domingos – e a coluna reaparece no Link, antes do fim do ano.
A coluna no 2 de domingo foi sobre o quanto a lei analógica ainda emperra a música digital.
Ameaças ao futuro
Grooveshark, Spotify e a lei
O anúncio oficial do lançamento do Google Music, serviço de distribuição de música do Google – que vinha sendo prometido há cinco anos, pelo menos –, não causou grande alarido, mas serve de rumo para refletir sobre o que está acontecendo.
Desde os LPs até os tocadores de MP3, a lógica para se ouvir uma música em um aparelho eraa mesma. Se antes carregávamos discos de vinil, fitas cassetes, pilhas de CDs ou CD-Rs queimados, numa versão mais recente, enchemos o iPod ou o celular de MP3. Apesar de isso parecer mais próximo da lógica digital, a prática ainda carrega resquícios do mundo da música analógica.
É preciso plugar o aparelho ao computador e esperar a transferência dos arquivos para o dispositivo. Mesmo que essa transferência aconteça sem cabos, ela segue a lógica de gravar uma fita cassete. Daí a importância do streaming. Você não precisa fazer nenhum download, basta apertar o play e ouvir.
A música está hospedada em algum servidor e é retransmitida para o aparelho em que você quer ouvir – seja portátil, seja um computador ouum aparelho de som de mesa – no instante em que você quiser. Ela não fica na memória do dispositivo e você não precisa deletar arquivos velhos para colocar outros novos. Mas esse sistema ainda não engatou. Seu principal rival é a lei, que funciona nos moldes analógicos.
Na semana passada, o Grooveshark começou a ver seu futuro sumir.O serviço online permite ouvir qualquer música de qualquer lugar do mundo, mas a gravadora Universal – uma das quatro que dominam o mercado fonográfico – resolveu engrossar. Entrou na justiça norte-americana contra o serviço, acusando-o de uso indevido de mais de 100 mil canções. E o site, que já foi expulso tanto da App Store da Apple quanto do Android Market do Google por infração de direitos autorais, pode estar com dias contados.
O Spotify, serviço semelhante e igualmente popular, sofreu, também na semana passada, uma baixa considerável, embora não através da justiça. O grupo STHoldings, que gere mais de 200 gravadoras independentes no Reino Unido, ameaçou tirar todo seu elenco do serviço, pois percebeu que o formato reduz o repasse de verbas para os artistas em outros tipos de comércio de música digital.
Dentro da porcentagem de músicas oferecidas via Spotify (que tem acordo com as quatro maiores gravadoras do mundo), a quantidade que a STHoldings representa é bem pequena. Mas a questão levantada pela notícia não diz respeito a infração de direitos autorais – e sim, à outra metade da equação: o repasse de valores aos artistas.
As questões em jogo envolvem muita gente: gravadoras, artistas, editoras de direitos autorais, empresários, rádios, novos serviços de distribuição e a legislação atual. Esta última, especificamente, pode definir os novos rumos para o futuro.
Depois eu falo um pouco mais sobre o Stop Online Piracy Act, um projeto de lei que está tramitando nos Estados Unidos e que pode determinar o futuro de quem escuta música (e assiste a filmes ou baixa aplicativos): ou o futuro digital realmente funcionará de forma livre e desimpedida (como nos mundos imaginados pelos rivais Facebook e Google) ou entramos num estado digital de vigilância constante em que a maioria dos ouvintes está fora da lei.
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Minha coluna no 2 de domingo foi sobre o ponto em comum entre o boato do iTunes no Brasil e o lançamento oficial do Google Music.
O futuro em streaming
Você ouvirá música pela internet
Mais uma vez, o rumor volta à tona, desta vez com uma data ainda mais específica: o iTunes, a loja online da Apple, estaria finalmente chegando ao Brasil em dezembro deste ano. A informação foi dada no site da revista Época, mas sem confirmação nenhuma e com a própria Apple desmentindo em seguida. Não é a primeira vez que esse boato ecoa no País – só neste ano, a informação já circulou pelo menos em duas outras oportunidades, com a única “garantia” de que a loja estrearia no Brasil ainda em 2011. O novo rumor é mais preciso ao datar a chegada do iTunes para o último mês do ano. Mas ainda é um rumor.
