Dr. Strangelove’s Secret Uses of Uranus

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Quando começou a pensar em como chamaria seu novo filme, no início dos anos 60, o diretor Stanley Kubrick e os escritores Peter George (autor do livro Red Alert, que serviu como base para o novo filme) Terry Southern decidiram que o ainda não batizado Dr. Fantástico deveria ter um subtítulo longo, como era moda entre os livros lançados àquela época (How to Stop Worrying and Start Living, Everything You Always Wanted to Know About Sex (But Were Afraid to Ask) ou How to Succeed in Business Without Really Trying). E o blog Endpaper achou essa página em que Kubrick, num brainstorm solitário, cogitou inúmeras variáveis para o que depois culminaria no épico How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb.

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Veja abaixo os subtítulos sugeridos:

 

O poster de O Iluminado – desenhado por Saul Bass e comentado por Stanley Kubrick

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O pôster de O Iluminado foi feito pelo grande Saul Bass, um dos maiores designers da história do cinema. Mas nem tudo é fácil quando se é um mestre em sua arte e encontra-se com outro mestre, de outro patamar, e, como pinçado pelo blog The Fox is Black, eis a série de tentativas originais feitas pelo designer para o cartaz do filme e os motivos, escritos à mão, pelos quais Kubrick acabou dispensando outras versões (veja abaixo):

 

Os bastidores de O Iluminado

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Um dos filmes citados por Silvano em sua compilação de curtas é o revelador The Making of The Shining, dirigido e editado por Vivian Kubrick, filha do mestre da sétima arte, que percorreu os bastidores do filme disposta a registrar o que podia, e com o aval do pai. Em menos de 20 minutos, o curta alterna entrevistas (tocantes como a de Scatman Crothers, hilárias como as do pequeno Danny Lloyd), cenas épicas do filme finalizado, Kubrick lidando diretamente com os protagonistas (e Shelley Duvall desculpando-o pelo transtorno que o cineasta a submeteu para extrair a forte performance da atriz) e cenas triviais da equipe espalhada pelo fictício Hotel Overlook.

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Vivian era uma das três filhas do casal Stanley e Christiane (ao lado de Anya e Katharina, embora esta última seja filha apenas da esposa do cineasta, de um casamento anterior) e certamente era a favorita do diretor. Além do filme dirigido que registras os bastidores do clássico de 1980, ela voltou a colaborar com o pai ao compor a trilha sonora de seu filme seguinte, Nascido para Matar. Kubrick queria que ela voltasse a trabalhar com ele em Eyes Wide Shut, mas os dois tiveram uma briga séria que ficou sem ser resolvida pois o pai morreu antes que o filme chegasse aos cinemas, em 1999. Depois disso, Vivian se distanciou da família e se envolveu com a cientologia, tornando-se “uma pessoa completamente mudada”, segundo a irmã postiça Katharina. Ela foi ao enterro do pai acompanhada de um representante da seita, mas nem chegou a ir ao enterro da irmã Anya, de quem era muito próxima na infância, quando ela faleceu vítima de câncer em 2009.

Abaixo, seu único filme:

 

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Impressão digital #148: Kubrick, O Iluminado e uma linguagem para além da escrita

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E na minha coluna no Link Estadão dessa semana eu falo sobre o documentário Room 237, sobre O Iluminado de Kubrick, e como o diretor pode ter antecipado uma tendência que, na internet, é plena:

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Kubrick previu uma nova linguagem em ‘O Iluminado’
Filme de 1980 traz múltiplas referências

Stanley Kubrick é dessas poucas unanimidades. Seus filmes estão misturados ao inconsciente coletivo da segunda metade do século 20 e suas cenas de ficção são emblemáticas o suficiente para servir de parâmetro para outras cenas da vida real. Sua obra sempre cutucou parte do tecido comportamental de sua época e foi se tornando esparsa à medida em que sua reputação ia crescendo. Em 46 anos de atividade,o diretor fez apenas 13 filmes – em seus últimos 30 anos de vida realizou apenas quatro.

O Iluminado, de 1980, seu antepenúltimo filme, é festejado como uma das maiores obras-primas do terror no cinema. Os fantasmas de Kubrick eram cenas apavorantes e épicas: duas crianças gêmeas mudas no meio de um corredor, uma onda de sangue saindo de dentro de um elevador, o sinistro quarto 237 e a lenta transformação do personagem de Jack Nicholson – em sua maior atuação – de um correto pai de família a um psicopata enraivecido.

Entre os críticos, há quem reclame da liberdade poética tomada por Kubrick ao adaptar o romance de Stephen King, na época considerado um novo alento à literatura de horror nos Estados Unidos. Mas Kubrick nunca foi considerado fiel às obras originais que se dispôs a adaptar e sempre as usou como plataforma para explorar suas próprias ideias, cenas e concepções. Foi assim com Lolita de Vladimir Nabokov, com Laranja Mecânica de Anthony Burguess, com o conto de Arthur C. Clarke que inspirou 2001 e assim também seria com O Iluminado. Mas um documentário do ano passado une diferentes interpretações para chegar a uma conclusão impressionante sobre o filme de 1980.

