Máquina do Tempo: 1° a 31 de dezembro

filth-fury
1° de dezembro – Os Sex Pistols falam “fuck” pela primeira vez na TV, Neil Young é processado pela gravadora por mudar seu som e Kenny G segura uma nota por 45 minutos

jjorgeben70
2 de dezembro – Rod Stewart chega ao topo plagiando Jorge Ben, Bowie lança seu primeiro single e o porco inflável do Pink Floyd escapa

brianepstein
3 de dezembro – Os Beatles conhecem Brian Epstein, é exibido o 1968 Comeback Special de Elvis e Bono recupera seu laptop perdido – com o disco novo do U2

deeppurple
4 de dezembro – Um incêndio inspira a faixa-símbolo do Deep Purple, o Led Zepellin anuncia seu fim e morre Frank Zappa

bobmarley
5 de dezembro – Bob Marley faz show dois dias depois de ser vítima de um atentado, Black Flag lança o primeiro disco e Adele ultrapassa Amy Winehouse

altamont
6 de dezembro – O festival de Altamont encerra os anos 60 de forma trágica, morre Leadbelly e Elvis Costello se casa com Diana Krall

otisredding
7 de dezembro – Otis Redding finaliza sua faixa-símbolo, os Beatles fecham sua Apple Store e Bowie aparece em público pela última vez

sargentelli
8 de dezembro – Nasce Sargentelli, morre John Lennon e o Metallica toca na Antártida

charlie-brown-natal
9 de dezembro – Vince Guaraldi põe jazz na trilha de Charlie Brown, o Chic chega ao topo das paradas e Ozzy sofre um acidente

cbgb
10 de dezembro – A fundação do CBGB’s, a morte de Otis Redding e a queda que quase matou Frank Zappa

velvet-underground-
11 de dezembro – O primeiro show do Velvet Underground, Jerry Lee Lewis casa-se com prima de 13 anos e Mariah Carey leva o ringtone de ouro

thedoors
12 de dezembro – O último show dos Doors, Ace Frehley quase morre eletrocutado num show e Mick Jagger vira Sir

pattismith
13 de dezembro – Patti Smith lança Horses, o semanário inglês Melody Maker acaba e Beyoncé lança um disco-surpresa

clash
14 de dezembro</strong> – O Clash lança London Calling, Os Embalos de Sábado à Noite estreia no cinema e morre Ahmet Ertegun


15 de dezembro – Dr. Dre lança The Chronic, morre Glenn Miller e Taylor Swift chega ao topo com seu 1989


16 de dezembro – O fim do The Who, o hit de Billy Paul e o seguro na língua de Miley Cyrus


17 de dezembro – Elvis Costello é banido do Saturday Night Live, Dylan chega à Inglaterra pela primeira vez e morre Captain Beefheart

keith-richards
18 de dezembro – Nasce Keith Richards, os Beatles iniciam sua última temporada em Hamburgo e Rod Stewart toca para 35 milhões de pessoas

madonna
19 de dezembro – Madonna ultrapassa Coldplay, Lady Gaga, Jay-Z e Kanye West, o roadie de Henry Rollins morre assassinado e Elton John emplaca seu primeiro hit nos EUA

adele
20 de dezembro – Adele chega ao topo de 2012, Joan Baez é presa por protestar contra a guerra e morre Reginaldo Rossi

psy
21 de dezembro – “Gangnam Style” é o primeiro clipe a bater um bilhão de views no YouTube, Elvis se encontra com Nixon e morre Júpiter Maçã

almirante
22 de dezembro – Morre o sambista e pesquisador Almirante, o pensamento vivo de Ronald Reagan em disco e a quase morte de um Motley Crue


23 de dezembro – É inaugurada a rádio pirata mais conhecida da história, Brian Wilson sofre um colapso nervoso e Ice Cube é expulso do N.W.A.


24 de dezembro – O último show dos Sex Pistols na Inglaterra, o primeiro show dos New York Dolls e o Nirvana começa a gravar seu primeiro disco

whitechristmas
25 de dezembro – “White Christmas”, o single mais vendido de todos os tempos volta ao topo das paradas e morrem Dean Martin, James Brown e George Michael


26 de dezembro – Paul McCartney “morre” em um acidente de carro e os Beatles o trocam por um sósia, The Wall chega ao topo das paradas de discos e morre Curtis Mayfield

showboat
27 de dezembro – Show Boat inaugura o musical moderno, Leonard Cohen lança seu primeiro álbum e o Led Zeppelin, seu segundo


28 de dezembro – Dennis Wilson, dos Beach Boys, morre afogado no mar, Elvis Presley toma LSD e um câncer violento mata Lemmy

cassia
29 de dezembro – Morre Cássia Eller, o casal do Jefferson Airplane se separa e Aimee Mann casa-se com Michael Penn

frank-sinatra
30 de dezembro – Sinatra torna-se o primeiro ícone adolescente do mundo, o fim do Emerson Lake & Palmer e George Harrison é esfaqueado

rodstewart
31 de dezembro – Rod Stewart faz o maior show ao ar livre do mundo, o fim do Max’s Kansas City e Paul McCartney torna-se Sir

Máquina do Tempo: 1° a 30 de novembro

billboard
1° de novembro – O lançamento da revista Billboard, o dia que o mundo conheceu o disco Abbey Road, a morte de Yma Sumac e o aniversário de Pabllo Vittar

youresovain
2 de novembro – Carly Simon lança “You’re So Vain”, a primeira vez do termo “Beatlemania” é a prisão do pai de Marvin Gaye

Vanilla-Ice
3 de novembro – “Ice Ice Baby” levando o rap ao topo das paradas pela primeira vez, a volta dos Righteous Brothers e censura a shows de rock!

good-vibrations
4 de novembro – Os Beach Boys lançam “Good Vibrations”, My Bloody Valentine lança o Loveless e morre Fred “Sonic” Smith

d2
5 de novembro – Aniversário de D2, Thaíde e Mr. Catra, a estreia do programa de Nat King Cole e a morte de Link Wray