(Como também ainda tem status de boato a informação de que a Amazon, maior loja online do mundo, também desembarcaria no Brasil entre 2011 e 2012, mas isso é outra história.)
A semana passada também viu outro rumor sair da área de especulações com o lançamento oficial do Google Music, serviço que o gigante da internet promete há muito tempo. Em 2005, quando os primeiros rumores sobre o Google Music começaram, ele seria apenas um mecanismo de buscas específico para canções e discos. Mas, desde então, o mundo mudou, assim como o Google e a natureza do serviço. Deixou de ser um sistema de buscas para virar uma ferramenta que faz a ponte entre as duas maiores apostas do site: o Android, seu já estabelecido sistema operacional para smartphones, e o Google Plus, sua novíssima rede social. Com acordos fechados com três das quatro maiores gravadoras do mundo, o serviço apresenta uma novidade que ainda é inédita na maioria desses tipos de serviço: é possível compartilhar músicas inteiras com seus contatos, tanto via celular quanto pela rede social.
Tanto o anúncio oficial quanto o rumor à brasileira apontam para uma mesma direção: o consumo legal de música digital. Se há mais de dez anos era virtualmente impossível comprar músicas pela internet, quase 12 anos após o advento do Napster existem várias alternativas para ouvir e comprar música legalmente através da internet.
Isso já tem mudado e muito nossos hábitos e tende a mudá-los mais ainda. Não estamos apenas nos desprendendo da mídia física – o CD ou DVD – mas também da necessidade de estar em um lugar específico para ouvir o que quiser. Na semana passada também vimos o anúncio do novo iTunes Match (que permite que você ouça de qualquer lugar músicas que comprou via iTunes, não apenas no computador em que foi realizada a compra), extensão do iCloud, o último serviço da Apple apresentado pessoalmente por Steve Jobs. O próprio Facebook fechou uma parceria com o Spotify e, num estalo, também entrou nesse mercado de música. Por isso, se você ainda não escuta música digital, se prepare: o futuro será transmitido via streaming.
Publicamos na edição do Link desta segunda-feira um artigo do Peter Thiel – que é um dos nomes mais importantes do Vale do Silício hoje – que fala sobre um problema sério: a estagnação da inovação no século 21. Um trecho:
Responder à questão de se houve ou não uma desaceleração tecnológica está longe de ser uma tarefa tranquila. A questão crítica de por que tal desaceleração parece ter ocorrido é ainda mais difícil, e não há espaço para tratá-la por completo aqui. Encerremos com a questão correlata de o que pode ser feito agora.
Mais sucintamente, será que nosso governo pode religar o motor parado da inovação? O Estado pode impulsionar com sucesso a ciência; não há por que negá-lo. O Projeto Manhattan e o programa Apollo nos lembram dessa possibilidade.
Mercados livres podem não financiar tanta pesquisa básica quanto necessário. Um dia após Hiroshima, o New York Times pôde, com alguma razão, pontificar sobre a superioridade do planejamento centralizado em matérias científicas: “Resultado final: uma invenção (a bomba nuclear) que foi dada ao mundo em três anos teria tomado talvez meio século para se desenvolver se tivéssemos que depender de pesquisadores ‘primmas donnas’ que trabalham sozinhos”.
Mas isso era outra época. A maioria de nossos líderes políticos não é formada por engenheiros ou cientistas e não ouve engenheiros ou cientistas. Hoje, uma carta de Einstein ficaria perdida na sala de correio da Casa Branca, e o Projeto Manhattan nem seria começado; ele com certeza não poderia ser concluído em três anos. Não conheço um único líder político nos EUA, seja ele democrata ou republicano, que cortaria gastos com saúde para liberar dinheiro para pesquisa em biotecnologia – ou, mais geralmente, que faria cortes sérios no sistema de previdência para liberar dinheiro sério para grandes projetos de engenharia. Robert Moses, o grande construtor da cidade de Nova York dos anos 1950 e 1960, ou Oscar Niemeyer, o grande arquiteto de Brasília, pertencem a um passado em que as pessoas ainda tinham ideias concretas sobre o futuro.
