Mais um filme do Rob Ager sobre um filme do Kubrick – desta vez ele advoga que o tratamento Ludovico não funciona e que o Alex se dispõe a ser cobaia porque vai fingir que foi curado. O vídeo-ensaio tem duas partes e pode ser visto abaixo.
Cenas clássicas de Taxi Driver, O Poderoso Chefão, Casablanca, Tubarão, Laranja Mecânica, Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Dr. Fantástico, Taxi Driver, O Iluminado e Guerra nas Estrelas foram improvisadas na hora:
Demais.
Meu filme favorito comemora quatro décadas de vida com mais uma edição cheia de extras, documentários, entrevistas, etc. Um dia eles lançam tudo que já produziram pra todas as edições anteriores num Absolute Clockwork Orange Torrent, não é possível.
Segundo essa matéria do Guardian, foi nesse show da Kylie Minogue:
Todo mundo já ouviu falar, mas quem se dignou a assistir à meia hora de autoesculhambação a que os Beastie Boys se submeteram ao lançar seu novo disco? Comento o clipe a seguir, por isso assista-o para não reclamar de spoilers.
O filme começa no final do clipe de “Fight for Your Right (to Party)“, de 1986, quando, depois que os Beastie Boys destroem o apartamento de um casal de velhos ao convidar um monte de maus elementos para jogar tortas nas caras uns dos outros (sim, tortas, muitas tortas), entre outras coisas não tão finas – como destruir uma TV com uma marreta. Galopando escadas abaixo após a destruição, os Beastie Boys já não são tão boys assim – Danny McBride é um MCA quase caminhoneiro, Seth Rogen é um Mike D sedentário e só Elijah Wood aparenta ter o físico e a disposição de Ad Rock daqueles dias de glória, numa de suas interpretações mais cativantes.
O trio central, no entanto, não deixa sua idade nem deformidades físicas atrapalhar suas performances como beasties adolescentes.
Após descerem as escadas, encontram com o mesmo casal que abre o vídeo de 25 anos atrás, vivido desta vez por Stanley Tucci e Susan Saradon. Depois de uma discussão aparentemente sem roteiro – “no pie, no sledgehammer team” é a cara dos improvisos de Seth Rogen – saem à rua para continuar a festa. Aos 4:20 Ad Rock convida Rashida Jones (a filha do Quincy, vestida com a mesma roupa que usa em A Rede Social) para uma pizza, pouco antes do MCA de McBride estourar a porta de vidro de uma loja de conveniência que estava fechada para pegar cerveja. É quando a parte “clipe” do vídeo começa e os três atores simplesmente encarnam os Beastie Boys de vez, dublando-os impecavelmente (Wood, de longe, o melhor deles, em poucos instantes em que sua atuação é tão importante quanto o resto de sua carreira). E enquanto rimam, jogam cerveja nos outros – como no Will Arnett do Arrested Development, que passa tranquilamente lendo um jornal, num táxi dirigido pelo Adam Scott do Parks & Recreation (que carrega um velho conhecido dos beastie boys como passageiro – Sir Stewart Wallace, o personagem de MCA no clipe de Sabotage, desta vez vivido pelo diretor de clipes Mike Mills) e num casal de religiosos (Rainn “Dwight” Wilson e Arabella Field).
O clipe diminui sua velocidade em uma das muitas variações de pitch desta meia hora – mas o rap se metamorfoseia numa composição eletrônica de Wendy Carlos, nos levando para território hostilmente kubrickeano. Os Beasties invadem um restaurante fino (o “Château de Ted et Michel Dée”, empreendimento citado nominalmente na letra de “Make Some Noise”) como a gangue de Alex de Large adentrou na leiteria Korova, arruaceiros num ambiente de fino trato – e lotado de participações especiais, pisque e perca alguém: Ted Danson é o mâitre, Steve Buscemi o garçom e entre os comensais estão Laura Dern, o diretor de clipes Roman Coppola, Amy Poehler (do Saturday Night Live e Parks & Recreations), Alicia Silverstone, Milo Ventimiglia (o Peter Petrelli de Heroes), Shannyn Sossamon (a Gingy Wu do How to Make it in America), Mary Steenburgen (do Curb Your Enthusiasm, mulher do Doc Brown no De Volta Para o Futuro) e Jason Schwartzman (que é creditado como… o Van Gogh do clipe de “Hey Ladies“!).