6 de dezembro – Taylor Swift lança 1989, os Sex Pistols estreiam ao vivo (por dez minutos!) e os Monkees lançam um filme lóki

ary-barroso
7 de novembro – O nascimento de Ary Barroso, o último show de Aretha Franklin e a morte de Leonard Cohen

led-zeppelin-iv
8 de novembro – O lançamento do quarto disco do Led Zeppelin, David Bowie no programa da Cher e o filme que deu um Oscar pro Eminem

rolling-stone
9 de novembro – É lançada a revista Rolling Stone, o disco 36 Chambers do Wu-Tang Clan, John conhece Yoko e Bowie toca ao vivo pela última vez

queen
10 de novembro – A gravação do clipe de “Bohemian Rhapsody”, o primeiro rap a entrar na lista dos mais vendidos e Chaka Khan com Prince, Stevie Wonder e Melle Mel

twovirgins
11 de novembro – John & Yoko lançam Two Virgins, Bill Haley chega ao topo das paradas e Dylan lança seu primeiro livro

likeavirgin
12 de novembro – Madonna lança o disco Like a Virgin, o estúdio Abbey Road é fundado e o Velvet Underground faz seu primeiro show

qotsa-bataclan
13 de novembro – Atentado terrorista no show do Eagles of Death Metal, “Feelings” ganha o disco de ouro e morre Ol’ Dirty Bastard

Black-or-White
14 de novembro – Michael Jackson lança o clipe de “Black Or White”, Ray Charles chega pela primeira vez ao topo e Pete Townshend assume que é bissexual

millivanilli
15 de novembro – Empresário do Milli Vanilli assume que dupla é uma fraude, Janis Joplin é presa por xingar um guarda e os Dire Straits dominam as paradas

candeia
16 de novembro – A morte de Candeia, a prisão do baterista do Clash e os Stones tocam na festa privê de um bilionário

Composer Heitor Villa-Lobos at the Piano
17 de novembro – Morre o maestro Heitor Villa-Lobos, o primeiro disco das Spice Girls e Patti Smith ganha o National Book Award

genesis-lamb-lies-down
18 de novembro – Genesis lança o clássico The Lamb Lies Down on Broadway, morre Danny Whitten da Crazy Horse de Neil Young e o Nirvana grava seu Acústico MTV

michael-varanda
19 de novembro – Michael Jackson pendura o filho bebê na varanda, Carl Perkins grava “Blue Suede Shoes” e Zappa conclui sua ópera Joe’s Garage

keithmoon
20 de novembro – Keith Moon passa mal e fã termina o show tocando bateria com o Who, Isaac Hayes chega ao topo e Bo Diddley é banido da TV

petergrant
21 de novembro – A morte de Peter Grant, o empresário que fez o Led Zeppelin acontecer, Olivia Newton John emplaca “Physical” e os Beatles lançam Anthology

MichaelHutchence
22 de novembro – A morte acidental do líder do INXS, Michael Hutchence, o início da carreira de Simon & Garfunkel e Pearl Jam apenas em vinil

Jerry-Lee-lewis-mugshot
23 de novembro – Jerry Lee Lewis é preso após baixar armado na casa de Elvis Presley, Pink Floyd nas paradas de sucesso e morre Adoniran Barbosa

Freddie-Mercury
24 de novembro – Morre Freddie Mercury, Howlin’ Wolf toca na Inglaterra e o Crowded House encerra suas atividades

bodyguard
25 de novembro – Estreia Guarda-Costas o filme que catapultou a carreira de Whitney Houston, surge a primeira gravadora online e morre Nick Drake

hacienda
26 de novembro – O clube Haçienda é leiloado, o Cream faz seu último show e Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, é declarado morto

justifymylove
27 de novembro – O clipe de “Justify My Love” é banido da MTV, Hendrix comemora aniversário num show dos Stones e o Pavement termina ao vivo

elton-lennon
28 de novembro – John Lennon toca pela última vez ao vivo (ao lado de Elton John), Kurt Cobain zoa o Top of the Pops e Britney dá a volta por cima

susanboyle
29 de novembro – O fenômeno Susan Boyle cumpre a promessa em seu primeiro álbum, morre George Harrison e Taylor Swift substitui a si mesma no topo

cartola
30 de novembro – Morre Cartola, Michael Jackson lança Thriller, Madchester chega ao Top of the Pops e Joey Ramone vira um quarteirão em NY

Leonard Cohen 2017: “It’s au revoir”

leonard--cohen

“Me sinto mais forte, mas estou mais fraco”, diz o velho Leonard Cohen no início do clipe póstumo para “Traveling Light”, de seu último disco, You Want it Darker, lançado meses após sua morte.

Os 75 Melhores Discos de 2016 – 46) Leonard Cohen – You Want it Darker

46-cohen

Réquiem para si mesmo.

Revisitando 2016

2016-blogodomatias

O ano está chegando ao fim e eu aproveitei pra recapitular 2016 a partir de post que fiz no meu blog no UOL durante estes 365 dias.

Não vou tentar resumir tudo que aconteceu em 2016 num único post: vou me ater ao que foi assunto nos últimos doze meses aqui neste blog, que está prestes a completar dois anos aqui no UOL. Em vez de fazer uma relação de melhores discos, filmes ou séries, vou me ater a separar o que achei de melhor e de pior no ano que está chegando ao fim. Entre os piores momentos estão inevitavelmente algumas das mortes que ajudaram a temperar este ano tão complicado, mas que também trouxe grandes momentos para uma cultura em plena transformação. Separei um parágrafo do texto original de cada item escolhido e o título do item linka para o post específico, caso você não o tenha lido quando eu escrevi. De brinde, reuni os textos de 10 discos clássicos que comemoraram aniversário este ano. As três listas seguem o mesmo padrão de contagem regressiva.

Os 10 melhores de 2016

10) Rua Cloverfield, 10

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman

“Rua Cloverfield, 10 é da escola de filmes de terror que flertam com o pop e experimentalismo cinematográfico ao mesmo tempo, como Psicose, O Despertar dos Mortos, O Massacre da Serra Elétrica, Bruxa de Blair, O Homem de Palha, o espanhol [REC] e A Morte do Demônio – embora não seja propriamente um filme de terror. Não é uma obra-prima com algum dos filmes que citei e chafurda na vulgaridade B da literatura pulp e dos seriados dos anos 60 que tanto encantam J.J. Abrams (sua conclusão é o melhor exemplo disso). Mas suas atuações convencem o espectador e a direção transcende o trivial teatro filmado, com closes fortes e ritmo crescente.”