Os eleitores hoje preferem casas vitorianas. A ficção científica ruiu como gênero literário. Homens chegaram à Lua em julho de 1969 e Woodstock começou três semanas depois. Com o benefício do olhar retrospectivo, podemos ver que foi aí que os hippies se apoderaram do país e que a verdadeira guerra cultural sobre o progresso foi perdida.
Os hippies envelhecidos de hoje não compreendem mais que existe uma grande diferença entre a eleição de um presidente negro e a criação de energia solar barata; em suas mentes, o movimento pelos direitos civis caminha em paralelo ao progresso geral em todos os lugares.
O artigo inteiro você lê aqui. Se prepara, porque não é pouca coisa. E abaixo, segue o texto de apresentação sobre Thiel, que escrevi para acompanhar seu texto original.
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Peter Thiel: O nome mais importante do Vale
Mestre de xadrez aos 13 anos e aluno número 1 de sua turma até o fim do segundo grau, Peter Thiel talvez seja o nome mais importante no Vale do Silício hoje, ainda mais após a morte de Steve Jobs. Mas ao contrário do fundador da Apple, Thiel não é muito afeito aos holofotes, preferindo agir nos bastidores e como arauto de novas tendências, em longos artigos como o desta página.
Nascido em 1967 em Frankfurt, na Alemanha, a carreira de Thiel começou a deslanchar ainda na faculdade. Estudante de filosofia na Universidade Stanford, na região de São Francisco, ficou irritado com a onda do politicamente correto que tomava conta do câmpus no final dos anos 80 e resolveu criar a Stanford Review em 1987, publicação que existe até hoje. Foi ali que recrutou alguns nomes que o acompanhariam em seu principal feito, quando resolveu bancar a ideia de um recém-conhecido que apareceu em uma de suas palestras, Max Levchin. Ele queria criar uma forma prática de conexão entre computadores portáteis, mas a conversa entre os dois evoluiu para outro rumo e, em 1998, os dois fundaram o PayPal.
Foi a partir da criação do site de pagamentos online que a carreira de Thiel decolou. Sua fama de visionário começaria a crescer logo em seguida, quando vendeu o serviço para o eBay e, com os US$ 50 milhões que levantou com a transação, começou a fase atual de sua carreira, a de investidor.
Começou a colocar dinheiro em empresas de ex-funcionários do PayPal, startups que, graças a seus investimentos, saíram do papel e se transformaram em titãs do mundo online, como o YouTube, o LinkedIn e o Yelp. Passou a ser conhecido como “o chefão da máfia PayPal” e logo abriu seu próprio fundo de investimentos, o Clarium Capital. Foi por meio dele que Thiel investiu meio milhão de dólares no Facebook em 2004, o mesmo ano em que ele foi criado.
Mas os negócios digitais são apenas parte dos interesses de Thiel. Ele também aposta pesado no desenvolvimento científico e abriu o Breakout Labs, um fundo de investimento apenas para financiar pesquisas de acadêmicos independentes, de preferência os que tenham ideias mais radicais.
Mas talvez o passo mais ousado do investidor tenha sido ao bancar um sonho de um ex-funcionário do Google, Patri Friedman, neto do ganhador do prêmio Nobel de economia Milton Friedman – um país startup. “Grandes ideias começam como ideias esquisitas”, disse Friedman, ao explicar o conceito por trás do Instituto Seastanding: criar plataformas móveis em alto-mar que funcionem como países, com sua própria legislação, governo e soberania. É isso mesmo: Peter Thiel, agora, quer fundar novos países.