Ao final de sua apresentação no Centro da Terra nesta terça-feira, Bruno Bruni começou a listar a quantidade de músicos que haviam participado de seu ainda não lançado terceiro disco – que, em vez de trazê-los todos para o palco, preferiu sampleá-los e armazenar em sua MPC – e perdeu a conta quando passou dos vinte convidados. Para não perder-se entre tantas pessoas, fez o show com seu teclado, a bateria de músicos pré-gravados e contou com o sax de Thomaz Souza o acompanhando por todas as músicas e uma sequência de vocalistas de tirar o fôlego – além de Marina Marchi e Flavia K., que já fazem parte de sua entourage musical, Bruni convidou Laura Lavieri, Marina Nemésio e Fernando Soares para acompanhá-los em músicas que nunca foram tocadas ao vivo, com a ênfase no groove que é a característica da trilogia Broovin, que está fechando com o lançamento do próximo álbum, semestre que vem. Foi bonito.
Um pouco mais introspectivo…
Stephen Malkmus – “Love the Door”
Def – “Paraquedas (Boddah)”
Clash – “One More Time”
Tatá Aeroplano – “Deixa Voar”
Kamasi Washington – “Truth”
Bruno Schiavo – “Lambada”
Tommy James & The Shondells – “Crimson & Clover”
Fernê – “Consolação”
Deerhunter – “Heatherwood”
Nomade Orquestra + Juçara Marçal – “Poeta Penso”
Clairo + Danielle Haim – “Bags”
Boogarins – “João 3 Filhos”
Unknown Mortal Orchestra – “Secret Xtians”
Laura Lavieri – “Desastre Solar”/”Radical”
Ariana Grande – “Thank U, Next”
Começando uma nova fase.
Carole King – “I Feel the Earth Move”
Racionais MCs – “Você Me Deve”
Rapture – “Never Die Again”
Unknown Mortal Orchestra – “Everyone Acts Crazy Nowadays”
Yma – “Pequenos Rios”
Nill – “Jovens Telas Trincadas”
Gilberto Gil – “Na Real”
Tatá Aeroplano – “Hoje Eu Não Sou”
Arcade Fire – “It’s Never Over (Oh Orpheus)”
Kali Uchis + Bia – “Miami”
Christina Aguillera – “Genie in a Bottle”
Washed Out – “Instant Calm”
Ike + Tina Turner – “Baby (What You Want Me To Do)”
Mark Ronson – “Stop Me”
Marcelo D2 – “Prelúdio em Rimas Cariocas”
Jonathan Wilson – “Rare Birds”
Laura Lavieri – “Sol do Céu”
Mais uma vez, o Pedro Antunes (que agora está na Rolling Stone) revela a lista com os vinte e cinco indicados a melhor disco de 2018 deste semestre de acordo com a comissão julgadora de música popular da Associação Paulista de Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado ao lado de Marcelo Costa, Lucas Breda, Roberta Martinelli e José Norberto Fletsch. Coube tudo: experimentalismo e MPB tradicional, música instrumental e dance music, indie rock e rap, música eletrônica e pós-rock. A lista está ótima – como a produção musical brasileira tem sido nos últimos anos.
Ana Cañas – Todxs
Baco Exu do Blues – Bluesman
Bixiga 70 – Quebra Cabeça
BK – Gigantes
Cacá Machado – Sibilina
Carne Doce – Tônus
Diomedes Chinaski – Comunista Rico
Duda Beat – Sinto Muito
E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – Fundação
Edgar – Ultrasom
Gilberto Gil – Ok Ok Ok
Josyara – Mansa Fúria
Karol Conká – Ambulante
Laura Lavieri – Desastre Solar
Luiza Lian – Azul Moderno
Lupe de Lupe – Vocação
Mahmundi – Para Dias Ruins
Marcelo D2 – Amar É Para Os Fortes
Mulamba – Mulamba
Pabllo Vittar – Não Para Não
Phill Veras – Alma
Quartabê – Lição#2 Dorival
Rodrigo Campos – 9 Sambas
Samuca e a Selva – Tudo Que Move é Sagrado
Teto Preto – Pedra Preta
A lista com os indicados do primeiro semestre está neste link.
Pra dissipar as trevas.
Massive Attack – “Black Milk”
Yo La Tengo – “Shades of Blue”
Nill – “Atari Level 2”
Flora Matos – “10:45”
Isaac Hayes – “Part-Time Love”
Don L – “Mexe pra Cam”
Beck – “Beautiful Way”
Kanye West + Pusha T – “Runaway”
Blood Orange – “Take Your Time”
Marcelo Cabral – “Ela Riu”
Saulo Duarte – “Avante Delírio”
Tatá Aeroplano – “Vida Inteira”
Laura Lavieri – “Me Dê a Mão”
Betina + Bonifrate – “Aluguel”
A quarta edição do festival da Casa do Mancha teve um imprevisto com sua localização anterior mas segue firme em novo endereço, neste sábado, começando na Void e terminando no Z Carniceria, pertinho do Largo da Batata, aqui em São Paulo. São treze bandas e cinco DJs trazendo apenas o melhor da nova música indie brasileira – e eu estarei lá, mais uma vez ao lado do compadre Danilo Cabral (Luiz está viajando) começando os trabalhos no Z Carniceria a partir das 18h, antes do show do patrono Maurício Pereira. Confira os horários abaixo:
Palco Void
16h – Abertura
16h20 – Goldenloki
17h20 – Betina
18h20 – Bruno Bruni
19h20 – Terno Rei
20h20 – Molho Negro
21h20 – DJs Rafa e Joyce
Palco Z Carniceria
18h – Trabalho Sujo
19h – Mauricio Pereira
20h – Juliano Gauche
21h – Laura Lavieri
22h – Yma
23h – Dingo Bells
0h – Garotas Suecas
1h – Ozu
2h – Strobo
3h – Alex Correa (Caverna)
Mais informações sobre o evento aqui.