9) Capitão América – Guerra Civil

De frente

De frente

“A Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis. Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.”

8) House of Cards

F.U.

F.U.

“Em seus dois últimos episódios, a quarta temporada de House of Cards abandona qualquer resquício de fraqueza que havia mostrado nos episódios anteriores e ressurge grandiosa, operática, bélica. O drama shakespereano dá lugar a um mosaico político que faz Maquiavel e Sun Tzu sentarem-se em um xadrez brutalmente tenso, impassível entre bombas, metafóricas ou literais. E o gesto final de Underwood trava a temporada num impasse moral que desnuda completamente o jogo político e pode fazer a próxima temporada ser a última da série (embora ninguém tenha confirmado isso). O fato da temporada começar com uma cena de masturbação em uma cela na cadeia e terminar com um assassinato e uma cena de tortura psicológica coletiva diz muito sobre o tom da temporada.”

7) Novos Baianos e Wilco (empatados)

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

Imagem: Manuela Scapra /Brazil News

“Era claro que a noite era voltada para 1972 e os grandes momentos foram os daquele disco. E se Paulinho brilhou nas delicadas “Mistério do Planeta” e “Swing de Campo Grande”, Baby e Pepeu se reencontravam como um casal musical nos solos rasgados de “A Menina Dança” e “Tinindo Trincando”, como fizeram em seu emocionante reencontro no Rock in Rio do ano passado. O único senão era a voz de Moraes Moreira, que não possui aquele antigo doce timbre e em alguns momentos soa sofrível, chegando quase a estragar “Preta Pretinha”. Felizmente, num dos principais momentos da noite, ele canta num tom abaixo e sua volta por um instante a sintonizar com seu timbre do passado – e a faixa que batiza o álbum clássico foi um dos momentos mais tocantes de toda a noite.”

Imagem: Flávio Florido/UOL

Imagem: Flávio Florido/UOL

“Ao lado de Jeff (Tweedy), o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.”

6) Dr. Estranho

Benedict Cumberbatch

Benedict Cumberbatch

“É o filme mais maduro da Marvel até agora e, coincidentemente, sua produção mais psicodélica. Toda aura mística e espiritual do médico que sofre um acidente que o impossibilita de continuar seu trabalho era traduzida em imagens grandiosas e espetaculares nos quadrinhos, publicados principalmente na virada dos anos 60 para os anos 70, auge da experimentação lisérgica da cultura pop. Os autores da Marvel do período – especificamente Steve Dikto, que recebe o crédito de autoria do personagem do novo filme – aproveitavam cores e formas para expandir os limites dos quadrinhos em páginas duplas épicas, cheias de detalhes.”

5) Stranger Things e Coquetel Molotov 2016 (empatados)

Onze e a turma

Onze e a turma

“E esse é o grande segredo da série – não é apenas uma coletânea de referências, é uma história bem contada. Não é uma história nova (qual história é propriamente nova?), mas Stranger Things não cai no erro de Vinyl de achar que basta ambientar bem um período e transformar arquétipos em personagens para que as coisas funcionem sozinhas. A motivação de todos os personagens é bem definida e seus atores estão muito à vontade nestes papéis, mesmos aqueles com menor envolvimento com a trama principal (o núcleo adolescente, por exemplo, mereceria uma série própria). Só o Brenner de Mathew Modine que é mal explorado e um personagem que pode ser tão profundo quanto o Walter Bishop de Fringe vira só um vilão do Scooby-Doo. Talvez tenham guardado seus segredos para uma segunda temporada, que parece inevitável.”

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

Jaloo (Foto: Beto FIgueiroa/Divulgação)

“Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.”

4) Bowie – ★

A capa do último disco de David Bowie

A capa do último disco de David Bowie

“Todo o simbolismo e o hermetismo que Bowie havia colocado em seu vigésimo quinto álbum foi revelado com a notícia de sua morte na manhã da segunda-feira passada. Soubemos que Bowie já vinha se tratando em relação a um câncer por dezoito meses e que gravou o disco como um testamento para os fãs. Daí a ausência da capa. Eis a estrela negra – a própria morte. Encenada e transformada em arte.”

3) Rogue One

Felicity Jones

Felicity Jones

“É um filme de guerra, com cenas de batalhas espetaculares, mas também um filme sobre um universo em expansão: na primeira meia hora somos apresentados a paisagens e planetas novíssimos, que em breve serão habitados em filmes futuros. Mas também há doses pesadas de emoção – dá pra segurar o choro em pelo menos duas cenas – e a palavra de ordem é esperança. Esperança não apenas para o futuro da história nos filmes (afinal, ele antecede a primeira trilogia, iniciada em 1977), mas também para o rumo que a Lucasfilm está levando sua série. E prepare-se para a terceira parte do filme, que ela é de tirar o fôlego – em vários momentos.”

2) Westworld

Evan Rachel Wood

Evan Rachel Wood

“E a HBO conseguiu mais uma vez. Westworld vem superando todas as expectativas, episódio a episódio, e caminha para se tornar o grande evento da TV em 2016, fazendo a emissora recuperar-se do fiasco que foi a primeira temporada de Vinyl e a promissora mas fria The Night Of. Um enorme quebra-cabeças magistralmente montado em frente aos nossos olhos, intercalando a frieza de máquinas com o calor do velho oeste norte-americano, reinventando completamente uma premissa simples de um filme dos anos 70 para o século 21 e enfileirando monólogos magistrais, atuações impecáveis, cenas intensas, diálogos esclarecedores, teorias complexas e revelações sensacionais.”

1) Radiohead – A Moon Shaped Pool

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

A enigmática capa do disco mais recente do grupo inglês

“Mesmo que não seja seu último disco (torço que não seja), A Moon Shape Pool entra para a discografia da banda como seu disco mais maduro e mais apaixonado, mesmo que estas paixões venham corroídas. É um disco suave e tenso ao mesmo tempo, de sonoridade grandiosa recolhida em pequenos frascos de som. Por vezes soa folk, por outras árcade e o tempo todo nos conduz com o coração. Mais um disco perfeito produzido por uma banda que segue no auge há vinte anos.”