Mais uma vitrine quebrada e o grupo volta a rappear “Make Some Noise”, até que McBride rouba o skate de uma adolescente vivida por Losel Yauch (filha do MCA original), cruza a pista e é atropelado por uma limusine, que leva umas groupies para alguma banda de metal – interpretadas por Maya Rudolph, Kirsten Dunst e Chlöe Sevigny.
Esta última esfaqueia Ad Rock quase casualmente, enquanto a banda finge que é a banda de apoio do Bon Jovi e toma ácido como se fosse refrigerante.
E aí o Will Ferrell aparece tocando cowbell (“more cowbell!“) enquanto logo depois ele surger fantasiado de mariachi sobe no topo da limo (mais referência ao clipe de “Hey Ladies“). O jeito que essa cena é filmada pode ser considerado uma referência ao clipe de “Shake Your Rump“, da mesma época de “Hey Ladies”.
Imagina a quantidade de piadas internas que um vídeo desses deve enfileirar e a gente mal fica sabendo…
Viajado bonito, o clipe começa a alternar a velocidade da música, criando “ecos visuais” para a paisagem e o passeio dos beasties, e citando personagens que transitam entre a realidade e a ficção – como o vendedor de cachorro quente, vivido por Clint Caluory, que é creditado como se fosse o comediante Zach Galifianakis (de Se Beber, Não Case) fazendo o papel de George Drakoulias (o produtor dos Black Crowes, do Dust do Screaming Trees e do disco southern rock do Primal Scream, que foi homenageado nominalmente no Dead Man, no Paul’s Boutique, no Steve Zissou e no Jornada nas Estrelas do JJ Abrams). Mais adiante, Ad Rock/Elijah Wood segura a “câmera” do caricato diretor suíço Nathaniel Hörnblowér, o personagem tirolês vivido por Adam Yauch para dirigir todos os clipes dos Beastie Boys desde 1990. Em Fight…, Hörnblowér é vivido pelo comediante David Cross, do já clássico Mr. Show. Logo depois o Mike D de Seth Rogen encontra ninguém menos que Johnny Ryall, personagem-título de uma das faixas mais pitorescas do Paul’s Boutique, mendigo que se dizia rockstar do rockabilly, lavando o vidro de um carro e vivido por… Orlando Bloom, hahaha.
Até que a música para, o vento assovia (como no início de “Johnny Ryall“, veja só), passa uma bola de feno e os beasties encontram um velho Delorean com um tubo amarrado em seu capô. De dentro saem, fantasiados com as mesmas roupas que os três, Will Ferrell, John C. Riley e Jack Black, que logo se apresentam como os Beastie Boys do futuro e os desafiam para um concurso de break. Arrogantes e escrotos, os Beastie Boys do futuro discutem entre si e mal conseguem tirar o piso enrolado no capô de seu carro, enquanto o Mike D de Seth Rogen cogita que eles estão sendo apresentados a uma das versões possíveis do futuro da banda, “o fantasma de Licensed to Ill”, diz o MCA de Danny McBride, antes de constatar que “nós no futuro somos uns completos idiotas”.
Tem início a parte mais besta do filme, quando começa o campeonato de dança e nenhum dos dois trios é formado por atores propriamente dançarinos, e o tal concurso vira uma exibição de passinhos bestas e requebros preguiçosos cuja monotonia só é quebrada quando Elijah Wood começa a fazer o clássico passinho da “minhoca” no chão e o Mike D de John C. Riley começa a MIJAR EM CIMA DELE. O WTF não para por aí e só piora na medida em que todos os beasties revidam igualmente, tirando os paus pra fora e mijando uns nos outros. Só piora: vemos os rostos de cada um deles em closes fechados, tomando mijadas de todos os lados diretamente na boca. Nojento, grosseiro, inesperado e engraçadaço – como os beastie boys dos anos 80. O clipe termina de forma abrupta, com a chegada da polícia, cujos principais tiras são apenas os próprios Beastie Boys da vida real, dando bordoadas e borrachadas em seus clones hollywoodianos. Dá para ver melhor o logotipo de uma das lojas da rola, o CAFÉ MIJANO, antes do camburão carregar os mijões pra delega e um letreiro nos prometer uma terceira parte daqui a 25 anos.