Laura Lavieri finalmente começa a colocar as asinhas de fora. Ex-vocalista de apoio de Marcelo Jeneci, ela vem acalentando este primeiro álbum há um bom tempo e tirou 2017 para por foco nesta etapa. Mudou-se para o Rio e começou a trabalhar com Diogo Strausz, com quem gravou o single “Quando o Amor Vai Embora”, ainda no ano passado. “Tenho encontrado no Rio o que eu vim procurar aqui: outras maneiras de se fazer música”, ela me explica por email. “Atualmente circulo, troco e toco com pessoas que experimentam bastante, e encontram outras sonoridades, métodos e caminhos. Gosto muito de me ver rodeada de toda fonte diversa: pessoas que têm nome conhecido no mainstream até o vulcão underground do centro. E ainda quero chegar na produção do subúrbio carioca.” Ela antecipa um primeiro gostinho do álbum com a versão ao vivo da música “Mais um Whisky”, que ela mostra em primeira mão para o Trabalho Sujo.
“Mais um Whisky é uma música que o Gui Amabis fez pra mim”, continua. “Ela fala dessa mulher decadente, vivida, por vezes incompreendida, e que paga pelos preços de fazer o que bem entende e deseja. Não é um preço baixo. Mas tem suas delícias”. Gui é um dos compositores que a ajudaram na composição deste novo álbum. “São seis inéditas de Gui Amabis, Jonas Sá, Lucas Oliveira, Sostenes Rodrigues, Alberto Continentino e Fernando Temporão e Marcelo Jeneci.” Além de “Mais Um Whisky” ela também mostra outros três registros ao vivo: “‘Tudo outra vez’, do Lucas, ‘Sol do Céu’, do Alberto e do Fernando, e ‘Estrada do Sol’, uma versão brasileira da canção italiana, pra manter algum traço do caminho que percorri até aqui, lembrando da estrada com Jeneci.”
O disco em si fica para 2017 mas já tem tudo mais ou menos definido, desde o título: Desastre Solar. “Tudo veio da etimologia de ‘desastre’ – disastro – désastre – disaster – a má estrela, ou ainda um ‘mau encontro’ estelar. O que seria bom ou ruim para uma estrela? Daí a magnitude dos ciclos e do tempo. Ninguém ‘gosta’ de desastre, de crise, de morte. mas a morte está presente todo dia, junto com a vida. É desse ‘mau’ encontro estrelar que irrompe a vida. O próprio centro do nosso sistema é uma bomba em constante erupção, e é nossa fonte de vida. Passei por maus bocados, há não muito tempo, encerrando uma etapa da vida, me lançando a uma nova, e me vi muito perdida, muito seca, abalada, acabada, muito decadente – nada tão diferente do que acontece com nosso país e planeta inteiro atualmente. E justo em meio aos destroços que encontrei – encontramos – chances de vida e recomeço. É aquele cenário pós-guerra apocaliptico que gera um solo fértil para uma nova era. A idéia é pintar aí as várias mulheres que já vivi, em diversos ciclos, mas sempre com esse potencial destrutivo e construtivo. Alguma pitada de ironia aqui, um pouco de decadência ali, sacanagem também, hi-fi-ficção científica, romantismos lo-fi, algum humor… O disco é alegre e leve sem deixar de ser intenso.”
Conduzido por Diogo, produtor, arranjador e músico em diversas faixas, o disco ainda conta com João Erbetta na guitarra, Alberto Continentino no baixo, Ricardo Dias Gomes nos teclados, Pedro Fonte na bateria e percussões e conta com participações de nomes como Guilherme Lírio, Joana Queiroz, Marlon Sette, Altair Martins, Marcelo Callado, Jonas Sá, Lucas Oliveira e Ledjane Motta. E vai ser bancado através de financiamento coletivo, através do site Catarse.
Ela explica o porquê: “Eu realmente me interesso e acredito na via ampla, horizontal e direta que a internet proporciona pras novas maneiras de se produzir. Não é fácil – comunicar – acessar – aglomerar as pessoas não é uma tarefa simples. Mas tenho me reunido com pessoas muito interessadas nessa construção, e a cada tijolo, cada acesso, cada troca, eu vejo a coisa fazendo sentido verdadeiro. Tenho tido vontade de movimentar mais encontros musicais, shows de diversos formatos e em cenários também inusitados. Agregar, juntar pessoas que conheci pelo Brasil. Acho que ficamos muito condicionados a formatos pré-estabelecidos e que já nem dão conta mais da demanda artística. Nem de mercado. Estamos sedentos. Crises. A música, como o recomeço, e toda possibilidade de criação, está em todo lugar. E tem que estar! E isso tem tudo a ver com crowd – funding – dar fundos às massas. Acredito muito no caminho de agregar os interesses e interessados e girar a produção de maneira direta e eficaz. Acho uma das mais gloriosas funções que a internet oferece.”
Programado para 2017, o disco só surgirá após o carnaval do ano que vem, “como tudo nesse Brasil brasileiro”, explica.