Os 10 piores de 2016

10) Esquadrão Suicida

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

Jai Courtney, Margot Robbie, Will Smith, Karen Fukuhara, Joel Kinnaman, Adewale Akinnuoye-Agbaje e Jay Hernandez

“No fim, Esquadrão Suicida parece ser uma versão dos Guardiões da Galáxia vivida pelo Slipknot (nome, aliás, de um dos supervilões secundários). É intenso, é barulhento, faz rir e passar raiva como uma criança birrenta – porque no fundo, ele é só isso: um filme bobo. Tem bons momentos (nenhum deles com o Ben Affleck), mas não vale o preço do ingresso no cinema – nem no pay per view. Espera passar na TV, que é o lugar certo pra um filme desses – faz o tempo passar, dá pra ir no banheiro ou para a geladeira sem precisar apertar o pause ou dormir no meio sem culpa. Ou seja, é melhor que Batman vs. Superman.”

9) Vinyl

Bobby Cannavale

Bobby Cannavale

“Usar uma gravadora como ponto de observação daquela década parecia tão apetitoso quanto assistir às transformações da década anterior a partir de uma agência de publicidade (a premissa da excelente Mad Men). O problema é que, pra começar, Vinyl usava isso apenas como pano de fundo. Misturava biografias e mitologias diferentes em uma narrativa que parecia sofrer dos principais problemas da década. Só quem se beneficiava era a trilha sonora e a direção de arte (que também sofria do exagero da década). Todo o resto era humilhantemente constrangedor.”

8) O fim da tira Chiclete com Banana

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

Última tira Chiclete com Banana, publicada no dia 8 de maio de 2016, na Folha de S. Paulo

“Desligar Chiclete com Banana é uma forma de manter-se vivo. Se continuasse, Angeli poderia ficar ainda mais existencialista e a acidez do passado iria dissolver-se num eterno amargor que começaria a lhe fazer mal. A nos fazer mal. Mal, com letra maiúscula. Felizmente, ele percebeu a tempo de fechar o ciclo. E, com o fim de um ciclo, começa outro – será que agora vamos ver graphic novels ou telas imensas feitas por um sujeito que começou desenhando nas páginas de jornal? Grandes artistas passam por grandes mudanças, algumas vezes sem ter a consciência disso, e conseguem se superar mudando completamente o ritmo do próprio trabalho – Picasso, Rothko, Chuck Close, Lichtenstein, Crumb. Talvez o fim de Chiclete com Banana dê início a uma nova fase para Angeli. Estou na torcida.”

7) Batman vs. Superman

Lixo

Lixo

“Não perca seu tempo nem seu dinheiro vendo este filme. Não recomendo nem que você espere passar na TV aberta para assisti-lo dublado. Porque é um dos piores filmes deste século, tranquilamente. Mas eu sei, você é fã de quadrinhos e fã de filmes de super-herói e vai pagar pra assistir a esse filme no cinema, mesmo com todos os pés atrás possíveis. A gente precisa ver pra ter certeza que não estragaram essa mitologia que crescemos vendo, afinal gastaram tanto dinheiro com isso, né? Não pode ser tão ruim. Pois pode. Pode e é. É o cúmulo do lixo filmado, tudo que está errado em Hollywood atualmente, mais um filme de ação hiperbólico rodando em falso. Mas não mata o gênero super-herói nos cinemas, especialmente se a Warner tirar Zack Snyder da jogada.”

6) A morte de George Michael

george-michael

“Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.”

5) A morte de Leonard Cohen

cohen (1)

“Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra. Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.”

4) A morte de George Martin

beatles-george-martin-

“O barateamento das tecnologias de gravação, o surgimento do hip hop e da música eletrônica e a excelência dos atuais programas digitais de edição de som permitiu que as gerações de produtores seguintes se inspirassem no legado de Martin com os Beatles e fossem além. Hoje há pelo menos três gerações de músicos que não tocam instrumentos musicais e sim outros músicos – um espectro gigantesco que abrange Brian Eno, Dr. Dre, Teo Macero e Lee Perry, que ainda inclui multiinstrumentistas como Prince e Brian Wilson – que deve sua existência ao casamento pioneiro entre os Beatles e George Martin. São dois legados diferentes que se misturam, mas igualmente importante para a cultura atual: o do grupo e o do produtor.”

3) A morte de Carrie Fisher

carriefisher

“Não era mais uma donzela em pânico esperando ser salva por seu herói, mas ela mesma era uma heroína e fazia parte da gangue. E em Carrie Fisher a personagem cresceu significamente – ao ser interpretada por uma atriz nascida no showbusiness (filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds), a personagem ganhava uma dose de cinismo, arrogância e despeito que nunca estiveram em uma personagem mulher num filme que atingira um público tão grande. Ela era herdeira direta das protagonistas dos filmes da nouvelle vague francesa: Luke, Leia e Han Solo pareciam ser uma versão norte-americana do trio protagonista do Jules e Jim de Truffaut e uma frase do próprio Godard (“Tudo que você precisa em um filme é de uma garota com uma arma”) é a base para sua presença na tela durante os três primeiros filmes da saga Skywalker. E, claro, assistir as transformações sociais do mundo nos anos 60 ainda criança fez que ela levasse aqueles valores para um personagem que iria mudar a forma como as mulheres se viam fora do cinema.”

2) A morte de Prince

prince-purplerain

“Era uma versão masculina da Madonna que tocava todos os instrumentos que queria aprender, um George Clinton que pilotava uma espaçonave sexual, inventor de um funk sintético recheado de soul music e coberto pela estética do rock. Ele ajudou a soul music e a discoteca a se transformarem no R&B moderno ao acompanhar a evolução apontada pelo hip hop tocando instrumentos em vez de discos. Um explorador sônico que usava timbres eletrônicos como desculpa para desbravar ambientes musicais improváveis – e grudentos.”