Mas isso não é uma análise do vídeo, é apenas uma longa descrição em que tagueei as principais referências que pularam pelo clipe, uma versão audiovisual daquele infográfico da capa do Sgt. Pepper’s em que apenas os contornos das personalidades são realçados para que, através de uma lista de números, descubramos quem é quem. Não me admira o caráter enciclopédico dos beasties – a lista de vastas referências já é um formato escolhido pelo grupo tanto em clipes quanto em discos (é memorável a avalanche de samples em Paul’s Boutique e Hello Nasty ou de referênciais visuais nos clipes de “Sabotage” ou “Intergalactic”) e o grupo não parece ter escolhido seu nome por algum outro motivo além de posicioná-los entre os Beach Boys e os Beatles em qualquer ordem alfabética. Neste sentido, Fight For Your Right – Revisited mais do que um clipe, algo que mistura tanto cinema quanto videogame. A caça por referências a cada esbarrão é um convite ao espectador para ativar sua memória em relação a “quem é mesmo essa pessoa/esse disco/esse livro/esse filme?”, uma brincadeira exercitada pelos gênios do showbusiness atual, como JJ Abrams, os irmãos Coen ou Lady Gaga (esta última, depois eu falo melhor disso, em franca decadência). Os Beasties aceitam o convite feito por Michael Jackson em “Thriller” e resolvem entrar para um escalão de videoclipes que almeja o reconhecimento cinematográfico, clipes com cara de filme. 25 anos depois de terem dado a cara pela primeira vez, eles ainda se dispõem a desafios. E chamam sua turma de Hollywood para não fazer feio nesse novo nível. O resultado é o clipe acima.
Fight For Your Right – Revisited é, no entanto, um mea culpa e a consagração de uma assinatura. Mea culpa pois consagra o lapso de consciência que os Beastie Boys tiveram no final dos anos 80, algo parecido ao surto de lucidez que John Lennon teve logo após conhecer Yoko Ono, dizendo que se não tivesse encontrado sua mulher, terminaria sua carreira cantando “Blue Suede Shoes” em Las Vegas. Assim os Beastie Boys de Wood, Rogen e McBride se reconhecem nos beasties de Ferrel, Riley e Black. Se eles continuassem agindo daquela forma que agiam em 1986, seriam idiotas para o resto da vida. Daí a importância do questionamento consciente do Conto de Natal de Charles Dickens: se aqueles são os Beastie Boys do futuro, é melhor mudar o futuro.
O que, aparentemente é o que aconteceu, parece sublinhar o final do clipe. Mesmo que nada tenha dado certo, só o fato dos Beastie Boys terem encontrado eles mesmos mais velhos foi determinante para que eles seguissem outro curso, e mudassem de Nova York para a Califórnia, trocando Rick Rubin pelos Dust Brothers e o hard rock pelo groove setentista que passou a dar o tom de sua nova carreira. Não é difícil saber que o grupo olha para seu passado arruaceiro com uma dose de arrependimento, o próprio MCA (Adam Yauch) já deu várias entrevistas lamentando ter arruinado a vida de muita gente e seu fascínio temporário por armas. Não custa lembrar que Yauch é um personagem central nessa história: não é só ele o beastie boy que virou budista e organizou os concertos pró-Tibet nos anos 90 como teve câncer no ano passado, adiando o lançamento do novo disco do grupo para esse ano.
Mais do que isso: Yauch é o diretor e roteirista de Fight For Your Right – Revisited. E antes que se assustem com o súbito talento do MC, não custa lembrar que Yauch se escondia atrás do pseudônimo Nathaniel Hörnblowér para dirigir a grande maioria dos clipes dos Beastie Boys. Foi ele que, fantasiado de tirolês, invadiu a premiação da MTV norte-americana em 1994 para protestar contra “a farsa” que era o clipe vencedor (“Everybody Hurts” do R.E.M.) e dizendo que ele havia sido o criador da idéia original de Guerra nas Estrelas. Quase vinte anos depois de criar este personagem (que “dirigiu” o longa Awesome I Fucking Shot That, além dos clipes), Yauch dá adeus ao europeu e assume seu nome na direção do clipe, encerrando o média metragem com pelo menos mais uma promessa de vídeo, daqui a 25 anos.