Room 237 – ou Quarto 237 -, de Rodney Ascner, mostra que O Iluminado não é apenas um filme de terror. São várias camadas de interpretação que mostram que o filme conta não uma, mas várias histórias: há referências ao holocausto nazista escondidas no roteiro, à chacina do povo indígena norte-americano em diálogos e detalhes da direção de arte, referências à lenda que Kubrick teria forjado o filme da Apollo 11 pousando na Lua, jogos de óptica, a onipresença do número 42, quebra-cabeças, personagens que se superpõem, truques que só podem ser identificados depois que cenas são vistas múltiplas vezes, formas geométricas subliminares, takes que se repetem em referência. Somos apresentados a pontos de vista de críticos, acadêmicos e historiadores. Há evidências que muitas dessas camadas foram deixadas de propósito por Kubrick.

Até que, num dado momento do documentário, alguém cita o dono de um site chamado MSTRMND (“mastermind” sem as vogais) que conta com uma longa dissertação sobre o filme e, em texto, surge um aviso explicando que, mesmo procurado, ele não quis dar entrevista ao documentário. Visitei o site e li não apenas a tese sobre O Iluminado como as diversas reflexões sobre diferentes filmes e um dos pontos principais de suas análises é o fato de que diretores de cinema não lidam apenas com as histórias que cogitam em seus roteiros.

E num dado momento o autor cogita a possibilidade de Kubrick estar antecipando uma nova linguagem que não necessita de palavras – e sim que empilha imagem, som, movimento, referências e, também, texto, que poderia substituir a escrita num futuro próximo.

Lia esse texto no computador quando, num impulso quase inconsciente, acionei o alt+tab e pulei blogs, as timelines do Twitter e do Facebook, alguns tumblrs, páginas de notícias que intercalam texto, áudio e vídeo. E vi que já estamos indo rumo a esta nova linguagem – isso sem contar emoticons, emojis, gifs animados e diferentes tipo de fontes…

Kubrick, mais uma vez, tinha razão.

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A foto do fim de O Iluminado

O site The Overlook Hotel, dedicado, como o título entrega, às minúcias do filme de terror de Stanley Kubrick, publicou há uma semana a foto original sobre a qual foi colocada a cabeça de Jack Nicholson na última cena de O Iluminado. A foto foi encontrada em um livro de 1985 sobre retoques em fotografia e destaca a imagem deste ilustre anônimo que a história não reconheceu.

Ao redor dele, no entanto, há pessoas não tão desconhecidas assim, como é possível descobrir através do documentário de Rob Ager que vincula O Iluminado à criação do sistema financeiro global. Vi no Slashfilm.

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Kubrick e o ponto de fuga central

Que o Kubrick trabalhava com essa perspectiva quase como uma regra – principalmente em seus filmes desde Dr. Fantástico -, eu já sabia. Mas ver essa comparação em vídeo é ooooutra história, veja abaixo:

 

O Iluminado, por Kiko Dinucci

E já que o papo tá no Kubrick, vocês conhecem o blog do Kiko Dinucci, o Olho Derramado, em que ele fala um monte sobre cinema? Olha ele falando sobre O Iluminado:

Sempre que vou para Recife, dou um jeito de passar no Cine São Luiz, situado na rua da Aurora, Centro. O antigo cinema foi comprado e reformado pela prefeitura, sua arquitetura original foi mantida. Assisti, na primeira visita a essa sala, ao filme pernambucano A Filha do Advogado, com música ao vivo, executada por Arrigo Barnabé, durante a Mostra de Cinema Silencioso. Voltei à sala novamente durante a VI Janela Internacional de Cinema do Recife. Sem saber da programação, fui informado sobre uma retrospectiva da obra de Stanley Kubrick. O filme da noite seria uma cópia devidamente restaurada de The Shining (O Iluminado). Comprei o ingresso duas horas antes, corri até o Centro Antigo para beber um tradicional “maltado cubano” bem gelado e retornei à sala. Costumo dizer às pessoas que a sala do Cine São Luiz, com seus vitrais laterais, é tão bonita e mágica que até assistir a tela em branco já é um evento. Eu poderia ficar horas naquela sala, frente à tela em branco. Durante a sessão lotada, tive uma leitura do filme inédita para mim.

Além de todo terror presente em O Iluminado, há uma trajetória marginal do personagem Jack Torrance, interpretado por Jack Nicholson. Esse trajeto, talvez, passe despercebido para a maioria dos espectadores. Vou tentar reproduzir aqui a reflexão que tive naquele espaço lúdico chamado Cine São Luiz.

Continua lá no blog dele.