1) A morte de David Bowie

david-bowie

“Bowie transformou a sensação de estranhamento que todos nós sentimos – em maior ou menos escala – em grande arte. Estranhamento em relação ao mundo, à sociedade, à vida, a si mesmo. Contemporâneo da geração de ouro da história do rock (era cinco anos mais novo que Paul McCartney, dois anos mais novo que Pete Townshend e Eric Clapton), ele chegou tarde nos anos 60 para garantir presença no panteão que mudou a história da cultura ocidental. Mas não sem motivo. Ao lançar a própria carreira no final da década do rock clássico, ele a sincronizou com um momento único na história da humanidade e fez-se notar pela primeira vez lançando uma música sobre a solidão no espaço sideral e o olhar frio e distante sobre o planeta, a Terra, o mundo, nós mesmos.”

Dez discos clássicos que fizeram aniversário em 2016

10) 25 anos de Bandwagonesque

bandwagonesque

“Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.”

9) 40 anos do primeiro disco dos Ramones

ramones

“A essência dos Ramones era sua unidade: tudo soava como uma coisa só. Não importavam os instrumentos, baixo, guitarra e bateria seguiam o mesmo ritmo. Os temas das músicas menos ainda – podiam estar cantando sobre nazismo ou sobre dançar, o tom era sempre o mesmo. As músicas pareciam as mesmas e duravam dois minutos cada. Os músicos pareciam o mesmo e seguiam mal encarados independentemente da reação da plateia. O baixista gritava “1-2-3-4″ e as músicas começavam com a mesma grosseria que terminavam. Os Ramones eram repetitivos, monótonos, barulhentos, ameaçadores – essa era sua magia. Aos ouvidos do século 21 os Ramones soam quase inofensivos, mas no meio dos anos 70 era o patinho feio, uma mancha grosseira na bela paisagem do rock de então. Foram eles que plantaram a semente que mudou tudo.”

8) 25 anos de Nevermind

Nevermind

“Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.”

7) 25 anos de Loveless

loveless

“Por toda sua extensão Loveless é um sonho tocado no último volume. O estranho assobio produzido pela forma de tocar guitarra de seu líder Kevin Shields é apenas um dos elementos únicos que definem a banda, como a onipresente parede elétrica de microfonia anestesiada, os doces vocais que sussurram no abismo, o acúmulo de instrumentos, a presença quase sutil de uma bateria montada na pós-produção, em loop eletrônico, o efeito entortado que o uso da alavanca de tremolo dá aos acordes secos e multiplicados, as eventuais ondas de ruído que parecem funcionar como abóbodas de catedrais.”

6) 25 anos de BloodSugarSexMagik

Red-Hot-Chili-Peppers-Blood-Sugar-Sex-Magik

“Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.”

5) 25 anos de Screamadelica

screamadelica

“”Este é um dia lindo… Um novo dia…”, bradava o reverendo sobre uma base borbulhante, “Nós estamos juntos… Nós estamos unidos… E todos de acordo… Porque quando estamos juntos temos força… E podemos tomar decisões… No programa de hoje ouviremos gospel e rhythm & blues e jazz. São apenas rótulos. Sabemos que música é música”, formalizando Screamadelica como um novo artefato pop: um disco de protesto para dançar e viajar, sintetizado neste discurso sampleado. Uma lição que não tem idade – seja em 1956, 1967, 1972, 1978, 1991, 2016 ou em qualquer outra época – afinal, se Jesse Jackson nos lembra que tudo é música, a própria psicodelia e o Primal Scream, também nos lembram que o tempo não existe.”

4) 30 anos de The Queen is Dead

smiths-the-queen-is-dead

“Foi assim que os Smiths abriram um caminho alternativo para o rock, quase trinta anos após sua criação nos anos 50. No momento em que o aspecto guerreiro e trovador do formato se transformava em caricatura ou em algo pior – um mero produto -, o grupo inglês reanimou aquela formação musical para que ela pudesse persistir por mais algumas décadas, apontando para valores considerados secundários no gênero, como a sensibilidade, a timidez, a revolta interior. Um legado imensurável.”

3) 50 anos de Pet Sounds

petsounds1

“Mesmo que o disco tenha azedado sua relação com seu primo Mike Love, causando o principal cisma na história do grupo, ele é o ápice da carreira de Brian Wilson e dos Beach Boys. A provocação foi entendida pelos Beatles do outro lado do Atlântico, quando Paul McCartney – nascido apenas dois dias antees que Brian – ouviu o disco com a mesma sensação que Brian ouvira Rubber Soul, provocando-o a ser ainda mais ousado com os Beatles, o que lhe fez criar o conceito do disco Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, lançado em 1967. Foi apenas um entre os vários artistas influenciados por um disco que foi crucial na transformação que aconteceu nos anos 60 e até hoje faz novos fãs – e que, sem exagero, mudou a cara do pop, que teve no álbum a certeza de que era possível ser mais artístico, autoral e comercial ao mesmo tempo.”

2) 50 anos de Blonde on Blonde

blonde

“São músicas que estão entre as grandes músicas daquele período, independentemente do gênero musical, e, em sua maioria, clássicos do século passado. Da jocosa “Rainy Day Women #12 & 35″ – que abre o disco como uma banda marcial chapada, com Dylan repetindo o trocadilho raso “everybody must get stoned” às gargalhadas, em que brincava com o duplo sentido da palavra “stoned” (apedrejado ou chapado) – à pesarosa “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, que ocupa todo o último lado do segundo disco, somos apresentados a um desfile tão impressionante de músicas boas que parece inacreditável que pertençam a um mesmo disco: “Pledging My Time”, “Visions of Johanna”, “One of Us Must Know (Sooner or Later)”, “I Want You”, “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, “Just Like a Woman”, “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine”, “Temporary Like Achilles”, “Absolutely Sweet Marie”, “4th Time Around” e “Obviously 5 Believers” estão todas entre as melhores canções de Dylan e em todas ele consegue equilibrar a autoridade e altivez da arte com a força e crueza do rock.”