É o momento de amadurecimento que reconhece a importância da adolescência descerebrada. A idade pode até estragar o título da banda, mas, na cabeça, os três ainda são boys.
A ilustração do post anterior e estas acima são do ilustrador californiano Carlos Ramos, que trabalhou no Laboratório de Dexter e My Life as a Teenage Robot, e fez uma exposição dedicada ao Kubrick no meio do ano passado. Vi lá na Janara.
Ele fala, nós ouvimos:
What amuses me is that many reviewers speak of this society as a communist one, whereas there is no reason to think it is.
The Minister, played by Anthony Sharp, is clearly a figure of the Right. The writer, Patrick Magee, is a lunatic of the Left. ‘The common people must be led, driven, pushed!’ he pants into the telephone. ‘They will sell their liberty for an easier life!’But these could be the very words of a fascist.
Yes, of course. They differ only in their dogma. Their means and ends are hardly distinguishable.You deal with the violence in a way that appears to distance it.
If this occurs it may be because the story both in the novel and the film is told by Alex, and everything that happens is seen through his eyes. Since he has his own rather special way of seeing what he does, this may have some effect in distancing the violence. Some people have asserted that this made the violence attractive. I think this view is totally incorrect.The cat lady was much older in the book. Why did you change her age?
She fulfills the same purpose as she did in the novel, but I think she may be a little more interesting in the film. She is younger, it is true, but she is just as unsympathetic and unwisely aggressive.You also eliminated the murder that Alex committed in prison.
That had to do entirely with the problem of length. The film is, anyway, about two hours and seventeen minutes long, and it didn’t seem to be a necessary scene.Alex is no longer a teenager in the film.
Malcolm McDowell’s age is not that easy to judge in the film, and he was, without the slightest doubt, the best actor for the part. It might have been nicer if Malcolm had been seventeen, but another seventeen-year-old actor without Malcolm’s extra- ordinary talent would not have been better.Somehow the prison is the most acceptable place in the whole movie. And the warder, who is a typical British figure, is more appealing than a lot of other characters.
The prison warder, played by the late Michael Bates, is an obsolete servant of the new order. He copes very poorly with the problems around him, understanding neither the criminals nor the reformers. For all his shouting and bullying, though, he is less of a villain than his trendier and more sophisticated masters.In your films the State is worse than the criminals but the scientists are worse than the State.
I wouldn’t put it that way. Modern science seems to be very dangerous because it has given us the power to destroy ourselves before we know how to handle it. On the other hand, it is foolish to blame science for its discoveries, and in any case, we cannot control science. Who would do it, anyway? Politicians are certainly not qualified to make the necessary technical decisions. Prior to the first atomic bomb tests at Los Alamos, a small group of physicists working on the project argued against the test because they thought there was a possibility that the detonation of the bomb might cause a chain reaction which would destroy the entire planet. But the majority of the physicists disagreed with them and recommended that the test be carried out. The decision to ignore this dire warning and proceed with the test was made by political and military minds who could certainly not understand the physics involved in either side of the argument. One would have thought that if even a minority of the physicians thought the test might destroy the Earth no sane men would decide to carry it out. The fact that the Earth is still here doesn’t alter the mind-boggling decision which was made at that time.Alex has a close relationship with art (Beethoven) which the other characters do not have. The cat lady seems interested in modern art but, in fact, is indifferent. What is your own attitude towards modern art?
I think modern art’s almost total pre-occupation with subjectivism has led to anarchy and sterility in the arts. The notion that reality exists only in the artist’s mind, and that the thing which simpler souls had for so long believed to be reality is only an illusion, was initially an invigorating force, but it eventually led to a lot of highly original, very personal and extremely uninteresting work. In Cocteau’s film Orpheé, the poet asks what he should do. ‘Astonish me,’ he is told. Very little of modern art does that — certainly not in the sense that a great work of art can make you wonder how its creation was accomplished by a mere mortal. Be that as it may, films, unfortunately, don’t have this problem at all. From the start, they have played it as safe as possible, and no one can blame the generally dull state of the movies on too much originality and subjectivism.
Oh rrraioj! Leia a entrevista toda aqui.