1) 50 anos de Revolver

revolver

“A experimentações iam para todos os lados. Solos de guitarra invertidos, canções gravadas em uma velocidade e tornadas mais lentas no estúdio, instrumentos eruditos e estrangeiros, colagens e efeitos sonoros, metais, percussão, microfones colocados em lugares inusitados, cordas inspiradas nos filmes de Truffaut e Hitchcock, letras sobre drogas, morte, sonhos, impostos e um submarino amarelo. Sonatas perfeitas, saudações à vida, composições inspiradas pelos Beach Boys, por Bob Dylan e LSD, romances críveis, palavras de ordem, sentimentos expostos e uma viagem à Índia. Três músicas de George Harrison e uma cantada por Ringo, um conjunto de músicas que não estão entre os grandes hits da banda mas que moram no coração de qualquer fã do grupo.”

E assim despeço-me deste ano que, apesar de tudo, teve seus momentos. O blog volta à ativa no dia 9 de janeiro (ou se acontecer algo urgente, a qualquer momento). Obrigado pela companhia e feliz 2017!

Para exorcizar 2016

agridoce

Ano pesado esse que termina, sob diversos pontos de vista. E foi pensando em lavar a alma que Pitty desenterrou uma das faixas de seu Agridoce, o projeto acústico ao lado do guitarrista Martin, que não foi para o disco de 2011. A escolhida para exorcizar 2016 é a clássica “Hallelujah”, de uma das grandes vítimas do ano, Leonard Cohen, que chega em primeira mão via Trabalho Sujo. “Tinha muita jam entre as sessões de gravação, tocávamos várias músicas de outros artistas, essa foi uma delas, uma sobra de estúdio que lembramos agora que existia”, lembra. “Não só por causa de Cohen, mas por todo o ano de 2016, que parece ter tido uma áurea mais densa, com tanta coisa acontecendo, decidimos compartilhar. Vi muita gente comentando sobre esse ano ter sido tenso. Que todas as perdas sejam curadas e que venha o ano novo. Que essa música e esse vídeo sirvam para fechar a tampa de 2016, levando embora as coisas pesadas, e abrir os caminhos para 2017”.

Tomara, viu, Pitty. Porque ô aninho brabo…

Traduzindo Leonard Cohen

leonard-cohen

O publicitário paranaense Diego Zerwes dedicou um blog inteirinho à tradução da obra de Leonard Cohen, que faleceu no início deste mês. Além de todas as músicas de sua discografia traduzidas e organizadas por álbum, ele ainda reuniu – e traduziu – outros textos de Cohen que encontrou por aí. Um senhor trabalho. Como amostra, deixo sua tradução para uma de suas maiores canções, o hino “Anthem” (desculpem), de onde saiu um de seus versos mais fortes, que fecha a canção:

Anthem

The birds they sang
at the break of day
Start again
I heard them say
Don’t dwell on what
has passed away
or what is yet to be.

Ah the wars they will
be fought again
The holy dove
She will be caught again
bought and sold
and bought again
the dove is never free.

Ring the bells that still can ring
Forget your perfect offering
There is a crack in everything
That’s how the light gets in.

We asked for signs
the signs were sent:
the birth betrayed
the marriage spent
Yeah the widowhood
of every government —
signs for all to see.

I can’t run no more
with that lawless crowd
while the killers in high places
say their prayers out loud.
But they’ve summoned, they’ve summoned up
a thundercloud
and they’re going to hear from me.

Ring the bells that still can ring …

You can add up the parts
but you won’t have the sum
You can strike up the march,
there is no drum
Every heart, every heart
to love will come
but like a refugee.

Ring the bells that still can ring
Forget your perfect offering
There is a crack, a crack in everything
That’s how the light gets in.

Ring the bells that still can ring
Forget your perfect offering
There is a crack, a crack in everything
That’s how the light gets in.
That’s how the light gets in.
That’s how the light gets in.

Hino

Os pássaros cantam
no raiar do dia
Cantam de novo
e os ouço dizer
Não viva naquilo
que já passou
ou no porvir.

As guerras serão
lutadas de novo
A pomba sagrada
será enclausurada de novo
comprada e vendida
e comprada de novo
a pomba nunca está livre

Soem os sinos que ainda podem soar
Esqueça sua oferenda divina
Em tudo há uma fenda
e é por ela que a luz entra.

Solicitamos sinais
os sinais foram enviados:
o nascimento traído
o extenuado casamento
Sim, a viúva
de cada governo –
sinais para todos verem.

Não consigo mais correr
com essa multidão desregrada
enquanto assassinos, em posições privilegiadas
fazem suas orações em voz alta
Mas eles clamaram, clamaram
por uma nuvem tempestuosa
e eles ouvirão de mim.

Soem os sinos que ainda podem soar…

Você pode adicionar os pedaços
mas não terá a soma
Você pode iniciar a marcha,
não há a batida que guia
Cada coração, cada coração
ao amor irá chegar,
como um refúgio, porém.

Soem os sinos que ainda podem soar
Esqueça sua oferenda divina
Em tudo há uma fenda
e é por ela que a luz entra.

Soem os sinos que ainda podem soar
Esqueça sua oferenda divina
Em tudo há uma fenda
e é por ela que a luz entra.
e é por ela que a luz entra.
e é por ela que a luz entra.

Dica do André Marx (valeu!).

Leonard Cohen (1934-2016)

cohen

Escrevi lá no meu blog no UOL sobre a importância de não lamentar a morte do homem que nos ensinou o que é ser adulto.

Vamos deixar de mimimi. Não venha com “2016, que ano horrível”. Leonard Cohen já havia avisado que estava pronto para morrer. Dias depois voltou atrás, falando que iria viver até os 120 anos, provavelmente depois de ter tomado um puxão de orelha de alguém mais próximo. “Não, não fala uma coisa dessas”, alguém deve ter dito. Mas ele sabia. Estava com 82 anos, ergueu uma trajetória ímpar, cronista da constante consciência da maturidade. Provavelmente olhou para o curto futuro e falou “é isso”. Cumpriu seu papel. Encerrou seu ciclo. Hora de acabar. Tudo bem.

Não o envergonhem com emoticons chorosos, lamúrias autoindulgentes, um luto egocêntrico que parece mais festejar a importância do sofredor do que a obra do morto. A morte é o único destino definido, o outro momento (após o nascer) que nos define como seres humanos. É uma determinação biológica, não escolhe vencedores. Todo fã – ou mero ouvinte – de Leonard Cohen devia saber disso. O fim é inevitável, o que importa acontece antes.

Ouvi-lo dizer que estava “pronto para morrer” me causou uma sensação indescritível de respeito. Não sei se ele sofria de alguma doença terminal ou se estava apenas farto (acontece) de repetir a rotina interminável entre despertares e adormeceres. Olhou para o rastro que deixou em sua existência e suspirou contente. Creio que Lou Reed deva ter passado por sensação semelhante. David Bowie. Prince, embora ainda mais precoce. A sensação de ter deixado sua marca na história da humanidade só deve ser próxima à da criação de tal legado. Como deve ser compor “Heroes”? “Purple Rain”? “A Perfect Day”? “Suzanne”? “Bird on a Wire”? I’m Your Man”?

Cohen, temporão, começou sua carreira fonográfica aos 34 anos, idade que qualquer diretor artístico, empresário ou produtor desaconselharia um início de carreira na música pop. Acadêmico, romancista e poeta, já havia publicado vários livros no início dos anos 60 e, depois de desistir das letras impressas, resolveu abraçar a canção. Associou-se à Factory de Andy Warhol e no mítico 1967 de Sgt. Pepper’s, The Piper at the Gates of Dawn, do primeiro do Velvet Underground, dos Doors e de Jimi Hendrix, lançou seu disco de estreia, o irretocável Songs of Leonard Cohen, que dizia com seu timbre essencialmente masculino, embora não másculo, que era hora de começar a amadurecer.

Sua grande contribuição à história do pop é justamente a consciência da maturidade, algo que artistas contemporâneos começavam a tatear. Os Beatles, Dylan, The Who, os Kinks, o próprio Velvet Underground e as Mothers of Invention de Frank Zappa olhavam para um futuro próximo à medida que deixavam a adolescência. Mas Cohen já vislumbrava os quarenta anos e sua base literária contemplava um futuro em câmera lenta, de timbre áspero, sonoridade gasta. Cohen dava adeus à eletricidade, à pressa, ao ritmo frenético e ao refrão inevitável. Cantava como contava, cronista de seu tempo, flertando com o cinema (Robert Altman nos anos 70) e a TV (Miami Vice nos anos 80, True Detective nos 2010) sem nunca perder o prumo de sua identidade musical. Sempre cético e cru, pavimentou o caminho para autores modernos do calibre de Tom Waits, Nick Cave, Patti Smith, Bruce Springsteen, Cat Power, Jeff Buckley, Ben Harper, Father John Misty, Laura Marling, Elliott Smith, Elvis Costello e PJ Harvey.

Nos anos 80 compôs seu grande hit, “Hallelujah”, eternizado por vozes tão diferentes quanto Jeff Buckley, Rufus Wainwright e John Cale, que lhe pagava as contas ao figurar em hits modernos como Shrek e a versão cinematográfica de Watchmen. “Hallelujah” era a “Imagine” de Cohen, a versão mais adocicada dele mesmo que lhe dava liberdade para compor o que quisesse.

E manter-se com o cigarro, uma dose de destilado, o terno bem cortado, a penumbra, dores e amores. “Primeiro, Manhattan; depois Berlim” – o tom grave e solene cantava delírios de grandeza, dores de crescimento, seduções latentes, devaneios arruinados, desilusões amorosas, fins de relacionamentos. “Vida que segue”, parecia murmurar cúmplice ao ouvinte, entornando outra dose gorda de scotch.

Ao final de sua vida, compôs discos que, vistos em retrospecto, soam como manifestos e epitáfios simultâneos: Old Ideas, de 2012, e You Want it Darker, lançado há pouco mais de um mês. Discos que, sabendo do capítulo final de sua biografia, ganham um contexto e uma profundidade a mais, como o último capítulo de David Bowie, Blackstar.

Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra.

Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.

Vida Fodona #547: Leonard Cohen (1934-2016)

vf547

“There is a crack in everything, that’s how the light gets in”

Leonard Cohen sobre Bob Dylan, Bob Dylan sobre Leonard Cohen

cohen

O melhor texto que você vai ler sobre Leonard Cohen hoje saiu na New Yorker no mês passado, assinado por David Remnick. O texto é inteirinho excelente, mas destaco o trecho em que ele conversa com Cohen sobre Dylan (que disse para ele: “Você é o número 1, eu sou o número 0”) e que depois leva Cohen para ser discutido pelo próprio Dylan (em inglês, se alguém se dispuser a traduzir, posta aí nos comentários que eu publico no post com os devidos créditos):

The same set of ears that first tuned in to Bob Dylan, in 1961, discovered Leonard Cohen, in 1966. This was John Hammond, a patrician related to the Vanderbilts, and by far the most perceptive scout and producer in the business. He was instrumental in the first recordings of Count Basie, Big Joe Turner, Benny Goodman, Aretha Franklin, and Billie Holiday. Tipped off by friends who were following the folk scene downtown, Hammond called Cohen and asked if he would play for him.

Cohen was thirty-two, a published poet and novelist, but, though a year older than Elvis Presley, a musical novice. He had turned to songwriting largely because he wasn’t making a living as a writer. He was staying on the fourth floor of the Chelsea Hotel, on West Twenty-third Street, and filled notebooks during the day. At night, he sang his songs in clubs and met people on the scene: Patti Smith, Lou Reed (who admired Cohen’s novel “Beautiful Losers”), Jimi Hendrix (who jammed with him on, of all things, “Suzanne”), and, if just for a night, Janis Joplin (“giving me head on the unmade bed / while the limousines wait in the street”).

After taking Cohen to lunch one day, Hammond suggested that they go to Cohen’s room, and, sitting on his bed, Cohen played “Suzanne,” “Hey, That’s No Way to Say Goodbye,” “The Stranger Song,” and a few others.

When Cohen finished, Hammond grinned and said, “You’ve got it.”

A few months after his audition, Cohen put on a suit and went to the Columbia recording studios in midtown to begin work on his first album. Hammond was encouraging after every take. And after one he said, “Watch out, Dylan!”

Cohen’s links to Dylan were obvious—Jewish, literary, a penchant for Biblical imagery, Hammond’s tutelage—but the work was divergent. Dylan, even on his earliest records, was moving toward more surrealist, free-associative language and the furious abandon of rock and roll. Cohen’s lyrics were no less imaginative or charged, no less ironic or self-investigating, but he was clearer, more economical and formal, more liturgical.

Over the decades, Dylan and Cohen saw each other from time to time. In the early eighties, Cohen went to see Dylan perform in Paris, and the next morning in a café they talked about their latest work. Dylan was especially interested in “Hallelujah.” Even before three hundred other performers made “Hallelujah” famous with their cover versions, long before the song was included on the soundtrack for “Shrek” and as a staple on “American Idol,” Dylan recognized the beauty of its marriage of the sacred and the profane. He asked Cohen how long it took him to write.

“Two years,” Cohen lied.

Actually, “Hallelujah” had taken him five years. He drafted dozens of verses and then it was years more before he settled on a final version. In several writing sessions, he found himself in his underwear, banging his head against a hotel-room floor.

Cohen told Dylan, “I really like ‘I and I,’ ” a song that appeared on Dylan’s album “Infidels.” “How long did it take you to write that?”

“About fifteen minutes,” Dylan said.

When I asked Cohen about that exchange, he said, “That’s just the way the cards are dealt.” As for Dylan’s comment that Cohen’s songs at the time were “like prayers,” Cohen seemed dismissive of any attempt to plumb the mysteries of creation.

“I have no idea what I am doing,” he said. “It’s hard to describe. As I approach the end of my life, I have even less and less interest in examining what have got to be very superficial evaluations or opinions about the significance of one’s life or one’s work. I was never given to it when I was healthy, and I am less given to it now.”

Although Cohen was steeped more in the country tradition, he was swept up when he heard Dylan’s “Bringing It All Back Home” and “Highway 61 Revisited.” One afternoon, years later, when the two had become friendly, Dylan called him in Los Angeles and said he wanted to show him a piece of property he’d bought. Dylan did the driving.

“One of his songs came on the radio,” Cohen recalled. “I think it was ‘Just Like a Woman’ or something like that. It came to the bridge of the song, and he said, ‘A lot of eighteen-wheelers crossed that bridge.’ Meaning it was a powerful bridge.”

Dylan went on driving. After a while, he told Cohen that a famous songwriter of the day had told him, “O.K., Bob, you’re Number 1, but I’m Number 2.”

Cohen smiled. “Then Dylan says to me, ‘As far as I’m concerned, Leonard, you’re Number 1. I’m Number Zero.’ Meaning, as I understood it at the time—and I was not ready to dispute it—that his work was beyond measure and my work was pretty good.”

Dylan, who is seventy-five, doesn’t often play the role of music critic, but he proved eager to discuss Leonard Cohen. I put a series of questions to him about Number 1, and he answered in a detailed, critical way—nothing cryptic or elusive.

“When people talk about Leonard, they fail to mention his melodies, which to me, along with his lyrics, are his greatest genius,” Dylan said. “Even the counterpoint lines—they give a celestial character and melodic lift to every one of his songs. As far as I know, no one else comes close to this in modern music. Even the simplest song, like ‘The Law,’ which is structured on two fundamental chords, has counterpoint lines that are essential, and anybody who even thinks about doing this song and loves the lyrics would have to build around the counterpoint lines.

“His gift or genius is in his connection to the music of the spheres,” Dylan went on. “In the song ‘Sisters of Mercy,’ for instance, the verses are four elemental lines which change and move at predictable intervals . . . but the tune is anything but predictable. The song just comes in and states a fact. And after that anything can happen and it does, and Leonard allows it to happen. His tone is far from condescending or mocking. He is a tough-minded lover who doesn’t recognize the brush-off. Leonard’s always above it all. ‘Sisters of Mercy’ is verse after verse of four distinctive lines, in perfect meter, with no chorus, quivering with drama. The first line begins in a minor key. The second line goes from minor to major and steps up, and changes melody and variation. The third line steps up even higher than that to a different degree, and then the fourth line comes back to the beginning. This is a deceptively unusual musical theme, with or without lyrics. But it’s so subtle a listener doesn’t realize he’s been taken on a musical journey and dropped off somewhere, with or without lyrics.”

In the late eighties, Dylan performed “Hallelujah” on the road as a roughshod blues with a sly, ascending chorus. His version sounds less like the prettified Jeff Buckley version than like a work by John Lee Hooker. “That song ‘Hallelujah’ has resonance for me,” Dylan said. “There again, it’s a beautifully constructed melody that steps up, evolves, and slips back, all in quick time. But this song has a connective chorus, which when it comes in has a power all of its own. The ‘secret chord’ and the point-blank I-know-you-better-than-you-know-yourself aspect of the song has plenty of resonance for me.”

I asked Dylan whether he preferred Cohen’s later work, so colored with intimations of the end. “I like all of Leonard’s songs, early or late,” he said. “ ‘Going Home,’ ‘Show Me the Place,’ ‘The Darkness.’ These are all great songs, deep and truthful as ever and multidimensional, surprisingly melodic, and they make you think and feel. I like some of his later songs even better than his early ones. Yet there’s a simplicity to his early ones that I like, too.”

Dylan defended Cohen against the familiar critical reproach that his is music to slit your wrists by. He compared him to the Russian Jewish immigrant who wrote “Easter Parade.” “I see no disenchantment in Leonard’s lyrics at all,” Dylan said. “There’s always a direct sentiment, as if he’s holding a conversation and telling you something, him doing all the talking, but the listener keeps listening. He’s very much a descendant of Irving Berlin, maybe the only songwriter in modern history that Leonard can be directly related to. Berlin’s songs did the same thing. Berlin was also connected to some kind of celestial sphere. And, like Leonard, he probably had no classical-music training, either. Both of them just hear melodies that most of us can only strive for. Berlin’s lyrics also fell into place and consisted of half lines, full lines at surprising intervals, using simple elongated words. Both Leonard and Berlin are incredibly crafty. Leonard particularly uses chord progressions that seem classical in shape. He is a much more savvy musician than you’d think.”